CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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terça-feira, 24 de julho de 2012

EXU? ( Parte 2 )




O que é o bem e o mal. onde ele se encontra? 


O que é o demônio e qual a sua suposta aparência? 


O que é fetiche ou feitiço? 


Como as religiões católica, neopentecostal e islâmica veem o mal? 


Se aguçarmos a nossa imaginação e buscarmos respostas na religiosidade tradicional e cognição africana, na lógica, chegaremos à seguinte conclusão. 


Se a cosmovisão africana crê que no mundo tudo é energia, o mal e o bem são energias que são alimentadas no nosso ego colaborando para o nosso equilíbrio ou desequilíbrio. 


Contudo o que deve prevalecer é o equilíbrio, ou seja, Maat na filosofia egípcia, Axé ioruba e Ntu, banto.


O demônio não existe! 


Foi uma invenção ideológico judaico-cristã, instituição igreja, para dominar os fiéis e justificar o poder na presença de Deus como o ser temido, vingativo a quem devemos obediência cega para evitarmos outra farsa, o inferno, onde por intermédio do padre, rabino, pastor nos orientarão para nos livrar do pecado, também nos colocando em contato direto com Deus e determinando a nossa penitência. 


Essa ideia de céu e inferno é invenção judaico-cristã. 


Na cosmovisão africana a vida existe aqui e agora, sem a ideia do pecado original, portanto o que devemos fazer de bom o lugar é aqui e agora, porque na religiosidade tradicional africana a energia circula entre dois mundos paralelos no qual Deus está presente, do orum (mundo espiritual) e o aiyê (mundo físico).


 A morte é o rito de passagem do mundo visível para o mundo invisível, mundo dos ancestrais, por via do Axexe, momento em que nossa energia vai retornar para Deus e reequilibrar a energia terrestre. 


Axexe é origem das origens, e é quando se celebra a passagem de um ara-aiyê, ser humano habitante do aiyê, para o orum.


 “Esta passagem caracteriza uma elaboração de morte que compreende o conceito de restituição. 


‘Vai-se para dar lugar a outros’. 


Uma vez restituídas de axé, as forças que regem o universo são capazes de engendrar novos nascimentos e expandir criação.” (LUZ 2000, p. 33).


Deus não está longe de nós, faz parte dos dois mundos, porque é energia na qual também estamos embebidos. Deus está em nós e nosso corpo é o seu templo. É nesse sentido que a festa se torna um elemento forte na cultura de base africana, a alegria em vez do sofrimento deve ser preservada. 


Por isso dançamos e cantamos quando celebramos. 


Por essa razão a celebração do candomblé se faz com música, indumentária impecável, e adereços significativos que são ao mesmo tempo obras de arte lindíssimas. 


Lembremo-nos do nosso artista imortal Mestre Didi, o Alapini (líder supremo) do culto do Egungun no Ilê Axé Assipá, na Bahia. 


É um artista que visualizou no candomblé as artes plásticas.


Os missionários chegaram ao continente africano com um amuleto, a cruz, e falando insistentemente em feitiço, palavra inexistente no vocabulário africano. 


Concluímos que o feitiço é uma ideia europeia inserida no contexto africano a partir da colonização. Por que os amuletos africanos eram satânicos se não existia a ideia do satanás? 


Não seria essa entidade católica, uma forma de desestruturar a religiosidade africana, com o intuito de fazer ruir a cultura africana e dominar para controlar o continente por razões sórdidas, criminosas motivadas pelos interesses político-econômicos e pela ganância para por via da religião, impor o poder europeu? 


A religiosidade africana antecede a colonização, logo o demônio, o satanás é uma ideologia utilizada pela crença judaico-cristã para implantar o terror, a força e o poder colonial objetivando a subalternidade e inferioridade da religiosidade africana e afro-brasileira, resultando no que vemos atualmente com a prática da intolerância religiosa. 


Onde o pobre Exu é o culpado de todos os males. 


A religiosidade africana e afro-brasileira são subjetivas e dialéticas. 


É preciso inteligentsia para alcançar essa subjetividade. Satanizar a religiosidade africana e afro-brasileira é um ato de bondade ou de maldade?


O mundo ocidental é dicotômico, lida com ideias fixas de bem/mal; bom/ruim; claro/escuro; acima/abaixo, belo/feio. 


O Exu,  Esu, Eshu, Odara, Bara, Ibarabo, Legbá, Elegbara, Eleggua (Cuba), Akésan, Igèlù, Yangí, Ònan, Lállú, Tiriri, Ijèlú. 


São a subjetividade, são duas ou mais coisas ao mesmo tempo. 


A palavra Exu, significa esfera. 


Onde começa e termina a esfera? 


As ferramentas de Exu são obras de arte, assim como todas as outras que estão e são inerentes às indumentárias dos demais orixás. 


Porque a arte faz parte do universo africano e se notarmos bem do afro-brasileiro. 


Uma forma de se relacionar com o sagrado. 


São formas que contém em si energia vital. 


O Exu pode ser bom ou ruim dependendo dos homens, por que as energias positivas e negativas fazem parte do universo humano, logo, o mal e o bem são energias que emergem das atitudes humanas. 


Um dos símbolos e principal do Exu é o tridente, que limita, mas não dilacera, fere, mas equilibra, não mata. 


A lança transpassa e dilacera o adversário, porém e o tridente é o limite. 


O Exu é evocado no padê ou ipadê, reunião convocatória de todas as forças capazes de trazer o bem estar e prosperidade à comunidade, tempo em que oferenda a Iya-Agba, as mães ancestrais. (LUZ 2000, p. 51)


Exu é o orixá princípio da comunicação, por isso está em todos os lugares, em todos os caminhos em todas as pessoas, transmitindo dinamismo. 


