Ibualama
Oxóssi, do iorubá Òsóòsì, é um orixá da caça e da fartura, identificado no jogo do merindilogun pelo odu obará e representado nos terreiros de candomblé pelo igba oxóssi.
África
Pierre Verger, em seu livro Orixás, diz que o culto de Oxóssi foi praticamente extinto na região de Ketu, na Iorubalândia, uma vez que a maioria de seus sacerdotes foram escravizados, tendo sido enviados à força para o Novo Mundo ou mortos.
Aqueles que permaneceram em Ketu deixaram de cultuá-lo por não se lembrarem mais como realizar os ritos apropriados ou por passarem a cultuar outras divindades.
Brasil
Durante a diáspora negra, muitos escravos que cultuavam Oxóssi não sobreviveram aos rigores do tráfico negreiro e do cativeiro, mas, ainda assim, o culto foi preservado no Brasil e em Cuba pelos sacerdotes sobreviventes e Oxóssi se transformou, no Brasil, num dos orixás mais populares, tanto no candomblé, onde se tornou o rei da nação Ketu, quanto na umbanda, onde é patrono da linha dos caboclos, uma das mais ativas da religião.
Seu habitat é a floresta, sendo simbolizado pela cor verde, na umbanda e recebendo a cor azul clara no candomblé, mas podendo usar, também, a cor prateada nesse último.
Sendo assim, roupas, guias e contas costumam ser confeccionadas nessas cores, incluindo, entre as guias e contas, no caso de Oxóssi e, também, seus caboclos, elementos que recordem a floresta, tais como penas e sementes.
Seus instrumentos de culto são o ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais objetos de caça.
É um caçador tão habilidoso que costuma ser homenageado com o epíteto "o caçador de uma flecha só", pois atinge o seu alvo no primeiro e único disparo tamanha a precisão.
Conta a lenda que um pássaro maligno ameaçava a aldeia e Oxossi era caçador, como outros.
Ele só tinha uma flecha para matar o pássaro e não podia errar.
Todos os outros já haviam errado o alvo.
Ele não errou, e salvou a aldeia.
Daí o epíteto "o caçador de uma flecha só".
Come tudo quanto é caça e o dia a ele consagrado é quinta-feira.
No Brasil, Ibualama, Inlè ou Erinlè é uma qualidade de Oxóssi, marido de Oxum Ipondá e pai de Logunedé. Como os demais Oxóssis é caçador, rei de Ketu e usa ofá (arco e flecha), mas se veste de couro, com chapéu e chicote.
Um Oxóssi azul, Otin, usa capanga e lança. Vive no mato a caçar. Come toda espécie de caça, mas gosta muito de búfalo.
A curiosidade e a observação são características das pessoas consideradas filhas de Oxóssi, orixá também da alegria, da expansão, que gosta de agir à noite, como os caçadores. São faladores, ágeis e de raciocínio muito rápido.
Oxóssi é o arquétipo daquele que busca ultrapassar seus limites, expandir seu campo de ação, enquanto a caça é uma metáfora para o conhecimento, a expansão maior da vida.
Ao atingir o conhecimento, Oxóssi acerta o seu alvo.
Por este motivo, é um dos Orixás ligados ao campo do ensino, da cultura, da arte. Nas antigas tribos africanas, cabia ao caçador, que era quem penetrava o mundo "de fora", a mata, trazer tanto a caça quanto as folhas medicinais.
Além, eram os caçadores que localizavam os locais para onde a tribo poderia futuramente mudar-se, ou fazer uma roça. Assim, o orixá da caça extensivamente é responsável pela transmissão de conhecimento, pelas descobertas.
O caçador descobre o novo local, mas são os outros membros da tribo que instalam a tribo neste mesmo novo local.
Assim, Oxóssi representa a busca pelo conhecimento puro: a ciência, a filosofia. Enquanto cabe a Ogum a transformação deste conhecimento em técnica.
Apesar de ser possível fazer preces e oferendas a Oxóssi para os mais diversas facetas da vida, pelas características de expansão e fartura desse orixá, os fiéis costumam solicitar o seu auxílio para solucionar problemas no trabalho e desemprego.
Afinal, a busca pelo pão-de-cada dia, a alimentação da tribo costumeiramente cabe aos caçadores.
