CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

* ESPECIAL ( Os Orixás e suas frutas representativas )


EXÚ



Todas que são oferecidos aos outros Òrìsàs e principalmente as com características ácidas e com espinhos.


OGUN


Em geral frutas de caroço único, Manga-espada, Obi.


OXOSSI


Cacau, Goiaba, Côco verde sua água, Obi e todos os frutos silvestres que sejam duros.


OSSAIN


Todos os frutos silvestres, abóbora e obí.


OMOLÚ


Abacaxi, Laranja lima, Lima, Obi e todas as frutas que crescem presas ao tronco das árvores.


NANÃ


Melão e Obí.


OXUMARÊ


Todas aquelas que enramam. Banana da terra, maracujá, obí.


IROKO


Fruta pão, Frutas secas, Obí, orobô.


XANGÔ


Frutos de casca vermelha, Tomate, Banana São Thomé, Castanha do Pará e Orogbô.


OXUN


Cana de açúcar, Carambola, Banana Ouro, Obi e todas as frutas que são vincadas em gomos.


LOGUNEDÉ


Banana prata , cacau, obí e as mesmas oferecidas a Oxossi e Oxun.


OBÁ


Frutos de casca vermelha, obí .


EWÁ


Banana da Terra (assada), Banana ouro, Todas que enramam, obí.


OYÁ


Melancia, figo, frutos de casca vermelha, manga rosa, obí.


YEMOJÁ


Pêra, melão, mamão, côco, obí.


OXALÁ


Uva, melão principalmente suas sementes com mel, frutas brancas, obí branco.


ORUNMILÁ


Bananas, obí.

* Os orixás e a natureza, Reginaldo Prandi, Universidade de São Paulo



Na aurora de sua civilização, o povo africano mais tarde conhecido pelo nome de iorubá, chamado de nagô no Brasil e lucumi em Cuba, acreditava que forças sobrenaturais impessoais, espíritos, ou entidades estavam presentes ou corporificados em objetos e forças da natureza.

Tementes dos perigos da natureza que punham em risco constante a vida humana, perigos que eles não podiam controlar, esses antigos africanos ofereciam sacrifícios para aplacar a fúria dessas forças, doando sua própria comida como tributo que selava um pacto de submissão e proteção e que sedimenta as relações de lealdade e filiação entre os homens e os espíritos da natureza.


Muitos desses espíritos da natureza passaram a ser cultuados como divindades, mais tarde designadas orixás, detentoras do poder de governar aspectos do mundo natural, como o trovão, o raio e a fertilidade da terra, enquanto outros foram cultuados como guardiões de montanhas, cursos d'água, árvores e florestas.

Cada rio, assim, tinha seu espírito próprio, com o qual se confundia, construindo-se em suas margens os locais de adoração, nada mais que o sítio onde eram deixadas as oferendas.

Um rio pode correr calmamente pelas planícies ou precipita-se em quedas e corredeiras, oferecer calma travessia a vau, mas também mostra-se pleno de traiçoeiras armadilhas, ser uma benfazeja fonte de alimentação piscosa, mas igualmente afogar em suas águas os que nelas se banham.

Esses atributos do rio, que o torna ao mesmo tempo provedor e destruidor, passaram a ser também o de sua divindade guardiã.


Como cada rio é diferente, seu espírito, sua alma, também tem características específicas. Muitos dos espíritos dos rios são homenageados até hoje, tanto na África, em território iorubá, como nas Américas, para onde o culto foi trazido pelos negros durante a escravidão e num curto período após a abolição, embora tenham, com o passar do tempo, se tornado independentes de sua base original na natureza. São eles Iemanjá, divindade do rio Ogum, Oiá ou Iansã, deusa do rio Níger, assim como Oxum, Obá, Euá, Logum Edé, Erinlé e Otim, cujos rios conservam ainda hoje o mesmo nome de sua divindade.

No Brasil, assim como em Cuba, Iemanjá ganhou o patronato do mar, que na África pertencia a Olocum, enquanto os demais orixás de rio deixaram de estar referidos a seus cursos d'água originais, ganhando novos domínios, cabendo a Oxum o governo dos rios em geral e de todas as águas doces.


A economia desses povos desenvolveu-se com base na agricultura, caça, pesca e artesanato, com intensa e importante atividade comercial concentrada nos mercados das cidades, para onde acorria a produção das diferentes aldeias e cidades. Podemos ver nessa sociedade em formação um deslocamento dos orixás do plano dos fenômenos da natureza para o plano da divisão social do trabalho, assumindo os orixás a característica de guardiões de atividades essenciais para a vida em sociedade. O culto às divindades continuou sendo local, podendo a mesma atividade ser guardada por deuses locais distintos. Só muito mais tarde alguns orixás foram elevados à categoria de orixás nacionais. Assim, na agricultura encontramos o culto a Ogum e Orixá-Ocô, enquanto as atividades de caça estavam guardadas por Oxóssi, Logum Edé, Erinlé, e muitos outros orixás caçadores conhecidos genericamente pelo nome de Odé, que significa Caçador. No Brasil, onde a geografia africana deixou de ter sentido, alguns orixás de rio, como Logum e Erinlé, ficaram restritos à caça, embora se faça referência também a seus atributos de pescadores, especialmente no caso de Logum Edé.


No caso de Ogum, há uma relação direta entre a agricultura e o artesanato do ferro, que permitiu a produção das ferramentas agrícolas, o mesmo ferro com que se fazem as armas de guerra, faca, facão, espada, e que transformou Ogum no deus da metalurgia e da guerra, numa emblemática expansão de um culto que se iniciou em referência ao plano da natureza (o ferro) para depois se fixar no domínio das atividades humanas (agricultura, metalurgia, guerra). A importância do minério extraído da natureza define-se por sua aplicação na cultura e leva à constituição de um culto que ao mesmo tempo deseja propiciar as forças sobrenaturais para garantir o acesso ao minério e o sucesso nas atividades que usam artefatos com ele produzidos. Quanto mais o trabalho se especializava, mais o orixá se liberava do mundo natural e mais próximo se situava do mundo do trabalho, isto é, do mundo da cultura, das atividades sociais, do mundo do homem, enfim.


