CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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segunda-feira, 31 de maio de 2010

Orixá: Oxalufan



Oxalufan - escultura de Carybé em madeira, em exposição no Museu Afro-Brasileiro, Salvador, Bahia, Brasil


Igbin - Helix pomatia.Oxalufan, Oxalufã ou Oxalufon,


 Orixá africano cultuado em todo o Brasil por todas as religiões afro-brasileiras, identificado no jogo do merindilogun pelo odu ofun ou êjiokô e representado materialmente e imaterial pelo candomblé, através do assentamento sagrado denominado igba oxalufan.


Considerado um Oxalá muito velho, curvado pelos anos, que anda com dificuldade e hesitação, como se estivesse atacado pelo reumatismo.




 Ele apoia seus passos cambaleantes sobre um paxorô (ou opaxorô), grande bastão de metal branco, encimado pela imagem de um pássaro e ornado por discos de metal e pequenos sinos.

Considerado como o Orixá da Paz, da paciência, tudo que se refere à Oxalá é ligado a calma e a tranquilidade.

Sua cor é o branco e seus filhos não podem usar roupa preta, vermelha e tons escuros.

Seu dia da semana é a sexta-feira, e por respeito ao pai mais velho, todo povo-de-santo usa branco nesse dia. Sua dança é lenta como o passo do Igbin.

O Igbin, que é chamado o boi de Oxalá, é sua oferenda favorita juntamente com o Ebô.

E Igbin também é o nome do toque dedicado à Oxalá. E As Águas de Oxalá é a sua principal festa realizada sempre no mês de janeiro nas principais casas tradicionais da Bahia.


 África


Oxalufon, ou Orìsà Olúfón, segundo relato de Pierre Verger, na África é velho e sábio, cujo templo é em Ifon, pouco distante de Oxogbô.


Seu culto permanece ainda relativamente bem preservado nessa cidade tranquila, que se caracteriza pela presença de numerosos templos, igrejas católicas e protestantes e mesquitas que atraem, todas elas, aos domingos e sextas-feiras, grande número de fiéis de múltiplas formas de monoteísmos importados de outros países.


Em contraste com essa afluência, o dia da semana iorubá consagrado a Orìsànlá só interessa atualmente a pouca gente.

Exatamente um pequeno núcleo de seis sacerdotes, os Ìwèfà méfà (Aájè, Aáwa, Olpuwin, Gbògbò, Aláta e Ajíbódù) ligados ao culto de Orìsà Olúfón.


A cerimônia de saudações ao rei de dezesseis em dezesseis dias pelos Ìwèfà e pelos Olóyè chama a atenção pela calma, simplicidade e dignidade.


O rei Olúfón espera sentado à porta do palácio reservada só para ele e que dá para o pátio.

Ele está vestido com um pano e gorro brancos.


Os Olóyè avançam, vestidos de tecido branco amarrado no ombro esquerdo, e seguram um grande cajado. Aproximam-se do rei, param diante dele, colocam o cajado no chão, tiram o gorro, ficam descalços, desatam o tecido amarram-no à cintura.


Com o torso nu em sinal de respeito, ajoelham-se e prostram-se várias vezes, ritmando, com uma voz respeitosa, um pouco grave e abafada, uma série de votos de longa vida, de calma, felicidade, fecundidade para suas mulheres, de prosperidade e proteção contra os elementos adversos e contra as pessoas ruins.

Tudo isso é expresso em uma linguagem enfeitada de provérbios e de fórmulas tradicionais.


Em seguida os Olóyè e os Ìwèfà vão sentar-se de cada lado do rei, trocando saudações, cumprimentos e comentários sobre acontecimentos recentes que interessam à comunidade.


A seguir, o rei manda servir-lhes alimentos, dos quais uma parte foi colocada diante do altar de Òsàlúfón, para uma refeição comunitária com o deus.


LENDA DE OXALUFÃ
Oxalá cria a galinha d'angola e espanta a Morte


Há muito tempo, a Morte instalou-se numa cidade e dali não quis mais ir embora. A mortandade que ela provocava era sem tamanho e todas as pessoas do lugar estavam apavoradas, a cada instante tombava mais um morto.