Por suas ligações com a floresta, pede-se a cura para determinadas doenças e, por seu perfil guerreiro, proteção espiritual e material.
Qualidade de Oxóssi
Òdé
Otin
Òdéarólé
Akeran
Ajayipapo
Danadana
Apáòka
Inlè
Irinlè
Ibualama
Isambu
Karele
Sete folhas mais usadas para Oxóssi:
Ewê odé
Akoko
Odé akoxu
Etítáré
Iteté
Igbá ajá
Bujê
Sincretismo
No Rio de Janeiro, é sincretizado com São Sebastião, patrono da capital carioca e, na Bahia, com São Jorge.
Em Salvador, no dia de Corpus Christi é realizada uma missa, chamada de Missa de Oxossi com a participação das Iyalorixás do Candomblé da Casa Branca do Engenho Velho.
Cuba
Ochosi (ou Oshosi) é um orisha da Santeria cubana. Rapresenta o caçador infalível.
Oshosi é uma das deidades da religião yorùbá. Na santería sincretizado com São Alberto Magno e São Norberto, particularmente, em Santiago de Cuba, é "Santiago Arcanjo".
Resumo
Oshosi é o Orisha caçador e protetor dos que têm problemas com a justiça.
O Orisha
É considerado mago ou bruxo. Faz parte dos Orishas guerreiros.
Suas cores são o azul e o coral.
Familia
Filho de Obbatala e Yembó. Irmão de Shango, Oggun, Eleggua.
Esposo de Oshun com quem teve o filho Logun Ede.
Oferendas e danças
Sacrificam-se pombas, cabritos, galos, codornas, frangos, veados, galinha de angola, cutias, etc.
lendas de Oxóssi
Olofin Odùdúwà, Rei da cidade de Ifé, em uma das festas para celebração da colheita dos inhames novos foi surpreendido por um enorme pássaro que pousou sobre o teto do palácio. Este pássaro malvado havia sido enviado por Ìyàmí Òsòròngá, as Senhoras dos Pássaros. Querendo que o animal fosse abatido, o Rei mandou chamar vários arqueiros.
Da cidade de Ido veio Òsótogun, o caçador de vinte flechas.
De More veio Òsótogí, o caçador de quarenta flechas.
De Ilare veio Òsótadota, o caçador de cinquenta flechas.
E finalmente de Iremàá veio Òsótokansòsò, o caçador de uma só flecha.
Temerosa pelo fracasso do filho, a mãe de Òsótokansòsò foi buscar auxílio de um Bàbàlawò para que seu filho não fracassasse na missão determinada pelo Rei. Foi-lhe recomendado que se fizesse um etùtù para aplacar a ira de Ìyàmí eléye ( Minha Mãe dos Pássaros ).
Os três primeiros caçadores fracassaram, mas no exato momento em que a mãe de Òsótokansòsò fazia sua oferenda, o pássaro relaxou sua guarda, e o caçador de uma só flecha consegue atingir o animal, matando-o . Todos festejaram alegres cantando e gritando: "Òsówusi!" ( Òsó é popular! ), que depois veio a transformar em Òsóòsi.
Outra Itòn conta que Òsóòsi um dia partiu para a caça no mato sem fazer as devidas oferendas indicadas por Ifá. Lá chegando deparou-se com uma cobra ( Òsùmàré ) que o advertiu que não a matasse. Porém o caçador não deu-lhe ouvidos e cortou-lhe a cabeça, levando-a para casa e ele mesmo cozinhando-a e comendo. Òsun, sua esposa, chega em casa e encontra o marido morto no chão, e no solo vê vários rastros de cobra que seguiam em direção à floresta. Òsun chorou tanto que foi ouvida por Ifá, que teria feito o caçador renascer sobre a forma divina de Òsóòsi.
Quando Oxum e Oxossi se conheceram, ele logo se apaixonou e quis casar com ela. Oxum concordou, mas impôs a condição de que ele fosse com ela para a mansão de seu pai disfarçado de mulher, para não ter a entrada impedida. Oxossi aceitou, sem perguntar se isso lhe traria problemas. Então Oxum o transformou em mulher e eles foram juntos para o palácio.
