CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Os 16 Atributos de Esú e o Ifá





Neste post procuraremos falar um pouco sobre os 16 atributos de Esu (Exú), atributos estes que se relacionam com os 16 Baba Odús do Ifá.

Mas antes, gostaríamos de esclarecer que Esu (Exú) é o Grande Agente Cósmico Universal, é o Agente da Magia Universal. É Exú que, juntamente com os 07 Aráshas (Orixás) Ancestrais, trataram da criação do Universo Astral – Reino Natural. Os Exús são os concretizadores das ideações dos 07 Aráshas.

Quando do surgimento do Universo Astral e do Reino Natural foi necessário, então, organizar toda esta matéria que era caótica. Por isso dizemos que a “ordem” se assenta no “caos”. E é Esu que promove esta organização, dentre várias de suas outras importantíssimas funções das quais trataremos em futura publicação.

Iniciemos, pois apresentando os 16 atributos de Esu, mas antes…

Mo ju iba, Esu Oba Baba awon ESU! Iba se, o!

Saudações, Esu Senhor e Pai de todos os Esus! Que esta homenagem se cumpra!

Eis, agora, os 16 títulos ou atributos e suas correspondentes “qualidades”, os quais sempre foram ligados aos 16 ODU dos Itan Ifá:


01- ESU YANGI – o Senhor da Laterita Vermelha

02- ESU AGBA – o Senhor Ancestral

03- ESU IGBA KETA – o Senhor da Terceira Cabaça

04- ESU OKOTO – o Senhor do Caracol

05- ESU OBA BABA ESU – o Rei e Pai de todos os ESUS

06- ESU ODARA – o Senhor da Felicidade

07- ESU OSIJE – o Mensageiro Divino

08- ESU ELERU – o Senhor da Obrigação Ritual

09- ESU ENU GBARIJO – o Senhor da Boca Coletiva

10- ESU ELEGBARA – o Senhor do Poder Mágico

11- ESU BARA – o Senhor do Corpo

12- ESU L’ONAN – o Senhor dos Caminhos

13- ESU OL’OBE – o Senhor da Faca

14- ESU EL’EBO – o Senhor das Oferendas

15- ESU ALAFIA – o Senhor da Satisfação Pessoal

16- ESU ODUSO – o Vigia dos Odús

ESU YANGI é a sua primeira forma e lhe confere a qualidade de IMOLE ou “Divindade”, pois nos Ritos da Criação, segundo o Credo Iorubá:

“O ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos transformou-se em lama. Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, a primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento.

Olorun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflando-lhe Seu Hálito e lhe deu vida. Esta forma, a primeira dotada de existência individual, um rochedo de Laterita, era ESU YANGI.”

Esu, portanto, foi criado diretamente por Olorun, não da prórpia e primordial matéria divina, da qual Ele já criara Obatalá e Oduduwa, o Casal Divino, mas da matéria que iria formar toda a existência genérica subseqüente a EERUPE (lama) da qual seria criada toda a Humanidade.

Um dos assentamentos de Esu Yangi é uma pedra de laterita vermelha enfiada no solo.

Imole Esu é o primeiro Ser criado da Existência genérica, por isso também chamado de Esu Agbá (Exú Ancestral).

Os ORISIRISI ESU prosseguem contando como IMOLE ESU logo se descontrolou começando a devorar toda a existência. Posteriormente, Esu fora obrigado por Orunmilá a vomitar tudo de volta. Entretanto, Esu devolveu tudo em maior quantidade, muito melhor do que quando o ingerira. Esu devolveu tudo renovado.

Deste modo, Esu foi picado em milhares de pedaços pela espada de Orunmilá, transformando-se no “Mais Um” ou o “Um multiplicado pelo Infinito”, no ESU OKOTO (Esu do Caracol).

Como ESU YANGI também se multiplicou infinitamente, se tornado no símbolo da restituição e da recomposição, tornou-se ele próprio no Oba Baba Esu (Rei e Pai de todos os Esu).

Os outros atributos iremos percebendo-os conforme se dá o processo de criação segundo os ESE ITAN IFÁ, onde trata do Imole Osetuwa.

QUANDO os Imole vieram à Terra, apesar de fazerem tudo o que Olorun lhes ensinara para que a vida fosse Odara (Feliz), sobreveio na Terra todos os tipos de desgraças, inclusive uma prolongada seca.

Diante disso, os Imole se reuniram e decidiram que deveriam enviar alguém sábio à presença de Olorun para buscar a solução para os problemas que afligiam a Terra.

Deste modo, ORUNMILÁ, o Orixá da Divinação Sagrada, partiu nessa missão e data daí o fato de que ele passou a ser um dos três IMOLE que podem apresentar-se perante OLORUN e suportar-Lhe o esplendor. Ao lhe ser permitido facear OLORUN, ORUNMILÁ ouviu Dele que a razão para todas as desgraças que assolavam a Terra estava no fato de que eles, os IMOLE, não haviam convidado para morar no ODE AIYE, ou seja, a “moradia dos IMOLE na Terra”, ao Ser que se constituía no décimo sétimo dentre eles. Quando assim o fizessem, tudo voltaria a frutificar!

E foi assim que ORUNMILÁ tornou-se o “Arauto de OLORUN” para a ligação dos dois mundos, o Orun e o Aiye.

Retornando ao Aiye, Orunmilá iniciou a busca pelo “Décimo Sétimo”, o qual deveria ser convidado a morar com eles, no entanto, após várias tentativas infrutíferas, todos decidiram que a poderosa feiticeira Osum (Oxum) deveria conceber um filho de OSO (O Senhor do Poder Mágico). Esse filho receberia ainda no ventre materno o Ase (Axé) de todos os Imole por imposição conjunta das mãos para que se tornasse o Mensageiro das oferendas dos Imole acabando, assim, com as desgraças da Terra.

