CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-brasileira


A Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-brasileira promove a I Semana de Cultura, Cidadania e Ecologia dos Povos Tradicionais de Terreiros. 

O encontro que tem por objetivo promover justiça social e ambiental será realizado durante a Rio + 20, na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, até o dia 23 de junho, no Rio de Janeiro.

A Cúpula dos Povos tem por objetivo alertar o planeta sobre os riscos sinalizados no processo da Rio+20, questionando os limites de compreensão dos líderes políticos e o posicionamento do sistema capitalista acerca das crises que precisam ser enfrentadas neste século XXI.

Comunidades tradicionais, povos de terreiros, povos indígenas, griôs, quilombolas, pontos de cultura, agentes e ativistas culturais se organizam para aproveitar esse espaço de convergência e aglutinação de um amplo Movimento Social da Cultura que se organiza através de diversas redes culturais nacionais e internacionais.

Compreendendo a importância da cultura para pensarmos um novo modelo de envolvimento sustentável de maneira profunda, estrutural e orgânica, o encontro será um espaço aberto para vivenciar, visibilizar, celebrar, apresentar caminhos, trocar saberes, fazeres e tecnologias, intensificar diálogos e propor soluções simples, viáveis e eficientes – muitas das quais são praticadas há séculos pelas comunidades tradicionais – oferecendo assim, conhecimentos e práticas reais para a construção de uma sociedade global baseada na justiça social e no equilíbrio ambiental.

Terreiros Digitais – Durante toda a Cúpula, comunidades de terreiro receberão informações via internet, com o objetivo de propor para a dinamização e o empoderamento dos participantes no debate e disseminação da cultura digital através da ancestralidade. 

Acompanhe pela Rádio Stream Mojubá, Laroie, Exu! Conexão Oyá Togun, sempre às 18 horas.

Candomblé e Direitos Humanos, Espaço Xangô – Direito Sagrado, Ouvidoria de crimes contra cultura e religião são alguns dos temas tratados pela programação que transmite amplexos radiofônicos emitidos por Terreiros de todo o Brasil.

Programação da I Semana de Cultura:

20 de junho – quarta

9h30 – Roda de Acolhimento de Cultura Tradicional dos Povos de Terreiros 10h – Mobilização Global Mãe Beata de Yemanjá e Wole Soiynka – Mestres de Cerimônias das Culturas Tradicionais

14h – Marcha Mundial dos Povos (Candelária)

18h – Programação Cultural Show Barravento

Grupo Cultural O Som das Comunidades: Entra na Roda

21 de junho – quinta

9h30 – Roda de acolhimento Cultura Tradicional dos Povos de Terreiros e povos das Florestas

10h – Dinamicas Glocais – Cultura, Cidade, território e modelos de desenvolvimento Camilo Bogotá – subdirector de Prácticas Culturales – Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deporte de Bogotá Edwin Cubillos – Gestor de Cultura Viva Comunitaria – Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deporte de Bogotá Hamilton Faria – Instituto Pólis (SP) Atílio Alencar – Casa FDE PoA

12h – Intervenção teatral: Centro de Teatro do Oprimido: Direito à Moradia

12h30- Oficina Percussão da Maré

15h – Roda de Conversa – Artes Públicas e Direito à Cidade Amir Hadad – Teatrólogo e Diretor do Grupo Tá Na Rua Reimont Ottoni – Vereador e Presidente da Frente Parlamentar de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro Giuseppe Cocco – Universidade Nômade/ UFRJ Zeca Ligiéro- NEPAA/ UNIRIO

Programação Artística:

18h – Tá na Rua ” Santo Antônio de Lisboa e a Sereia do Mar”

20h30 – Up with people

22 de junho – sexta

Kao, Xango!

9h30 – Roda de acolhimento Cultura Tradicional dos Povos de Terreiros e povos das Florestas

10h às 12h -Dança Palco Pequeno – Iara Cassano

13h – Almoço

15h – Assembleia Cultural dos Povos – Direitos Culturais – Cultura como Bem Comum

23 de junho – sábado

14h – Reunião da Rede Nacional de Cultura Ambiental Afro-brasileira Encaminhamentos, finalização de sistematização dos documentos

20h – Festa de Xango

Fonte: Pontão de Cultura Guaicuru


O Candomblé e a natureza




Para a meia dúzia de fieis seguidores que acompanham o Blog, eu informo que já tem vários textos na agulha para serem publicados, compensando o mês de Janeiro bem pacato que houve. 

Vou abordar tanto assuntos de Ifá como Candomblé, sempre voltados para o entendimento do que é esta religião.

Como não tenho o hábito que tenho observado em outros Blogs sobre o mesmo assunto, onde as pessoas definem um assunto e escrevem uma meia dúzia de linhas, de informação comum na maior parte das vezes apenas opinativa, os textos me dão um pouco mais de trabalho. 

Eu coloco minha opinião, é claro, e análise tembém, mas sempre que possível eu adiciona as fontes, referências, mitos e versos que justificam a minha opinião.

Espero dessa maneira construir uma visão mais transparente e crítica sobre os temas. 

Seria fácil fazer como outros blogueiros mas não iria contribuir em nada eu apenas publicar o que eu penso. 

Assim as coisas são um pouco mais lentas. 

Como uma pessoa de fé tenho certeza que isso vai ter resultado.

No fim do ano passado eu preparei um texto e acabei não publicando. 

Desta forma estou agora publicando. 

Nesse caso aqui eu apenas expresso minha opinião sobre um assunto, mas, espero que ele toque as pessoas que o lerem. 

Tenho certeza absoluta que é a opinião de muitos. 

Aproveito para pedir que divulguem o link do Blog. 

Como veem não tenho propaganda no Blog e não ganho em nada com os acessos. 

Apenas faço minha parte para mudar  e concertar o mundo em que eu vivo, com as bençãos de Orunmila.


Todo fim de ano vem a vontade de escrever alguma coisa sobre o mesmo assunto. Isso ocorre porque participo de alguma cerimonia em cachoeira e ocorre de ver os absurdos que nos revoltam.

Existe uma balela falada por ai que o Candomblé protege a natureza porque dela depende. 

Sim é fato, mas isso não é nada de especial, a vida depende da natureza. Existe outra balela que se fala que diz que os Orixás são elementos da natureza, rsrsrsrs, claro que não são. 

Isso é uma bobagem.

Mas em relação à primeira afirmação, as pessoas de Candomblé, seja por desconhecimento, ignorância, mal formação ou mal caratismo mesmo, são pessoas que tratam mal a natureza. 

Basta ir em qualquer mata frequentada por candomblescistas, qualquer rio frequentado por eles ou qualquer cachoeira. Isso é público e notório.

Basta ir na floresta da tijuca, em mesquita ou qualquer lugar frequentado por essa "nata",

Além, claro, do fato que essas pessoas despejam trabalhos nas ruas, com alguidares, louças, bebidas, animais mortos, como se a população em geral tivesse algo haver com a religião deles e como se o fundo de um fétido caminhão de lixo fosse algum lugar nobre.

Obrigação em rua é sinal apenas de gente porca, não é sinal de religião.

Mas o evento que me mexeu ocorrer em um fim de semana passado ha pouco tempo. 

Estava eu lá acompanhando um toque na cachoeira de Umbanda, que sempre são muito bons e não existe motivo para recursar um bom convite. 

Era em um lugar conhecido, usado por muitos centros, dedicado a trabalhos de centros e casas e que tem uma pessoa que zela pelo lugar mantendo-o limpo, aliás, como existem outros na mesma região.

Estava em um platô, um pouco abaixo do caminho que segue paralelo ao Rio. Um lugar simples mas agradável e bem conservado.

Observei que acima de nós, no caminho usados pelos que lá vão, um grupo pequeno, pelas roupas, uma Iyalorixá de Candomblé  e alguns homens nos quais ela passa um ebó. 