Caminhos são encruzilhadas que levam a todos os lugares possíveis, com várias opções, com várias escolhas. 


Por essa razão as oferendas a Exu, são no abrigo da natureza, na rua e nas encruzilhadas para abrir os caminhos. 


Essas oferendas são a ligação entre o homem e o sagrado, ele faz circular o axé dinamizador do ciclo vital. 


A assentamento de Exu é na frente das casas de candomblé para protegê-la e aos seus adeptos.


 O “assento” de Exu,  que é uma casinhola de pedra e cal, de portinhola fechada a cadeado é a sua representação mais comum em que está sempre armado com suas sete espadas, [...]Entre os iorubás o lugar consagrado a Exu é constituído por pedaços de pedras porosas chamada yangi ou por um montículo de terra modelada numa forma similar a figura humana que tem olhos, nariz e boca assinalados por cauris (búzios). 


Outras vezes são representados por uma estátua que contém fileiras de cauris, tendo às mãos uma pequena cabaça (adó) que no seu interior leva ingredientes com poderes mágicos para a realização dos seus trabalhos, nestes casos, seus cabelos projetam-se numa longa trança sobre o crânio com a finalidade de ocultar a lâmina de uma faca que ele possui no alto do crânio que correspondem aos sete caminhos do seu imenso domínio, eram outros tantos motivos a apoiar a símile. (SODRE 2009, p.5)


Onde estão a maldade e satanismo ou vestígios desses nos assentamentos e nas oferendas a exu?


Exu é orixá l’odê, isto é, orixá de rua, irmão de Ogun. 


Tem várias representações. 


É responsável pelo interior do corpo. 


Exu Bara, oba+ara = rei do corpo, logo todo o indivíduo tem o seu exu. 


Ele responde pela circulação interna do corpo e pelo movimento. 


Está relacionado com  as cavidade internas do útero. 


É o patrono da relação sexual, fazendo interagir o sêmen e o óvulo que é a representação do axé e principio feminino e masculino respectivamente. 


Está ligado à placenta, ou seja, ipori, matéria de origem. 


Também associado à introjeção e restituição que estão representadas nas esculturas que o representa. Transfere as matérias do ayiê para o orun. (LUZ 2000, p. 51)


Exu é filho da interação dos princípios masculino e feminino. 


Orunmila orixá funfun, da cor branca, da direita e com Ybiérru, orixá da esquerda da cor vermelha. 


Quando associado ao barro vermelho endurecido, considerado a primeira matéria do universo.


 “Exu  realiza o processo capaz de engendrar a passagem e o nascimento de um ser do orun para o aiyê, das matérias massa, princípios genéricos, para a existência material concreta”. (LUZ 2000, p. 51).


Exu possui alguns nomes que variam segundo suas características. 


Exu Yangi primeira matéria do universo.


Exu Bara rege o interior do corpo. 


Exu Odara primogênito masculino de Oxum, iniciado em um homem em São Paulo, o Sacerdote Alexandre de Odara, da casa de Mãe Ana de Ogum.


Exu Enugbarijo ligado às funções da boca, da introspecção e da fala. 


Exu Ojixé=ebo, mensageiro e transportador de oferendas. 


Exu Elebó, senhor das oferendas que estabelece a ligação dos seres humanos com os orixás e vice-versa. 


Exu Onã, que abre e fecha os caminhos, prefere as encruzilhadas. 


Exu-obé, o que maneja a faca que separa e auxilia o nascimento e propicia a morte. 


Exu Osetuwa, que movimenta a posição dos símbolos que representa os Odu que regem o destino. (LUZ 2000, p. 51).


Exu é andarilho, é invisível, mas existe. 


Representa o riso e a brincadeira. 


Um dia Exu resolveu trocar a lua, o sol e o oceano dos seus lugares de origem. 


Oxalá viu a lua passar em lugar que não lhe era particular e perguntou o que ocorreu. A Lua respondeu: – foi Exu. 


E Oxalá ordenou que tudo fosse restituído ao seu lugar.


Quais são as ideias de lateralidade na religião de matriz africana as quais podemos dizer que Exu utiliza no seu ofício de mensageiro entre os dois mundos, responsável pelo ciclo de energia vital?


Tendo a oferenda na mão esquerda estende o braço para a frente saudando o nascente, o iyo-õrun; levando o seu braço para trás, saúda o poente, o ìwò-õrun; depois estende o braço para a direita, saudando o lado direito do mundo, o ótún-àiyé; e finamente para a esquerda, saudando o lado esquerdo do mundo, òsì-aiyé. (SANTOS 2008, p. 69)


Observemos então que as oferendas e comunicação se dão extremamente conectadas com o mundo e a natureza. 


Exu notadamente não é especificamente um orixá, é um princípio comunicação e da circulação do axé, da energia vital entre o homem, a mulher e o sagrado, as divindades, o meio ambiente. É a força dinamizadora.


Não há existência sem Exu, porque não há existência sem uma forma cultural que lhe dê sentido. Exu dá sentido ao interligar todos os seres. 


Os seres são porque são interligados. 


Exu é o princípio da comunicação e como toda a comunicação é pública, logo política. 


Exu é o princípio mais dinâmico da cultura afro-brasileira na medida em que coloca todos os seres em intercâmbio relacional conferindo-lhe a existência individualizada, principalmente o sentido que faz com que as coisas sejam o que são [...] a inteligibilidade sobre as coisas. (OLIVEIRA, p. 108.)


Exu é Exu! Exu é nossa natureza humana, Exu é alegria e tristeza, é a personificação da dinâmica da vida.


BIBLIOGRAFIA


LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. 2a Edição. Salvador: EDUFBA. 2000.