Assim, o filho do “Feitiço com o Poder Mágico” foi chamado de Osetuwa, este Orixá Gerado passou a tentar cumprir seu destino, mas não obteve sucesso.

Certo dia Osetuwa lembrou-se de Esu Odara (Exú da Felicidade) e, assim, procurou-o e pediu-lhe ajuda para levar as oferendas dos Imole a Olurun. Esu Odara disse que por esse gesto, hoje o Orun lhe abriria as portas.

Osetuwa e Esu Odara seguiram rumo aos portões do Orun, lá adentrando, pois as suas portas já se encontravam abertas. Deste Modo, Osetuwa conseguiu entregar as oferendas dos Imole a Olorun que as aceitou, pois vieram através de Esu. Olorun deu a Osetuwa todo o necessário à sobrevivência do mundo.

Em seguida, Osetuwa voltou ao Aiye e tudo frutificou novamente! Os Imoles lhe agradeceram com presentes e o celebraram como o único dentre eles que conseguira levar as Oferendas ao Orun, no entanto, Osetuwa levou todos os presentes que recebera ao Esu Odara.

Quando os deu a Esu Odara, o mesmo disse:

“Você, OSETUWA, todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a Terra, se não os entregarem primeiro a você para que você os possa trazer a mim, farei com que as Oferendas não sejam aceitas!”

E foi assim que OSETUWA tornou-se um poderoso Akin Oso ou “Manipulador do Poder”, duplamente por seu nascimento e pela confirmação de IMOLE ESU ODARA, por ter mostrado a todos os IMOLE que ESU era realmente o OSIJE ou “Mensageiro Divino” e que também tinha o poder de aceitar ou recusar os sacrifícios rituais porque era o verdadeiro Eleru ou “Senhor da Obrigação Ritual”.

A partir daí, todos os Imole decidiram dar ao Imole Esu um pedaço de suas próprias bocas a fim de que ele pudesse falar por todos quando fosse perante Olorun. Imole Esu uniu todos esses pedaços em sua própria boca e tornou-se Enu G’barijo (Boca Coletiva) de todos os Imole.

Como retribuição de Esu aos Imole, cada um deles possui ao seu lado o Esu Okoto e, por delegação espontânea dos Imoles Esu tornou-se Elegbara (O Senhor do Poder Mágico).

Por isso, todos os seres que vivem no Aiye possuem seu Olori (Senhor do Ori, Senhor da Cabeça) e seu Elebara (Senhor do Corpo).

Esu, por ser, então o mensageiro Divino, O Senhor do Carrego Ritual prescrito por Orunmilá é também L’Onan (O Senhor dos Caminhos). Sendo também o Ol’Obé (O Senhor da Faca).

Estão ai resumidamente apresentados os 16 atributos de Seu que se relacionam com os 16 Baba Odús do Ifá, quais sejam:

 1. Èjìogbè                               2. Òyèkúméjì

 3. Ìwòrìméjì                             4. Ìdíméji

 5. Ìrosùnméjì                            6. Òwónrínméjì

 7. Òbàràméjì                            8. Òkànrànméjì

 9. Ògúndáméjì                          10. Òsáméjì

11. Ìkáméjì                                12. Òtùrùpónméjì

13. Òtúráméjì                            14. Ìretèméjì

15. Òséméjì                               16. Òfúnméjì

Percebemos, assim, a importância de Esu…

Dentro do Oráculo todos os caminhos que se apresentam estão também relacionados a um aspecto de Esu. Por isso, não relacionaremos aqui os 16 atributos de Esu com os 16 Baba Odús, ficando isso por conta de cada um. Gostaríamos de esclarecer que o Oráculo é vivo, dinâmico e não estático, daí a importância de sua ‘correta’ interpretação. A busca por esse entendimento, por essa correta tradução passa pela mediunidade, sendo imprescindível a sua manutenção e desenvolvimento. É a mediunidade que traz a Tradição Viva do Astral até nós, no presente caso, através do Oráculo e seus caminhos.

O Sacerdote busca promover no Omo Awo (Filho do Segredo – O Aprendiz) esse desenvolvimento mediúnico para que ele possa entrar em sintonia com o Oráculo e receber do Astral a iluminação necessária para o correto aconselhamento e interpretação na hora do jogo.

O estudo do Oráculo é, antes de tudo, um profundo caminho de auto-conhecimento e despertar para a consciência espiritual.

“Conhece-te a ti mesmo e conhecereis o universo e os deuses[1]”.

Araman

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Referências:

AFOLABI, A. Epega & Philip John Neimark. The Sacred Ifa Oracle. 2ª Ed. Athelia-Henrietta Press, 1999;

CAMPBELL, Joseph, 1904-1987. O Poder do Mito / Joseph Campbell, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers ; tradução de Carlos Felipe Moisés. -São Paulo: Palas Athena, 1990;

COSTA, Ivan H. (Mestre Itaoman). Ifá: O Orixá do Destino. São Paulo: Ícone;

JUNG, Carl Gustav, 1875-1961. Os arquétipos e o inconsciente coletivo / CG. Jung; [tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva]. – Perrópolis, RJ: Vozes, 2000;

OLIVEIRA, Wilian C. (Mestre Obashanan). Teologia Umbandista: Do Movimento à Convergência. São Paulo: Ícone, 2001;

PRANDI, Reginaldo. Ifá o Adivinho. Cia das letras;

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Cia das letras;

VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. 6ª Ed. Corrupio, 2009;

VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas Africanas dos Orixás. 4ª Ed. Corrupio, 1997;

[1] Inscrição que se encontrava à entrada do Santuário de Delfos na Grécia Antiga.