A antiga religião de caráter animista, ou seja, de crença de que cada objeto do mundo em que vivemos é dotado de um espírito, em algum momento primordial fundiu-se-se com o culto dos antepassados. Podemos definir o culto dos antepassados como o conjunto de crenças, mitos e ritos que regulam os vínculos de uma comunidade com um número grande de mortos que viveram nessa comunidade e que estão ligados a ela por parentesco, segundo linhagens familiares, acreditando-se que os mortos têm o poder de interferir na vida humana, devendo então ser propiciados, aplacados por meio das práticas sacrificiais para o bem-estar da comunidade. Através do sacrifício, o antepassado participa da vida dos viventes, compartilhando com eles o fruto do sucesso das colheitas, das caçadas, da guerra e assim por diante. Embora todo morto mereça respeito e sacrifício, são os mortos ilustres os que se colocam no centro do culto. São os fundadores das antigas linhagens familiares, os heróis conquistadores, fundadores de cidades, o que inclui os falecidos pertencentes à família real, especialmente o rei. Alguns antepassados, sobretudo os de famílias e cidades que lograram expandir seu poder e seu domínio além de seus muros, acabaram sendo hevemerizados, isto é, deificados, ocupando no universo religioso o mesmo status de um orixá da natureza, muitas vezes confundindo-se com eles. Assim, Xangô é ao mesmo tempo o orixá do trovão, que rege as intempéries, e o antepassado mítico hevemerizado que um dia teria sido o quarto rei da cidade de Oió. Como rei, é o regulador das atividades ligadas ao governo do mundo profano, do qual é o magistrado máximo, assumindo assim, o patronato da justiça. Muitos reis, míticos ou não, foram alçados à dignidade de orixá. Por outro lado, muitos orixás que já mereciam culto ganharam também a conotação de antepassado, especialmente como reis. Como ocorreu com Ogum, lembrado como rei de Irê e Oxaguiã, rei de Ejibô, entre outros.


Confrarias de sacerdotes especializados também se organizaram em função de divindades relacionadas a atividades mágico-religiosas específicas, como os adivinhadores ou babalaôs, reunidos no culto de Orunmilá ou Ifá, o deus do oráculo, e os curadores herbalistas, ou olossains, dedicados a Ossaim, o orixá que detém o poder curativo das plantas. Tanto Orunmilá como Ossaim tiveram culto nacional em território iorubá, uma vez que seus sacerdotes ofereciam seus serviços a todos os que deles precisassem, não estando suas atividades circunscritas aos cultos familiares ou de cidades. Exu, orixá do mercado e da comunicação entre os deuses e entre estes e os humanos, também ganhou culto sem fronteiras familiares ou citadinas. Com a expansão política de algumas cidades e a incorporação de outros territórios, deuses locais passaram a ter um culto mais generalizado, o que transformou Xangô num deus cultuado em todo o território controlado por Oió, que teve o maior dos impérios iorubás. Iemanjá, originalmente uma divindade ebgá de rio, cultuada em território de Abeocutá, transformou-se em objeto do culto às ancestrais femininas, sendo homenageada no início dos festejos dedicados às grandes mães ancestrais no festival Geledé, cuja celebração envolve várias cidades.


Através da instituição do culto aos antepassados, os antigos iorubás estabeleceram as bases míticas de sua própria origem como povo, deificando seus mais antigos heróis, fundadores de cidades e impérios, aos quais se atribuiu a criação não somente do povo iorubá como de toda a humanidade. Dá-se assim a gênese do orixá Odudua, rei e guerreiro, considerado o criador da Terra, e de Obatalá, também chamado Orixanlá e Oxalá, o criador da humanidade, além de muitos outros deuses que com eles fazem parte do panteão da criação, como Ajalá e Oxaguiã.


O contato entre os povos africanos, tanto em razão de intercâmbio comercial como por causa das guerras e domínio de uns sobre outros, propiciou a incorporação pelos iorubás de divindades de povos vizinhos, como os voduns dos povos fons, chamados jejes no Brasil, entre os quais se destaca Nanã, antiga divindade da terra, e Oxumarê, divindade do arco-íris. O deus da peste, que recebe os nomes de Omulu, Olu Odo, Obaluaê, Ainon, Sakpatá e Xamponã ou Xapanã, resultou da fusão da devoção a inúmeros deuses cultuados em territórios iorubá, fon e nupe. As transformações sofridas pelo deus da varíola, descritas por Claude Lépine (1998), até sua incorporação ao panteão contemporâneo dos orixás, mostra a importância das migrações e das guerras de dominação na vida desses povos africanos e seu papel na constituição de cultos e conformação de divindades.


Quanto mais os orixás foram se afastando da natureza, mais foram ganhando forma antropomórfica. Os mitos falam de deuses que pensam e agem como os humanos, com os quais partilham sentimentos, propósitos, comportamentos e emoções. Seus patronatos especializaram-se em aspectos da cultura e da vida em sociedade que melhor atendiam às necessidades individuais dos seus devotos, embora possam manter referências ao original mundo natural.


II


Com a vinda para as Américas, ao processo de antropormofização e mudança ou diversificação do patronato adicionou-se a unificação do panteão, passando orixás de diferentes localidades a ser cultuados juntos nos mesmos locais de culto, no caso do Brasil, os terreiros de candomblé, ocorrendo mais forte especialização na divisão do trabalho dos deuses guardiões. Assim, Iemanjá, agora rainha do mar, é a protetora da maternidade e do equilíbrio mental; Oxum ganha as águas doces e a prerrogativa de governar a fertilidade humana e o amor; Ogum governa o ferro e a guerra, mas também é aquele que abre todos os caminhos e oportunidades sociais; Xangô, orixá do trovão, é o dono da justiça. E assim por diante. Como a religião dos orixás foi refeita no Brasil por africanos ou descendentes que, no século XIX, viviam nas grandes cidades costeiras, ocupando-se em atividades urbanas, fossem eles escravos ou livres, a preocupação com atividades agrícolas era muito secundária, de sorte que os orixás do campo foram esquecidos ou tiveram seus governos reorganizados. O culto a Orixá-Ocô se perdeu e hoje raramente alguém se lembra de Ogum como orixá do campo. Também os orixás da caça perderam com a nova sociedade. Oxóssi ganhou a responsabilidade de zelar pela fartura de alimentos, mas não há mais caçadores para cultuá-lo e muitos Odés foram reagrupados no culto de Oxóssi, como ocorreu com Erinlé e Otim. O grande papel de Oxóssi no Brasil na verdade decorre de sua condição de patrono da nação queto, instituída com a fundação dos candomblés baianos Casa Branca do Engenho Velho, Gantois e Axé Opô Afonjá, e que é uma referência à cidade africana de Queto, hoje situada no Benin, da qual Oxóssi era o orixá da casa real e onde atualmente está praticamente esquecido. Mudanças recentes nas condições de vida, inclusive em termos de saúde pública, fizeram de Omulu o médico dos pobres brasileiros, mas hoje ele está longe de ser cultuado por causa da varíola, seu domínio original, praticamente eliminada em nossa sociedade.


