CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Iniciação no Candomblé

Iniciação no Candomblé










No Brasil e em vários lugares do mundo existem milhares e milhares de pessoas que, maravilhadas pelo mistério dos Òrìsà, quer sejam descendentes de africanos, europeus, asiáticos ou de qualquer outra raça do planeta, acabam transpondo as portas da iniciação, surpreendidos pelo paradoxo de defrontar-se com crenças alicerçadas em rituais de rebuscada complexidade e ao mesmo tempo simples de entendimento na sua essência.






As cerimônias são alegres, coloridas, embaladas pelo som dos tambores nos quatro cantos do mundo, agregando pessoas de todas as camadas sociais; contudo, o aprendizado ritual e filosófico requer estudos sérios e contínuos, que acompanharão o iniciado pela vida afora.






Que mistérios são esse, ocultos em meio a lendas e ensinamentos de sabedoria ancestral? O que na verdade leva pessoas às mais diferentes tradições afro-descendentes, em busca da iniciação?






I - 1 - O que é Iniciação






Iniciar-se (popularmente no Brasil diz-se "fazer santo") é possibilitar através de rituais próprios que o lado divino da criatura transpareça; é libertar o Deus Interior que existe em cada ser humano, permitindo-lhe vir a tona e provocar impulso irresistível capaz de conduzir a individualidade à realização pessoal, estabelecendo dessa maneira a mais perfeita comunhão possível com o Universo, com a Natureza, com o Criador, enfim, com a própria Vida, em seu pulsar infinito.






Corpo físico, mente e alma são ritualisticamente preparados para componentes da manifestação divina. Condições propícias são estabelecidas para que a memória ancestral possa florescer nos recessos do inconsciente, produzindo muitas vezes o transe, em suas mais variadas formas e também variados graus.






"Fazer santo" é nascer de novo, renascer como indivíduo mais forte, completo, potencialmente seguro, com melhores condições para, ao abandonar medos, traumas ou bloqueios, lançar-se inteiro na busca da realização pessoal.






I - 2 - Por que "fazer santo"?






Conhecer a si mesmo: pressuposto básico para a realização pessoal em todos os níveis.






Desde sua origem o ser humano anseia pelo encontro com o Infinito. Essa busca incansável frequentemente provoca verdadeiras batalhas que são travadas no interior do indivíduo, acompanhadas por sentimentos de angústia, ansiedade, inconformismo ou até mesmo desespero frente ao desconhecido ou ao irremediável: as fatalidades e incertezas do amanhã, o ciclo da vida, a morte. Todo esse processo destina-se a criação de ambiente propício ao tão sonhado encontro.






A história da humanidade espelha essa incansável busca de respostas aos enigmas da vida: Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? A felicidade é perseguida por todos, sendo muitas vezes um desejo alimentado pela incerteza: "Quero ser feliz, mas não sei bem o que é felicidade".






E o ser humano continua a colocar a própria felicidade longe de si mesmo, em circunstâncias exteriores: dinheiro, posição, poder, fama, ou na dependência de outras pessoas: "Se ele - ou ela - me amar, serei feliz".






Há milhares de anos, o nativo do continente africano já tinha os mesmos anseios: conhecer seu Deus, os mistérios do Universo, a origem da Vida. Olodumárè (o Criador), em sua Graça e Poder infinitos, permitiu-lhes conhecer a sabedoria do IFA (a revelação): a Criação do Universo e dos seres humanos, os princípios que regulam as relações entre Ilú Aiyé (a Terra) o Orún (mundo espiritual) e o conhecimento dos Òrìsa, divindades partícipes da Criação e intermediárias entre Deus (Olodumárè) e os homens.






Desenvolveram-se rituais iniciáticos para os mistérios dos Òrìsà, como forma de realizar o sagrado em si mesmo, ou seja, permitir que o Deus Interior, na figura de um ancestral divino, desperte em cada indivíduo e estabeleça a ponte com o Cosmos, tão necessária à realização pessoal, tornando-o assim capaz de fazer escolhas mais acertadas e consequentes em relação à vida e aos semelhantes, na construção da própria felicidade.