Lá, Oxossi foi muito bem recebido, pois foi apresentado como uma amiga de Oxum; e assim os dois puderam viver juntos por muito tempo. Meses depois, Oxum não pôde mais esconder a gravidez; Oxalá descobriu a verdade e expulsou Oxossi do palácio. Por ter se transformado em mulher, Oxossi se tornou bissexual; e seu filho, Logunedê, também.
Oxossi era ajudante do irmão Ogum e carregava suas flechas.
Certo dia, numa das caçadas, encontrou o irmão Ossain, que vivia na floresta e era um mago. Ossain enfeitiçou-o e Oxossi ficou servindo a ele por algum tempo.
Quando o efeito do feitiço passou, Oxossi quis voltar para casa, mas a mãe Iemanjá não o aceitou. Então, Oxossi voltou para a mata e foi morar com Ossain, que lhe ensinou todos os mistério da floresta e de seus habitantes.
Desde então, Oxossi se tornou um grande caçador, passando a garantir a alimentação da família e defendendo animais e plantas de pessoas que matam sem necessidade.
Odé era um grande caçador. Certo dia, ele saiu para caçar sem antes consultar o oráculo Ifá nem cumprir os ritos necessários. Depois de algum tempo andando na floresta, encontrou uma serpente: era Oxumaré em sua forma terrestre.
A cobra falou que Odé não devia matá-la; mas ele não se importou, matou-a, cortou-a em pedaços e levou para casa, onde a cozinhou e comeu; depois foi dormir. No outro dia, sua esposa Oxum encontrou-o morto, com um rastro de cobra saindo de seu corpo e indo para a mata.
Oxum tanto se lamentou e chorou, que Ifá o fez renascer como Orixá, com o nome de Oxossi.
Certa vez, no reino de Ifá, surgiu um pássaro enorme que, voando bem no meio da cidade, não deixava que o povo fizesse as festas do tempo da colheita.
O rei convocou todos os arqueiros do reino, que usaram todas as suas flechas sem conseguir espantar o animal; e por isso foram executados.
O último a comparecer tinha somente uma flecha mas sua mãe, com medo de que ele fosse condenado à morte, consultou Ifá e soube que o filho devia fazer uma oferenda aos deuses antes de tentar a sorte.
O rapaz obedeceu e, com sua única flecha, matou o monstro.
O rapaz foi muito aclamado pelo povo e passou a se chamar Oxossi, o grande caçador.
O antílope Agbãli, lançava seu brado em Ife e as pessoas morriam.
O mocho Agbigbi, lança seu brado nesta vida e as pessoas morrem.
Ifá foi consultado por Oshossi e recomendou-lhe que fizesse um sacrifício porque, mesmo fazendo o bem aos outros, nunca conseguia tirar disso o menor proveito, ficando sem ter sequer o que comer.
O sacrifício constava de vasos quebrados, flechas, duas galinhas e um cabrito, mais Oshosi, negou-se a oferecer o ebó.
Como a cada grito do antílope Agbãli as pessoas morressem, o rei Metolonfin, não sabia o que fazer para caçá-lo. Sabendo disto, Oshosi se apresentou ao rei, dizendo que, se lhe construíssem uma casa em forma de circulo e o colocassem dentro e lhe desse uma flecha e se todo o povo do pais se reunisse ao redor, lançaria a flecha que iria atingir a marca branca, existente no pelo do antílope e que ficava justamente na direção de seu coração.
Tudo foi feito de acordo com a orientação do caçador e no dia que o animal surgiu, uma flecha foi atirada, indo atingir a marca branca que ficava na altura de seu coração.
Oshosi gritava feliz: "Eu o matei!" - E o povo, olhando na direção Agbãli, via que era verdade.
Quando o mocho Agbigbi se aproximou, Oshosi disse: "É na garganta que devo atingi-lo" e lançando sua flecha, atravessou com ela o pescoço do animal.
Todos reunidos foram ver o que estava acontecendo e assustados comentaram: "Aquele que prendemos na choupana onde não existem partas nem janelas consegue abater qualquer tipo de caça! Quando não mais existirem animais para serem caçados no pais, sem dúvida caçará o próprio rei!".
Mas havia muita caça na região e Oshosi construiu sua casa no interior da floresta, reforçando as paredes com os cacos de muitos vasos quebrados.