No Brasil, com a concentração do culto aos orixás nos terreiros, sob a autoridade suprema do pai ou mãe-de-santo, antigas confrarias africanas especializadas desapareceram, uma vez que o pai-de-santo passou a controlar toda e qualquer atividade religiosa desenvolvida nos limites de sua comunidade de culto. Os orixás dessas confrarias foram esquecidos ou se transformaram. Assim, com a extinção dos babalaôs, os sacerdotes do oráculo, o culto a Orunmilá praticamente desapareceu, subsistindo marginalmente em alguns poucos terreiros pernambucanos. O oráculo, agora prerrogativa do chefe de cada terreiro passou a ser guardado por Exu e Oxum, que na África já eram estreitamente ligados às atividades de adivinhação. A confraria dos curadores herbalistas, os olossains, também não se manteve nos moldes africanos, ficando os olossains restritos às atribuições de colher folhas e cantar para sua sacralização, tendo perdido para o pai-de-santo as prerrogativas do curador. Em decorrência, o culto de Ossaim ganhou novas feições, ficando mais assemelhado ao culto dos outros orixás celebrados nos terreiros, podendo inclusive ser recebido em transe como os demais, o que não acontecia na África. Espíritos das velhas árvores foram antropormofizados e iroco, que na África é simplesmente o nome de uma grande árvore, aqui se transformou no orixá Iroco, que recebe oferendas na cameleira branca e desce em transe, ganhando, cada vez mais, independência em relação à árvore, situando-se, por conseguinte, mais longe da natureza.


O desenvolvimento científico e tecnológico, ao promover a expansão do controle da natureza pelo homem, controle que vai desde a previsão das intempéries e catástrofes naturais até a obtenção da fecundação in vitro, passando pela cura da maioria das moléstias, garantindo a redução das taxas de mortalidade infantil, afastando as endemias e epidemias, aumentando a esperança de vida, tudo isso foi desviando cada vez mais o olhar do homem religioso da natureza, uma vez que esta já o preocupa menos, representando menos riscos, menos perigo. Diferentes povos tiveram diferentes preocupações com a natureza. Os iorubás, como povo da floresta, pouco se interessaram pelos astros, que ocuparam posição importante nos sistemas religiosos de povos que viviam em lugares abertos e altos. Para os iorubás, as florestas e os rios eram mais importantes que a lua ou as estrelas. Sua semana de quatro dias não tem relação com as fases da lua, que em muitos povos originou a semana de sete dias. Habitando o interior, longe do mar, lhes faltou certamente a observação da maré associada às fases da lua para estabelecer um calendário lunar. A morada dos deuses e dos espíritos dos iorubás, emblematicamente, não fica no céu, mas sob a superfície da terra.


No Brasil, as referências à natureza foram, contudo, simbolicamente mantidas nos altares sacrificiais, que são os assentamentos dos orixás e em muitos outros elementos rituais. Desse modo, como a África, seixos provenientes de algum curso d'água não podem faltar no assentamento dos orixás de rio, confundindo-se as pedras com os próprios orixás. Pedaços de meteoritos, as pedras de raio do assento de Xangô, lembram a identificação deste orixá com o raio e o trovão. Objetos de ferro são usados para o assentamento de Ogum. E assim por diante. O candomblé também conserva a idéia de que as plantas são fonte de axé, a força vital sem a qual não existe vida ou movimento e sem a qual o culto não pode ser realizado. A máxima iorubá "kosi ewê kosi orixá", que pode ser traduzida por "não se pode cultuar orixás sem usar as folhas", define bem o papel das plantas nos ritos. As plantas são usadas para lavar e sacralizar os objetos rituais, para purificar a cabeça e o corpo dos sacerdotes nas etapas iniciáticas, para curar as doenças e afastar males de todas as origens. Mas a folha ritual não é simplesmente a que está na natureza, mas aquela que sofre o poder transformador operado pela intervenção de Ossaim, cujas rezas e encantamentos proferidos pelo devoto propiciam a liberação do axé nelas contido. Há algumas décadas a floresta fazia parte do cenário do terreiro de candomblé e as folhas estavam todas disponíveis para colheita e sacralização.

Com a urbanização, o mato rareou nas cidades, obrigando os devotos a manter pequenos jardins e hortas para o cultivo das ervas sagradas ou então se deslocar para sítios afastados, onde as plantas podem crescer livremente.

Com o passar do tempo, novas especializações foram surgindo no âmbito da religião e hoje as plantas rituais podem ser adquiridas em feiras comuns de abastecimento e nos estabelecimentos que comercializam material de culto. Exemplo maior, no Mercadão de Madureira, no subúrbio do Rio de Janeiro, pródigo na oferta de objetos rituais, vestimentas e ingredientes para o culto dos orixás, mais de vinte estabelecimentos vendem, exclusivamente, toda e qualquer folha necessária aos ritos de Ossaim. Bem longe da natureza.


Embora a concepção de orixá esteja hoje bem distante da natureza, muitas celebrações se fazem em locais que lembram as antigas ligações, como as festas de Iemanjá junto ao mar, como os depachos feitos na água corrente, na lagoa, no mato, na pedreira, na estrada etc., de acordo com o orixá a que se destinam.

Com a recente preocupação com o meio ambiente, o candomblé tem sido muito lembrado como religião da natureza, apontando-se muitos terreiros como modelares na preservação ambiental. Alguns líderes, de fato, tem procurado se engajar em movimentos preservacionistas, alertando os seguidores dos orixás da necessidade de se defender da poluição ambiental locais usados pela religião, como cachoeiras e fontes, lagos e bosques. Alguns defendem a necessidade do próprio candomblé deixar de usar nas oferendas feitas fora do terreiro e nos despachos material não biodegradável.