A compreensão clara de que destino é possibilidade e não fatalidade é a base dessa realização. O conhecimento das forças que regem o Universo e a Vida nas suas mais variadas formas e meios de manifestação, bem como dos princípios que regulam essa interação é o caminho da Iniciação.






I - 3 - Fazer santo: quem, quando e como?






O momento do chamado é diferente para cada pessoa.. Para alguns, uma doença difícil de ser curada: outros, as dificuldades do próprio caminho; outros ainda, buscam fugir às religiões tradicionais por concluírem que muitas delas estão tão voltadas para o dia a dia dos homens e seus interesses imediatos que acabam fugindo à sua real finalidade: promover o encontro do ser com a Divindade, ampará-lo em suas dificuldades espirituais e consequentemente, também as materiais.






Alguns ainda são provenientes de outras religiões ou filosofias espiritualistas; finalmente, existem aqueles que simplesmente são tocados pelo Òrìsà, nos recessos da própria alma.






Muitos são descendentes de africanos, mas não é regra. Na África o culto está realmente ligado às famílias, mas no Brasil, principalmente a miscigenação, trouxe para toda a população a denominação afro-descendente.






A iniciação (feitura) propriamente dita acontece num período de reclusão que varia de sete a dezessete dias (embora alguns lugares adotem 21). Essa reclusão (recolhimento) ocorre nos Templos Religiosos conhecidos como Casas de Candomblé, em aposentos próprios para tal finalidade. Esse período é comparável a gestação na barriga da mãe; nesse aspecto, o aposento sagrado representa o ventre da própria mãe natureza. O neófito aprende os mistérios básicos das divindades e da Criação; os costumes da comunidade e os princípios que regulam as relações da família religiosa (hierarquia sacerdotal); as formas adequadas de comportamento nas cerimônias públicas e restritas. Conhecimentos acerca de seu próprio Òrìsà lhe são ministrados: a maneira adequada de cultuá-lo, suas proibições (ewò), as virtudes que deverão ser cultivadas e os vícios que deverão ser evitados para atrair influências benéficas e uma relação harmoniosa com a divindade pessoal.






I - 4 - O que pode mudar na vida do Iniciado






O Destino é dado a cada ser na forma de possibilidade, nunca como fatalidade. Desse modo, quem antes de voltar ao mundo escolheu por exemplo ser médico, ao renascer na Terra encontrará em seu caminho situações que o direcionem para essa profissão. Entretanto, isto não quer dizer que necessariamente venha a exercer a medicina. Ele pode a qualquer tempo mudar os rumos da própria vida através do exercício do livre-arbítrio (o que, aliás, é um conceito universal).






Cada qual constrói a própria história. Ocorre muitas vezes a pessoa acabar fazendo escolhas erradas e sofrendo consequências desastrosas. Pode ser fruto de um destino ruim, que exigirá tempo e determinação para ser superado. A dor transforma-se em companheira constante. Ligam-se a tudo isso os problemas do dia a dia (para não mencionar a situação difícil da sociedade contemporânea); o conjunto acaba provocando sentimentos de impotência frente aos obstáculos e encruzilhadas da vida, ou simplesmente solidão, carência de aconchego, de orientação, de coragem. Carência de fé.






O Òrìsà pessoal, nesse particular, pode influenciar e muito, prevenindo ou mesmo remediando tais situações, conferindo força e equilíbrio ao seu tutelado, restaurando-lhe as energias, estendendo-lhe proteção e orientando-o quanto ao melhor caminho a seguir.






Mas o indivíduo deve permitir que o Òrìsà atue de modo construtivo na sua própria vida. Òrìsà não representa problema no caminho de ninguém - pode significar a solução. Através do seu apoio divino o ser humano pode criar condições para vencer as barreiras internas e externas para a construção de um futuro melhor.






II. - Òrìsà






Etimologicamente ORI = Cabeça e SA = Guardião. ÒRÌSÀ, guardião da cabeça. Por extensão protetor, ou mesmo anjo guardião.