Èşù Òdàrà



Èşù Òdàrà
Oríkì Èşù
Mensageiro Divino, Divino Mensageiro da Transformação,
Mensageiro Divino fala com poder.
Homem das encruzilhadas, dançar ao som do tambor.
Faz cócegas com o dedo do pé no tambor.
Ultrapassar o conflito.
Discórdia é contrária aos Espíritos do Reino Invisível.
Una os pés instáveis no desmame dos filhos.
A palavra do Mensageiro Divino é sempre respeitada.
Mensageiro Divino, não me faça mal. Mensageiro Divino, não me faça mal.
Mensageiro Divino, não me faça mal.
Faça mal ao filho do outro.
Acabe com meus sofrimentos.
Dá-me a bênção da cabaça.
Àse o.
Èşù Mensageiro Divino. Dizem que ele traduz a linguagem do òrìsà para os humanos e vice e versa. Ele existe no mundo visível e invisível ao mesmo tempo e, portanto, sabe de tudo.
Ele é conhecido por muitos nomes, Èşù ou Elégbará são os mais comuns. Na diáspora muitos acreditam que são dois irunmọlẹ diferentes, porém, isto não é correto. Alguns dizem que Elégbará vem de Alágbárá (O Forte ou proprietário da força, apenas nomes de louvor).
Eu soube que Elégbará vem de:
Ẹlà egbe ará.
Que significa: O corpo daquele que possui a luz.
Outra tradução de Bará seria: Força ou poder.
Ilè Bará que significa: A casa do poder.
Èşù Elégbará é um dos aspectos de Èşù associado aos guerreiros.
O poder dos Guerreiros
O Odù Ọwọnrin Òsá diz:
Elégbará não será executado no dia da luta.
Luta gloriosa é o àse de Elégbará
Airá não será executado no dia da luta.
Luta gloriosa é o àse de Airá.
O leão não corre no dia da luta.
Luta gloriosa é o àse do leão.
Eu não correrei no dia da luta,
De modo que meus soldados não vão correr no dia da luta.
Não correrão para que possamos ter honra e glória.
Chamaremos o Odù marcado na bandeja, para colocar na mistura.
Vamos moer ìpe-ele (ewè Ifá).
Vamos colocá-lo em uma cabaça e misturar com Agídí para beber com nossos soldados (ebo de coragem para um combate).
Àse
Èşù Òdàrà nasce no Odù Òsétúrá. Ele nasce neste Odù.
Talvez a confusão esteja neste detalhe. Odù diferentes para Èşù leva-nos a pensar que eles são irunmọlẹ diferentes. Porém, Òdàrà é o 'pai' de todos os outros Èşù, pois eles não são irunmọlẹ diferentes. A multiplicidade de caminhos e nomes é explicada, um pouco, no Odù Òsétúrá.
Èşù estava envolvido em uma batalha com Ikú (Morte).
Ele estava caçando Èşù há muito tempo, Ikú vinha como uma maldição.
Ele pegou um instrumento especial de sua propriedade para cortar Èşù ao meio.
Porém, a cada vez que ele cortava Èşù as metades renasciam.
Logicamente Ikú se apavorou e saiu correndo desesperadamente.
Não somente este itọn explica como tantos Èşù vieram a aparecer, porém, é a prova de que eles são os mesmos. Grande parte da confusão em torno dos vários caminhos de Èşù vem do fato de que cada Odù e cada òrìsà tem seu próprio Èşù. Os Èşù para diferentes òrìsà nascem no Odù Ọwọnrin Ìwòrì onde vemos Èşù Ananaki para Şàngó, onde vemos Èşù Oke para Ợbàtálá em Ọwọnrin Ogbè.
Diz-se que a cada Orí que é criado um Èşù é acoplado a ele.
Alguns nomes de Èşù são bem conhecidos tais como:
Èşù Láròóyè que se traduz como: Perto das mães.
Este Èşù está associado à Òsún e carrega o àse da sensualidade e da fertilidade.
Èşù Elekun é aquele que está associado aos guerreiros. Elekun significa Senhor do leopardo e estão associados com força, astúcia e coragem. Características que refletem o àse de Ògún.
Èşù Láàlú é o Èşù da dança, dança que provoca possessão.
Èşù Iseri é o Èşù do orvalho da manhã e refere-se às plantas da floresta e está associado à Osányìn.
Èşù Oro é o Èşù do poder da palavra (Ìká) é o Èşù que coloca o àse em nossas orações e invocações.
Existem muitos outros nomes ou podemos dizer de Èşù.
Dizem que eles são 21 (vinte e um), mas na realidade são muito mais.
Èşù é comumente conhecido como: O Malandro, nome que representa a oportunidade. Porém, devemos questionar se este é realmente o papel mais importante de Èşù.
Ele é o executor cármico que simplesmente proporciona efeito em suas ações. As boas e as más.
Ele nos lembra de que nós, e somente nós, somos responsáveis por nossas ações. Não culpe Òlódùmarè, ele não se envolve em assuntos cotidianos, não culpe seus pais, seu chefe ou o seu cônjuge. Culpe-se por não se corrigir e não resolver seus conflitos internos.
Èşù é o princípio do caos e da transformação. Ele nos empurra a crescer, ele é causa e efeito. Ele faz a mediação entre os seres humanos e os Ajogun. Por fim, Ele é o guardião e o conferidor do àse.
Àse imbui o som, o espaço, a energia e a matéria com a reestrutura existente. Para depois transformar e controlar o mundo físico.
Reduzir Èşù a fabricante de maldades ou trapaceiro é ser completamente idiotia e ignorante do seu verdadeiro papel no universo.
