Carta Aberta da Ialorixá Sylvia de Oxalá
09.12.11
Prezadas e prezados,
A pedido de minha Ialorixá, Sylvia de Oxalá, encaminho a carta abaixo e anexa.
Atenciosamente,
Paulo Leonardo
Carta aberta aos religiosos de matriz africana de São Paulo
Muito respeitosamente me dirijo a todos e todas que professam o candomblé, a umbanda e outras religiões de matrizes africanas, especialmente aos sacerdotes de nosso estado.
Sabemos que nossas religiões são, em verdade, mais do que religiões. São cultura, história, modo de vida, que com muita resistência e altivez sobreviveram ao período escravocrata e à perseguição policial, já no período republicano, mantendo até hoje suas raízes.
Nossas religiões baseiam-se na ancestralidade. É nosso dever preservar a forma de ser e viver de nossos antepassados, de nossos mais velhos. Qualquer mudança só é legítima se partir de nosso contexto mítico-religioso.
Acreditamos na convivência pacífica e harmoniosa entre os muitos credos que se professam no Brasil, com as mais diversas origens culturais e históricas. E, reciprocamente, esperamos o respeito de todos por nossas religiões.
A luta de nossos antepassados resultou em avanços formais indispensáveis à manutenção de nossas formas de praticar nossa religiosidade. As garantias constitucionais de um Estado Laico e de uma sociedade livre para professar e praticar suas convicções religiosas são o caminho que devemos perseguir. O que não se enquadra nesse caminho é o ódio.
Tenho plena consciência de que nossas práticas religiosas, por seu caráter iniciático e secreto, são amplamente desconhecidas pelos não-praticantes, o que deve se manter dessa forma, pois o conhecimento só pode vir com o tempo. Isso, no entanto, não pode servir de justificativa para o preconceito e a discriminação. A ignorância deve ser combatida, pois é a matéria prima para a violência.
Dito isso, chamo a atenção de todos e todas para a recente onda de intolerância que tem se alastrado por nosso país, por nosso estado. Aqui, nossa principal preocupação é o Projeto de Lei 992/2011, de autoria do Deputado Feliciano Filho (PV), que proíbe o “uso e sacrifícios de animais em práticas de rituais religiosos no Estado de São Paulo”.
Os movimentos negros já estão se mobilizando contra essa iniciativa. Cabe essencialmente a nós nos manter vigilantes e combativos para impedir que tamanho atentado à liberdade religiosa se perpetue. Temos de cumprir nosso papel de esclarecer a população sobre nossas tradições e crenças, sem revelar nossos fundamentos, mas impedir que o preconceito prevaleça.
Aproveito para convidar todos e todas a participar da Festa das Yabas do Axé Ilê Obá, que acontece nesse sábado, 10 de dezembro de 2011 – oportunidade para nos encontrarmos e fortalecermos nossa união e Axé.
Que Olorum os abençoe e proteja.
Um abraço,
São Paulo, 08 de dezembro de 2011
Sylvia de Oxalá
Ialorixá do Axé Ilê Obá
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