Os Òrìsà foram criados por Olodumaré (o Supremo Bem) juntamente com o Universo, assumindo papéis específicos em todo processo da Criação, manutenção e administração desse mesmo Universo. Representam também categorias espirituais que personificam fenômenos naturais ou geográficos como fogo, ar, terra, montanhas, rios, árvores, minerais etc.






Outro aspecto essencial para maior compreensão do termo está no processo de divinização de personagens históricos que contribuíram de forma admirável para a construção da civilização Iorubá, tais como reis, heróis, guerreiros, fundadores de cidades ou dinastias etc. Por seus feitos, ou por dominarem elementos da natureza, tais personagens perderam suas características humanas, transformando-se em Òrìsà.






Òrìsà é a energia presente de forma diferenciada em cada fenômeno da natureza, assim como nos seres humanos. Òrìsà é a energia pura que emana de cada ser.






O Impulso da Criação individualiza-se e compõe um Ori, possibilitando ao ser a experiência da vida. Cada ser é composto de Ori (cabeça), Emi (fluído vital, a respiração) e Ara (corpo físico). Mantendo essa ligação harmoniosa está o Òrìsà individual, a mesma energia a partir da qual o indivíduo foi criado. Assim, o ser humano possui a mesma natureza do seu Òrìsà, associada a um dos quatro elementos primordiais: Fogo; Água; Terra; Ar.






O conjunto que compõe a individualidade permanece coeso enquanto Olodumaré permitir; após isso seus componentes são dissociados, retornando à fonte comum.






II. - 2 - Òrìsà Pessoal






Necessário entender-se que Òrìsà pessoal é a força motriz predominante na composição da individualidade. Os elementos primordiais são fogo, ar, terra, água. O indivíduo no qual o elemento fogo é dominante estará ligado a um dos Òrìsà de natureza ígnea como Sangò, Esù, Obaluwaiyé, Oya; outro cuja força ascendente venha do elemento água terá ligação com uma das Ayaba (divindades femininas): Osun, Iemonja, Iyewá, Olokun e assim sucessivamente.






A trindade sagrado dos Iorubá é composta por Olodumaré (Deus Todo Poderoso), Orunmila (chamado a Testemunha do Destino, por estar presente no momento em que o indivíduo escolhe uma nova existência) e Òrìsà Nla (Orisalá), que ajudou Olodumaré na criação dos seres humanos.






Os três representam a essência de todas as coisas. Olodumaré não necessita de culto específico, pois tudo que existe e tudo o que é praticado ocorre através Dele mesmo, em Seu nome e em Sua Honra. A literatura sagrada do Ifa diz: "Quem é suficientemente bom para fazer oferendas para Olodumaré?"






Orunmila é a Segunda Pessoa de Olodumaré, chamado "a Testemunha do Destino", conhecedor dos caminhos reservados aos seres humanos e por isso mesmo cultuado como Òrìsà da adivinhação. Representa a Sabedoria Divina. É a própria Consciência Cósmica. Ensinou para a humanidade os meios de comunicar-se com os habitantes do Òrun (mundo espiritual). Tais meios caracterizam-se pelas tradicionais formas de oráculo: o Opele (jogo de Ifa), o Obi (jogo com fruto sagrado conhecido por noz de cola) e o Merindilogun (jogo com dezesseis búzios). A base desses sistemas divinatórios é a literatura (oral) sagrada, conhecida coletivamente como IFA. Assim, Orunmila é a divindade e IFA é o sistema, ou seja, o meio pelo qual a prática divinatória se processa.






É através do Ifa que pessoas recorrem a Orunmila e por extensão aos demais Òrìsà para solucionar seus problemas, esclarecer dúvidas ou decidir acerca de questões importantes (ou mesmo triviais) que considerem essenciais para seu próprio equilíbrio interior e exterior.






É também através do Ifa que o Òrìsà pessoal é revelado. No Brasil, particularmente o Merindilogun (jogo de búzios) é a forma oracular mais utilizada com essa finalidade.






Entretanto Orunmila, em sua infinita Sabedoria e Onisciência, comunica-se com os seres humanos pelos mais variados meios: sonhos, visões, intuições, coincidências peculiares (sincronismos); às vezes até uma palavra ou conselho que vem por intermédio de outra pessoa pode estar trazendo importante mensagem de Orunmila.