Sim ela passava ebó naquelas pessoas ali, no caminho que as pessoas andavam. 

O fato de em um lugar tão amplo e com mata em volta uma pessoa passar ebó acima das pessoas que tocavam já me incomodou muito, porque considerei a mais profunda falta de educação. 

Tinha muuuito lugar para eles fazerem aquilo.

Mas, entretido pelo toque e mais interessado no que era bom deixei aquela infeliz fazendo a bobagem dela. 

Quando acabou o toque, contudo, pude ver o que aquela infeliz tinha feito, uma lastima. 

Ao logo do caminho usado por todos, ela havia passado ebó naquelas pessoas, sim, vários ebós em algumas pessoas e isso ao longo do caminho, sujando todo o percurso comum.

Se não bastasse isso havia deixado inclusive ao lado dos ebós e ao longo do caminho os restos de sacos plásticos, caixas e embalagens usadas para carregar os elementos do ebó. 

Uma sujeira só.

O Zelador do lugar estava muito chateado, porque a pessoa havia sujado aquilo tudo, e não só com os elementos do ebó mas também com lixo comum.

Mas, como ele mesmo confirmou, isso não é uma raridade. 

É muito comum em pessoas de Candomblé, que vão lá e nada respeitam, deixam sujeira por todo o lugar emporcalhando tudo.

Ha alguns anos eu estive na chamada cachoeira de mesquita, um lugar bem pequeno mas que parecia uma lixeira. 

Uma lixeira de ebós, com urubu e tudo o mais e pude ainda presenciar o mesmo tipo de ato, a pessoa estava passando ebó em outra justamente no pequeno caminho que se tinha para passar.

Ou seja, a pessoa se dá ao trabalho de ir para uma mata passar um ebó e ao invés de procurar um lugar adequado para fazer aquele trabalho ou aquela descarga de negatividade, os infelizes faziam no caminho comum usado pela pessoas....

Gente, me poupe. 

Isso é ridículo.

Lamento mas o ato daquela Iyalorixá não é uma excessão, pelo contrário é regra. 

É isso mesmo, gente ignorante e porca que não se preocupa com a natureza, com o bem comum com o próximo e com a sociedade. 

Gente mal educada e mal formada.

Gente que diz que o "candombré" é cultura e que dizem que é uma religião ligada à natureza!!  

Gente mentirosa e ridícula.

Mas não é apenas isso. 

Eu mesmo participava de uma casa de Candomblé que fazia as obrigações dentro do terreiro, todas muito bonitas e em feitas, mas, na hora de despachar ebós e resto de trabalhos, o babalorixá mandava o pejigan dele levar aquilo tudo, as vezes volumes grandes, louças ou barro e material orgânico já em alguma decomposição (não muito porque eles não deixavam dar cheiro na casa) para o meio da rua!  

Sim, despachava em rua e praças como se os demais habitantes do bairro tivessem alguma coisa haver com aquilo, como se a rua ou a porta dos outros fosse a lixeira dele.

Claro, tudo na calada da noite. 

Qual o "afundamento" disso? 

Nenhum, porcaria não tem fundamento e o fundo de um caminhão de lixo não tem nenhum axé. 

Se o lixeiro ia fazer esse trabalho para ele, então que ele mesmo colocasse no lixo. 

 Mas voltando à cachoeira, por incrível que pareça, e minha surpresa, disseram depois que a tal Iyalorixá que tinha visto de longe era na realidade um babalorixá...  do tipo que se veste com roupa de mulher para fazer obrigação de trabalho de orixá...

Lamento muito por ver isso e não podia deixar de registrar. 

Uns ebós ridículos, mal feitos e ainda executados daquela maneira, sem respeito as pessoas.

E as pessoas de Candomblé ainda enchem a boca para dizer que é uma religião que protege a natureza.... !  

Apenas mais uma mentira das muitas que falam.

Eu deixo aqui esse depoimento com o relato e minha opinião sobre isso. 

O que vi foi real, ninguém me contou. 

Eu faço parte de uma corrente distinta disso. 

Que acredita realmente em equilíbrio ecológico, que se preocupa em respeitar a natureza e as pessoas que vivem no mundo.


Òsanyìn PARTE II




Conforme prometido na postagem anterior sobre o Grande Òrìsà das folhas, hoje vamos falar porque jamais devemos entrar na mata de mãos vazias, sem pagar à Òsanyìn pelas folhas que pegamos em sua morada.

Antes, porém é importante lembrar que a coleta das folhas deve ocorrer à alvorada (há exceções, nas quais as folhas devem ser colhidas à tarde ou ainda ao anoitecer).

Os "Kawé-o" (aquele que "colhe" folhas), Oníìsègùn (curandeiro) ou o Babalòsanyìn/Olóòsanyìn (sacerdote supremo do culto à Òsanyìn) devem estar de "corpo limpo", ou seja, privados de relações sexuais e em jejum.

As folhas são sagradas e pertencem a Òsanyìn, sempre que vamos à mata devemos pagar pelo o que estamos pegando. 

Uma antiga história de Ifá explica que Òsanyìn sempre cobra, jamais faz nada de graça.

Os pais de Òsanyìn não lhe deram roupa após seu nascimento. 

Quando ele cresceu, foi para a floresta e muito aborrecido fez um trabalho contra o pai, a fim de que ele não pudesse respirar bem. 

Feito isso, partiu em passeio pelo mundo. 

O Pai de Òsanyìn ficou muito doente, muitas pessoas tentaram curar-lhe, contudo, nenhuma obteve sucesso na empreitada. 

Diante das tentativas inúteis, foram procurar por Òsanyìn, que já era conhecido pelo poder de suas folhas.

Quando perguntado se podia curar o pai, Òsanyìn disse que sim, entretanto falou: Meu pai é dono de uma roupa, uma calça e um gorro. 

Garanto que posso curar-lhe, mas ele deve me pagar com essas vestes. 

O pai, ofegando, consentiu em dar as roupas solicitadas. 

Òsanyìn então desfez o trabalho e seu pai foi curado. 

A partir desse dia, Òsanyìn passou a se vestir com panos, sendo que até então cobria-se apenas com suas folhas.

Òsanyìn fez, então, um trabalho para sua mãe ter dor na barriga e, novamente, saiu em passeio pelo mundo. 

À exemplo do ocorrido com o pai, muitos tentaram em vão curar a mãe de Òsanyìn. 

Diante de mais um fracasso, foram procurar por Òsanyìn. 

Ele disse: minha mãe tem um pano listrado, de preto, branco e vermelho, para curá-la peço em troca essa veste. 

A mãe enviou o pano para o filho e ficou curada.


Òsanyìn PARTE I




Aproveitamos que essa semana, nossa casa festejará o grande Pai das folhas juntamente como Iroko, para falar um pouco sobre sua história e sua importância dentro do Candomblé.

Òsanyìn é representado por uma ferramenta de ferro forjado, constituída basicamente de uma haste circundada por outras seis, tendo no mastro principal um pássaro. 

A sacralização da ferramenta/igbá de Òsanyìn exige do sacerdote um profundo conhecimento das folhas litúrgicas do Candomblé e das recitações mágicas, a fim de "trazer" Òsanyìn ao igbá. Sem dúvidas, o Asè de Òsanyìn é um dos maiores segredos do culto aos Òrìsàs.

Òsanyìn é originário de Ìràwò, ao contrário do que muitos pensam, é um Òrìsà masculino, sendo erroneamente chamado de "Osanha". 

O Pai das folhas vive no âmago da floresta ao lado de Àrònì, que também é um exímio conhecedor dos segredos da flora selvagem. 

Usa um cachimbo feito da casca de "igbin" (caracol) e gosta muito de otí òyìbó (gim) e oyìn (mel).

Sempre carrega nas mãos uma rama de Pèrègùn. 