Para a Morte não fazia diferença alguma se o defunto fosse homem ou mulher, se o falecido fosse velho, adulto ou criança.
A população, desesperada e impotente, recorreu a Oxalá, rogando-lhe que ajudasse o povo daquela infeliz cidade.


Oxalá, então, mandou que fizessem oferendas, que ofertassem uma galinha preta e o pó de giz efum, fizeram tudo como ordenava Oxalá. Com o efum pintaram as pontas das penas da galinha preta e em seguida a soltaram no mercado.


Quando a Morte viu aquele estranho bicho, assustou-se e imediatamente foi-se embora, deixando em paz o povo daquela cidade. Foi assim que Oxalá fez surgir a galinha d'angola. Desde então, as iaôs, sacerdotisas dos orixás, são pintadas como ela para que todos se lembrem da sabedoria de Oxalá e da sua compaixão


Lenda tirada do livro


Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - 2001

Orixalá ganha o mel de Odé

Orixalá vivia com Odé debaixo do pé de algodão, Odé ia para a caça e levava sempre Oxalá, eles eram grandes companheiros, mas Odé reclamava sempre de Orixalá, que era muito lento e andava devagar, estava muito velho o orixá do pano branco, e Orixalá reclamava de Odé Oxossi, que era muito rápido e sempre andava bem depressa, era muito jovem o caçador, então os dois resolveram se separar, mas Odé estava muito triste, porque fora criado por Orixalá, e Orixalá estava muito triste, porque fora ele quem criara Odé.


Odé disse então a Orixalá que todo o mel que ele colhesse seria sempre dado a Orixalá e que ele mesmo nunca mais provaria uma gota, reservando tudo o que coletasse ao velho orixá, e que Orixalá sempre dele se lembrasse, quando comesse seu arroz com mel do caçador.


Nunca mais Odé comeu do mel, nunca mais Orixalá de Odé se esqueceu.


Lenda tirada do livro

Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - 2001


Oxalufã Êpa Baba!

Oxalufã era o rei de Ilu-ayê, a terra dos ancestrais, na longínqüa África.


Ele estava muito velho, curvado pela idade e andava com dificuldade,


apoiado num grande cajado, chamado opaxorô.


Um dia, Oxalufã decidiu viajar em visita a seu velho amigo Xangô, rei de Oyó.


Antes de partir, Oxalufã consultou um babalaô, o adivinho,


perguntando-lhe se tudo ia correr bem e se a viagem seria feliz.


O babalaô respondeu-lhe:


"Não faça esta viagem!


Ela será cheia de incidentes desagradáveis e acabará mal."


Mas, Oxalufã tinha um temperamento obstinado,


quando fazia um projeto, nunca renunciava.


Disse, então, ao babalaô:


"Decidi fazer esta viagem e eu a farei, aconteça o que acontecer!"


Oxalufã perguntou ainda ao babalaô,


se oferendas e sacrifícios melhorariam as coisas.


Este respondeu-lhe:


"Qualquer que sejam suas oferendas, a viagem será desastrosa."


E fez ainda algumas recomendações:


"Se você não quiser perder a vida durante a viagem,


deverá aceitar fazer tudo que lhe pedirem.


Você não deverá queixar-se das tristes consequências que advirão.


Será necessário que você leve três panos brancos.


Será necessário que você leve, também, sabão e limo da costa."


Oxalufã partiu, então, lentamente, apoiado no seu opaxorô.


Ao cabo de algum tempo, ele encontra Exu Elepô, Exu "dono do azeite de dendê."


Exu estava sentado à beira da estrada, com um grande pote cheio de dendê.


"Ah! Bom dia Oxalufã, como vai a família?"


"Oh! Bom dia Exu Elepô, como vai também a sua?"


"Ah! Oxalufã, ajude-me a colocar este pote no ombro."


"Sim, Exu, sim, sim, com prazer e logo."


Mas de repente, Exu Elepô virou o pote sobre Oxalufã.


Oxalufã, seguindo os conselhos do babalaô, ficou calmo e nada reclamou.


foi limpar-se no rio mais próximo.


Passou o limo da costa sobre o corpo e vestiu-se com um novo pano;


àquele que usava ficou perto do rio, como oferenda.


Oxalufã retomou a estrada, andando com lentidão, apoiado no seu opaxorô.


