vista panorâmina da
Casa de Oxumarê
Lateral da Casa
Ilé Axé Oxumarê -
Casa de Oxumarê,
Sociedade Cultural, Religiosa e Beneficente São Salvador,
localizada na Avenida Vasco da Gama, 343, bairro da Federação, antiga Mata Escura, Salvador, Bahia.
Foi fundada inicialmente no bairro dos Barris em Salvador por Antonio de Oxumarê.
Tombado pelo IPAC - Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia em 15/12/2004.[1]
Sacerdotes:
Pai Antonio de Oxumare -
Mãe Cotinha de Yewá - 1947
Mãe Francelina de Ogun - 1947-1954
Mãe Simplícia de Ogun - 1954-1967
No período de 1967-1974 a casa ficou sem atividades.
Mãe Nilzete de Iemanjá - 1974-1990
Pai Pece de Oxumare - 1990
ANCESTRALIDADE:
Babá Antonio de Oxumare
Fundador do Ile Axé Oxumare.
Sabe-se que era escravo / crioulo - filhos de escravos africanos nascidos no Brasil. Foi criado por tio Salacó filho de Xangô e foi filho de santo de velhas africanas. Batizado com o nome Antonio Manoel do Bonfim.
Era conhecido como Antonio das Cobras.
Citações bibliográficas indicam Antonio de Oxumarê como respeitado Babalorixá após 1875, ano então, que se presume ter vivido, portanto a casa de oxumarê tem raízes no século XIX.
Era também conhecido pelo apelido de "cobra encantada", em virtude do seu poder como "feiticeiro".
Seu Antonio de Oxumare transferiu a sede do terreiro para o atual local que antes era conhecido como mata escura ou linha 15 (trem).
Não há evidências biográficas.
Iyá Cotinha de Yewá
Chamava-se Maria das Mercês dos Santos e era filha de santo do Babalorixá Antonio de Oxumare por quem foi iniciada aos 13 anos de idade.
Irmã biológica de Hilário Bispo de Santos que futuramente terá grande importância para a Casa de Oxumare.
Sabe-se que em 1937, surgiu a união das casas afro-brasileiras em Salvador/BA, uma espécie de federação que visava registrar e fiscalizar os terreiros.
Iyá Cotinha de Yewá recusou-se a registrar a Casa de Oxumare.
O argumento mais provável desta recusa foi de que Iyá Cotinha de Yewá temia expor a casa de santo e sofrer perseguições do poder público baiano uma vez que na época o Candomblé era uma religião perseguida e discriminada.
Tal acontecimento caracteriza que Casa de Oxumare na década de 30, já estava em atividades.
Casada com sr. Arsênio - Ogán da Casa Branca/Ogán de Oxoguian de Iyá Massi.
Possuía um temperamento tímido e calado. Os antigos, portanto, contam que Yewá resolveu estes problemas, tomando muitas vezes a frente da casa de Oxumarê quando necessário.
Yewá era irreverente, sabia comandar e não tinha "papas na língua", diziam os antigos.
Seu primeiro barco foi composto:
•Dona Baiana - Oba Tosi, que morre com 102 anos;
•Maria da Neves da Encarnação - Oyá Biyi;
Iniciou várias yawôs e ogáns, entre eles podemos citar:
•José Bispo dos Santos - muito conhecido em São Paulo e em todo o Brasil como Pai Bobó;
•Teodora de Yemanjá - Iyalorixá muito famosa no Rio de Janeiro;
•Nair de Oxalá - irmã de Iyá Teodora;
•Egbomy Menininha - mãe de Iyá Teodora;
•Francelina de Ogun;
•Dona Miudinha da Oxun;
•Simplícia de Ogun;
•Ogán de Yewá: urbano, que morre em janeiro de 2001;
•Ogán Cadú - Ogán de Yewá: também falecido recentemente;
•Ogán Garrincha - Ogán de Yewá;
•Maria Silvia de Assis - Ekeji Mariazinha de Oxalá;
•Tomazia de Oxun;
•Ogán Paizinho - Ogán de Yewá / Otun
labê;
•Ogán Manoel - Ogán de Yewá / Osi Alabê;
•Ogán Possidonio - Ogán de Yewá / Alabê;
•entre outros.