Suas vestimentas são feitas de Ìkó (palha da costa), folhas e Àdó (pequenas cabaças).

Òssanyìn é o dono das folhas e, no Candomblé, não fazemos nada sem folhas. Isso já mostra a importância singular de Òsanyìn na nossa religião.

Abaixo, transcrevemos uma antiga história de Ifá, que narra como Òsanyìn se tornou um herbanário:

Ifá foi consultado para Òsanyìn no dia em que Olódùmarè cobriu uma cabaça e convidou a Òrúnmìlà ir descobrir-la e através da consulta ao oráculo, adivinhar o que havia dentro dela. 

Òsanyìn insistiu em acompanhar Òrúnmìlà, mesmo sendo aconselhado a ficar porque ele estava em dificuldade. 

Òsanyìn, porém, foi inflexível. 

Antes que eles chegassem lá, Olódùmarè tocou o sangue de sua esposa com um tecido branco de algodão, guardou em uma cabaça sobre a esteira na qual Òrúnmìlà sentaria ao consultar Ifá. 

Òrúnmìlà consultou Ifá e disse exatamente o que havia dentro da cabaça branca. Olódùmarè o louvou, aclamando seu poder. 

Òrúnmìlà, então, pediu que Olódùmarè realizasse um sacrifício. 

Olódùmarè concordou com o sacrifício. 

Òsanyìn, emocionadamente se juntou a Òrúnmìlà na procura dos materiais para o sacrifício. 

Enquanto estava se esforçando para ajudar a realizar o sacrifício, a faca que ele estava segurando escapou de sua mão e caiu sobre a sua perna, fazendo uma ferida muito grande. 

Òrúnmìlà pediu que levassem Òsanyìn para a casa de Òrúnmìlà. 

Òrúnmìlà o curou, mas Òsanyìn não poderia usar novamente a perna para trabalhos árduos. 

Òrúnmìlà teve pena dele e deu-lhe vinte folhas de Ifá para cada tipo de enfermidade, para proporcionar-lhe uma fonte de renda. 

Foi assim que Òsanyìn se tornou um herbolário e, posteriormente, aprofundando-se na farmacopéia.

Na próxima postagem sobre Òsanyìn, vamos falar porque jamais devemos entrar na mata de mãos vazias, sem pagar à Òsanyìn pelas folhas que pegamos em sua morada.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O sincretismo entre Umbanda e o Candomblé O ovo da serpente



Necessárias explicações inicias sobre o tema

Este é talvez um dos temas mais antigos e ao mesmo tempo mais atual, sempre esteve na pauta de discussões e deverá continuar a estar por um bom tempo. 

Ele muda, se transforma e se atualiza, mas no fundo é sempre o mesmo. Estamos falando do problema gerado pela mistura entre os ritos de Umbanda e o Candomblé processo que ocorre em ambos os sentidos, mas, é conduzido em todos os casos por Umbandistas.

O tema desperta muitos sentimentos antagônicos. 

O motivo de estar sendo abordado aqui é que isso tomou uma proporção maléfica muito grande, incontrolável e traz consigo prejuízos para ambos os cultos. 

De fato é o caminho para a destruição das duas tradições, o que vai beneficiar apenas os intolerantes. 

Mas, o fato é que a realidade esta sendo reescrita de tal maneira que em pouco tempo já não se saberá o que é o certo ou o errado.

Existe um movimento de pessoas de Umbanda para o Candomblé, a maior parte dessas pessoas jamais entendeu o seu culto ou sua pratica espiritual como um religião e se perdiam em uma profusão de sincretismos incompreensíveis. 

Com a quebra de preconceitos para o Candomblé na sociedade, essas pessoas que na pratica não entendem o que fazem na Umbanda, se transportam para o Candomblé de maneira igualmente superficial e confusa, sem ainda entender este como religião e trazem ainda para o universo do Candomblé os mesmos guias e incorporações que deveriam ter deixado para trás em vista da incompatibilidade entre um pratica e outra. O comportamento indica que elas entendem que estão adicionando mais alguma “coisa” a sua já confusa prática ao invés de entenderam que deveriam estar substituindo completamente o que faziam.

De outra via, esse tipo de pessoa pode não mudar de culto mas traz para a Umbanda liturgia e formatos que não pertencem a Umbanda. Assim vestimentas, adereços, cantigas e ritos de iniciação são grosseiramente copiados apenas para trazer uma novidade ou glamour que a Umbanda não necessita. 

Dá-se o nome a esta mistura pejorativamente de Umbandomblé, mas, no dia a dia são as chamadas casas de Omoloko. A palavra não significa nada apenas é usada para justificar essa mistura. 

No lado do Candomblé proliferam as casas ditas de Candomblé de Angola nas quais poderia haver essa mistura, mas, nem sempre se usa essa nação, as pessoas estão sincretizando de tal forma e naturalidade que em algum tempo talvez nem saibam mais a falta de sentido do que fazem.

Esse processo sempre existiu mas o o quantitativo relativo e absoluto era menor. Agora esta de tal modo disseminado que em pouco tempo a referência do Candomblé como era e como deveria ser vai se perder. O objetivo aqui é explicar porque essas duas tradições são como água e azeite, coisas que não se misturam.

Falar sobre o Candomblé é um dos assuntos preferidos de antropólogos, infelizmente não o de teólogos. Pior ainda, muitos dos acadêmicos que de dispõe a escrever sobre o tema e acabam criando alguma referência sem seus trabalhos fazem um material que mistura de maneira muito ruim uma abordagem étnica como tema, confundindo a suas aspirações pessoais de se manifestar contra discriminações ou o processo histórico de escravidão e lutas sociais em torno disso com o tema de abordar a manifestação religiosa. 

O mesmo ocorre em relação a Umbanda. Esses trabalhos ruins de pessoas mal preparadas só contribuiu para tornar o tema sempre mais obscuro. A constatação disso é muito simples e na busca por referências bibliográficas sobre o tema que pudessem ser acessadas livremente pela Internet me deparei com esses casos e alguns fiz questão de listar.

O assunto Candomblé, também, possui dezenas de variações para ser abordado e podemos nos aprofundar em inúmeras coisas diferentes ligadas à religião, história, etnias, origens e pessoas. Todas abordagens são muitos fascinantes e ricas porque lidamos com uma complexidade que vamos deixar clara mais à frente. Assim, qualquer abordagem ao tema é razoavelmente complexa porque temos que lidar com uma grande diversidade. Eu tenho que reconhecer, inclusive, que esse texto foi revisto e reescrito inúmeras vezes na busca do melhor entendimento e da maior simplificação possível. 

Na busca dessa objetividade primeiramente vamos estabelecer que o foco aqui será religioso, vamos ignorar aspectos históricos, étnicos e outros que fazem parte da riqueza do Candomblé mas não servem para o tema.

Um outro fator importante que todos devem entender é que as duas tradições, Umbanda e Candomblé, são muito distintas entre si e não tem a mesma origem e natureza. O Candomblé é uma religião completa e autônoma, a Umbanda é bem difícil de ser classificada, mas, não é uma religião e fica melhor classificada como um culto, que tem que estar ligado a alguma religião. Historicamente tem sido a católica, juntado conceitos da sua seita espírita kardecista (que também não é religião, no máximo também uma seita), mas, abordaremos isso mais tarde.

A religião africana

O Candomblé é uma tradição religiosa derivada principalmente de religiões africanas existentes na Nigéria, terras Yorùbá (grupo Nagô), e no Daomé (grupo Jeje), veremos o motivo disso mais à frente. O grupo Banto, que representava os primeiros negros a chegarem no Brasil em nada influenciaram a formação do Candomblé. Hoje em dia esse conjunto de religiões africanas é chamada de African Traditional Religion – ATR (Religião Tradicional Africana), por falta de um nome próprio. A África tem muitas religiões ou cultos, mas a base do Candomblé está no culto de Orixás e Voduns que se desenvolvem em uma região delimitada e próxima, terras Yorùbá e do Daomé (Benin), e foram trazidas para cá pelos escravos durante a diáspora negra.