II. - 3 - Como cultuar o Òrìsà Pessoal






Existem formas distintas de render culto aos Òrìsà, que variam de situação para situação, Nação para Nação, Família para Família, de Templo para Templo e até mesmo de pessoa para pessoa.






O empresário excessivamente ocupado expressará sua fé de maneira diferente do garoto de dez anos que vive dentro do Templo religioso desde a mais tenra idade.






Entretanto, a forma mais tradicional diz respeito à iniciação. No Brasil o processo iniciático implica em cerimônias complementares feitas periodicamente, denominadas Renovações ou Obrigações, propiciando assim um culto metódico e equilibrado, percebido socialmente nos meios religiosos como correto e adequado.






É possível também cultuar-se as divindades mesmo na impossibilidade de iniciação através de oferendas (Ebo), presentes, orações (Adurà), louvações (Oriki), cânticos, danças ou até mesmo pela sacralização de objetos que representem o próprio Òrìsà (assentamentos).






É importante frisar que tais cerimônias de consagração, assim como as iniciações e obrigações posteriores, só podem ser realizadas por sacerdotes convenientemente preparados para ministrá-las e que tenham, por sua vez, cumprido regularmente suas próprias obrigações religiosas.






Outra forma de realização através do sagrado é o método de "alimentar a cabeça" (Bori), já que Ori representa a sede da alma e o repositório do destino individual. Em tais cerimônias o Ori é tratado como verdadeira divindade, visando o equilíbrio e harmonia da criatura. Os Òrìsà invocados durante o ritual de Borí são Iemonja - a mãe das cabeças, e Osalá - considerado o pai da humanidade.






Cultuar os Òrìsà é expressar a própria fé. O ser humano, através do contato com seus semelhantes ao redor de crenças comuns, nos momentos de adoração, sente-se fortalecido, alinhado com a Ordem das Coisas, partícipe da Vida e em sintonia com ela.






Individualmente podemos vivenciar o poder e o alcance de nossas crenças, mas é coletivamente que as demonstramos com maior rigor e euforia. Juntamo-nos para implorar aos Céus e ao Infinito e ele nos responde, na presença dos Òrìsà, que regressam momentaneamente, manifestados em seus filhos iniciados, seus Elegun, distribuindo bênçãos e dádivas aos presentes e ao Mundo inteiro.






III. - Candomblé






África. Comprovadamente o berço da humanidade por ter sido encontrado naquele continente o mais antigo fóssil humano. A religião dos Òrìsà originou-se em solo africano num período de quatro a seis mil anos atrás.






Brasil. Dia 22 de abril de 1500. Descobrindo uma nova terra de dimensões continentais, o colonizador europeu tratou logo de explorá-la. A partir de 1540 aportaram neste país contingentes de seres humanos reduzidos a mísera condição de escravos, agressão sofrida por todo um povo e tratada retoricamente por pesquisadores pelo termo "diáspora".






Homens e mulheres que trouxeram consigo suas tradições religiosas milenares. Negros de diferentes etnias e crenças foram colocados juntos na mesma senzala, passando a conviver em situações muitas vezes precárias, tendo que abandonar antigas rixas coletivas ou individuais, por força das circunstâncias. Senhores de escravos, apostando na manutenção das antigas diferenças como fator de desagregação (até porque muitas vezes diziam respeito a questões de guerras tribais), permitiam que os negros se reagrupassem de acordo com suas origens étnicas para cantar e dançar, em suas línguas nativas, acreditando assim desestimular quaisquer tipo de associações que possibilitassem fugas ou levantes.






Mas a desgraça comum acabou por unir os povos escravos através da solidariedade. Inimigos históricos deixaram de lado suas diferenças. Surgiram as primeiras trocas de informações comparando divindades e suas maneiras de culto, através de semelhanças e desigualdades. Para propiciar a continuidade de suas crenças, adaptações fizeram-se necessárias. Surgiram as primeiras alforrias, a princípio amparadas em Lei que garantia ao escravo a liberdade desde que conseguisse restituir ao senhor a quantia que havia lhe custado.