Morre em julho de 1947.
Iyá Francelina de Ogun
Filha de santo de Iyá Cotinha de Yewá.
Uma ebomy de muitas posses e bem sucedida financeiramente. Gostava muito de jóias e as possuía em grande quantidade.
Comandou Axé Oxumare de 1947 a 1954.
Abdicou do cargo de Iyalorixá, passando o comando para sua irmã de santo e afilhada de crisma Simplícia de Ogun.
Acredita-se que a abdicação ocorreu para a Casa de Oxumare não sofresse desgastes e conseqüências com sua morte.
Iyá Simplícia de Ogun
Filha de santo de Iyá Cotinha de Yewá e depois sua cunhada, pois vem a se casar com Hilário Bispo dos Santos, irmão biológico de Iyá Cotinha de Yewá.
Era filha biológica de Maria da Neves da Encarnação - Oyá Biyi e foi iniciada aos 14 anos de idade em 1936. Nasceu em 18 de setembro de 1922(?)
Chamava-se Simpliciana da Encarnação e era conhecida como Simplícia do Ogun - Ogun Dekisi.
Vovô Hilário - como era conhecido-, seu esposo, era um homem muito trabalhador e um empreiteiro respeitado em Salvador, mas possuía forte temperamento.
Contribuiu muito com a manutenção, sustento e ampliação da Casa de Oxumare e sua fama de homem bravo também contribuiu para a moralidade e disciplina do terreiro.
Herda o trono da Casa de Oxumarê de sua irmã de santo e madrinha de crisma Iyá Francelina de Ogun em 1954, com 38 anos de idade.
Seu primeiro ato foi o Amalá de Xangô em 1954 e sua primeira festa foi a Festa de Ogun em 20 de maio de 1955.
Iniciou 44 yawôs, entre eles podemos citar:
•Filhinha do Ogun, sua primeira yawô
•Deusuíta - dofona.
•Leonor de Oxumarê;
•Ana de Ogun;
•Nilza de Ogun;
•Dó de Ossayin;
•Cotinha de Oxalá;
•Elizabeth de Oxalá;
•Deusuíta de Omolu;
•Pérsio de Xangô;
•Ana Laura de Ogun;
•Duzinha de Nanã;
•Bentinha de Ogun;
•Rosinha de Obaluaiyê;
•Zezé de Obaluaiyê;
•Valquíria de Oxun;
•Doroti de Yansan;
•Ekeji Angelina de Oxossi;
•Entre outros.
Teve cinco filhos: Jutaí Bispo dos Santos, Tânia Maria Bispo da Encarnação, Nilton Bispo dos Santos, Nilzete Austriquiliano da Encarnação e Erenilton Bispo dos Santos, todos iniciados no Axé Oxumarê.
Como uma de suas poucas lembranças deixou uma fotografia aonde aparece servindo o Presidente da República Getulio Vargas, documento que comprova a proximidade da Iyalorixá com o Chefe de Estado, momento em que este oferece a oportunidade de algum pedido pessoal a Iyá Simplicia como elogio pela boa qualidade da comida.
Iyá Simplicia não hesita e pede ao chefe da nação
"liberdade de culto ao candomblé".
Morre em 1967, aos 51 anos de idade, depois de 13 anos de chefia no Axé Oxumarê, vitimada de um mau súbito cardíaco.
Iyá Dona Miudinha de Oxun
Filha de santo de Iyá Cotinha de Yewá herda a Casa de Oxumarê após a morte de sua irmã de santo Iyá Simplícia de Ogun.
Era conhecida como Omifunké.
Não ocupou o cargo por motivos pessoais.
Iyá Nilzete de Yemanjá
Chamava-se Nilzete Austriquiliano da Encarnação.
Egbomy Nilzete de Yemanjá como era conhecida. Nascida em 29 de fevereiro de 1939.
Foi a Iyalorixá mais conhecida da Casa de Oxumare.