OLIVEIRA, David Eduardo de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente. Fortaleza: LCR. 2003.


SANTOS. Juana Elben dos. Os Nãgõ e a Morte: Pàde, Asèsè e o culto égun na Bahia. Tradução UFBA. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.


SOUSA JUNIOR, Vilson Caetano. Nossas Raízes Africanas. (Org.). São Paulo: Atabaque, 2004.


Bibliografia Eletrônica


Exu e seu tridente Disponível em: . Acesso 06 fev. 2012.


SODRÉ, Jaime. Exu – forma e função. In: Revista VeraCidade – Ano IV – Nº 5 – Outubro de 2009 Dsiponível em . Acesso 6 fev. 2012.


Exu (orixá). Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Exu_(orix%C3%A1). Acesso 06 fev. 2012.


Por Rosivalda Barreto



Exu: A Dialética da Religiosidade Africana que reflete na Religião Afro-Brasileira.



O que é dialética?


A dialética vem do grego e do latim (dialectica e dialectice). 


É um método que se assenta na contradição e contraposição de ideias, gerando outras ideias a partir de argumentação. 


Literalmente significa “caminho entre as ideias”, a arte do diálogo. 


De acordo com os intelectuais a dialética se fundamenta na filosofia ocidental e oriental. 


Percebamos então que: existem segundo a cosmovisão ocidental dois nomes de filósofos fundadores da dialética Zenão de Eleia (490-430 a.C.) e Sócrates (469-399 a.C.). Diz-se que os métodos dialéticos mais conhecidos são os de Hegel (1770-1831). 


Contudo concordando com Ngoenha (1993)[1]quando faz analisa as correntes filosóficas explicitando que a filosofia ocidental descarta a filosofia africana.  


Ora, se os filósofos gregos estudavam na biblioteca da cidade de Alexandria, e essa era uma importante cidade egípcia, logo a filosofia nasce no Egito, na África com filósofos africanos. Os filósofos ocidentais que beberam na fonte da filosofia africana.


A África sendo o berço da humanidade, naturalmente não teria sobrevivido até a colonização sem tradição e filosofia. 


Munanga (2009)[2], Ki-zerbo (2006)[3], Luz (2000)[4], Altuna(1985)[5], Obenga(2004)[6] afirmam que existe uma filosofia, ou seja, uma cosmovisão africana que concluímos ser banto e ioruba. 


As duas fazem parte do cenário brasileiro e estão imbricadas nas religiões de matriz africana. 


Existe uma unidade na diversidade de acordo com os autores acima, o que caracteriza o continente africano: religiosidade, energia vital (para nós da religião de matriz africana chamamos de axé) e valorização da natureza; circularidade, o que explica dançarmos o candomblé numa roda e jogarmos capoeira também numa roda. 


Nesse espaço célebre a hierarquia respeita a antiguidade, ou seja, quem é mais velho no santo ou na capoeira, o mestre. 


O poder não passa pela posse financeira.


A filosofia tradicional africana não contempla a contradição (bem x mau) / (céu x inferno). 


Essas dois adjetivos se inseriram na realidade africana a partir do islamismo, catolicismo e na atualidade com o neo-pentencostalismo. 


A filosofia africana crê que o mundo deva ser equilibrado. 


Esse equilíbrio segundo a filosofia egípcia é Maat[7]. 


O mau e bem são energias que nos circundam, e a energia negativa (que não é a personificação da imagem do demônio, nem do satanás), é a causa do desequilíbrio. 


Logo, nessa cosmovisão os humanos podem direcionar bem ou mal as energias, causando bem ou mal para si e para os outros. 


Por que a filosofia Ubuntu, consiste em ‘existimos por que os outros existem’, e esses outros, são todos os seres animais, vegetais e minerais. 


Certamente a energia negativa provoca desequilíbrio e resulta nas nossas faltas. 


Essas faltas podem ser perdoadas, amenizadas e promover equilíbrio e são corrigidas por meio das oferendas a Deus, através dos Oirxás e Ancestrais.


A vida deve ser vivida agora, e a felicidade deve fazer parte da vida, vida essa que está respeitando um ciclo entre dois mundos o material Aiyê e o espiritual Orun. 


Somos todos/as energia, que num movimento circular retorna à sua origem: Deus. 


A morte é um rito de passagem para a vida espiritual, logo, a morte inexiste. Morrer é, não deixar descendentes. 


A religião tradicional africana é uma religião de vida e não de sacrifícios, nem de morte. Por essa razão dançamos e cantamos quando celebramos. A energia está na música e no som dos tambores, a nossa voz é o tambor!


Nessa religião existem: Deus entidade inquestionável; os seres divinizados (orixás), entidade representantes dos fenômenos da natureza e os ancestrais (eguns)[8]. 


Dentre os orixás existe um, o EXU, ele  me fez pensar na filosofia e na dialética. 


Por que esse orixá é tudo que há na natureza humana, amor, ódio, graça, sensatez, insensatez, humor, logo cada homem e mulher possui um EXU! 


O que é o EXU??


BIBLIOGRAFIA ELETRÔNICA


Disponível em . Acesso em 29 jan, 2012. 15:27.


Dicponível em:


[1] NGOENHA, Severino Elias. Filosofia Africana: das independências às liberdades. Maputo: Edições Paulistas. 1993.


[2] KABENGELE, Munanga. Negritude: usos e sentidos. Coleção Cultura Negra e Identidade. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2009.


[3] Ki-ZERBO, Joseph. Para Quando África? Entrevista com René Holenstein. Tradução Carlos Aboim de Brito. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.


[4] LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. 2a Edição. Salvador: EDUFBA. 2000.