Èşù nos provoca a pensar antes de agir, para que suas escolhas e livre arbítrio possam afetar o seu destino.
Um verso de Ogbè’ worin ilustra este aspecto de Èşù.
Pressa é desnecessária para o sucesso.
Alguém pode se envolver em atividades criminosas.
Foi lançado Ifá para Ọrúnmìlà.
No dia em que ele iria implorar por um filho à òrìsà.
Ele foi avisado a cuidar da Terra e fazer ebo.
Àse
Neste itọn, Ọrúnmìlà vai a Ợbàtálá para pedir um filho, nesta época ele só tinha Orí defeituosos em seu estoque. Ọrúnmìlà queria um de qualquer maneira, ele não queria esperar. Ele pensou que mais tarde poderia consertá-lo. Ele nomeou ọmọlókún. O garoto estava podre até as entranhas. Quando este ficou mais velho, Ọrúnmìlà descobriu através do oráculo que ele queria matá-lo, então, ele fez ebo e manteve um encanto embaixo do travesseiro. Quando ọmọlókún veio para matá-lo, Ọrúnmìlà acordou. Depois de uma longa perseguição, ọmọlókún estava exausto e se transformou em uma rocha (Yangi a pedra de Èşù) para se esconder. Porém, Ọrúnmìlà não se deixou enganar e quando ia matar o pequeno ele resolveu apontar o seu encanto para a pedra e ordenou que ele ficasse como estava para sempre e disse:
Todos os recados que você havia recusado, enquanto meu filho, você de agora em diante vai responder a todos.
O itọn termina com esta canção:
Quem vai dirigir a minha boa sorte para mim?
Èşù Òdàrà
Ele é o único que irá dirigir a minha boa sorte para mim.
Èşù Òdàrà
Àse
Neste itọn de Ogbè'wórín vemos que, apesar de Èşù estar por traz do castigo por causa da pressa, ele também, ajudou Ọrúnmìlà a sair daquela situação. Assim é a natureza dual de Èşù, é como ele mantém o equilíbrio. Vemos também, como Èşù pode nos abençoar com boa sorte. Interessante é o nome do filho problemático de Ọrúnmìlà, ọmọlókún, o filho do Espirito do Oceano. É Ọlọkún quem cria abundância e riquezas nas profundezas negras e desconhecidas do oceano. É Ọlọkún cuja energia está ligada a de Èşù Yangi, a pedra de Èşù.
Èşù nasce no Odù Òsétúrá. Ele é o filho da Deusa do rio, Òsún e Ọrúnmìlà são os seus pais.
Quando no início, Òlódùmarè enviou 17 irunmọlẹ para a Terra ficar habitável para os seres humanos, apenas um deles era do sexo feminino, esta era Òsún. Eles ignoraram por completo a presença dela e deliberavam sozinhos sobre todos os assuntos. Òşún sempre se mantinha calma e fria.
Ela fez questão que todos os assuntos deles não progredissem, que todas as suas ações dessem erradas.
Assim, os irunmọlẹ voltaram para Òlódùmarè e perguntaram por que tudo que fizeram resultou em um enorme fracasso. Òlódùmarè perguntou quantos eles eram quando vieram para a Terra.
Eles disseram que eram dezessete.
Òlódùmarè disse:
Quantos de vocês estão aqui?
Eles disseram:
Nós somos dezesseis.
Ele perguntou:
Onde está o décimo sétimo?
Eles responderam:
Bem, ela está na Terra.
Nós não a trouxemos por que ela é apenas uma mulher.
Òlódùmarè disse:
Isto não é bom, é melhor vocês voltarem e pedirem perdão.
Eles então obedeceram.
Ela não aceitou as desculpas e informou que esperava um filho e se este fosse uma menina iria haver guerra. Porém, se fosse homem, ela os perdoaria e deixaria ele ter com eles.
A criança nasceu do sexo masculino e recebeu o nome de Òsétúrá.
As orações de todos os irunmọlẹ foram respondidas.
Quando terminamos nosso ritual ou oração cantamos:
Òşéturá (a-wu-ire-la) wa Agbe, ala wa, àse.
Òsétúrá (o Odù que faz nossas orações se manifestarem) nos apoiará e nos abençoará.
Bi mo duro, bi mo wure.
Ire ti emi, ko ni se aigba.
Bi mo bere, bi mo wure.
Ire ti emi, ko ni se aigba.
Bi mo joko, bi mo wure.
Ire ti emi, ko ni se aigba.
Se eu orar de pé
Minhas orações se manifestarão.
Se eu ficar parado ou ajoelhado enquanto oro.
Minhas orações se manifestarão
Se eu me sentar e orar.
Minhas orações se manifestarão.
Àse
Isto faz parte de um poema que é dito diariamente pelo Áwo, para que seu àse cresça. Todo ritual de Ifá/òrìsà e tomado de medicamentos, magias e etc., há um método de ligar palavras a ações desejadas. Este método faz parte do treinamento do Áwo. Ligar à palavra a ação é fundamental para a teoria metafisica yorùbá, pois, no início não havia o som. Somente Ọrúnmìlà e Èşù trabalhando juntos é que fazem com que as coisas aconteçam.
O seguinte verso é um exemplo de ohun - afose (expressando o àse e fazendo-o acontecer).
fonte:https://orisaifa.blogspot.com.br/p/esu-odara.html


sábado, 26 de novembro de 2016

Artista plástico e ilustrador, Pedro Rafael


Biografia

Artista plástico e ilustrador, Pedro Rafael nasceu em Brasília, mas vive há muitos anos em Salvador.