Mulheres escravas dos grupamentos urbanos tinham melhores condições para juntar o dinheiro necessário; faziam quitutes que eram vendidos ou prestavam serviços que eram remunerados. Por sua vez a Igreja, que havia fechado os olhos para a escravatura adotou um papel evangelizador em relação aos negros, que passaram a ter alma. Nasciam assim as primeiras irmandades de escravos (as), como por exemplo a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, existente até hoje. Essas confrarias arrecadavam fundos para alforriar negros.






Três princesas africanas, dentro desse processo e à sombra da Igreja, fundaram o 1º Candomblé do Brasil em Salvador (BA), há mais de quatrocentos anos atrás, conhecido com "Engenho Velho".






As cerimônias eram feitas ao ar livre, onde escravos cantavam e dançavam em louvor às suas divindades. Tais reuniões eram chamadas de kan-Dom-b-le, palavra kibundo (originou o termo candomblé), que significa festa ou reunião de negros.






Posteriormente descendentes desses primeiros escravos, já adaptados à nova terra, introduziram modificações nas várias maneiras de culto trazidas da África.






As trocas culturais foram sendo paulatinamente assimiladas por todos e mesmo mais tarde, quando puderam reorganizar-se em grandes grupos pela etnia de origem já não era possível separar adequadamente os rituais, preceitos e muitas palavras utilizadas dentro das cerimônias religiosas.






Grupos de cultura mais aparelhada ou simplesmente maior contigente humano passaram a exercer influência dominante. Chamamos essa divisão pelo termo "Nação". Assim temos, de influência notadamente Iorubá a Nação Ketu; de influência Ewe-Fon a Nação Gêge; de influência Banto, a Nação Angola etc.






Importante notar que mais atualmente observa-se a importação direta da África de formas de culto e valores religiosos, restabelecendo o contato com a religião tradicional dos Òrìsà.






Grupos dividiram-se em Nações, Nações dividiram-se novamente, originando as Famílias de Ase, verdadeiros Clãs religiosos. Como exemplo temos a Casa Branca , o Gantois, o Opo-Afonja, a Casa de Osumarè, pertencentes a Nação Ketu e sediados em Salvador(BA).






Famílias geraram descendentes (ramificações) que fundaram novas casas por todo território nacional, notadamente Rio de Janeiro e São Paulo. São Bábàlorisa e Iyálorisa filhos, netos, bisnetos e tataranetos das casas matrizes






Houve também grupos que radicaram-se em outras regiões do território nacional, como o Maranhão (Tambor de Mina) e o Rio Grande do Sul (Batuque).






Todo iniciado tem Pai ou Mãe espirituais; por sua vez, esse Pai ou essa Mãe também possui um iniciador (sacerdote ou zelador) ou iniciadora (idem) e assim, sucessivamente, até chegar-se à raiz da Família, isto é, à Casa Matriz: a raiz do Asè.






Ninguém se faz sozinho, ou muito menos "já nasce feito". Todos precisam transpor os portais da iniciação (feitura), levados pelas mãos de um iniciador ou iniciadora (pai ou mãe espirituais), para fazer parte integral da organização religiosa e social do Candomblé.






Cada Elegun (iniciado) deve conhecer suas raízes, para poder valorizá-las e também ser valorizado. Dar conhecimento da formação genealógica da Família espiritual é obrigação de todo sacerdote para com seus filhos espirituais.






Essa foi a herança cultural e religiosa recebida pelos afro-descendentes. Nasceu uma religião original, verdadeiramente brasileira, perfeitamente integrada à nova terra.






África continua sendo o berço da religião tradicional dos Òrìsà; Brasil e outros lugares do mundo, a sua continuidade, como se constituíssem o tronco e ramos de uma mesma árvore.






IV. - Hierarquia Sacerdotal






Degraus da Iniciação






A estrutura social do candomblé lembra as famílias antigas, matriarcais ou patriarcais. Existe toda uma escala de valores relativamente às tarefas desempenhadas na comunidade, sendo que os indivíduos (membros) poderão ou não galgar posições de maior status ou responsabilidade, baseando-se em fatores diversos, notadamente a antiguidade.