Citar a origem religiosa mista do Candomblé como sendo Nagô e Jeje é apenas uma elegância que termina aqui nesse reconhecimento e citação. Na prática a religião que é a base do Candomblé é a religião Yorùbá, que é de onde vem os Orixá. Orixá é sinônimo de Candomblé e vice-versa. Intencionalmente vou ignorar a origem Jeje, quando comentar sobre nações o motivo ficará claro, mas, deixando bem claro, agora, toda a abordagem religiosa tem como base e modelo de referência a religião Yorùbá.

A religião Yorùbá, como prática religiosa é muito rica e sofisticada para os padrões africanos. Entendo que é bastante completa e equivalente a outras manifestações religiosas considerando para isso padrões ocidentais. De forma global, ela se impõe facilmente como um religião própria e distinta, não devendo nada para qualquer outra religião. Possui teogonia, cosmogonia, teodócia e metafísica próprias e bem desenvolvidas. Possui uma base teológica consistente e também um oráculo completo. A relação homem-divino é bem definida e os conceitos éticos e morais bem estabelecidos seja pela religião seja pela sociedade civil.

Historicamente o entendimento disso não foi fácil assim. Os primeiros explorados europeus (católicos, anglicanos e protestantes), seja por pouco entenderem o que os africanos falavam, queriam dizer e faziam, sejam por sua própria formação restrita e preconceituosa, classificaram o que viam de muitas formas, na maior parte delas como um animismo ou fetichismo, basicamente por não entenderem ou quererem entender o que viam. O animismo faz parte de qualquer religião em algum grau. A religião católica pode facilmente ser entendida por muitos como animista. Desta forma a religião Yorùbá também tem alguns aspectos animistas, mas, jamais pode ser classificada como sendo uma religião animista.

Essa abordagem, então, impediu que a religião Yorùbá por muitos anos fosse classificada como religião. Esse desrespeito se refletia aqui no Brasil na forma como a nossa tradição era encarada, como um folclore de negros. Só mais recentemente, fins do século XX com o surgimento de alguns africanos buscando uma abordagem mais teológica para o tema, buscando resgatar a sua religião perdida no meio dos inúmeros esforços de catequização é que esse tema tomou essa abordagem de lutar pelo reconhecimento da religião africana como tal.

Mesmo assim, não é simples, a formação bastante cristã de muitos desses teólogos, dificultou a aceitação de suas teses e construções. Muitos reagiram como mais um esforço da comunidade cristã de absorver uma religião infundindo nela seus conceitos de forma a facilitar a migração gradual para o cristianismo. 

Outro ponto, já comentado, é a dificuldade em se estabelecer o reconhecimento de uma unidade ou de um aspecto comum, entre as diversas manifestações religiosas dos africanos. O culto é fortemente regionalizado e isso gera a percepção de formas distintas. 

Muitos estudioso e observadores viram e ainda vêem nesses cultos distintos e regionais uma significativa distinção e não aceitam que esse conjunto seja designado como uma unidade, como uma religião Africana. Esse aspecto em particular foi então abordado por autores, teólogos ou pesquisadores de origem africana, como Idowu, Mbit, Sato e mesmo alguns ocidentais como Parrinder. Não vou retomar essa longa discussão aqui, e quem quiser se aprofundar que procure ler o que eles escreveram, mas, no que pese a existência de variações regionais esses autores entenderam que existe sim um contexto religioso que unifica na base todas a variações. 

Vale a pena comentar que a atenção de acadêmicos e antropólogos para questões africanas sempre foi muito distante. O continente negro, ou como chamavam Dark continent, era visto como tribal, atrasado e apenas quintal das nações européias. Demorou muito tempo para esse continente “obscuro” ser analisado de forma mais séria, não preconceituosa e finalmente por pesquisadores e estudiosos africanos natos.

O entendimento que eu parto após minhas próprias pesquisas e análises, é que existe uma religião africana que deu origem ao Candomblé. Uma religião bem estruturada e consistente que originou os Orixá, Orunmila e Olodumare e toda o meta universo em que se baseia o Candomblé. A nossa base, no Candomblé, é a religião que se manifesta na região Yorùbá e ela é muita clara e bem definida, assim não esta em questão se toda a África tem a mesma religião ou não. Esse é assunto para os autores que citei. 

Apesar de toda a dificuldade em se unificar e documentar essa base religiosa devido a problemas muito elementares como a falta da escrita para a língua dele (introduzida somente na primeira metade do século 20 por europeus) e a falta de pessoas para transmitir esse conhecimento teológico devido a diáspora e o assalto religioso feito por mulçumanos e cristãos, muito do que é necessário foi documentado ao longo dos anos e é nisso que nos baseamos.

O Candomblé como religião

O Candomblé não é a manifestação original e exata dessa religião, é uma tradição religiosa originada dessa religião depois do processo da diáspora negra. Como tradição religiosa, representa uma evolução da religião original, uma especialização que estabeleceu a religião africana no Brasil. Esse mesmo processo ocorreu em outros lugares do novo mundo e temos tradições distintas para o Candomblé, para o Lukumi (santeria cubana) e para o Voodoo (Haitiano). São tradições similares, mas não iguais, variando na forma como preservaram aspectos da sua origem africana e no formato como se apresentam na sua prática, mas sem dúvida, todas elas, são muito próximas uma das outras. 

O conceito de “tradição religiosa” suporta perfeitamente esse processo e, desta maneira, estamos tratando então, no novo mundo, de religiões e não apenas seitas e cultos, como pejorativamente as religiões não abraamicas são classificadas. O candomblé é assim uma religião completa como a Yorùbá, usa a mesma base teogônica e cosmogônica, mas, sofreu modificações, adaptações e modernizações, seja pela seu estabelecimento aqui como também devidos a distância da África e necessidade de integrar em uma só tradição correntes de cultos de regiões distintas.

Para ficar bem claro esse ponto da tradição brasileira, a religião mantêm os mesmos mitos, ritos, liturgias, cantos, objetos sacros e materiais litúrgicos. A língua Yorùbá é preservada através de orações e cantigas. As liturgias de iniciação são as mesmas ou equivalentes. As mudanças que se fizeram necessárias foram principalmente em tipos de folhas, animais e alimentos que devem ser associados à disponibilidade local. Outras alterações dizem respeito ao conjunto de divindades cultuadas. A cosmogonia foi basicamente respeitada, mas houve simultaneamente uma simplificação, uma padronização e uma unificação no conjunto de divindades que são cultuadas.

Contudo, essas não foram alterações aleatórias, houve um processo estruturado de africanização e localização conduzido pela nação ketu com a ida para África e também a vinda de pessoas com o objetivo de estruturar isso.

Apesar disso, a nossa tradição de fato não reflete exatamente a religião africana, como já foi afirmado. Alguns cultos não vieram na diáspora e só tardiamente foram trazidos e introduzidos, não necessariamente integrados ao Candomblé (que se desenvolveu sem eles), como por exemplo o culto de egungun e Ifá. Outro caso é Gélédé que não existe aqui e acho muito difícil existir, porque ele esta baseado em uma natureza social e ancestral que não não faz parte da nossa sociedade. Vemos práticas ou cultos relacionados a Ajé mas de maneira muito comercial e não como parte da estrutura metafísica de forças.

Alguns tipos de divindades como Ikú e os Ajogun são vagamente compreendidos mas não estão de fato incorporados dentro do culto, as funções de muitas dessas divindades da teogonia foram substituídas por Orixás, que é um tipo especial de divindade. Assim no Candomblé quase tudo é Orixá.