[5] ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Assúa. Cultura Tradicional Banto. Lunada: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral. 1985.


[6] OBENGA. Teòphile. African Philosophy – The Pharaonic Period: 2780-330 BC. Dakar: Per Ankh, 2004.


[7] Op. cit.


[8] Os mortos. Esses são homenageados nos cultos dos Egunguns, masculinos e Geledés, femininos. Informações fundamentadas poderão ser encontradas em: SANTOS. Juana Elben. Os Nagô e a  Morte: Padè, Asèsè e o Culto do Egun na Bahia. Tradução Universidade Federal da Bahia. 13ª Edição. Petrópolis: Vozes. 2008. 


[9] Os mortos. Esses são homenageados nos cultos dos Egunguns, masculinos e Geledés, femininos. 


Informações fundamentadas poderão ser encontradas em: SANTOS. 


Juana Elben. Os Nagô e a  Morte: Padè, Asèsè e o Culto do Egun na Bahia. 


Tradução Universidade Federal da Bahia. 13ª Edição. Petrópolis: Vozes. 2008. 


Por Rosivalda Barreto



A ética na prática de Sacerdotes com enfermidades.


Para pessoas que não pertencem ao meio o assunto pode parecer estranho, aliás como muitos assuntos nesse blog.  

Fazendo um parenteses, é bastante dificil estabelecer um padrão de conteúdo considerando os diversos níveis de conhecimento que as pessoas podem ter da religião.

Assim, na medida do possível os assuntos são tratados da forma mais claro e objetiva possível, mas determinadas questões poderão parecer estranhas para muitas pessoas que leem. 

Não são. 

São assuntos e temas que fazem parte do dia a dia.

Estamos lidando aqui com o caso de Sacerdotes doentes que tenham doenças de diversos tipos, sejam contagiosas ou não seja câncer, Aids, lupus, etc...  

O conjunto de doenças é bastante amplo e pode variar de uma simples gripe a uma doença séria que o acompanhe por longo período e possa até mesmo levar para uma faze terminal.

O que muitos perguntam é se esses Sacerdotes não deveriam interromper suas atividades em função dessas doenças. 

Novamente, pode parecer estranho essa colocação mas, sacerdotes de Ifá ou Candomblé lidam com liturgias, obrigações, troca de energias e limpezas energéticas (ebós).

Um Babalawo ou Babalorixá é muito diferente de um Sacerdote cristão que usa o seu tempo para pregar e convenser pessoas. 

Infelizmente faltam aos Sacerdotes de Ifá e Candomblé essa vocação para falar. 

São muito ruins nisso, porque como em qualquer atividade é a pratica que leva a perfeição e sem pratica não existe desenvolvimento.

Mas Babalawo e Babalorixá lidam com outro tipo de atividade.

A ética envolvida nesse tema é que se a pessoas esta com uma doença, esta debilitado ou tem dentro de si um "mal" não deveria ele interromper a atividade de atender outras pessoas?  

Não deveria ele resolver sua situação primeiro?  

Não estaria ele pondo em risco ou comprometendo outras pessoas?

Sim, todas essas questões são justas, mas, não são simples.

Vamos sair do discurso idiota de dizer que não tem nada haver, e que a pessoa é um ser humano, que tem que ser respeitado, que não pode haver preconceito. 

PARADO! 

Isso é conversa fiada, como eu disse, coisa de gente idiota. 

Claro que essas questões tem que ser avaliadas e pensadas. 

Não vamos ficar nos perdendo em falsa moral ou sentimentalismo.

Como sempre digo, estamos lidando com ilações e opiniões. 

Cada um que escreva um blog e coloque a sua.

Vamos pelo be-a-ba. 

Um sacerdote é uma pessoa que manipula Axé.  

Isso já foi abordado aqui em outros textos. 

Existe um extenso texto sobre o que é um ebó que explica bem isso de maneira que não vou voltar a isso em detalhes.

Manipular axé significa lidar com essa energia de vida, significa recebê-la do Orun e transmiti-la. 

Também significa fazê-la movimentar, retirar energia negativa da pessoa e trazê-la para si. 

Significa também e principalmente a transmissão de axé, do axé do sacerdote.

Essa é a questão que as pessoas levantam: Se a pessoa está doente, como pode ela transmitir axé para outros?

Eu não suponho que pelo fato de uma pessoa ter uma doença que requer um
tratamento contínuo e grave que ela vá transmitir essa doença ou seu mal através do seu axé.

Mas é importante que a gente entenda que ao realizarmos uma liturgia, um bori, uma feitura, uma ebó, uma matança, estamos realizando um operação de transmissão de axé. 

O Axé não fica no ar e a gente respira ele, ele é transmitido por quem realiza a liturgia, flui através dessa pessoa.

Assim a pessoa que executa algo é sempre uma pessoa de confiança do zelador se
não o próprio. 

Tem que haver a certeza da preparação da pessoa e de sua intenção. 

Não é só uma questão de a pessoas ter as famososas obrigações, tempo ou cargo. 

As pessoas que realizam liturgias, de ebó a bori, tem que ser pessoas boas, éticas, corretas, de coreção limpo.

Todo o processo de transmissão, além do axé que é direcionado através da pessoa que faz para a pessoa que irá receber, vai incluir majoritariamente a transmissão do próprio axé de quem faz, esse é o princípio básico dessa religião. 

O zelador ou a pessoa que trabalha no momento, cede o seu axé e recebe sim a carga negativa que retira do outro. 

Existem atividades que são estafantes além da própria carga física.

Sacerdotes e seus auxiliares devem o tempo todo estar se cuidando. 

Elas recebem negatividade e transmitem sua própria energia. 