A escala linear estratifica-se da seguinte forma:






ABIYAN = aspirante, aquele que embora frequente a casa, ainda não recebeu os sacramentos da iniciação.






IYAWO = termo utilizados relativamente aos iniciados passíveis de ocorrer o fenômeno chamado transe. Primeiro degrau da hierarquia religiosa, esse estágio estende-se por no mínimo sete anos, apresentando graduações: Odu Ora- iyawo que realizou obrigação de 1 ano; Osu Meta - iyawo que realizou obrigação de três anos. Algumas casas também demarcam a obrigação de 5 anos -Odu Keta.






EGBON = iniciado que completou a obrigação de sete anos. Essa obrigação representa a maioridade dentro da hierarquia religiosa.






OLOYE = aquele que possui Oye (cargo); iniciado com mais de sete anos (Egbon) que recebeu funções de comando ou responsabilidade (Oye) dentro da própria Casa ou Família de Ase. Tais funções são equivalentes aos antigos cargos tribais. Obs: o termo aplica-se também a Ogã e Ekedi, sendo que nesse, caso, muitas vezes o Oye é atribuído já na iniciação.






OGÃ/ EKEDI = cargos civis dentro da hierarquia. A particularidade é que são homens (ogã) e mulheres (ekedi) não passíveis de transe. São Oloye, sendo comum receberem suas responsabilidades específicas (Oye) já no momento da iniciação.






BÁBÀLORISA ou IYÁLORISA = necessariamente são os iniciados com obrigações de sete anos já completas (Egbon) que dispõem de condições materiais e espirituais (além de profundo conhecimento ritual) para fundar uma nova Casa e iniciar outras pessoas.






V - Formação espiritual do iniciado






Degraus da Iniciação






A formação espiritual do iniciado nos mistérios do Òrìsà na verdade é contínua, começando no momento em que a pessoa abraça a religião e terminando com a sua morte.






O Candomblé possui enorme cabedal de informações que são transmitidas oralmente, o que dificulta bastante seu aprendizado. Não existem demarcações claras entre um ponto e outro a ser assimilado, despendendo o iniciado bastante tempo e raciocínio para recompor os ensinamentos que lhe chegam fragmentada e desordenadamente.






A título de sugestão, fica aqui um roteiro básico, o qual pode ser útil para possibilitar uma trajetória mais tranquila e harmoniosa pelo postulante nos caminhos da iniciação.






1º Ano da Iniciação : conhecer as raízes do seu Ase; aprender canto e dança rituais; conhecer as divisões hierárquicas e os Espaços Sagrados da sua própria Casa de Ase.






2° Ano da Iniciação : aprimorar canto e dança; aumentar conhecimentos dos diferentes Òrìsà cultuados pela Família e pela Casa; culinária ritualística.






3° Ano da Iniciação : aprimorar canto e dança; aprimorar conhecimento dos Òrìsà, especialmente histórias e lendas (literatura do Ifa); aprimorar cozinha ritual e oferendas votivas.






4° Ano da Iniciação : os itens do ano anterior, acrescentando-se aprofundamento nas cerimônias públicas e trato com os Òrìsà manifestados.






5° Ano da Iniciação : Incluir aspectos ligados aos Quartos Sagrados e Igba-Òrìsà (assentamentos).






6° Ano da Iniciação : incluir aprofundamento no conhecimento de ervas litúrgicas e medicinais e o uso delas no Candomblé.






7° Ano da Iniciação : assuntos dos anos anteriores, acrescentando-se a confecção e manuseio dos apetrechos e materiais sagrados utilizados no Quarto de Òrìsà.






8° Ano da Iniciação em diante : aqui os destinos se dividem. Os Egbon que receberam Oye (cargo dignatário) terão tarefas específicas a aprender e executar; aqueles poucos destinados a fundar novas Casas de Ase deverão rever todo o conhecimento adquirido, acrescentando-se o destinado aos Oloye e os mistérios da Iniciação, Renovações (obrigações) e Asese (ritos funerários).