III


Nesse clima de "retorno ao mundo natural", de preocupação com a ecologia, um orixá quase inteiramente esquecido no Brasil vem sendo aos poucos recuparado. Trata-se de Onilé, a Dona da Terra, o orixá que representa nosso planeta como um todo, o mundo em que vivemos. O mito de Onilé pode ser encontrado em vários poemas do oráculo de Ifá, estando vivo ainda hoje, no Brasil, na memória de seguidores do candomblé iniciados há muitas décadas. Assim a mitologia dos orixás nos conta como Onilé ganhou o governo do planeta Terra:


Onilé era a filha mais recatada e discreta de Olodumare.


Vivia trancada em casa do pai e quase ninguém a via.


Quase nem se sabia de sua existência.


Quando os orixás seus irmãos se reuniam no palácio do grande pai


para as grandes audiências em que Olodumare comunicava suas decisões,


Onilé fazia um buraco no chão e se escondia,


pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa,


com muita música e dança ao ritmo dos atabaques.


Onilé não se sentia bem no meio dos outros.


Um dia o grande deus mandou os seus arautos avisarem:


haveria uma grande reunião no palácio


e os orixás deviam comparecer ricamente vestidos,


pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo


e depois haveria muita comida, música e dança.


Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem


e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento.


Quando chegou por fim o grande dia,


cada orixá dirigiu-se ao palácio na maior ostentação,


cada um mais belamente vestido que o outro,


pois este era o desejo de Olodumare.


Iemanjá chegou vestida com a espuma do mar,


os braços ornados de pulseiras de algas marinhas,


a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas,


o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola.


Oxóssi escolheu uma túnica de ramos macios,


enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais.


Ossaim vestiu-se com um manto de folhas perfumadas.


Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante,


enfeitada com tenras folhas de palmeira.


Oxum escolheu cobrir-se de ouro,


trazendo nos cabelos as águas verdes dos rios.


As roupas de Oxumarê mostravam todas as cores,


trazendo nas mãos os pingos frescos da chuva.


Iansã escolheu para vestir-se um sibilante vento


e adornou os cabelos com raios que colheu da tempestade.


Xangô não fez por menos e cobriu-se com o trovão.


Oxalá trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão


e a testa ostentando uma nobre pena vermelha de papagaio.


E assim por diante.


Não houve quem não usasse toda a criatividade


para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita.


Nunca se vira antes tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo.


Cada orixá que chegava ao palácio de Olodumare


provocava um clamor de admiração,


que se ouvia por todas as terras existentes.


Os orixás encantaram o mundo com suas vestes.


Menos Onilé.


Onilé não se preocupou em vestir-se bem.


Onilé não se interessou por nada.


Onilé não se mostrou para ninguém.


Onilé recolheu-se a uma funda cova que cavou no chão.


Quando todos os orixás haviam chegado,


Olodumare mandou que fossem acomodados confortavelmente,


sentados em esteiras dispostas ao redor do trono.


Ele disse então à assembléia que todos eram bem-vindos.


Que todos os filhos haviam cumprido seu desejo


e que estavam tão bonitos que ele não saberia


escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo.


Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles,


mas nem sabia como começar a distribuição.


Então disse Olodumare que os próprios filhos,


ao escolherem o que achavam o melhor da natureza,


para com aquela riqueza se apresentar perante o pai,


eles mesmos já tinham feito a divisão do mundo.


Então Iemanjá ficava com o mar,


Oxum com o ouro e os rios.


A Oxóssi deu as matas e todos os seus bichos,


reservando as folhas para Ossaim.


Deu a Iansã o raio e a Xangô o trovão.


Fez Oxalá dono de tudo que é branco e puro,


de tudo que é o princípio, deu-lhe a criação.


Destinou a Oxumarê o arco-íris e a chuva.


A Ogum deu o ferro e tudo o que se faz com ele,


inclusive a guerra.


E assim por diante.


Deu a cada orixá um pedaço do mundo,


uma parte da natureza, um governo particular.


Dividiu de acordo com o gosto de cada um.


E disse que a partir de então cada um seria o dono


e governador daquela parte da natureza.


Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade


relacionada com uma daquelas partes da natureza,


deveria pagar uma prenda ao orixá que a possuísse.


Pagaria em oferendas de comida, bebida ou outra coisa


que fosse da predileção do orixá.


Os orixás, que tudo ouviram em silêncio,


começaram a gritar e a dançar de alegria,


fazendo um grande alarido na corte.


Olodumare pediu silêncio,


ainda não havia terminado.


Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições.


Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra,


o mundo no qual os humanos viviam


e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais


que deveriam ofertar aos orixás.


Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra.


Quem seria? perguntavam-se todos?


"Onilé", respondeu Olodumare.


"Onilé?" todos se espantaram.


Como, se ela nem sequer viera à grande reunião?


Nenhum dos presentes a vira até então.


Nenhum sequer notara sua ausência.


"Pois Onilé está entre nós", disse Olodumare


e mandou que todos olhassem no fundo da cova,


onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada filha.


Ali estava Onilé, em sua roupa de terra.


Onilé, a que também foi chamada de Ilê, a casa, o planeta.


Olodumare disse que cada um que habitava a Terra


pagasse tributo a Onilé,


pois ela era a mãe de todos, o abrigo, a casa.


A humanidade não sobreviveria sem Onilé.


Afinal, onde ficava cada uma das riquezas


que Olodumare partilhara com filhos orixás?


"Tudo está na Terra", disse Olodumare.


"O mar e os rios, o ferro e o ouro,


Os animais e as plantas, tudo", continuou.


"Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris,


tudo existe porque a Terra existe,


assim como as coisas criadas para controlar os homens


e os outros seres vivos que habitam o planeta,


como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte".


Pois então, que cada um pagasse tributo a Onilé,


foi a sentença final de Olodumare.


Onilé, orixá da Terra, receberia mais presentes que os outros,


pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos,


pois na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem.


Onilé, também chamada Aiê, a Terra, deveria ser propiciada sempre,


para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído.


Todos os presentes aplaudiram as palavras de Olodumare.


Todos os orixás aclamaram Onilé.