Claro que existe também um processo de renovação, dependendo da liturgia que se faz, assim, ao se dar um bori ou uma obrigação que vai repor axé, o axé circula através de você fazendo você mesmo ficar melhor com isso, ou seja, repetindo, isso pode até fazer bem para você.


Mas,  pessoas que estejam debilitadas por doenças sofrerão um processo de prejuízo a si mesmo e isso deve ser evitado. 

Dependendo da doença que a pessoa tem e do seu estado, essa pessoa pode estar debilitada e usando o seu próprio axé para se manter bem. 

Passar para outros o que tem poderá fazer falta a si mesma.

Participar do processo poderá trazer um agravamento para ela, um desgaste adicional. 

Tem muita gente que conheço que quando esta com um gripe ou virose forte e ela se sente debilitada que não participa de ebó, não passa ebó e nem dá obrigação. 

Ela faz isso por ela mesma.

Outro aspecto além dessa perda é o quanto o que ela faz não é influenciado pelo seu estado. 

Esquecendo a doença, quando vamos fazer essas liturgias temos a recomendação de nos prepararmos para isso. 

Isso significa nos abstermos em dia precedentes de atividades e hábitos que não são recomendados para que estejamos de "corpo" limpo.

Em Ifá existe o odu otuwa ofun que diz sobre a recomendação de se preparar, de se limpar antes de uma liturgia para que ela seja aceita. 

Em Oxéotuwa, Oxeotuwa só foi aceito no orun quando recebeu esse conselho de uma velha e teve sucesso onde todos os orixás anteriores haviam falhado (transcrito em Os Nagô e a morte).

Esquecendo a literatura, e indo para a prática, a gente tem a recomendação de ter muito cuidado com quem permitimos que faça os sacrificios. 

É um cargo dado a uma pessoa de estrita confiança visto que uma pessoa mal intencionada pode trazer prejuízo ao
processo e a quem recebe aquilo.

Quero aproveitar para lembrar que sacrifícios é uma liturgia muito importante e rara nessa religião. 

Não faz parte do dia a dia e somente é feito em ocasiões e com motivos muitos especiais. 

É uma cerimonia simples mas muito significativa de confraternização com os Orixás, uma festa.

Continuando, se tomamos cuidado com a preparação do corpo e espirito e também com a intenção ou insenção de quem "opera" liturgias é porque existe mais coisas a considerar. 

O axé da pessoa, que é divino, é alterado ou sofre influencia de fatores da própria pessoa que o opera.

O caso de algumas doenças debilitantes podem se aplicar aqui e por isso mesmo requerem cuidado.

Se não houvesse nenhuma orientação de preparação para as liturgias, se a gente não se preocupasse tanto com a limpeza física e espiritual como fazemos eu diria que tanto faz, que a nossa atenção deveria ser somente para o caso se a pessoa se sente bem para transmitir axé.

Em Ifá uma coisa que a gente aprende a fazer é consultar o oráculo antes de iniciar um trabalho. 

Uma resposta negativa indica o nosso estado e não o do consulente, já disse isso aqui. 

A negativa pode requerer que você faça alguma coisa para se preparar ou se limpar.

Nós em nosso próprio dia a dia ou com alguma doença podemos estar com uma negatividade ou um espirito e que ou não devemos fazer ou que devemos nos limpar. 

Dessa maneira sim é relevante a preocupação para todos os envolvidos da condição de saúde do sacerdote.

Muitos tolos minimiza essa questão, dizendo que o próprio orixá intervem nisso permitindo ou impedindo. 

O Orixás inclusive iria consertar algo feito errado. 

Eu vejo isso com restrições, uma grande bobagem.

Se o orixá intevisse em tudo o que fosse errado a gente não precisava ficar preocupado com os descalabros e marmotagens que vemos por ai. 

Era apenas esperar Xango mandar um raio ou uma pedra e estaria tudo acabado. 

Mas não é assim que acontece. 

Não existe intervenção divina e imediata na nossa vida. 

A vida é nossa aqui e cabe a nós viver. 

Os orixá nos ajudam, mas vivemos e depois prestamos conta do que foi nossa vida, mas, isso não impede ninguém de ser injustiçado, de ser roubado, de ser assassinado ou enganado.

Assim é uma argumentação muito simples e ingênua a gente achar que orixá resolve tudo ou que se Ori permite esta tudo certo, etc... 

Esta intervenção não existe dessa maneira e se estivermos fazendo algo errado vamos fazer mesmo.

Igualmente se uma pessoa não deveria estar trabalhando em sua casa em liturgias contra o bom senso ou o que é razoável,  porque iria o orixá intervir?

É nossa vida, nossos acertos e erros, eles não vão viver nossa vida. 

Por essa razão eu não coloco a espera dessa definição na mão deles. 

É na nossa mão que esta e nós que devemos pensar e agir.

As cruzadas foram feitas em nome do Deus Jeová, God wills it! era o lema, se lembram, Deus queria aquilo.... 

Dificilmente queria. 

Ou então para o julgamento das bruxas, inocentes eram queimados ou afogados, e nenhum anjo aparecia. 

Milhões de africanos foram acorrentados e sofreram em cativeiro, não lembro de nenhum caso de intervenção do orixá deles.

O que significa isso? 

Que o divino não existe? 

Claro que não, convivemos com a prova viva de que ele existe, mas, a vida é nossa e podemos fazer o que quisermos para o nosso bem ou nosso mal, senão não teria a menor graça.

Assim essas questões não ficam nas mãos deles e sim na nossa. 

O certo é o certo e mais a pessoa deve ter o conhecimento do que e o certo.

Se você faz o errado e incorreto, você e muitos outros vão sofrer com isso. 

O Divino dá recursos para você não errar, desde que você procure saber e aceite isso. 