Importante ter em mente que estudo e dedicação são imprescindíveis a partir do momento da iniciação, sendo mais necessário adotar-se uma postura real de busca e aprendizado do conhecimento religioso, do que propriamente um roteiro para fazê-lo.






VI - Apêndice : Oloye






OLOYE = literalmente "aquele que possui ou recebeu um Oye", ou seja, um cargo dignatário.






OYE = cargo dignatário, equivalente aos antigos cargos tribais, necessários à segurança, organização e manutenção da vida em comunidade.






Os Oloye compõem o segundo escalão de comando na Casa de Candomblé. Importante salientar-se que Cargo (Posto) acima de tudo significa responsabilidade, não implicando necessariamente em autoridade. Antes de tudo representa a confiança que o Sacerdote e toda a Comunidade depositaram naquela pessoa, sempre a partir do consentimento ou determinação dos Òrìsà.






Cabe aos Oloye esforçarem-se sobremaneira para honrar essa confiança, lembrando-se sempre de que respeito deve ser conquistado, nunca exigido por simples imposição. O melhor alvitre continua sendo "respeitar para ser respeitado", seja o Oloye Ogã, Ekedi ou Egbon.






Alguns Oye relativos a Egbon






Bábàlorisa ou Iyálorisa = sacerdote ou sacerdotisa. É a autoridade máxima dentro da hierarquia, aquele ou aquela que é responsável pela vida religiosa de toda a comunidade. Procede iniciações, sejam de iyawo, ogã ou ekedi; atribui Oye; oficializa todas as obrigações posteriores à iniciação e realiza os ritos funerários quando ocorre o falecimento de qualquer iniciado, especialmente aqueles descendentes da sua própria Família ou iniciados por suas próprias mãos.






Iyámoro = sacerdotisa responsável pelas cerimônias rituais do Ipadè (invocação aos ancestrais).






Iyágbàíngena = auxiliar direta da Iyámoro.






Iyáojugbonan = sacerdotisa responsável pela criação dos iyawo no Quarto de Òrìsà.






Bábàlase ou Iyálase = sacerdote auxiliar direto do Bábàlorisa ou Iyálorisa. Responsável pelo Ase.






Bábàkekere ou Iyákekere = sacerdote auxiliar direto do bábàlorisa ou Iyálorisa. Pai pequeno ou Mãe pequena.






Iyádagán = responsável pelos preceitos do Òrìsà Esù.






Oye relativos a Ogã






Asogun = aquele que realiza os sacrifícios rituais.






Olosogun = auxiliar do Asogun.






Alagbé = aquele que toca os atabaques (tambores).






Ilémosò = guardião, realiza ritos específicos dentro do culto do Òrìsà Ogyian.






Oye relativos a Ekedi






Iyáomoniye = cuida das tarefas referentes aos iniciados dentro e fora do quarto de Òrìsà.






Iyáoloye = semelhante a Iyáomoniye. Possui também atribuições específicas relativas aos Oloye.






Iyásingè = responsável pela cozinha ritual.






Quadro comparativo entre Candomblé, Umbanda e Espiritismo






Candomblé = religião brasileira, de origem africana, que cultua as forças da natureza divinizadas (Òrìsà) e os antepassados.






Umbanda = religião eminentemente nacional, mescla elementos de espiritismo, de candomblé, de catolicismo e crenças indígenas. Ligada a ancestralidade brasileira (índios e caboclos).






Espiritismo = segundo a definição de seu criador Allan Kardec, trata-se de uma "Doutrina filosófica com consequências religiosas". Surgida na França, no século XVIII; também conhecido como Kardecismo ou popularmente "mesa branca".






Pontos comuns dessas três correntes espiritualistas : a crença num Deus único, existência de vida extra-corpórea (vida espiritual) e possibilidade de retorno a vida material (reencarnação).

2 comentários:

  1. ual......era o que eu estava procurando...muito bom..bjs e axé a todos.

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  2. É, só lamento não ter encontrado esse blog a mais tempo..........estou chegando hoje.....adupé!

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