O caçador recusara-se a oferecer o sacrifício determinado pelo Odu e por isto, todo o bem que fizesse aos homens não lhe resultaria em nenhum proveito. Mesmo assim, Elegbara fez dele o caçador do pais. Depois disto, os muros de seu templo devem ser incrustados de cacos de vaso de barro.
Oxóssi, o caçador invencível, com sua flecha conseguiu vencer Adja Odún Aini, trazendo a prosperidade, tornando-se assim o rei de Ketu.
Ele é filho de Iroco com Odudua, teve como grande amor Oxum, que o ajudou a criar seu filho adoptivo, Logum Edé. É o senhor da caça, da fartura e da prosperidade.
Oxóssi era o músico dos orixás, tendo o poder de encantar a qualquer ser vivo com o som dos atabaques que cediam aos seus toques mágicos. Alguns diziam que isto vinha a compensar seu comportamento introvertido, já que dificilmente ele dizia ou deixava demonstrar o que estava sentindo.
Tudo que vem a nossa mesa é abençoado por Oxóssi.
Protector dos agricultores, pecuaristas, órfãos e caçadores (desde que respeitem a mãe natureza).
Em tempos distantes, Odùdùwa, Oba de Ifé, diante do seu Palácio Real, chefiava o seu povo na festa da colheita dos inhames. Naquele ano a colheita havia sido farta, e todos em homenagem, deram uma grande festa comemorando o acontecido, comendo inhame e bebendo vinho de palma em grande fartura.
De repente, um grande pássaro, (èlèye), pousou sobre o Palácio, lançando os seus gritos malignos, e lançando fardas de fogo, com intenção de destruir tudo que por ali existia, pelo fato de não terem oferecido uma parte da colheita as Àjès (feiticeira, portadoras do pássaro), personificando seus poderes atravez de Ìyamì Òsóróngà. Todos se encheram de pavor, prevendo desgraças e catástrofes.
O Oba então mandou buscar Osotadotá, o caçador das 50 flechas, em Ilarê, que, arrogante e cheio de si, errou todas as suas investidas, desperdiçando suas 50 flechas.
Chamou desta vez, das terras de Moré, Osotogi, com suas 40 flechas. Embriagado, o guerreiro também desperdiçou todas suas investidas contra o grande pássaro.
Ainda foi, convidado para grande façanha de matar o pássaro, das distantes terras de Idô, Osotogum, o guardião das 20 flechas. Fanfarão, apesar da sua grande fama e destreza, atirou em vão 20 flechas, contra o pássaro encantado e nada aconteceu.
Por fim, já com todos sem esperança, resolveram convocar da cidade de Ireman, Òsotokànsosó, caçador de apenas uma flecha.
Sua mãe Yemonjá, sabia que as èlèye viviam em cólera, e nada poderia ser feito para apaziguar sua fúria a não ser uma oferenda, vez que três dos melhores caçadores falharam em suas tentativas. Yemonjá foi consultar Ifá para Òsotokànsosó.
Foi consultar os Bàbálàwo. Eles diseram que faça oferendas. Eles dizem que Yemonjá prepare ekùjébú (grão muito duro) naquele dia. Eles dizem que tenha também um frango òpìpì (frango com as plumas crespas).
Eles dizem que tenha èkó (massa de milho envolta em folhas de bananeira).
Eles dizem que Yemonjá tenha seis kauris. Yemonjá faz então assim, pediram ainda que, oferecesse colocando sobre o peito de um pássaro sacrificado em intenção.
Eles dizem que ofereça em uma estrada, dizem que recite o seguinte: "Que o peito da ave receba esta oferenda".
Neste exato momento, o seu filho disparava sua única flecha em direção ao pássaro, esse abria sua guarda recebendo a oferenda ofertada por Yemonjá, recebendo também a flecha serteira e mortal de Òsotokànsosó.
Todos após tal ato, começaram a dançar e gritar de alegria: "òsóòsì! òsóòsì!" (caçador do povo).
A partir desse dia todos conheceram o maior guerreiro de todas as terras, foi referenciado com honras e carrega seu título até hoje. òsóòsì.
Conta-se que Oxossi era o irmão mais jovem de Ogun e Exu, todos três filhos de Yemanjá.
Exu, por ser indisciplinado, foi por ela mandado embora. Ogun trabalhava no campo e Oxossi caçava nas florestas vizinhas.