Poucos assim o fazem.

Existe outro aspecto envolvido na atuação dos sacerdotes que são as doenças contagiosas. 

Isso não tem nada haver com axé e sim com saúde pública. 

Esses sacerdote não deveriam lidar com qualquer situação que leve ao contágio de outros. 

Para isso basta ele ter meio neurônio.

Sacerdotes que tenham AIDS passam a ter bastante restrição na sua atividade. 

Um sistema imunológico abalado o deixa vulnerável, um coquetel de remédios o deixa medicado todo o tempo e sempre vai existir o risco de contágio. 

Não se pode ignorar isso.

E se o sacerdote tiver hanseniase? 

Não vai ter que interromper para se tratar? 

Ou as pessoas vão achar que isso é axé? 

Se tem câncer? 

Esta fazendo quimio? 

Então ela vai ter muita restrição no que faz porque nesse momento sua vida esta sob controle, mas se esta fora de tratamento e se sente em condições de trabalhar, não acho que vá transmitir axé ruim para alguém.

Temos que pesar o bom senso, a questão do contágio e a questão da própria resistencia pessoal, porque, como eu disse quem executa uma liturgia não só movimenta axé como também energias negativas para si mesmo

Vou voltar em um ponto que já disse para encerrar esse texto. 

Muita gente foge desse assunto dizendo que o Orixá resolve ou que o Ori resolve. 

Não é assim. 

Ilusão acreditar nisso ou acreditar que essas pessoas procuram sinceramente esse caminho para se orientar.






A questão da supervisão sobre a pratica da religião



Esse será um tema mais coloquial e menos estruturado do que os diversos textos de conteúdo que público. 


Esses dias recebi uma postagem de uma pessoa perguntando se haveria uma forma de controle sobre a prática de religião que permitisse punir ou inibir pessoas que enganam, iludem e roubam outras pessoas, como promessas mentirosas, literalmente a pergunta foi 


"Ha alguma instituição ou orgão que fiscaliza as praticas de ifa(principalmente) e de umbanda? 


Digo, caso alguém que tenha o certificado para as práticas, se esse pessoa vier a fazer mau uso, causando fofocas e desavenças ha alguém que pode interceder e fazer com que a pessoa ou deixe de atuar ou se adapte as reais praticas( eu creio que nao se deve prejudicar as pessoas com esses trabalhos e sim ajuda-las) ? 


Eu entendo que esta é a dúvida de muitos e existem algumas informações importantes que eu posso adicionar.  


Não sou nenhum especialista no assunto e não vou aqui, para o alivio de todos, em discorrer sobre leis e direitos, mas, existem algumas informações e recomendações que podem ser feitas.


A primeira e mais simples é que, NÃO, não existe instituição ou organização religiosa que controle, avalie e puna qualquer atividade de pessoas que se alegam Umbandistas, Candomblecistas, Ifaistas, evangélicos ou qualquer outra estrutura religiosa. 


A Igreja Católica é uma das poucas instittuições que tem uma estrutura formal de controle e subordinação direta dos seus sacerdotes. 


Ela possui os ativos, a relação trabalhista e até a representatividade civil e política.


Apesar disso problemas ainda ocorrem, afinal é uma corporação como qualquer outra e tem os seus interesses, mas, se existe um desvio de membros em relação ao interesse da corporação, poderá haver uma intervenção e também sempre haverá o interesse da corporação de preservar sua imagem pública.


Mas poucas religiões são assim organizadas.


No caso da Umbanda, há muuuuitos anos atrás, nos tempos de Vargas, haviam as federações que exerceram alguma influencia no estado  e controle sobre a prática e as casas. 


Algum controle,  se diga.  


Mas, estamos em outros tempos e naquela época havia uma mão forte do estado Vargas sobre a sociedade civil, atuando através de aparelhos como federações, sindicatos e mais, uma polícia que como sempre, ou talvez mais do que nunca,  servia ao interesse do estado e de poderosos e não ao interesse da população (isso mudou ?).


Mas este período já se foi há muito tempo.  


Nem isso existe mais hoje em dia e essas tais federações de Umbanda, que ainda existem por ai, não servem para nada, nada mesmo.  


Nem para defender os interesses de seus associados.


No caso de Candomblé, que foi por muito tempo perseguido, muito mais do que Umbanda, esse tipo de controle jamais existiu. 


Havia apenas a perseguição e o enorme preconceito (muito  bem justificado).


Mas, muitos podem se perguntar, afinal, para que precisamos de controle e supervisão sobre a prática religiosa? 


Isso não deveria ser uma coisa do Bem?


Deveria, mas praticantes da Umbanda e Candomblé há muito se dedicam ao Lado negro da religião.  


A Comparação com a saga Star Wars é muito adequada. 


Existia, na saga, a "Força" que era a energia perene que existia no universo (igual ao axé?). 


Ela podia ser manipulada de 2 maneiras, pelo lado claro e pelo lado obscuro. 


Os mocinhos usavam o lado claro e os bandidos o lado obscuro.


O lado negro da religião é o dos feiticeiros, dos fazedores de feitiços, dos que se preocupam em fazer amarrações, dos que oferecem benefícios e facilidades em troca de dinheiro, dos que vendem obrigações por valores milionários, dos que cobram o salário de um mês da pessoa para fazer um ebó ou limpeza. 


Enfim, todos aqueles que trocam favores por dinheiro são os representantes do lado obscuro.


Mas este não é um texto sobre ética religião e sim sobre o que você pode fazer para se defender.


Como eu disse, não existe controle sobre essa prática.


 O estado não se ocupa disso, não existe regulação para a atividade e as próprias religiões também não se organizam para estabelecer isso. 


Mas esse problema sempre existiu e sempre houve solução. 