Existem conceitos éticos e morais que não foram incorporados sendo usados uma mistura pouco clara de africanismo, catolicismo e até mesmo de libertinismo (ausência de ética e moral). Esse conteúdo ético e moral foi a maior perda da religião na medida em que não se estabeleceu um padrão que refletisse a base moral da religião original. O que ficou foi uma bagunça com margem para qualquer tipo de interpretação. Dessa maneira a ética e a moral existem na religião, mas, são pobre ou confusamente representados na tradição brasileira, isso é um problema real.

A aceitação africana da nossa tradição bem como das demais tradições do novo mundo também não foi fácil. Podemos dizer que hoje o Candomblé se impõe, mas, inicialmente, a questão de ancestralidade pesou em uma visão cética dos africanos em relação a nossa capacidade de representar um culto real aos Orixás.

Nesse ponto façamos uma revisão do que já foi aqui colocado até aqui. Em primeiro lugar existe uma religião completa, rica e estruturada na África que serviu de base para o Candomblé. Essa religião tem origem na região Yorùbá e esta muito longe de ser apenas um animismo, sendo uma religião completa até mesmo para os padrões ocidentais, comparável ou superior a formas abraamicas.

O Candomblé é uma tradição dessa religião, que sofreu modificações mas preservou a religião em si, assim, o Candomblé, é uma religião independente e completa sem nenhum vínculo, ligação ou dependência com as religiões abraamicas. O Candomblé é uma religião afro-brasileira porque, se originou de uma religião africana mas desenvolveu padrões locais para o seu culto.

O Candomblé e suas nações

Contudo, depois da questão da religião africana de referência nos deparamos com a própria diversidade do Candomblé. Não podemos nos referir ao Candomblé como uma coisa única, quando falamos Candomblé, infelizmente não estamos nos referindo a uma tradição religiosa homogênea e isso sempre torna complexo o assunto. Chamar o complexo Jeje-Nago como Candomblé é de fato uma grande simplificação.

O Candomblé tem uma origem bastante diversa e esta longe de representar uma unidade, sendo chamado de culto de “Nação”. O termo esta relativamente sendo pouco usado hoje em dia para nomear o Candomblé, mas ele significa o reconhecimento de que o Candomblé é de fato uma tradição composta por várias nações diferentes e que cada uma dela preservava uma identidade étnica com uma distinta origem africana. Esse conjunto é coberto aqui no Brasil pela denominação comum “Candomblé”. 

Essa diversidade já foi muito forte, hoje em dia, lamentavelmente essas manifestações distintas da tradição que refletiam características também distintas de cultos de acordo com a nação original dos negros esta muito perdida. Houve um sincretismo interno e as práticas da nação Nago Ketu, que foram melhor estruturadas, documentadas e divulgadas tem se tornado um padrão de referência, fazendo desaparecer as características próprias das demais nações. É o que a gente chama de “ketunização”. 

Com o passar dos anos, as pessoas antigas de cada nação vão falecendo e são substituídas por outras sem apego a essa distinção. A liturgia e ritos do Ketu, tão conhecidos, complexo e vistoso, acaba sendo absorvido e adotado. Um exemplo clássico disso é a liturgia de raspar a cabeça, que sempre foi padrão no Ketu mas não em todas as demais nações. Hoje em dia é difícil uma casa que não raspe.

Devido a esse processo, por um lado, o Candomblé perde um pouco a sua riqueza cultural e, por outro, se unifica. Podemos definir que existem 3 grandes grupos de nações, o Nagô, o Jeje e o Angola. Muito pode ser dito sobre as suas distinções e variações mas como mencionei no início, isso não interessa aqui, de maneira que quando estivermos falando de Candomblé estamos nos referindo ao Candomblé Nago e as Nações que compartilham a mesma teologia. Entretanto não custa deixar um comentário polêmico sobre esses grupos.

O Candomblé de Angola parece apenas uma cópia do Candomblé Nago no qual houve uma mudança de língua, substituindo o Yorùbá por alguma forma de Bantu. Mas a estrutura da religião é equivalente. Trocar os nomes não cria uma nova religião. Se o Candomblé de Angola for aceito como um referência autêntica (o que acho questionável) então a tese dos africanos que existe uma única base para a religião africana estará comprovada. A região do Congo-Angola é bem distante da Yorùbá para ter um culto tão similar. Outro ponto é que alguns pesquisadores não encontraram no Congo-Angola qualquer manifestação similar a essa aqui, nem mesmo as divindades. Dessa maneira o Angola parece longe de ser um manifestação autêntica e original e eu nem considero ela em qualquer abordagem religiosa.

No caso do Grupo Jeje é distinto. A gente vai encontrar, contudo e principalmente no norte-nordeste do Pais, e no recôncavo bahiano, manifestações Jeje muito originais e distintas do Ketu. As práticas litúrgicas são bem diferenciadas apesar de conservar uma estrutura similar. A teogonia e cosmogonia são bem distintas de maneira que o Jeje se parece mesmo como um grupo distinto e autêntico. Contudo, no sudeste, existe uma manifestação de que é como a de Angola, apenas um traço do jeje de fato e uma cópia de Ketu. Geralmente é formado por pessoas que eram de Ketu e depois mudam de nação. Não conseguem aprender de fato como é o Jeje e passam a praticar uma mistura maluca.

Concluindo esse assunto, o que foi explicado é que a denominação Candomblé para a nossa tradição religiosa na realidade é um guarda-chuva para diversos grupos distintos, as nações o que tornava bastante complicado falar sobre Candomblé porque alguns desses grupos como o Jeje e Nago são bastante distintos. 

Os antropólogos dividem as nações da seguinte maneira, No grupo Nago ou Yorùbá de nações encontramos: Ketu, Efon, Ijexá, Egba, Batuqte e Xambá. No grupo jeje ou Daomeano temos: Fon, Ewe, Mina, Fanti e ashanti. No grupo islamizado temos: Fulas, Mandingas, Hauça, Tapa, Bomu e outros menores. O grupo Angola é composto por um agrupamento de nações congo-bantu-Angola

Mas o objetivo aqui não é abordar os grupos étnicos e sim a religião de maneira que o foco de interesse é somente as que adotam a teologia Yorùbá, o grupo dito Nago. Na nossa abordagem não vamos entrar em aspectos práticos e litúrgicos 

Teogonia Yorùbá

O Candomblé pode ser classificada como uma religião Henoteísta, na qual existe um Deus supremo, regulador e originador de tudo e outras divindades e espíritos que são aspectos de sua manifestação. Essa denominação difere muito do termo politeísta mas nesse texto aqui não vamos abordar a comparação com monoteísmo, essa é outra discussão.

A divindade suprema tem várias denominação, basicamente títulos para o mesmo e por isso mesmo foi confundido pelos invasores ocidentais como se fossem muitos. Olodumare é o seu nome mais clássico. Abaixo dele temos todo o resto teogonia, na qual temos que destacar Exu, como uma força positiva, portador da energia de olodumare (axé) e fiscalizados da retidão com o culto; Orunmila a divindade do oráculo que conhece o destino das pessoas; Os Orixás que são as divindades que protegem a vida dos homens e são sempre positivas; os ancestres que também protegem as suas linhagens e são uma força positiva; As ajé que são uma força neutra podendo ser usadas para o bem e para o mal e os ajogun que são uma força negativa de equilíbrio.

A religião é re-encarnacionista, acreditando que vivemos e voltamos a viver de novo. O mundo físicos em que vivemos, o Àiyé é o reflexo de um mundo espiritual, o Òrun. Tudo o que existe no mundo físico possui um duplo no mundo espiritual. Como toda a religião ele se centra na figura humana, o divino existe para suportar a sua existência no mundo físico e para essa pessoa atingir os seus objetivos na vida que encarnou. Alguns consideram esses objetivos como seu destino, mas não creio que possamos atribuir esse um caráter tem determinista, considero que toda a existência tem um objetivo a ser alcançado.