Já ilustrou diversos livros no Brasil e no exterior. Em 2000 ilustrou o livro Mitologia dos Orixás de autoria do pesquisador e sociólogo Reginaldo Prandi e com o material do livro realizou sua primeira exposição individual na livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos em São Paulo, organizada pela editora Companhia das Letras. Do mesmo autor, ilustrou em 2003 o livro Ifá, o Adivinho com o qual recebeu o prêmio de ilustrador revelação pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ e foi finalista do Prêmio Jabuti.

Para a Televisão, suas ilustrações foram usadas na elaboração de animações sobre mitos afro-brasileiros “Livros Animados” do Canal Futura e na decoração de pano de fundo do show “A Cor da Cultura” com participação de Beth Carvalho, João Bosco, Martinho da Vila, Ney Lopes, Luiz Melodia,Olodum, Ilê Ayê, Teatro Castro Alves, 2006.

Participou da 25ª Mostra Internazionale d`Illustrazione per l`Infanzia - le immagini della fantasia, Sàrmede, Itália, 2007. Participou da exposição Linhas de Histórias - Um panorama do livro ilustrado no Brasil, no SESC Belenzinho em São Paulo, 2011. Colaborou com ilustrações para o Projeto Lendas Brasileiras - Portugal redescobrindo o Brasil através do folclore, Guarda, Portugal, 2012.

FONTE: http://177.55.100.91/~pedroraf/biografia



Mitologia dos orixás



Companhia das Letras

Ilustrações de Pedro Rafael


Fotos de Reginaldo Prandi, Roderick Steel, Toninho Macedo,
Giliola Vesentini e Andreas Hofbauer

Indicado ao Prêmio Jabuti 2002 na categoria Melhor Livro de Ciências Humanas.

Reginaldo Prandi




Reginaldo Prandi

Professor Sênior do Departamento de Sociologia da USP
Pesquisador do CNPq





É objetivo deste site divulgar o trabalho de Reginaldo Prandi e pôr à disposição de pesquisadores de sociologia da religião e demais interessados alguns textos e dados sobre religiões no Brasil.
   
Reginaldo Prandi, sociólogo e escritor, é doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo. É Professor Sênior do Departamento de Sociologia da USP e pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Foi um dos fundadores do Instituto Datafolha, órgão de pesquisa do jornal Folha de S. Paulo, participou do Comitê de Ciências Sociais do CNPq, coordenou o Comitê de Sociologia da Capes e foi membro do Comitê Acadêmico da Anpocs. Trabalhou em diversas áreas da sociologia e hoje se dedica principalmente à sociologia da religião, com ênfase nas religiões afro-brasileiras, evangélicas e católica. É autor de mais de 30 livros, incluindo obras de sociologia, mitologia, literatura infantojuvenil e ficção policial. Entre outros prêmios, recebeu o Prêmio Érico Vannucci Mendes 2001, outorgado pelo CNPq, SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - e Ministério da Cultura por seu trabalho de preservação da memória cultural brasileira. Foi indicado três vezes ao prêmio Jabuti.

Veja nesta página os endereços de mais de 650  terreiros  de candomblé e umbanda do Estado de São Paulo.
  


Agora disponível aqui o livro completo de Reginaldo Prandi Os candomblés de São Paulo, publicado em 1991 e atualmente esgotado.
  Clique aqui para o download


Orixás na Música Popular Brasileira: Diretório de 761 letras da MPB com referências a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras — Período de 1902 a 2000



Ifá, o Adivinho (2002)


Indicado para o Prêmio Jabuti 2003 nas categorias livro e ilustração.Laureado com o certificado de "Livro Altail de 2003.Prêmio Figueiredo Pimentel de Melhor Livro Reconto e Prêmio Ilmente Recomendável" pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em abrustrador Revelação, outorgados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 23 de maio de 2003.





Xangô, o Trovão (2003)



Laureado com o certificado de "Livro Altamente Recomendável" pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em abril de 2003. Prêmio de Exposição do Salão Internacional do Livro Juvenil de Bolonha, Itália, 2005.




Oxumarê, o Arco-Íris (2005)




Embora  possam ser lidos como livros independentes, esses três volumes apresentam, no conjunto, a mitologia básica de todos os principais orixás cultuados no Brasil: Exu, Ogum, Oxóssi, Logum Edé, Ossãe, Omulu, Nanã, Oxumarê, Euá, Xangô, Obá, Iansã, Oxum, Ibejis, Iemanjá, Oxaguiã, Ifá, Ajalá, Odudua e Oxalá.




sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Exú





Exú

Ambíguos. Maliciosos. Perigosos. Briguentos. Não guardam rancor. Gulosos. Imaturos. Sexualmente muito ativos. Mundanos. Intrigantes. Debochados. Mulherengos. Engraçados.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos Ogum




Ogum

Conquistadores. Guerreiros. Briguentos. Amigos. Solidários. Frios. Viris. Sexistas. Impulsivos. Sinceros. Leais. Intolerantes. Afeitos às profissões militares e à informática. Gênio difícil. Independentes. Ambiciosos. Disciplinados. Inteligentes. Líderes natos.


Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Oxóssi




Oxóssi

Provedores. Desconfiados. Solitários. Curiosos. Vaidosos. Instáveis quanto às opiniões. Espontâneos. Astutos. Amáveis. Alegres. Calmos. Amantes da natureza. Concentrados. Sutis. Caçadores em todos os sentidos. Libertários.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Ossaim



Ossaim

Atraentes. Ambíguos. Magnéticos. Esquisitos. Solitários. Pesquisadores. Curiosos. Didáticos. Desapegados. Vingativos. Feiticeiros. Dissimulados. Envolvem-se facilmente com drogas. Perspicazes. Tímidos.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Obaluaiê



Obaluaiê

Depressivos. Sinceros. Rabugentos. Honestos. Calados. Frágeis fisicamente. Vingativos. Amargos. Pessimistas. Desajeitados. Auto-destrutivo. Melancólicos. Verdadeiros. Fortes na adversidade. Equilibrados.






Orixás e as características de personalidade dos seus filhos; Oxumarê




Oxumarê

Duais. Belos. Ocultos. Cuidadosos. Irritáveis. Indecisos. Oportunistas. Impacientes. Falsos. Mutáveis. Volúveis. Apegados às riquezas. Sedutores. Desdenhosos.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos; Xangô



Xangô

Justos. Ponderados. Enérgicos. Amistosos. Falastrões. Vaidosos. Invejosos. Teimosos. Ambiciosos. Fortes, fisica e moralmente. Estourados. Gananciosos. Afeitos à engenharia e ao direito. Sedutores. Coerentes consigo mesmos. Grandes escritores. Infiéis. Ciumentos. Valentes. Cruéis. “Bon vivants”. Gulosos. Inteligentes.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Nanã




Nanã

Calmos. Benevolentes. Sábios. Dóceis com crianças. Austeros. Sem vaidade. Ranzinzas. Vingativos. Insensatos. Pirracentos. Praguejadores. Resmungões. Taciturnos. Assexuados.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Ewá




Ewá

Belos. Ambíguos. Tranquilos. Adaptáveis. Pacificadores. Unificadores. Cheios de iniciativa. Sensíveis. Poéticos. Amorosos.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Obá




Obá

Trabalhadores incansáveis. Melancólicos. Infelizes. Guerreiros. Ingênuos. Reclamões. Agressivos. Persistentes. Influenciáveis. Resignados. Decididos. Concentrados.



Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Iansã


Iansã


Sensuais. Nervosos. Bonitos. Apaixonados. Explosivos. Metódicos. Teimosos. Malcriados. Excelentes amigos. Espalhafatosos. Faladores. Ciumentos. Irriquietos. Insensíveis à opinião pública. Volúveis no amor. Solidários. Fortes. Carismáticos.












Orixás e as características de personalidade dos seus filhos; Logun Edé



Logun E

Brilhantemente inteligentes. Inconstantes. Orgulhosos. Belos. Volúveis no amor. Imaturos. Calmos. Educados. Muito românticos. Intuitivos. Solidários. Rancorosos. Adaptáveis. Poéticos. Desconfiados. Indecisos.




Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Oxum.



Oxum

Amorosos. Meigos. Detalhistas. Estáveis. Emotivos. Vaidosos. Intelectuais. Sedutores. Ardentes no amor. Pirracentos. Manipuladores. Voluptuosos. Fofoqueiros. Falsos. Grandes feiticeiros.









Orixás e as características de personalidade dos seus filhos: Iemanjá





Iemanjá: 

Maternais. Calculistas. Briguentos. Conselheiros. Chorões. Atormentados. Ariscos. Afeitos à psicologia. Protetores. Altivos. Rancorosos. Fascinantes. Independentes. Fechados. Criativos.





Orixás e as caracteristicas de personalidade dos seus filhos: Oxalá.





Oxalá


Lunáticos. Guerreiros. Justiceiros. Briguentos. Agitados. Mentirosos. Organizados. Não sabem perder. Não sabem receber críticas. Fechados. Frios. Quando apaixonados amam profundamente. Inteligentes. Arrogantes. Amigos. Sensíveis. Intuitivos. Brilhantes. Calmos. Autoritários. Indulgentes. Simples. Sovinas. Chatos. Ranzinzas. Respeitáveis. Resignados 

(PRANDI, 1991).



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A origem do nome Candomblé.



Em 1830, algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui, no Brasil.Segundo documentos históricos da época, esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Bercô; hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador – Estado da Bahia.

Desta reunião, que era formada por várias mulheres, como foi relatado anteriormente, uma mulher ajudada por Baba-Asiká, um ilustre africano da época, se destacou:
– Íyànàssó Kalá ou Oká, cujo o òrúnkó no orixá era Íyàmagbó-Olódùmarè.

Mas, o motivo principal desta reunião era estabelecer um culto africanista no Brasil, pois viram essas mulheres, que se alguma coisa não fosse feita aos seus irmãos negros e descendentes, nada teriam para preservar o “culto de orixá”, já que os negros que aqui chegavam eram batizados na Igreja Católica e obrigados a praticarem assim a religião católica.

Porém, como praticar um culto de origem tribal, numa terra distante de sua ìyá ìlú àiyé èmí, ou a mãe pátria terra da vida, como era chamada a África, pelos antigos africanos?
Primeiro, tentaram fazer uma fusão de várias mitologias, dogmas e liturgias africanas. Este culto, no Brasil, teria que ser similar ao culto praticado na África, em que o principal quesito para se ingressar em seus mistérios seria a iniciação. Enquanto na África a iniciação é feita muitas vezes em plena floresta, no Brasil foi estabelecida uma mini-África, ou seja, a casa de culto teria todos os orixás africanos juntos. Ao contrário da África, onde cada orixá está ligado a uma aldeia, ou cidade; por exemplo: Xangô em Oyó, Oxum em Ijexá e Ijebu e assim por diante.

Mas, por que esse culto foi denominado de Candomblé?