Não esperem uma solução religiosa, infelizmente não existe unidade ou organização que preserve a ética na religião.




Se alguém se sentir prejudicado com o trabalho de algum sacerdote existem inúmeros instrumentos da sociedade civil que protege a própria sociedade civil.


É importante alertar que liberdade religiosa é um direito pessoal, mas, não implica que qualquer outra lei já existente deixe de ser cumprida em nome dessa liberdade religiosa. 


Além disso, você pode praticar sua religião em sua casa, mas, se organizar uma reunião tipo um templo, uma igreja, um terreiro, estará submetido às regras normais da prefeitura de sua cidade que regula qualquer atividade, se submetendo aos bombeiros, à saúde pública e ao código de posturas.


Observe que o novo código civil estabeleceu o reconhecimento de 2 coisas, a primeira é a atividade sacerdotal a segunda a atividade do templo religioso. 


Se a pessoa procurar se ajustar a essas 2 regulamentações, primeiro a pessoal dele como sacerdote e em segundo da sua casa ou organização, estará bem amparado em relação à lei. 


Mas, se não tiver nem a primeira nem a segunda, vai estar muito exposto.


Vamos a um exemplo, se uma pessoa que decidiu fazer uma feitura, no Candomblé, por exemplo, se aborrecer com o sacerdote, poderá sair do roncó direto para uma delegacia de polícia, registrando queixa de formação de quadrilha, carcere privado com tortura, maus tratos, práticas de curandeirismo, etc...


De nada vai adiantar o Babalorixá ou Iyalorixá falar que a pessoa fez por vontade própria. 


Se ele não estiver regularizado como um sacerdote ela não tem como se justificar e a lei será implacável. 


Já existem casos de condenação que levou à prisão do sacerdote e de seguidores.


Se alguém fizer o seu orixá e guardar as NFs de compra do material e registrar que deixou esse material  na casa do Babalorixá, poderá ir lá com a polícia. 


Uma pessoa que pague por um ebó ou trabalho e tenha testemunha do que o Babalorixá prometeu, caso não tenha resultado poderá processar a pessoa por roubo, estelionato, etc...


A ameaça de ser preso por prática irregular de medicina, através de acusação de curandeirismo existia e continua a existir.


Pior, acusações podem ser feitas pela família da pessoa, não necessariamente pela própria.


Enfim, no que pese a religião não ter um controle ético, a sociedade civil esta bem protegida. 


Quem quiser pode requerer os seus direitos e trazer enormes problemas e dificuldades para a outra pessoa.


Devemos considerar que hoje em dia a regra é a pessoa não estar regularizada o que a torna um alvo muito fácil de ações e processos.


Ifá esta submetido aos mesmos problemas, pior, o Babalawo deve se preocupar muito com o que diz e promete para a pessoa. 


Fazer uma consulta é uma coisa simples, mas, fazer ebós e trabalhos para se obter resultados é outra coisa. 


Em princípio o consulente deveria assinar uma autorização antes de se fazer qualquer ebó nele.



A ética na religião do Candomblé



A ética na religião do Candomblé


O candomblé é considerado por muitos uma religião sem ética e sem moral, na qual tudo pode, na qual não existe pecado ou punição. 


Eu discordo em parte dessas afirmações. 


Por um lado eu não posso ignorar que muitos dos que fazem essas afirmações se baseiam naquilo que ouvem da boca de pessoas que se dizem do Candomblé, aliás, Iyalorixas antigas. 


Por outro lado existe um aspecto conceitual e outro pratico que mostram justamente o contrário.


Minha posição é que as pessoas que fazem essas afirmações e que contribuem para essa noção de falta de ética, são de fato uns idiotas, gente ignorante que não procurou aprender sua própria religião.


Esse assunto me veio pela primeira vez quando estava pesquisando justamente sobre a questão da moralidade e li vários capítulos do livro do Reginaldo Prandi, Os Candomblés de São Paulo, livro esse que pode ser baixado legitimamente na forma de PDF, acessando o site do próprio autor. 


No livro o mesmo comenta bastante sobre isso através da transcrição de entrevistas de pessoas de candomblé, babalorixá e iyalorixá, nas quais eles afirmam isso: a religião não ter ética e tudo pode ser feito, como se fosse um grande feito, inclusive. 


Na verdade essa posição existe apenas para ocultar e justificar a canalhice que eles fazem no dia a dia, com se fosse um elemento da religião que dizem pertencer. 




Depois desse choque eu passei a prestar a atenção nos programas de rádio, entrevistas e outras fontes para poder aprofundar um pouco nisso para poder tirar algumas conclusões próprias.
  
Para aqueles que se decepcionam com esse mito de imoralidade, eu gostaria de dizer a vida em um terreiro mostra justamente o contrário.
  
Existem inúmeras regras de comportamento para todos e especialmente para iniciantes. 


A gente aprende e é obrigado a praticar algo que já esqueceu na vida comum que é respeitar incondicionalmente uma pessoa mais velha, seja por anos de obrigação ou mesmo por idade, a gente aprende a dar valor a pessoas mais velhas porque elas no candomblé são as que adquiriram o conhecimento e tem então a oportunidade e missão de ensinar aos demais e mais novos, a gente aprende a se submeter a hierarquias e cargos, o que muitas pessoas não fazem em sua vida normal nem mesmo na família, a gente aprende a se comportar, a ser humilde, a reservar dias, a reservar comportamentos, alimentos, fazer silêncio, obedecer regras de ética de vesturário, receber privilégios com o tempo, valorizar a idade e a experiência, e por ai vai. 
  
A vida em um terreiro é uma lição de ética, moral e comportamento. 
  