Cada pessoa possui um duplo no Òrun que zela por sua vida e esta acima de qualquer outra divindade. As divindades Orixá existem para apoiar e ajudar as pessoas na vida no Àiyé sendo que cada um possui um Orixá que faz parte íntima da sua vida, ele e seu Orixá são feitos dos mesmos elementos, mas permanece o caráter que a determinação desse Orixá é feita para apoiar no destino que ele escolheu para si. Entretanto, apesar da pessoa ter apenas um Orixá próprio, com elementos comuns, todos os Orixá podem ser chamados para ajudá-lo ou podem espontaneamente se prontificar para ajudá-lo.

O oráculo de Ifá existe para estabelecer a comunicação entre o homem e o divino entre o homem e o seu destino. O sentido do uso do oráculo é para a pessoa se orientar em relação ao seu destino e pedir ajudar quando esta tendo dificuldades. Quando isso ocorrer ela recebe ajuda do próprio olodumare através da divindade do Oráculo, Orunmila e de Exu.
Não existe o conceito de Karma e a re-encarnação é feita dentro da mesma família. A linhagem familiar é a coisa mais importante e a pessoa vive para sempre através de seus filhos e netos.

Os Orixá não são elementos da natureza, mas se identificam e usam forças e elementos que estão na natureza. Essa imagem enganosa de que Orixá são elementos da natureza é um desconhecimento e parte do sincretismo negativo, uma associação com cultos europeus ou mesmo o politeísmo greco-romano. Esse engano é inadvertidamente adotado pelos candomblecistas descompreendidos de plantão.

Os Orixás para se manifestarem em terra ajudando as pessoas precisam de médiuns, de “montarias” como os africanos dizem. O Orixá monta do seu elegun. A pessoa para poder incorporar um Orixá passa por um longo processo de preparação e limpeza espiritual e física. A iniciação é uma mudança profunda na vida da pessoa com rituais e liturgias complexas.
Os Orixá se manifestam no Àiyé somente através dos seus Elegun, pessoas especialmente preparadas para isso. É a presença deles aqui que viabiliza a transmissão e transformação da energia vital de olodumare para nosso benefício (o axé). As palavras são muito importantes para os Yorùbá. As rezas e pedidos devem ser ditas e não pensadas. A palavra tem energia e conduz o que precisamos. Os tambores do Candomblé, usados nos chamados Xire são os elementos que criam uma zona cinzenta entre o Òrun e o Àiyé permitindo o transito dos Orixás entre os 2 mundos espirituais.

O sincretismo do passado entre o Candomblé e o Catolicismo

Como ocorreu com outras tradições da diáspora, o Candomblé foi obrigado a realizar um sincretismo de imagens com a Igreja católica. Os motivos históricos são muitos simples, proibidos de praticar sua religião ou provavelmente de ter o seu espaço religioso e ritos, as imagens de santos católicos foram sincretizados com seus deuses.

O mito diz que o Negro fazia o seu altar, colocava o santo em cima e debaixo do santo coloca o igba ou apenas o okuta do seu Orixá. Assim pensavam que ele estava ali rezando para São Jerônimo mas ele estava rezando para Xango. Acho essa visão bastante romântica e simples mas útil para explicar o motivo do sincretismo. Imagens católica sincretizavam Orixás que não são representados por imagens, mesmo na África.

Referenciando ao início o objetivo aqui não é antropológico de maneira que não vou desenvolver o assunto com suas dezenas de variações, mas, sob o ponto de vista religioso, o processo de sincretismo sempre foi historicamente incentivado pela igreja católica como parte do processo de substituição dos cultos religiosos da população. No caso do Candomblé a origem esta ligada a um interesse dos africanos e descendentes de ter objetos sacro aceitáveis, mas como em todos os casos com o tempo, as gerações seguintes iam perdendo esse sentido e acabavam de fato misturando as coisas.

No século XX, já com escravos libertos a organização do Candomblé como religião ainda enfrentava obstáculos terríveis. Não era aceito como uma religião e sim enquadrado como folclore ficando então sob o âmbito de controle da polícia civil. Os terreiros tinham muita dificuldade para funcionar buscando ficar o mais afastado que podiam da zona urbana, mas mesmo assim, com o crescimento da cidade isso ficou anulado e não se pode simplesmente mover um terreiro.

De novo se recorreu ao sincretismo se espalhando imagens católicas pelos terreiros para descaracterizar uma religião africana e sim um culto católico inibindo assim uma ação direta contra o seu funcionamento. Todos os terreiros tinham nomes de Santos católicos.
Mas esse tempo acabou e hoje em dia existe um movimento muito claro de de-sincretização. Somente pessoas mais antigas que passaram a vida cultuando aquele sincretismo ainda o mantêm mas a grande maioria entende que esse sincretismo não tem utilidade e não tem motivo para existir. É falha qualquer abordagem que suponha que o Candomblé se sincretizou com o catolicismo ou que tenha evoluído dessa maneira. O Candomblé não é a consagração do sincretismo, isso foi, temporário, para uma utilidade específica e já plenamente superado. Quem pensa assim ou repete isso é acima tudo tudo um idiota. Em mais alguns anos com a passagem das pessoas mais antigas é provável que não exista mais nenhum lugar de Candomblé com imagens católica ou referências sincréticas.

O único motivo que pode levar a continuidade dessas imagens ligadas ao Candomblé são pessoas da Umbanda que vem de um culto completamente confuso no que diz respeito a sincretismo, trazerem de volta isso. Mas esse movimento nocivo não representa nada a não ser ignorância e estupidez.

A prática do candomblé

O Candomblé não possui nos seus ritos a pratica de incorporação como método ou rotina. Pelos padrões Nago (Ketu) e que são usados por quase todos as demais variações (nações), os Orixás quando no Àiyé pouco se comunicam verbalmente. A presença deles é feita junto com os cânticos e um Orixá se manifesta através de sua dança quando da realização de um Xire, que é quando eles fazem o seu trabalho de transporte de transformação de axé. 

Mas Orixás não são mudos, se comunicam com o babalorixá quando necessário.

Os Orixá podem falar, dar orientações e conselhos, isso é feito em algumas nações, principalmente Jeje e afins. Mas, como o modelo de referência usado nesse trabalho é o Yorùbá onde os padrões Nago são os mais adotados e copiados, não vou considerar mais a condição de Orixá falante para simplificar a linha de pensamento evitando assim ter que citar exceções junto com cada consideração que for feita. Normalmente no Nago um Orixá se comunica com as pessoas e a comunidade através do seu Ere. Assim encerrada aqui a não relevância para o nosso tema de Orixás falantes.

A comunicação entre o divino e as pessoas no Candomblé é através do Oráculo. A religião entende que devemos viver nossa vida por nós mesmo, com ética e caráter, o Oráculo nos orienta e nos ajuda mas não interfere no que queremos fazer. Traz as mensagens e orientação de nosso Ori, nosso guardião ancestral que fica no Orun e é o nosso duplo, e nos trás a ajuda de Olodumare através de Orunmila ou dos Orixá. Não existe então no Candomblé o procedimento de pessoas baterem na porta de uma casa para se consultarem com um Orixá. Não vão sentar em uma assistência e receber fichas.

A forma de se comunicar é através do Oráculo e a palavra é sempre do Babalorixá da casa. Ele transmite as mensagens e o conhecimento. É ele que ensina, orienta, dirige as casas, trabalhos e transmite as mensagens do Orun através do seu oráculo. Não existe casa de Candomblé sem Oráculo, assim como o que o Babalorixá diz representa o que é dito naquela casa, seja isso para o bom ou para o mal. Um Babalorixá deve então se preparar para a função, ser uma pessoa escolhida pelo Orixá para isso.

Nenhum Orixá vai aparecer para substituir a palavra do Babalorixá ou falar por ele, é justamente o contrário, o Babalorixá fala pelo Orixá.

