Sacrifício na Grécia Antiga:
Na religião da Grécia Antiga o templo não servia de lugar ao culto onde os fiéis se reuniam para celebrar os ritos, o tempo é a casa do deus a que se consagrou.
O lugar de reunião dos devotos era o altar exterior, o bomos, bloco de cantaria quadrangular onde se desenrolava o rito central da religião grega, o sacrifício.
Representação de um sacrifício oferecido em conjunto com uma libação num vaso da Grécia Antiga.
Figuração Ática em negativo de preto sobre o vermelho do barro enócoa, ca. 430-425 BC (Louvre).
O sacrifício era de origem alimentar, envolvendo um animal doméstico como os que hoje nos servem de alimento, que seguia numa procissão ritual até ao bomos.
A cabeça era cortada com uma espada curta, a machaira, que até ali estava dissimulada debaixo de cereal no cesto ritual, o kanun.
O sangue que jorrava sobre o altar era recolhido num recipiente, tal como ainda se faz num açougue ou matadouro, e abria-se o animal para se examinar as entranhas, e em especial o fígado, de modo a concluir se o sacrifício era aprovado pelos deuses.
No caso afirmativo, a vítma é esquartejada e dividida nas suas diversas partes, tarefa que actualmente se faz num talho.
As gorduras e os ossos maiores, completamente descarnados, eram deixados no altar para serem cremados, processo pelo qual se enviava o produto sacrificial aos deuses.
Alguns dos pedaços internos, os splanchna, eram grelhados em espetos neste fogo, pelos executantes do rito, e posteriormente distribuidos pelos mesmos, garantindo assim o contacto entre os deuses e os executantes do rito.
O resto da carne era cozida e dividida em partes iguais para ser consumida no local, como consumação geral da festa sacrificial por todos os participantes. As peles e a língua eram entregues ao sacerdote, ou cidadão imaculado, que procedera ao sacrifício.
O que no sacrifício grego é, para os deuses, uma oferenda, para os homens é uma refeição de festa que desde a imolação ao repasto estava envolvida numa atmosfera de fausto e alegria.
Toda a encenação ritual era conduzida de modo a velar quaisquer traços de violência e assassinato, para fazer ressaltar a solenidade pacífica de uma festa feliz.
O animal do sacrifício não chegava a perceber qual era o seu destino e ninguém se horrorizava com o prospecto da sua morte.
Ainda hoje, nos açougues industrializados, procura fazer-se a matança sem que o animal perceba, para que não liberte as toxinas produzidas pela ansiedade anterior ao golpe que o leva à morte, que infestam e muitas vezes inutilizam a sua carne.
Na sociedade grega antiga não se comia outra carne que não a dos sacrifícios.
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