Haaaa, mas é claro que existem becos por ai onde nada disso é observado, ou pelo menos a parte de submissão a humildade e onde esse código de comportamento é usado apenas para impor autoridade de quem não tem ou de quem não é nada como pessoa ou não se sente nada e quando esta dentro aqueles 4 muros acha que vira rei, etc..


Isso não é candomblé, isso é um beco. 


Assim, a prática e não a teoria, me mostra que o 


Candomblé não pode ser associado a uma religião sem ética e moral. 


Não a religião.


Entretanto, mesmos nas casas mais tradicionais ainda existe uma linha de pensamento na qual o próprio babalorixá diz: não me interessa o que aquela pessoa faz do portão para foram, mas sim do portão para dentro. Lamento, minha opinião é que quem diz isso esta errado, muito errado. 


Sim importa sim o que a pessoa faz em qualquer lugar e em qualquer hora do dia. 


O candomblé não é um religião de igreja, você pratica ela todo o seu tempo. 


Não temos templo, o templo é o mundo e a gente esta com o orixá o tempo todo. 


Assim o comportamento de uma pessoa importa sim. 


Não existe o sentido secular, a separação entre o sagrado e o laico no candomblé.


A religião é a continuidade de nossa vida e o terreiro é apenas um momento em que as pessoas se reúnem. cerimônias podem ser feitas em qualquer lugar e alguns consideram que são até mais intensas quando se esta em contato com o mundo natural. 


Desta maneira uma pessoa não pode dizer que não interessa o que um adepto faz do portal para fora. Essa pessoa do portão para fora tem que ser a mesma do portão para dentro. 




Mais uma vez sou obrigado a dizer que pessoas que dizem que o que o membro de sua casa faz do portão para fora não o interessa é uma pessoa desinformada, não sabe o que se espera de uma religião e de um sacerdote.


Sob o ponto de vista conceitual para podermos entender a ética da religião a gente tem que se mirar em 2 coisas. 


A primeira é o conteúdo do ensinamento formal que esta nos ésé de Ifa e também nos itans, e mitos regionais. 


Essas histórias traduzem conceitos éticos e morais da religião.


O cuidado é não usar os mitos deturpados e estragados que circulam por ai e que servem apenas para transmitir e justificar vilanias.


Dessa maneira estudar esses mitos e itans é uma parte fundamental do aprendizado religioso. 


Nesse sentido as pessoas mais velhas são aquelas que aprenderam mais histórias e mesmo sem terem podido escrevê-las elas podem contar para os demais. 


Um mais velho legítimo é aquele que sempre atrai em torno de si pessoas mais novas ávidas por ouvirem suas histórias e casos e é um pessoa sempre com conhecimento para transmitir, mas conhecimento que não sejam apenas vaidades pessoais, porque também já vi muita gente que a única coisa que faz é repetir histórias sobre si mesmo.


Igualmente pessoas cuja única coisa que tem a contar são críticas, comentários pejorativos e patifarias que viu em outras casas é uma pessoa sem conteúdo que perde sua vida andando por lugares que não merecem a presença de ninguém. 


Eu penso assim, se você vai em um lugar e vê uma coisa ruim ou feia, a primeira coisa é, o que você esta fazendo lá? 


Se esta lá é igual aos demais. 


Mas, a moral e ética das histórias e versos não são uma coisa simples e previsível. 


É muito diferente da moral cristã e muito mais humana, muito mais permissiva a certos aspectos comuns da vida de todos. 


Ela não espelha pessoas santas e puras e sim pessoas normais que acertam e erram. 


A astúcia é uma coisa bastante permitida.


Eu posso afirmar que em todas as histórias que li nunca vi nada que mostrasse um exemplo de comportamento que não fosse ético ou digno. 


Pelo contrário é exigido que as pessoas sejam de fato corretas e úteis para a família e sociedade.


Assim não consigo encontrar justificativa para a classificação de aética e amoral do candomblé. 


Eu entendo sim que existem pessoa aéticas e amorais que são babalorixás e iyalorixas e que espalham por ai besteiras e nulidades. 


Na verdade mercadores de feitiçaria, gente que nas histórias que li sempre eram as pessoas ruins, não as boas. 


Essas pessoas que vendem facilidades e prosperidades que elas mesmas não tem em seus feitiços furados são as que menos interessam por qualquer ética e moral.


Outro aspecto da moral é o qual seria moral da sociedade yoruba e que se reflete na religião e nos mitos regionais. 


Isso é natural em qualquer religião, a sociedade que a gerou influencia a sua ética. 


Da mesma maneira tudo o que eu pude observar sobre a ética da sociedade, e fiz algum esforço nisso apontam para o reflexo que temos nos ésé e itan.


Essa é minha visão. Reconheço que o mundo conspira contra ela e que a atitude das pessoas é que conduz a essa classificação amoral. 


Reputo isso ao despreparo dos que tem cargo e também a conveniência de ter justificativa para fazer o que quiser.


Muitos devem saber que existe um mau comportamento de pessoas que entram para um terreiro, fazem o mínimo de obrigações e abrem sua casa. 


A maior parte não busca nem aprender, seja por falta de esforço ou de interesse os mitos da tradição oral. Gostam de dizer que o Candomblé é uma tradição oral apenas para justificar o fato que não querem buscar conhecimento que não tem. 


Muitos vem de umbanda e trazem uma carga de conceitos católicos e espíritas e se consideram espíritas, acreditam naquela bobagem de karma, etc..


O problema com esse grupo é que procuram usar os conhecimentos de outras religiões porque não procuram os da sua, mas reagem a ética e moral dessas religiões porque são do candomblé. 


Eu acho que já que elas são candomblecistas-espíritas que usem também o evangelho deles, fica mais coerente.