É senso comum que a incorporação do Orixá é bem mais sutil do que em outros cultos, é uma incorporação de expressão e não de dominação, mas esse entendimento e práticas podem variar. Contudo o que não varia é que o dirigente de uma casa, o Babalorixá ou Iyalorixá são as pessoas que diretamente se comunicam, agem e transmitem a sua comunidade o que deve ser feito. Fora dentro de um Xire o trabalho em uma casa de Candomblé, seja no oráculo ou seja nos trabalhos determinados pelo Oráculo, é feito com as pessoas não incorporadas. O dirigente deve ter conhecimento do que tem que transmitir, orientar e ensinar às pessoas que frequentam a casa.

Como é o dia a dia de uma casa de Candomblé, já que não existem seções diárias ou semanais para consulta com os Orixás? 

Bom, bem chata para muitos. 

Um terreiro reúne seus Orixá quando faz o seu Xire, é nesse dia em que o Axé circula na casa. Fora dessa data as atividades se concentram na manutenção normal da casa, suporte a obrigações de iniciados (membros da casa) que estejam em andamento, atendimento pelo babalorixá à pessoas que o procurem, etc...

Uma casa de Candomblé se movimenta através do trabalho de obrigações dos seus membros, dos Xires periódicos e nos ebós e oferendas designados pelo Oráculo.

Adicionalmente, existe um dito que onde tem Orixá não tem egun, ou seja, em casa Lésé Orixá não pode ou deve existir a presença de eguns, espíritos de pessoas passadas, ara orun. 

A manifestação do Orixá no Àiyé exclui a manifestação de espíritos ancestres ou mesmo dos guias de Umbanda. Uma casa de Orixá é preparada e cultuadas para manter esses espíritos em uma área delimitada e fora de seus espaço principal. Não se trata de um impedimento verbal e sim espiritual. 

A energia de uma casa de Lésé Orixá mantêm a casa preservada para os Orixá e afasta os demais espíritos. 

Em uma casa Lésé Orixá em pleno funcionamento não haverá condições de Guias de Umbanda se manifestarem.


Origens e fato relevantes sobre a história da Umbanda



A Umbanda conforme conhecemos hoje foi criada em 15 de Novembro de 1908, em Niterói pelo caboclo das sete encruzilhadas. 

A partir dessa data estabeleceu-se formalmente o culto da Umbanda. 

Esta é a história oficial conhecida por todos. 

Eu percebi, e tenho que registrar, que existem algumas versões diferentes dessa história e me dei ao trabalho de conhece-las, mas vou registrar a história dessa busca em outro texto, um “making off”. 

Minha conclusão é que são apenas delírios, podemos ignora-las.

A maior parte da confusão gira em torna de uma manifestação anterior à Umbanda de incorporações de espírito, que pode ser entendida como o culto da Macumba, de raízes ou bases africanas, possivelmente Bantu, mas, que não pode ser identificado com a Umbanda. 

Esse culto acabou, foi superado e totalmente absorvido pela Umbanda e virou apenas um tipo de Umbanda, aderindo a ideologia e teologia da Umbanda e guardando remotos traços de seu formato original.

Nesse processo “darwiniano” de seleção natural, a Macumba perdeu suas características africanas. 

Esse fato não consegue ser absorvido por muitos que certamente estão mais identificados com questões da afirmação negra e fazem questão de se apegar a isso e tirar o crédito da Umbanda, uma religião que se identificou como brasileira e perfeitamente inserida nos valores da sociedade comum brasileira de classe média, urbana e mestiça.

Assim existem inúmeras tentativas de re-escrever e interpretar a história no sentido de alinhá-la com ideologias, não com fatos. 

A história da Umbanda é farta dessas iniciativas. 

A questão negra e a discriminação fazem ou fizeram um grande esforço nesse sentido de re-interpretar e até mesmo discriminar a história da Umbanda, inserindo as visões de africanização ou desafricanização ou empretecimento e embranquecimento. 

Como eu me expressei, considero apenas delírios pós-fato.

Não quero ser mais um a re-escrever e re-interpretar essa história, mas, tenho certeza de que não vou fugir desse rótulo. 

O que vou fazer a seguir é me esforçar para apenas olhar os fatos na visão da religiosidade tendo como motivação a religiosidade que predominou e a que faz com que a Umbanda seja reconhecida por todos.

A história da Umbanda esta bem documentada, confusamente posso dizer. 

Quem se interessar vai facilmente perceber os detalhes da sua criação e os desvios posteriores que teve, em livros, artigos e textos facilmente acessíveis.

 Um pequeno resumo dessa história é necessária para a finalidade do tema aqui proposto.

A Umbanda surgiu, sem dúvida, de uma divergência no Kardecismo, um conhecido culto espírita que veio da França para o Brasil e aqui floresceu e se difundiu pela sociedade civil, notadamente de classe média. 

Em determinado momento novos espíritos quiseram se manifestar incorporados em seções espíritas e isso não foi permitido. 

Foi nesse momento que a Umbanda surgiu.

Esses guias se auto-denominavam índios (caboclos) e pretos-velhos, mas, os dirigentes Kardecistas consideravam que não seriam espíritos evoluídos para poder trabalhar com eles devido a forma como se manifestavam incorporados. 

Eles preferiam trabalhar com espíritos que se apresentavam de uma forma mais evoluída e condizente com a classe social deles, como médicos e religiosos. 

Os Kardecistas identificavam dessa maneira a capacidade do espírito com a pessoa com que foram em alguma de suas encarnações, talvez o última delas. Parece estranho, mas, é isso mesmo.

O surgimento desses espíritos no Kardecismo, nas mesas Kardecistas é certamente o principal ponto de indeterminação histórica. Podemos supor que esses espíritos que já se manifestavam na Macumba e passaram repentinamente a aparecer também nas mesas Kardecistas. 

Acho improvável. 

A hipótese mais razoável é que vários médiuns Kardecistas, segundo fontes relatam, tinham também contato com o culto da Macumba que existia em zonas rurais, suburbanas e mais afastada do centro da cidade. 

Eles entenderam que essa também era uma manifestação autêntica de espíritos do bem e viram valor e utilidade maior no trabalho através deles incorporados, com o objetivo de ajudar pessoas e também os espíritos perdidos no nosso plano. 

Eles viram assim a oportunidade de fazer um trabalho similar, mas, com maior alcance e força do que unicamente a forma que o Kardecismo apresentava para ajudar pessoas.1. 

Esses médiuns, com contato com ambas as práticas, devem ter trazidos esses espíritos para se manifestarem no Kardecismo, aproximando-os da sua sociedade e do seu dia a dia, uma vez que possivelmente o seu espaço original, a Macumba se afastava por demais da sua conveniência. 

Apesar do interesse deles, médiuns, não houve como conciliar a visão do Kardecismo sobre o processo espiritual e sua codificação e a aceitação desses espíritos. Isso levou por fim a criação da Umbanda. 

É importante observar que a Umbanda foi de fato a criada por Zelito e pelo Caboclo das 7 encruzilhadas em 1908, e era uma manifestação nova, não era a Macumba, já existente. 

Se a Umbanda fosse apenas a mesma Macumba não teria sido necessário a manifestação do Caboclo através do Médium Zelito Moraes. 

No que pese a clareza e veracidade dessa história, dessa divisão clara entre a macumba que já existia e a Umbanda que surgia, isso ainda hoje é uma grande confusão devido aos sempre maléficos efeitos do sincretismo e principalmente de pessoas motivadas a recontar essa história para atender suas próprias ideologias. 

A prática, como foi estabelecida pelos fundadores da Umbanda, permitia o trabalho dos caboclos e pretos-velhos mas não admitia ainda muitos elementos dos rituais da Macumba. 