Duas vezes mais ele encontrou-se com Exu.


Uma vez, com Exu Onidu, Exu "dono do carvão";


Outra vez, com Exu Aladi, Exu "dono do óleo do caroço de dendê."


Duas vezes mais, Oxalufã foi vítima das armadilhas de Exu,


ambas semelhantes à primeira.


Duas vezes mais, Oxalufã sujeitou-se às conseqüências.


Exu divertiu-se às custas dele,


sem que, contudo, conseguisse tirar-lhe a calma.


Oxalufã trocou, assim, seus últimos panos,


deixando na margem do rio os que usava, como oferendas.


E continuou corajosamente seu caminho, apoiado em seu opaxorô,


até que passou a fronteira do reino de seu amigo Xangô.


Kawo Kabiyesi, Sango, Alafin Oyó, Alayeluwa!


"Saudemos Xangô, Senhor do Palácio de Oyó, Senhor do Mundo!"


Logo, Oxalufã avistou um cavalo perdido que pertencia a Xangô.


Ele conhecia o animal, pois havia sido ele que, há tempo, lhe oferecera.


Oxalufã tentou amansar o cavalo, mostrando-lhe uma espiga de milho,


para amarrá-lo e devolvê-lo a Xangô.


Neste instante, chegaram correndo os empregados do palácio.


Eles estavam perseguindo o animal e gritaram:


"Olhem o ladrão de cavalo!


Miserável, imprestável, amigo do bem alheio!


Como os tempos mudaram; roubar com esta idade!!


Não há mais anciãos respeitáveis! Quem diria? Quem acreditaria?"


Caíram todos sobre Oxalufã, cobrindo-o de pancadas.


Eles o agarraram e arrastaram até a prisão.


Oxalufã, lembrando-se das recomendações do babalaô,


permaneceu quieto e nada disse.


Ele não podia vingar-se.


Usou então dos seus poderes, do fundo da prisão.


Não choveu mais, a colheita estava comprometida, o gado dizimado;


as mulheres estéreis, as pessoas eram vitimadas por doenças terríveis.


Durante sete anos o reino de Xangô foi devastado.


Xangô, por sua vez, consultou um babalaô,


para saber a razão de toda aquela desgraça.


"Kabiyesi Xangô, respondeu-lhe o babalaô,


tudo isto é conseqüência de um ato lastimável.


Um velho sofre injustamente, preso há sete anos.


Ele nunca se queixou, mas não pense no entanto...


Eis a fonte de todas as desgraças!"


Xangô fez vir diante dele o tal ancião.


"Ah! Mas vejam só!" - gritou Xangô.


"É você, Oxalufã! Êpa Baba! Exê ê!


Absurdo! É inacreditável, vergonhoso, imperdoável!!!


Ah! você Oxalufã, na prisão! Êpa Baba!!


Não posso acreditar e, ainda por cima,


preso por meus próprios empregados!


Hei! Todos vocês!


Meus generais!


Meus cavaleiros, meus eunucos, meus músicos!


Meus mensageiros e chefes de cavalaria!


Meus caçadores!


Minhas mulheres, as ayabás!


Hei! Povo de Oyó!


Todos e todas, vesti-vos de branco em respeito ao rei que veste branco!


Todos e todas, guardai o silêncio em sinal de arrependimento!


Todos e todas, vão buscar água no rio!


É preciso lavar Oxalufã!


Êpa Baba! Êpa, Êpa!


É preciso que ele nos perdoe a ofensa que lhe foi feita!!"


Este episódio da vida de Oxalufã é comemorado, a cada ano,


em todos os terreiros de candomblé da Bahia, no dia das "Águas de Oxalá" -


quando todo mundo veste-se de branco e vai buscar água em silêncio,


para lavar os axés, objetos sagrados de Oxalá.


Também, com a mesma intenção, todos os anos, numa quinta-feira,


uma multidão lava o chão da basílica dedicada ao Senhor do Bonfim que,


para os descendentes de africanos dos outros tempos


e seus descendentes de hoje, é Oxalufã.


Êpa, Êpa Baba!!!


(Do livro Lendas Africanas dos Orixás)


Pierre Fatumbi Verger/Caribé - Editora Corrupio

 

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