Todos os humanos propiciaram a mãe Terra.


E então Olodumare retirou-se do mundo para sempre


e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos orixás.


Cultuada discretamente em terreiros antigos da Bahia e em candomblés africanizados, a Mãe Terra desperta curiosidade e interesse entre os seguidores dos orixás, sobretudo entre aqueles que compõem os seguimentos mais intelectualizados da religião.

Onilé é assentada num montículo de terra vermelha e acredita-se que guarda o planeta e tudo que há sobre ele, protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida. Na África, também é chamada Aiê e Ilê, recebendo em sacrifício galinhas, caracóis e tartarugas (Abimbola, 1977: 111). Onilé, isto é, a Terra, tem muitos inimigos que a exploram e podem destruí-la. Para muitos seguidores da religião dos orixás, interessados em recuperar a relação orixá-natureza, o culto de Onilé representaria, assim, a preocupação com a preservação da própria humanidade e de tudo que há em seu mundo.


Referências bibliográficas


ABIMBOLA, Wande. Ifá Divination Poetry. Nova York, Londres e Ibadan, Nok Publishers, 1977.


____. Ifá Will Mend our Broken World: Thoughts on Yoruba Religion and Culture in Africa and the Diaspora. Roxbury, Massachusetts, Aim Books, 1997.


LÉPINE, Claude. As metamorfoses de Sakpatá, deus da varíola. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.). Leopardo dos olhos de fogo. São Paulo, Ateliê Editorial, 1998.
 

Governo Dilma busca parcerias com evangélicos e católicos, Povo de Santo é excluído!


Dilma_Rousseff



Governo Dilma busca parcerias com evangélicos e católicos, Povo de Santo é excluído!


Povo de Matrizes Africanas foi lembrado nas Eleições!


Presidente Dilma Rousseff , determinou ao seu Ministro Secretário Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para intermediar junto a entidades religiosas, para incluir em seu plano de erradicação da miséria igrejas que tem grande lastro social, esta tática esta sendo chamada de " Parcerias-público- religiosas", a intenção do governo é canalizar o trabalho assistencial realizado por igrejas de diferentes religiões para ampliar a rede de proteção social.

A partir de Fevereiro, representantes devem iniciar uma série de reuniões para trabalhar em prol do plano de erradicação da pobreza, com representantes Evangélicos e Católicos.






-Matéria publicada no "Jornal do Axé"


-Texto na integra no Jornal do Commércio do dia 13.01.11 , na pagina A-11. Matéria de Josie Jeronimo.


-Fonte: AGEN AFRO CULTURA E IDÉIAS


JÁ PASSEI POR ISSO ANTES COM O PT!


Carlos Alberto de Camargo


Ela só pode estar rindo da nossa cara!...


Se as religiões de matrizes africanas e o "insignificante" Povo do Axé teve grande lastro político e social para serem procurados para darem o seu voto em sua candidatura.


Porque agora não somos mais de grande valor e lastro para futuras parcerias-público-religiosas; para a erradicação da miséria em nosso país? Talvez porque somos vistos como os miseráveis, os que merecem a proteção social, o público-alvo do plano da erradicação da miséria, religião de "fundo de quintal, de Terreiros, Roças" e não como as outras que têem "Catedrais, Igrejas, Mesquitas, etc." Porque é religião de Negro; de senzala, de favelados?


Mas, isto é bem feito, para quem acreditou e confiou nesta gente mais uma vez. Novamente fomos usados, explorados e humilhados e assim vamos continuar sendo, lavando as escadarias das igrejas e apontados como criaturas e não como seres comuns e irmãos criados pelo mesmo único Deus.


Nosso povo realmente precisa mesmo é aprender, quem sabe um dia? Com mais Educação e Cultura de qualidade, pois esta o governo jamais dará! Dele virá p/ nós os mesmos hábitos de corrupção, só que miseráveis "bolsa família" e um aumento de R$5,00 no salário mínimo, que tá bom demais, senão não sobra para eles.
 
E viva o "lula" né gente.KKKKK
 
 

A Hierarquia é Tudo, sem ela o Caos

"A Hierarquia é Tudo, sem ela o Caos"
- (Iyálorixá Stela d'Oxossi, Odé Kaiode -
Ilê Axé Opô Afonjá)



Quero poder estar ajudando aos amigos Sacerdotes com estas informações que seguem abaixo, já que nos dias de hoje está muito difícil fazer com que os devotos entendam que tudo tem sua hora certa e conforme vamos cumprindo com nossas obrigações de tempo é que crescemos e aumentamos nossas batas e presentes e louvores aos nossos Orixás! Em síntese: "Não ponham a carroça na frente dos bois!".


Assim, sábias palavras são estas mencionadas acima por esta Ilustre, Culta e visionária Iyalorixá. Peço sua benção. Okê Aro, Odé Arolê!


Axé!


- ABIYAN: Literalmente (aquele que está para nascer). É toda e qualquer pessoa que tenha conta lavada, obrigações de bòrí e Orisa assentado (uma pré-iniciação).


- FILHOS C/ CONTA LAVADA E/OU BÒRÍ: Pode ajudar no serviço doméstico, do terreiro: varrer a casa, o barracão, ajudar nos cafés da manhã e almoços comunitários, realizados em dias de festa de Orisa, lavar louças, ajudar na arrumação, limpeza e decoração do barracão; enfim em tarefas de natureza civil, sem maior envolvimento religioso.


- FILHOS COM ORISA ASSENTADO: Zelam pelos assentamentos individuais e casa do Orisa a que pertençam. Além das tarefas já descritas, podem participar da cerimônia do ose, toda primeira semana do mês, auxiliando na limpeza e ordem das casas-de-santo, em geral. Podem carregar água para todos os Orisas, ajudando os mais velhos no trabalho de encher as quartinhas. Tem autorização para ajudar as Ãjòiè, durante as festividades de barracão, na tarefa de enxugar rostos de Orisas manifestados nos Adosu, endireitando-lhes as vestes e paramentos. Devem participar dos trabalhos de cozinha, no preparo das comidas dos Orisas, aprendendo, desde logo, a quem pertence determinada iguaria e, também, como se tira um ase.