Não haviam os atabaques, todos usavam branco e os elementos litúrgicos eram flores e água. 

Haviam os espíritos em terra fazendo caridade, como definia o próprio Caboclo das 7 encruzilhadas.

A Umbanda foi criada com um formato mais aberto para o trabalho com espíritos, desconectado da rígida codificação Kardecista, urbana, mas baseado, sem dúvida, na filosofia do kardecismo. 

A Umbanda não era elitista como o Kardecismo sempre foi e tinha um formato que permitia a sua prática por todas as camadas da sociedade, além de como já explicado ser um culto notadamente brasileiro e católico. 

Em relação a macumba a Umbanda estabelecia um formato menos mistificado e mais compreensível e aceitável pela sociedade comum sem prejudicar a incorporação e o trabalhos dos espíritos.

Dessa maneira o sucesso da Umbanda em relação à manifestação anterior, a macumba e a qualquer outra, veio através de incorporar a base católica, religião plenamente conhecida por todos, a codificação Kardecista que estrutura muito bem os novos elementos (espíritos, Karma, encarnação) e o trabalho com espíritos incorporados (guias) da Macumba. 

A Umbanda por si adicionou a isso suas linhas de trabalho e hierarquias espirituais que ordenou o conjunto de espíritos distintos que se incorporavam em um médium. 

Explorando esse último ponto, o formato do culto, é muito difícil, a luz dos fatos e não das invenções, como vamos ver, estabelecer a Umbanda como uma tradição religiosa de matriz africana ou afro-brasileira. 

Muito autores também já reconhecem a Umbanda como sendo uma religião brasileira, ou “A” religião brasileira, por natureza.

A Umbanda com o passar do tempo e através da sua simpatia com o processo de sincretismo adotou muitas outras formas de ser praticada, talvez centenas, diferentes da original e cada forma adicionou em maior ou menor grau novos elementos religiosos ou litúrgicos das fontes que sincretizou, mudando assim o formato dessa “nova” Umbanda em relação ao original. 

Apesar de todas as variações e criatividades das adições, os formatos derivados ainda mantiveram a mesma base principal kardecista-católica da criação da Umbanda.

Voltando ao princípio, a incorporação de ritos e estética africana foi resultado de um dos processos de sincretismo, talvez um dos primeiros, mas não foi o único, e criou uma forma muito popular de Umbanda (talvez a mais popular), mas, não podemos considerar que esse formato se constitui a base da Umbanda. 

Ele é apenas o resultado de um dos muitos sincretismos feitos a partir da Umbanda-base que veio com o Caboclo nas 7 encruzilhadas e era fundada nos princípios do Kardecismo-católico. 

Além disso não podemos dizer que a Macumba foi a fonte única desse sincretismo africano, pelo contrário, ele teve várias fontes. 

Desviando um pouco da linha histórica, entendo que, classificar a Umbanda como parte da matriz africana ou de religiões afro-brasileira, foi uma forma explícita de discriminação. Não quero também negar o óbvio, a junção africana. 

Ela existe e é muito popular, mas existem muitas outras formas de Umbanda que não se identificam com isso, de maneira que não existe sentido em classificar o todo usando somente uma de suas partes.

Essa referência à discriminação é feita porque durante muito tempo uma das formas de restringir a prática e caracterizar como uma manifestação menor ou atrasada era justamente estabelecer raizes africanas, ou melhor ligações com negros. 

Esse aspecto inclusive torna ainda mais complicado do que já é uma discussão independente sobre Umbanda, em parte, e Candomblé sempre, em seus aspectos religiosos ou históricos. 

É muito complicado querer tratar de religião quando o tempo todo existe uma discussão ideológica sombreando, se confundindo e misturando com isso, as idéias ficam mais difíceis de serem tratadas. Provavelmente é o que ocorre também com o Judaísmo e o semitismo. 

Prosseguindo em nosso desvio, existe uma fusão principalmente do Candomblé com a identidade negra e ambos sofreram um forte processo de discriminação. Hoje em dia já existe, de fato, uma sutil, mas real, separação disso e o Candomblé como religião não pode mais se identificado com a causa negra. Ele não é mais discriminado na sua prática, já se espalhou pela sociedade como um todo atingindo todas as classes sociais e seus sacerdotes, se transformou em mais uma religião de acesso comum e tem em seu clero e frequentadores uma grupo cada vez mais estão “embranquecido”. 

Atualmente casas de Candomblé com sacerdote e maioria de negros são muito raras. A predominância é de brancos, morenos e mulatos claros, aliás, como é a sociedade civil.

Esse movimento é recente, iniciou provavelmente em maior volume nos anos 80, mas a história mostra que a associação de alguma cultura e religião com negros sempre foi uma forma fácil e simples de gerar um preconceito e legitimamente combatê-los. 

A Umbanda caiu nessa rede africana e só foi começar a se libertar na década de 30-40 junto com o novo. 

Dessa maneira a classificação afro-brasileira para a Umbanda, pode ter sido apenas uma questão de ignorância, mas foi também uma forma de conter o seu culto.

Voltando a linha principal, finalmente, existe uma corrente de pessoas que pensam que a Umbanda não foi criada em 1908, que ela na realidade era a Macumba e sempre existiu antes. 

Engano, as formas são muito diferentes, o que conhecemos como Umbanda surgiu de fato em 1908. 

Esse grupo é fortemente identificado com essa busca de identidade negra e tenta assim confundir a história e se apropriar de uma identidade que não lhe pertence. 

Eu não posso encerrar aqui, este assunto sobre a história da Umbanda, sem fazer menção a primeira conferência de Umbanda, promovida em 1941, que foi uma reação radical ao sincretismo africano. 

A conferência, foi certamente promovida por descendências das correntes que criaram a Umbanda, teve como principais resultados a quebra de qualquer vínculo doutrinário e histórico com tradições afro-brasileiras e a definição de uma base comum doutrinária para a Umbanda (mais do que apenas teológica) que foi o pilar para a aceitação pelo estado e sociedade como uma religião. 

O resultado desse congresso influencia a prática e o entendimento da Umbanda até hoje. A partir desse evento e também de outras iniciativas das lideranças da época a Umbanda deixou de ser perseguida em sua prática pela polícia.

O congresso estabeleceu a tese de que a Umbanda sempre existiu e teve uma origem, nobre, pura e oriental. Sugiro aos interessados em buscar informações sobre o seu resultado da conferência. 

De fato acho a maior parte de suas teses delirantes, quase que apenas uma manifestação de preconceito, personalismo de alguns e completamente tendenciosa. Mas sem dúvida ele confirma a ligação umbilical da Umbanda com o Kardecismo e o Catolicismo expurgando qualquer referência africana e Yorùbá. 

A Macumba fica assim caracterizada como um movimente separado, sem vinculo doutrinário. De fato o congresso estabeleceu as práticas africanas como um desvio negativo da Umbanda milenar.

A linha oriental tem sido uma das mais atuantes da Umbanda. 

São pessoas muito esclarecidas e antes de todos os demais, começaram a produzir livros e teses sobre a filosofia da sua linha de Umbanda. 

Os livros são de autoria de “mestres” com nomes estranhos. 

Na ausência de outras obras ou concorrendo com outras poucas obras eles acabaram virando uma referência forte. 

Só recentemente uma pessoa que representa uma linha pode demais africana abriu uma “fábrica” de livros e busca através da saturação impor a sua idéia em um movimento similar, mas, mais intenso do que o orientais fizeram.

Outras correntes e teses poderão vir. 

A Umbanda é por demais sincrética para ficar imune a isso, mas, o que tem que importar são os fatos de sua história e não as teses que se inventam.

1Essa questão de a Umbanda ter uma maior abrangência e força para resolver problemas espirituais existe até hoje. 

Apesar do trabalho do Kardecismo ser voltado para isso, existem problemas que são orientados para serem encaminhados para a Umbanda.