Filha biológica de Iyá Simplícia de Ogun, assume o comando do Axé Oxumare em 1974.
Foi iniciada pelo Babalorixá Manoel Cerqueira de Amorin, Nezinho de Ogun, Ogun Cobé, em 15 de dezembro de 1965.
De temperamento reservado, tímido e muito calado, gostava de ficar no anonimato, mas esta forma de ser acabava destacando-a mais ainda.
Como anfitriã era sorridente, respondia a todas as dúvidas e a todos orientava com sabedoria e humildade.
Uma de suas célebres frases caracteriza seu estilo simples e hospitaleiro:
"Não repare. Minha casa é simples, mas sempre tem feijão com farinha para todos".
Como Iyalorixá e dirigente espiritual era muito rígida e exigente.
Era muito comedida, prudente e reflexiva para assumir um filho de santo.
Só o fazia quando Yewá, Oxumare, Yemanjá, Xangô e Ogun, orixás a quem tinha muita obediência e respeito, autorizavam.
Promovia candomblé pela fé e suas festas eram organizadas dentro da tradição e, portanto eram belíssimas.
Não costuma dançar o xirê, mas se apresentava no barracão muito elegante e introspectiva para dançar a roda de Xangô.
Cantava "Jeje" com muito domínio pelos cantos da casa.
Dedicava-se mais ao culto de Orixá do que a vida pessoal.
Iniciou vários yawôs dentre eles podemos citar:
Seu primeiro barco foi:
•José de Oxun, José Ferreira;
•Soninha de Oxoguian;
•Rosa de Oxumarê;
•Regina de Nanã;
•Eliete de Yewá;
•Tania de Oxossi - Maiyé
•Zilda de Ogun;
•Zezé de Omolu;
•Lurdinha de Omolu;
•Sandra de Yemanjá - atual Iyakekerê da Casa de Oxumare.
•Murilo de Ogun em Minas Gerais;
•Gerson de Oxossi em Minas Gerais
•Lídio de Xangô em Santa Catarina;
•Vladimir de Oxossi-Kabilla em São Paulo;
Desta forma expandiu o nome da Casa de Oxumare para todo o Brasil.
Iyá Nilzete de Yemanjá trabalhou muito para a Casa de Oxumare.
Fez reparos, manutenção e conservação do patrimônio.
Impetrou uma verdadeira guerra contra a prefeitura de Salvador que projetava uma passarela de pedestres que passaria sobre Iroko, na qual saiu vitoriosa.
Iyá Nilzete de Yemanjá teve três filhos:
•Samuilta de Oxoguian;
•Sidney de Oxossi;
•Sivanilton de Oxumare (Pece),
Todos iniciados no Axé Oxumarê.
Histórias que os antigos contam...
Yewá escutava tudo
Dona Cotinha de Yewá, era a Iyalorixá da Casa de Oxumare por volta da década de 30. Era uma mulher muito tímida e quase sem iniciativa.contam os antigos que sofrera muito com seu esposo.Mas Yewá, não era nada parecida com Dona Cotinha. Era atuante, corajosa e liderava a todos. Chamava a atenção de todos e não pensava duas vezes em dar broncas. Quando estava em terra, punha ordem no terreiro e tudo funcionava bem. Um belo dia, uma de suas filhas, Francelina de Ogun, arrumava-se para ir a roça de candomblé. Enquanto se arrumava disse:
- se Yewá, começar hoje com suas presepadas comigo,eEu vou dar um tapa na cara dela.
Francelina de Ogun acabou de se arrumar e foi para o Axé. Lá chegando, qual foi a surpresa: lá estava Yewá, debaixo do pé de Iroko, que a recebeu dizendo:
- Você não disse que ia bater na minha cara? Pois bem estou aqui.
Francelina ficou avechada, não respondeu para nada, e nunca mais desrespeitou Yewá, sua mãe, nem em pensamento.