- IYÁWÓ / ADOSU: OLÒRISÁ: São senhores de enormes responsabilidades, deveres e direitos. Contam tempo de iniciação de Orisa. O processo iniciático de um Adosu demora sete anos, com os seus ètutu completos. O tempo só se completa com as obrigações! Se um Olòrisá tem quarenta anos de iniciado, com apenas obrigação de três anos é considerado com três anos de Orisa. Portanto, seu campo de participação será bastante restrito. É um Iyáwó de quarenta anos de Orisa. A obrigação de sete anos é o término da iniciação, é a mais importante de todas. Daí passa a ser chamado de Egbón, irmão mais velho.


Não tem sentido um Adosu sem educação, ignorante, bruto, de nariz em pé, senhor da situação e da verdade.

Existem três espécies de Adosu às avessas: o de cabeça dura, o rebelde e o desinformado, mal – orientado.

O rebelde sofrerá muito, vítima de si mesmo entregue à própria sorte.


O Iyáwó, além dos deveres dos filhos de santo assentados, é sujeito de outros tantos, mais complexos.

É necessário que saiba tudo a respeito da vida do terreiro: o ciclo de festas, obrigações dos irmãos mais velhos, bòrí, entrada de Iyáwó, asese.


Tem de aprender a dançar, cantar, responder os cânticos comportar-se com dignidade, consideração e simpatia.
 
É indispensável o desempenho das tarefas mais singelas, a exemplo da faxina, trabalho de cozinha e manutenção da roça.
 
Deve se vestir adequadamente, com boa aparência, sem afetação.
 
O Iyáwó deve ensinar seus àbúrò (o mais novo), sempre atento para os ensinamentos de seus mais velhos.
 
Deve transmitir conhecimentos com serenidade e equilíbrio.
 

RELIGIÃO NOVA AFRO-BRASILEIRA do SÉC. XXI



Não quero com esta matéria criar inimizades,
                                                               já que tenho grandes amigos de grande estima e consideração da minha parte que são devotos desta nova modalidade já muito mencionada às vezes jocosamente, mas que devemos reconhecê-la, já que há 100 anos nascia no Rio de Janeiro a UMBANDA, religião espírita com influências cristãs, indígenas, africanas, orientais e kardecistas; utiliza de imagens católicas tem diabo, tem índio que viveu, preto velho que viveu e assim por diante que INCORPORAM, entram em nosso corpo; curam, dão avisos abrem nossos caminhos e nos protegem. Índios, Caboclos, Pretos Velhos e outras entidades são da linha deste ou daquele Orixá, mas jamais a manifestação de Oxum, de Ogum, Yemanjá ou qualquer outro Orixá!


No Culto à Orixá, que o povo chama de candomblé, se EMANA energia elementar: AR, FOGO, TERRA ou ÁGUA, da qual seu Orixá pertence e sua cabeça só pertence a ele!

Nós cultuamos os espíritos de nossos antepassados familiares religiosos e biológicos antes de iniciarmos nossas obrigações para com nossos Orixás pedimos proteção e que tudo transcorra com tranqüilidade e que o nome de nossos antepassados seja sempre reverenciado, por isso a importância de deixarmos descendência.

Daí, não nos é permitido a incorporação por espíritos já que usamos contra-egun, pois a partir do momento em que somos iniciados para qualquer Orixá que seja nossa cabeça e nosso corpo passa a ser um templo sagrado e exclusivo dessa energia e só ele tem o poder e o direito sobre nós já que no Culto aos Orixás existe o termo se somos: “LESSE ORIXÁ ou LESSE EGUN” ou seja: de que lado a pessoa pertence?

Perdoem-me, mas não somos cristãos e muito menos espíritas somos adoradores da Mãe Natureza! Portanto, temos que por os pingos nos ”is” e nos respeitar e nos agregarmos se quisermos chegar a algum lugar.

Não me importa qual sua fé, mas o respeito entre nós é fundamental, já que quem inventou a religião fora o homem.

Então vou usar aqui o lema do INTECAB: “UNIÃO na DIVERSIDADE”


Assim, então: VIVA o UMBANDONBLÉ!


Babalorixá Carlos Oxun Yómi de Camargo


26/10/2009
 

Sem Ebó não há Candomblé.





Ègbé, acho tão importante este tema que resolvi republicá-lo acrescentando mais informações e ratificando a importância de um Ebó em nossas vidas.


Será que todos sabem o que é um Ebó e suas inúmeras finalidades, e aí pergunto: para que serve o Ebó?


É importantíssimo esse entendimento para quem estuda, pratica e vive o Orixá.Tomar e restituir, propiciar redistribuindo, reequilibrar reestabelecendo uma sintonia com o Axé.


*”…Insistimos muitas vezes-diz Juana Elbein- que toda dinâmica do sistema Nagô está centrada em torno do ebó, da oferenda. O sacrifício em toda sua vasta gama de propósitos e modelidades… É a devolução que permite a multiplicação e o crescimento, Tudo aquilo que existe de forma individualizada deverá restituir tudo que o filho protótipo [Exú] devorou…Cada indivíduo está constituído, acompanhado por seu Exú individual, elemento que permitiu seu nascimento, desenvolvimento ulterior e multiplicação; para que ele possa cumprir seu ciclo de existência harmoniosamente, deverá imprescindivelmente restituir, através de oferendas, os “alimentos”, o Axé devorado real ou metaforicamente por seu princípio de vida individualizada. É como se um processo vital equilibrado, impulsionado e controlado por Exú, fosse baseado na absorção e na restituição constantes de matéria…”*


Respondemos inúmeras perguntas sobre qualidades de Orixás, fundamentos, lendas, feituras, borís, axés,sonhos, procuramos desmestificar e dar coragem ao leitor de interagir e familiarizar-se com essa cultura, porém, sem ebó não teremos religião e essa pergunta ninguém fez: Preciso fazer ebó para tomar um Obí? Eborí? Assentar um Oríxá? Iniciação? Como saber qual ebó devo fazer? Por que tenho que fazer ebó? Quando fazer o ebó?


Em primeiro lugar precisamos acreditar no Ebó e na Iyá ou Babálorixá que prescreveu o Ebó e, principalmente entende-lo, pelo menos ter um caminho de entendimento. Ter a prova concreta de ter feito o ebó e ter melhorado, ou ter se livrado de um perigo, amenizado um situação de queda geral, de acidente, de perigo, de perda, de injustiça, de doença, de mal agouro, de egun, de demanda, de negatividade, etc, etc.