A casa encontrava-se, assim, abastecida de produtos agrícolas e caça.
No entanto, um Babalaô alertou Yemanjá para o risco de Ossanyin, aquele que possuía o conhecimento das virtudes das plantas e vivia nas profundezas da floresta, enfeitiçar Oxossi e obrigá-lo a ficar em sua companhia.
Yemanjá ordenou então ao filho que renunciasse às atividades de caçador.
Ele, porém, de personalidade independente, continuou suas incursões pela floresta.
Tendo encontrado Ossanyin, que o convidou a beber uma poção de folhas maceradas, caiu em estado de amnésia. Ficou, pois, vivendo em companhia de Ossanyin, como previra o Babalaô.
Ogun, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas profundezas da floresta.
Ele o trouxe de volta, mas Yemanjá irritada, não quis receber o filho desobediente. Revoltado com a intransigência materna, Ogun recusou-se a continuar em casa.
Quanto a Oxossi, este preferiu voltar para a floresta, para perto de Ossanyin.
Yemanjá desesperada por ter perdido os três filhos, transformou-se em um rio.
Oxóssi aprende com Ogun a arte da caça Oxóssi é irmão de Ogun.
Ogun tem pelo irmão um afeto especial.
Num dia em que voltava da batalha, Ogun encontrou o irmão temeroso e sem reação, cercado de inimigos que já tinham destruído quase toda a aldeia e que estavam prestes a atingir sua família e tomar suas terras.
Ogun vinha cansado de outra guerra, mas ficou irado e sedento de vingança. Procurou dentro de si mais forças para continuar lutando e partiu na direção dos inimigos. Com sua espada de ferro pelejou até o amanhecer.
Quando por fim venceu os invasores, sentou-se com o irmão e o tranqüilizou com sua proteção. Sempre que houvesse necessidade ele iria até seu encontro para auxiliá-lo. Ogun então ensinou Oxóssi a caçar, a abrir caminhos pela floresta e matas cerradas. Oxóssi aprendeu com o irmão a nobre arte da caça, sem a qual a vida é muito mais difícil.
Igun ensinou Oxóssi a defender-se por si próprio e ensinou Oxóssi a cuidar da sua gente.
Agora Ogun podia voltar tranquilo para a guerra. Ogun fez de Oxóssi o provedor.
Oxóssi é o irmão de Ogun.
Ogun é o grande guerreiro.
Oxóssi é o grande caçador.
[Lenda 50 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi
Oxóssi mata a mãe com uma flechada
Olodumare chamou Orunmilá e o incumbiu de trazer-lhe uma codorna. Orunmilá explicou-lhe as dificuldades de se caçar codorna e rogou-lhe que lhe desse outra missão. Contrariado, Olodumare foi reticente na resposta e Orunmilá partiu mundo afora a fim de saciar a vontade do seu Senhor.
Orunmilá embrenhou-se em todos os cantos da Terra.
Passou por muitas dificuldades, andou por povos distantes. Muitas vezes foi motivo de deboche e negativas acerca do que pretendia conseguir.
Já desistindo do intento e resignado a receber de Olodumare o castigo que por certo merecia, Orunmilá se pôs no caminho de volta.
Estava ansado e decepcionado consigo mesmo.
Entrou por um atalho e ouviu o som de cânticos.
A cada passo, Orunmilá sentia suas forças se renovando. Sentia que algo de novo ocorreria. Chegou a um povoado onde os tambores tocavam louvores a Xangô, Iemanjá, Oxum e Obatalá.
No meio da roda, bailava uma linda rainha. Era Oxum, que acompanhava com sua dança toda aquela celebração. Bailando a seu lado estava um jovem corpulento e viril.
Era Oxóssi, o grande caçador.
Orunmilá apresentou-se e disse da sua vontade de falar com aquele caçador. Todos se curvaram perante sua autoridade e trataram de trazer Oxóssi à sua presença. O velho adivinho dirigiu-se a Oxóssi e disse que Olodumare o havia encarregado de conseguir uma codorna. Seria esta, agora, a missão de Oxóssi. Oxóssi ficou lisonjeado com a honrosa tarefa e prometeu trazer a caça na manhã seguinte. Assim ficou combinado.