Este culto da forma como é aqui praticado e chamado de Candomblé, não existe na África. O que existe lá é o que se chama de culto ao orixá, ou seja, cada região africana cultua um orixá e só inicia elegun ou pessoa daquele orixá. Portanto, a palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos, para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil. Por esse motivo, antigos Babalorixás e Yalorixás evitavam chamar o “culto dos orixás” de Candomblé. Eles não queriam com isso serem confundidos com estas festas. Mas, com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas.

A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de “Candonbé”, um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de “Candonbidé”, que quer dizer “ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa”.

Como forma complementar de culto, a palavra Candomblé passou a definir o modelo de cada tribo ou região africana, conforme a seguir:

Candomblé da Nação Ketu
Candomblé da Nação Jeje
Candomblé da Nação Angola
Candomblé da Nação Congo
Candomblé da Nação Muxicongo

A palavra “Nação” entra aí não para definir uma nação política, pois Nação Jeje não existia em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o Candomblé formado pelos povos vindos da região do Dahomé e formado pelos povos Mahin.

Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokutá, Ijexá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu.

Ketu era uma cidade igual as demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu.

Esses yorubás, quando guerrearam com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil.

Quando os yorubás chegaram naquela região sofridos e maltratados, foram chamados pelos fons de ànagô, que quer dizer na língua fon, “piolhentos, sujos” entre outras coisas. A palavra com o tempo se modificou e ficou nàgó e passou a ser aceita pelos povos yorubás no Brasil, para definir as suas origens e uma forma de culto. Na verdade, não existe nenhuma nação política denominada nagô.

No Brasil, a palavra nàgó passou a denominar os Candomblés também de Xamba da região norte, mais conhecido como Xangô do Nordeste.
Os Candomblés da Bahia e do Rio de Janeiro passaram a ser chamados de Nação Ketu com raízes yorubás.

Porém, existem variações de Nações, por exemplo, Candomblé da Nação Efan e Candomblé da Nação Ijexá. Efan é uma cidade da região de Ijexá próxima a Osobô e ao rio Oxum. Ijexá não é uma nação política. Ijexá é o nome dado às pessoas que nascem ou vivem na região de Ilexá.

O que caracteriza a Nação Ijexá no Brasil é a posição que desfruta Oxum como a rainha dessa nação.

Da mesma forma como existe uma variação no Ketu, há também no Jeje, como por exemplo, Jeje Mahin. Mahin era uma tribo que existia próximo à cidade de Ketu.
Os Candomblés da Nação Angola e Congo foram desenvolvidos no Brasil com a chegada desses africanos vindos de Angola e Congo.

A partir de Maria Neném e depois os Candomblés de Mansu Bunduquemqué do falecido Bernardino Bate-folha e Bam Dan Guaíne muitas formas surgiram seguindo tradições de cidades como Casanje, Munjolo, Cabinda, Muxicongo e outras.

Nesse estudo sobre Nações de Candomblé, poderia relatar sobre outras formas de Candomblé, como por exemplo, Nagô-vodun que é uma fusão de costumes yorubás e Jeje, e o Alaketu de sua atual dirigente Olga de Alaketu.

O Alaketu não é uma nação específica, mas sim uma Nação yorubá com a origem na mesma região de Ketu, cuja história no Brasil soma-se mais de 350 (trezentos e cinqüenta) anos ao tempo dos ancestrais da casa: Otampé, Ojaró e Odé Akobí.

A verdade é que o culto nigeriano de orixá, chamado de Candomblé no Brasil, foi organizado por mulheres para mulheres. Antigamente, nas primeiras casas de Candomblé, os homens não entravam na roda de dança para os orixás. Mesmo os que tornavam-se Babalorixás tinham uma conduta diferente quanto a roda de dança. Desta forma, a participação dos homens era puramente circunstancial. Daí ter-se que se inserir no culto vários cargos para homens, como por exemplo, os cargos de ogans.
Hoje, a palavra Candomblé define no Brasil o que chamamos de culto afro-brasileiro, ou seja: “Uma Cultura Africana em Solo Brasileiro”.

Esta entrada foi publicada em setembro 6, 2008 às 5:45 a e é arquivado em Candomblé. Etiquetado: Candomblé, Nação Angola, Nação Jeje, Nação Ketu, Nações do candomblé, origem do candomblé.

Texto facebook: “Ìkóòdídé

Foto: Internet


Religiosidade Afro na atualidade, Tradição e Memória


Nós, afro-religiosos, não temos um livro de tradições escritas ou uma “bíblia” com textos proféticos como os cristãos. 

As sociedades africanas baseiam-se na tradição oral e não escrita para perpetuar e repassar seus conhecimentos, tal como o mestre ensina seu aprendiz, o sacerdote da religião africana passa oralmente seu conhecimento para seus iniciados. 

Estes por sua vez absorvem o conhecimento e a tradição, não se utilizando de papel e tinta para escrever, mas usando a memória. 

Quando esta cultura embarcou nos navios negreiros e veio para o ocidente ela se estabeleceu e se manteve na forma de tradição oral. Sob a opressão e dificuldades brotaram as religiões afro-brasileiras, com adaptações necessárias a sua sobrevivência na nova terra. 

Assim nasceu o Candomblé, o Batuque, o Tambor de Mina, o Xangô, e as demais vertentes da religiosidade africana, cada uma com suas peculiaridades, mas todas elas baseadas na tradição oral e na memória. 

Esta memória se forma com a vivência e a convivência religiosa. O processo de iniciação como bem se sabe, remete-se a um processo simbólico de nascimento do neófito, como se ele fosse uma criança, e ele vai “crescer” e aprender os conhecimentos e absorver a tradição de sua família religiosa. Os mais velhos remetem a importância da senhoridade, aqueles que já viveram e aprenderam o suficiente na comunidade religiosa para ensinar.