Existem ebós positivos e negativos, aqueles que se dão caminho e os que não se dão caminho, ebós de odú, ebós de Folhas,ebós que são presenteados,èjè, opé àti ìdàpò, ètùtù,ebó Ojú kòríbi, Owaji, Osun, Efun, Yrosún, ebó ayè pínùm,ebó ìpilè,ebó catimbó,ebó ancestral, ebós de Exú, Ikú, Egun, Ebós de carrego, Ebós de Axexê,Ebó Ajeum,kizilas/Ewós, Ebó de Ori Ejó, Ebós de Kamburukú, Fatolú, Ebós de Osé, Ebós de Abikú, Ebó Omim, Ebós de prosperidade,ebó de troca, ebós de lua, sol, chuva, tempo, ebós da madrugada, leiú, ebós de rua de todos os tipos, ebó de cachoeira, rio, mar,cemitério, hospital, banco, praça, delegacia,empresas, igreja,mato, dentro do buraco, na montanha, ebós contra vícios, roubo e ebós e tantos ebós de limpeza e preparação até para abrir um jogo de búzios, ebós para chegar e para sair, pra viver, pra morrer,para mil outras finalidades.


O ebó não espera um dia ser feito, se foi prescrito tem que fazer o mais rápido ou não faça mais, pois ele se apresenta num caminho que pode ser transitório.


O ebó existe permanentemente dentro de um Ilê Axé, no momento que entramos na casa, saudamos a entrada com água para esfriar o caminho, isso é um Ebó.


O Ebó é místico, essa é minha visão, ele tem influências de Exú e Orunmilá e Omolú. Na própria confecção do ebó tem a energia de quem está fazendo, arrumando, tem a energia de quem vai passar, de quem vai levar.


O banho de ervas é um ebó de pai Ossayin e, é de suma importãncia tomá-lo após um ebó, é o sangue verde das folhas, a essência viva da natureza.


Se faz ebó com apenas um ovo, se faz ebó com apenas uma pedra de ofun ralado, com uma pimenta da costa, se faz ebó com a fé nas coisas simples que é a grande sabedoria Yorubá.


Os iniciados no Orixá tomam ebó sempre e para sempre, pois, manter-se limpo é estar em sintonia com seu Orixá, é concebe-lo numa suavidade preponderante em seu axé individual, é dar ao seu Orixá um corpo limpo pra uma manifestação pura.


Òrúnmìlá òjó iku dá.**


Somente Òrúnmìlá muda o dia de nossa morte. (com ebó ikú)


O ebó é fundamental para quem quer manter o equilíbrio vital na convivência religiosa, pois “Sem Ebó não há Candomblé”.


Ary Carvalho**


Juana Elbein*


Etutu – O complemento do ebó.


Muitas vezes, precisamos ofertar / fazer sacríficio e direcionar este trabalho para o odu em questão, porém, muitas vezes temos òrìsás que apoiam nossa empreitada.

Este algo mais, que ofertamos tem o nome de Etutu.

É sobre este ebó que falaremos a seguir complementando o texto bem elucidado anteriormente.



E um dos recursos fundamentais na transformação das condições existenciais, sejam elas de origem natural ou social e um ato propiciatório realizado a partir da orientação do oráculo visando prevenir o mal ou atrair o bem favorecendo a libertação dos problemas e a conquista do necessário ao desenvolvimento pessoal e grupal. Assim o Etutu atua em três níveis diferentes de energia:


Preventiva: para evitar que um mal se instale


Curativa: para afastar o mal instalado


Atrativa: para atrair coisas boas


A maioria dos Etutus realizados a partir da recomendação dada por Ifá segue rigorosamente a orientação contida nos enunciados do Corpus Literário do mesmo. Estes descrevem os problemas do consulente e as formas de solução possível que incluem, necessariamente, o Etutu. Muitos dos quais, realizados na presença do consulente, com diversos itens, materiais oferecidos às divindades para solução das adversidades em questão, que tanto podem ser de uma pessoa, de um grupo ou cidade.


A forma de realizar o Etutu não é criada pelo babalawo ao seu bel prazer, ela decorre de ensinamentos contidos nos enunciados de Ifá, de acordo com o Odu manifestado na consulta.


Analisando a forma como o personagem do Odu viveu que problema enfrentou, como os solucionou, inclui na maioria das vezes a prescrição de um Etutu.


As vitórias alcançadas e os males evitados pela personagem mítica do Odu em questão serão alcançados pelo consulente desde que o conselho seja compreendido, acatado e obedecido, conforme recomendações da sabedoria milenar Yoruba.


Para realização do Etutu, são fundamentais os elementos da natureza, assim como as condições climáticas.


Os itens utilizados incluem água das mais variadas fontes (rios, lagos, mares, nascentes, orvalhos, chuva), azeite de dende, mel, cana de açúcar, obi, orogbo, etc…, Cada elemento utilizado possui àse especifico cujo sentido pode ser aprendido ao explorarmos seus símbolos.


O mesmo vale para o significado dos astros (sol ou lua) nos rituais realizados durante o dia ou à noite, das condições climáticas e do local da entrega do etutu.


A água, elemento feminino, circula em toda a natureza. Possui o poder de tornar sagrado o que toca e de estabelecer harmonia. Como todo ser vivo depende da água, os banhos favorecem o renascimento dos rituais, ativando as circulações de energias para multiplicarem o potencial da vida.


Transparentes, profundas, fecundas, correntes, etc., cada uma delas exercem finalidades distintas nos rituais.


O sal, elemento de conservação, vida longa, prosperidade, preservação e durabilidade, confere formas e as sustenta. Sua associação com o esquecimento e a esterilidades o recomenda como importante elemento na neutralização de malefícios.


Como orientação geral, o elemento mineral confere forma as coisas, o vegetal promove renovação das forças e o animal favorece a reposição das energias perdidas.


Cada um dos elementos utilizados nos etutus, possuem peculiaridades energéticas, atuando de modo particular neste ou naquele ponto especifico, promovendo o alivio de dores físicas, favorecendo a realização de negócios, resolvendo problemas amorosos, etc…


Rituais realizados durante o dia a luz do sol diferem de outros realizados a noite. A luz da lua e as estrelas buscam estabelecer contato com seres que, tanto num caso como em outro, possuem atributos favoráveis às trocas que se pretendem estabelecer para alcançar a as finalidades do Etutu.