Yewá dá o dinheiro de Iyá Cotinha
Chiquinha de Yansan, filha de Cotinha de Yewá, almoçava com a sua família, numa sexta-feira santa e nesta ocasião nada tinha para por no fogo.a dificuldade era muita grande. No sábado de aleluia ia para roça dar ossé - como costumeiramente faziam os antigos - mas Chiquinha não tinha um tostão, nem mesmo para ir ao terreiro cumprir o preceito e os costumes da casa.
As panelas estavam vazias...
Mas pensava e pedia:
- Oyá e Yewá, vão me trazer dinheiro..vão me ajudar e trazer trabalho para meu marido.
Apesar de não ter nenhum ânimo para ir para a roça, criou coragem e foi...foi para o ossé.
Lá chegando - com o coração muito apertado - nada disse a ninguém sobre sua situação e passou o dia com sua Iyá...D.Cotinha.
Quando chegou o momento de ir embora,
Yewá, virou...respondeu e mandou chamar Dona Chiquinha. Esta, sabendo da fama e da brabeza de Yewá, ficou nervosa e com medo mas foi encontrar e tomar benção de sua mãe.
Dona Chiquinha, chegou perto, ficou abaixada e sem olhar para cima.
Yewá falou:
- "tomaue da fia o uô uô fazia as coisa...o ajeun. Eu sabeu que num tinho nada...e daqui pa frente não vai farta ajeum."
Yewá tirou o dinheiro, umas economias de Dona Cotinha e deu a sua filha.
Naquela semana o marido de D. Chiquinha arrumou emprego e coisas começaram a voltar ao normal.
Ogun tão afamado que virava todo mundo...
Virou uma visita importante
Ogun de Iyá Simplícia era muito famoso por sua capacidade de virar qualquer pessoa no santo. Qualquer um virava...era só bobiar.
Numa bela noite de festa a roça de candomblé e toda Família Oxumarê, aguardava ansiosa a visita ilustre de uma personalidade do Culto de Orixá. Tal visita sempre afirmava que duvidava que Ogun a virasse.
A festa já tinha se iniciado quando a visita começou a subir as escadas da Casa de Oxumare.
Ogun, que estava em terra avisou que era chegada a hora de fazer tal visita virar no santo.
Ogun dirigiu-se a porta principal o barracão e deu o seu ila.
Instantaneamente a visita virou...Yansan estava em terra.
Todos ficaram alegres inclusive a visita ilustre.
Dia a dia trabalhoso
Na época em que as filhas de santo de Iyá Simplícia de Ogun eram yawôs, o dia a dia na Casa de Oxumarê não era fácil.
O dia começava com a busca de água na bica de Yewá.todas as yawôs traziam água em latas na cabeça para a roça...a bica não era perto e na volta precisavam subir os barrancos de terra, (que hoje é a famosa escadaria), o que tornava a tarefa mais difícil e muito cansativa. Depois, todo o serviço de casa tinha que ser feito com capricho. As ebomys da época - filhas de santo de Iyá Cotinha - ajudavam , mas o pesado ficava com as yawôs. Lavar e passar toda a roupa com ferros de brasa, engomar, limpar o barracão e todos os cômodos, varrer o terreiro, fazer comida, tratar da criação, tratar dos santos, preparar os ebós, etc...
Pedaços de folha de jornal tinham que ser amolecidos diariamente para serem usados nos banheiros. Isto as yawôs faziam, esfregando e amassando o papel jornal até que ficassem macios.
No final do dia, uma atribuição das yawôs era a de esquentar água para as ebomys tomarem banho.a água tinha que ficar quente, não podia esfriar , até o momento em que as ebomys resolvessem tomar seus banhos. As vezes isso demorava , pois a ebomys costumavam prosear algumas horas antes de irem dormir, o que obrigava as yawôs a ficarem tomando conta das latas de água no fogão a lenha com as brasas acessas. Nenhuma yawô era tão atrevida de interromper a prosa das ebomys...o jeito era esperar.
Referências
1.↑ Tombamento do Casa de Oxumarê
Professor Reginaldo Prandi arq doc
Casa de Oxumarê
Site da Casa de Oxumarê
Matéria sobre gravações feitas por Pierre Verger no Ilê Axé Oxumarê
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