Na manhã seguinte, Orunmilá se dirigiu à casa de Oxóssi. Para sua surpresa, o caçador apareceu na porta irado e assustado, dizendo que lhe haviam roubado a caça. Oxóssi, desorientado, perguntou à sua mãe sobre a codorna, e ela respondeu com ares de desprezo, dizendo que não estava interessada naquilo. Orunmilá exigiu que Oxóssi lhe trouxesse outra codorna, senão não receberia o Axé de Olodumare. Oxóssi caçou outra codorna, guardando-a no embornal. Procurou Orunmilá e ambos dirigiram-se ao palácio de Olodumare no Orum. Entregaram a codorna ao Senhor do Mundo. De soslaio Olodumare olhou para Oxóssi e, estendendo seu braço direito, fez dele o rei dos caçadores. Agradecido a Olodumare a agarrado a seu arco, Oxóssi disparou uma flecha ao azar e disse que aquela deveria ser cravada no oração de quem havia roubado a primeira codorna. Oxóssi desceu à Terra. Ao chegar em casa encontrou a mãe morta com uma flecha cravada no peito. Desesperado, pôs-se a gritar e por um bom tempo ficou de joelhos inconformado com seu ato. Negou, dali em diante, o título que recebera de Olodumare.
[ Lenda 54 do Livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
Oxóssi desobedece a Obatalá e não consegue mais caçar
Havia uma grande fome e faltava comida na Terra. Então Obatalá enviou Oxóssi para que ele aí caçasse e provesse o sustento de todos os que estavam sem comida. Oxóssi caçou tanto, mas tanto, que ficou obsessivo: ele queria matar e destruir tudo o que encontrasse. Obatalá pediu-lhe que parasse de caçar, mas Oxóssi desobedeceu. Oxóssi continuou caçando. Um dia encontrou uma ave branca, um pombo. Sem se importar que os animais brancos são de Obatalá, Oxóssi matou o pombo. Obatalá voltou a pedir que ele não caçasse mais, porém Oxóssi continuou caçando. Uma noite Oxóssi encontrou um veado e atirou nele muitas flechas. Mas as flechas não lhe causavam nenhum dano. Oxóssi aproximou-se mais e flechou a cabeça do animal. Nesse momento, o veado se iluminou. Era Obatalá disfarçado, ali, todo flechado por Oxóssi. Oxóssi não conseguiu caçar nunca mais. Profundo foi seu desgosto.
[ Lenda 55 do LIvro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Prandi ]
ITAN TI ÒSÓÒSÌ
Há muitos anos, uma preta, sentada num toco de árvore, contava que todos os dias, pela manhã, Oxossi conduzia o gado para o pasto. A caminho do pasto, deslocando-se por uma estrada poeirenta, passavam obrigatoriamente, pela porta do cemitério. Ao chegarem ao pasto, Oxossi contava o gado, e por duas vezes deu falta de uma cabeça. Oxossi procurou saber o que havia acontecido, sem, no entanto, descobrir como se dera o desaparecimento dos dois animais.
Naquele dia, ele vinha cansado, e o gado também, e, por isso, resolveu parar no cemitério. Meteu a mão numa tina, encheu de água e, defronta à porta, viu uns Babá Egungun, todos em cima do muro, tentando atacar o gado. Só aí é que percebeu a causa da falta dos animais. Ao mesmo tempo, também, verificou que à medida que o gado acabava de beber a água, punha a língua para fora, mugia e balançava o rabo, e que, com isso, os animais faziam medo aos Bàbá Egungun, pois eles corriam todas as vezes que os rabos balançavam e a língua era posta para fora.
Oxossi passou, daí em diante, a trazer sempre na mão um eroxim, que é, nada mais, nada menos, que um rabo de boi, para espantar Egungun. Logo em seguida, houve uma festa, na qual os orixás trocaram prendas e oferendas, quando Oxossi deu o eroxim a Oyá, porque ela era uma das pessoas que cuidavam dos Bàbá Egungun. E até hoje, nos terreiros, o eroxim é considerado um espanta Egungun, e como tal faz parte das ferramentas de Oyá, e é ferramenta de Oxossi, que foi que descobriu.
Vejam, uma pequena lenda, contada pelos antigos, que aclara maravilhosamente a finalidade de uma coisa que tem tanto fundamento numa casa de santo.
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