O local onde o etutu será entregue, também varia de acordo com as instruções contidas nos Odus, copa das arvores, matas, florestas, rios etc…


As encruzilhadas, lugares onde os caminhos se cruzam, são consideradas sagradas, pois nelas ocorre o encontro das forças do ayè com as do òrun.


As montanhas favorecem o crescimento e a serenidade, ponto de união do céu com a terra, sugere possibilidades de superação.


A floresta e a mata, por seus componentes essenciais, lugar de abundante vida vegetal e animal, não dominada nem cultivada, a beira da luz solar, símbolo da terra em sua natureza, guardiã de toda a espécie de perigos e doenças, bem como de múltiplas possibilidades de proteção, defesa e crescimento, favorece o encontro entre o humano e o sobrenatural, com trocas benéficas a ambas as partes.


O mar, local sagrado, cujo simbolismo inclui o poder das águas, de levar o mal para as profundezas, ponto de partida e retorno em meio ao movimento continuo e, muitas vezes, violento na sua existência. O mar, fonte de vida, com suas águas carregadas de sal, favorecem a limpeza da negatividade que cria obstáculos ao desenvolvimento.


O rio, cujas águas em continuo movimento simbolizam a força criadora da natureza, e, portanto a fertilidade, cujo curso irreversível sugere possibilidades de esquecimento. Suas águas lavam o mal e retiram azares.


As árvores, algumas sagradas, abrigando seres que presidem a vida são objetos de rituais para homenagem e suplicas.


Durante a realização do etutu o babalawo recita poemas integrantes de determinados Odus relativos à condição existencial do consulente, bem como outros versos específicos próprios para acompanhar o etutu.


Assim sendo, toda a consulta ao oráculo inclui a recomendação de interdições, de um etutu especifico que, através da orientação bem orientada da força vital, afasta o mal não instalado, neutraliza o já instalado e atrai o bem.


O sistema oracular de Ifá exige na pratica um conhecimento apurado da essência do ser, assim como as possibilidades de exercer ações eficazes sobre a natureza, quer seja através dos Etutus, ou das Oóguns (magias com folhas), ou seja, o todo articulado pela força vital (ase).


Esse conjunto explica o relacionamento existente entre os vários planos da realidade, que sem os mesmos Ifá permaneceria estático, resumindo-se a poemas e enunciados orais distantes da historia.


Humildade e o antídoto para a arrogância.



Humildade e o antídoto para a arrogância.


A maioria das disciplinas orientais e Ifá também exigem do aspirante reconhecer suas obrigações para com os seus antepassados ​​através da meditação respeitosa e ritualística.


A prática tibetana de lam-rim (meditação) leva o aluno ao conhecimento de sua interdependência com os membros da humanidade e do reino animal, bem como com outros reinos de seres vivos, através de exercícios de meditação.


A terapia para esta doença da alma em Ifá é o reconhecimento de nossa verdadeira posição sobre a terra e trazendo nossas ações em equilíbrio respeitoso e harmonioso com o mundo natural.


Abuso físico e emocional e violência entre membros da família tornaram-se banal e negação da responsabilidade pessoal generalizada em todos os níveis de comportamento.


Além das expectativas culturais de comportamento moral, pessoas iniciadas em Ifá trabalham diligentemente para entender e valorizar a contribuição de seus antepassados ​​ a sua atual situação e procura pensar, falar e se comportar de uma forma que demonstra respeito e honra a memória dos antepassados, o resultado natural é um desenvolvimento de natureza humilde.


As habilidades e os esforços dos outros nos beneficiam em todos os momentos e assim estamos vivos e de fato, poucos de nós sobreviveríamos se não fosse por uma teia de pessoas estranhas que muitas vezes, nem sempre se encontram e raramente se reconhecem.


Assim, se uma pessoa quer respeito, eles devem primeiro aprender a dá-lo.


Cidadãos visualizam e tratam uns aos outros com desconfiança e desrespeito, embora o estranho que se encontra ao nosso lado possa ser um benfeitor que construiu a casa em que vivemos ou plantou o alimento que comemos no nosso café da manhã.


É comum na vida moderna vermos crianças desrespeitando seus pais, professores, maridos e esposas tratam-se umas às outras de forma desprezível.


Em contraste, uma atitude mesmo que dentro do direito, mas feita com arrogância e superioridade leva apenas a pobreza espiritual e finalmente, as bênçãos da terra e apoio tribal são retiradas.


Nenhum de nós existe em isolamento ou independência. Precisamos dos outros para crescer e transportar os nossos alimentos, construir casas, estradas e infra-estruturas que nos fornecem vestuário, utilidades e outras necessidades.


Nossos professores orientam e fornecem-nos a experiência acumulada do conhecimento de todos os tempos, permitindo-nos crescer intelectualmente e espiritualmente e ganharmos a vida.


O desenvolvimento da humildade em Ifá é o resultado natural de um reconhecimento realista do lugar dos seres humanos dentro do processo da criação. Se recebermos bênçãos e benefícios em nossas vidas, muitas vezes é devido à bondade de outros nesta vida e as ações de nossos ancestrais no passado.


Orgulho e arrogância no comportamento pessoal se tornaram a norma.


Outra indicação forte de degradação é a falta de cortesia e honra entre membros da mesma filiação tribal ou mesmo dentro da mesma família.


Se um praticante Ifá pede algo, eles vão esperar que algo também seja oferecido. Este ponto de vista leva à constatação de que os ativos mais valiosos são aqueles que vamos dar de presente.


Se uma pessoa quer riqueza, amor, qualquer outro benefício material ou espiritual, ele só virá depois dos esforços oferecidos para obtenção do benefício, mesmo que seja em espécie.


Simples reconhecimento da realidade inegável de nossa interdependência leva a uma atitude mais respeitosa e amigável no geral.


Um dos conceitos poderosos e importantíssimos de Ifá é o equilíbrio entre o dar e receber. Isto requer uma troca equitativa em qualquer interação, para que ela seja bem sucedida.


Uma indicação de degradação da sociedade é a falta de hospitalidade geral e grosseria evidente em quase todas as interações.


Obs.
Texto sem autoria, coletado na internet.