No entanto, na atualidade, se tem visto uma transgressão nesta norma. Muitos são aqueles que anceiam pelo conhecimento, mas poucos aqueles que esperam seu tempo, agregando conhecimentos fragmentados, e no anseio de ser sacerdote a todo custo, até mesmo comprando seus títulos. Segundo Carol Tavris (1993, p. 1) com relação a memória”…“Para um acontecimento ficar guardado a longo prazo, uma pessoa tem de o perceber, codificar e ensaiá-lo – falar sobre ele – ou ele decai…”. E aí que se perde a memória religiosa e surgem os novos cultos, muitas vezes alegando “evolução”, quando na verdade se trata de desconfiguração da tradição religiosa.

Cada raiz religiosa possui suas particularidades, existem diferenças no modo de aprendizado e na forma de condução dos rituais por parte de cada um que aprende, o chamado fundamento de cada um, no entando, a tradição impõe certas normas não podendo se perder da memória. Apesar de duas ou mais árvores do mesmo fruto não serem exatamente iguais, os frutos são os mesmos, logo a religiosidade africana, apesar de ser uma tradição oral, sem um manual ou livro escrito, deve seguir um parâmetro para que como qualquer outra religião tenha suas características e tradições perpetuadas e preservadas. 

Hoje observamos em diversos momentos, usos indevidos de roupas, colares ritualísticos, desrespeito às hierarquias e profanação de rituais e elementos religiosos da cultura africana; Invencionismos, muitas vezes baseado em algo visto, mas não compreendido, em algo lido em algum livro, mas não vivenciado, ou baseado na famosa frase “está dando certo” como se a religiosidade fosse uma mágica que precisa funcionar seja qual for o método utilizado.

Religião tem uma raiz, tem características que não podem ser perdidas, tem uma tradição a qual seguem, não vamos desconfigurar nosso Candomblé, preservemos a tradição e a memória de nossos antepassados.



Hùngbónò Charles


O início mais importante.


Esqueça os fundamentos, rezas e ofós. 

Você precisa mesmo aprender a entender, sentir e viver religiosidade.

Você acabou de se iniciar no Candomblé e quer se tornar um grande Egbomi, Babá ou Iyalorixá?

Vou me atrever a dar um conselho: Não se preocupe com nada disso. Não queira ser grande. 

Não tenha pressa de aprender os Ofós, Orikis, Gbaduras, Rezas, Fundamentos, Qualidades, Caminhos, Quedas de Búzios e nada dessas coisas…

Use esses primeiros 7 anos (no mínimo) para viver a sua religião. Respire o Candomblé. 

Crie intimidade com a religiosidade, com os costumes, o terreiro, e com a família de santo.

Crie uma relação com suas roupas brancas (elas te fortalecem a medida que são usadas): Aceite-as no seu dia-a-dia. Use suas contas em locais públicos e se empodere do que é seu. Sua estética religiosa é também um ato político contra a opressão racista que inferioriza nossas vestes e símbolos sagrados

Não se incomode com o fato de precisar andar de cabeça baixa em alguns momentos, mas se incomode se alguém te maltratar nessa condição.

Não há problema algum ser Abian, Iyawo, Elegun. São fases importantes da religiosidade. Aproveite esse tempo.

Não é tempo livre, é um tempo de estudo, de conhecimento de si, de afirmação e construção de identidade.

É a gestação de uma Identidade ancestral. Molde a si com aquilo que melhor te serve. Vista-se do que te completa a alma.

Saiba reconhecer e respeitar o seu lugar que, por mais que grande parte dos sacerdotes menospreze as novas vidas de axé, são extremamente importantes para a continuidade.
Tenha consciência disso. 

Você é especial

E saiba que a religião só existirá se você continuar.

Aproveite esse tempo bom para mergulhar na história do continente africano.

África não é um país. 

É um continente incrível formado por 54 países.

Conheça a história do negro no Brasil.

Conheça e se Indigne com a história da escravidão.

Entenda o racismo estrutural que fomenta a intolerância religiosa e demonização da fé nas divindades africanas.

Entenda que os Orixás são Negros e Negras. São Reis e Rainhas criados à semelhança de seus e suas descendentes

Os tempos são difíceis, a Intolerância Grita em nossas caras, e para você que acaba de chegar, os fundamentos e toda a complexidade do rito não devem ser prioridades, nesse momento.

Leia sobre racismo. 

Assista filmes, documentários, compre livros, vá à palestras, junte-se a movimentos sociais, crie grupos de estudos. Conheça a história da sua religião, da sua nação, do seu Orixá do seu País.

Aprenda a responder contra a violência, munido de verdades e pautado em direitos sociais.
Você não precisa ser negro para entender o que é e combater o racismo. 

Como não é preciso ser gay, lésbica ou trans para fortalecer as pautas sobre diversidade de gênero.

E pra quê saber dessas coisas que não tem a ver com você? 

Respondo que o Candomblé é uma religião que em essência deve acolher e respeitar a todos, e cabe a nós lutar por direitos assegurados. 

Qual o sentido e lutar pela liberdade religiosa se não respeito à liberdade de escolha de alguém?

É importante para resistir. É importante entender e conhecer o mínimo da história daqueles que lutaram para que você usasse suas roupas brancas e fios de contas!

Não se preocupe com roupas bonitas!

Entenda a urgência de se combater, por exemplo a intolerância religiosa, mas antes de brigar, procure saber como ela acontece e o porquê de acontecer contra nós.

Texto e Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó – Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
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