bosque sagrado de Otin
“Obanla o rin n’eru ojikutu s’eru. Obà n’ille Ifon alabalase oba patapata n’ille iranje. O yo kelekele o ta mi l’ore. O gba a giri l’owo osika. O fi l’emi asoto l’owo. Oba igbo oluwaiye re e o ke bi owu la. O yi ala. Osun l’ala o fi koko ala rumo. Obà igbo.
Rei das roupas brancas que nunca teme a aproximação da morte.
Pai do Paraíso eterno dirigente das gerações. Gentilmente alivia o fardo de meus amigos.
Dê-me o poder de manifestar a abundância. Revela o mistério da abundância.
Pai do bosque sagrado, dono de todas as benções que aumentam minha sabedoria. Eu me faço como as Roupas Brancas. Protetor das roupas brancas eu o saúdo. Pai do Bosque Sagrado “
Oriki de Oxalá
Igbo em iorubá quer dizer Floresta/bosque.
Para os iorubás, árvores, plantas, animais, rios, e montanhas representam forças sagradas.
Paisagens contendo bosques, rios são consideradas manifestações dos deuses e consagradas para sua adoração. Ilê, casa religiosa, é a denominação do espaço religioso no Brasil.
Fatores históricos como o sistema escravista e a repressão policial aos cultos afro-brasileiros, fizeram que muitos ilês fossem construídos em lugares afastados dos centros urbanos.
Porém a geografia do ilê teve que se adaptar a uma lógica transatlântica: a lógica dos bosques sagrados.
As referências aos Bosques Sagrados são antigas. “Santuários ao ar livre foram os primeiros templos dos deuses. Um lugar sagrado demarcado para uma deidade era chamado de temenos em grego e templum em latim” (Chandran, Gadgil, 2005). A palavra que os celtas usavam para designar santuário possui raízes próximas com a palavra nemus que em latim significa ‘bosque’; existe uma floresta sagrada dedicada à deusa da caça Diana que se chama Nemi (nome que se refere à nemus), este bosque fica pouco distante de Roma (Frazer, 1982).
Na antiga língua germânica (teutônico) a palavra templo também era estreitamente ligada à semântica de floresta. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconhece a existência de florestas sagradas em regiões mundiais como: Índia, Quênia, Australia. Um dos mais conhecidos Bosques Sagrados(sacred grove) é o de Oshogbo(Nigéria); neles encontra-se o magnífico Santuário da divindade do panteão iorubá Oxum.
O bosque sagrado de Oxum- Oshogbo foi reconhecido como sacred grove pela Unesco em 2005.
A palavra ilê como sinônimo de terreiro é uma prática brasileira. O ilê é um espaço estruturado conforme os desígnios dos Orixás, que objetiva estreitar os laços de parentesco de santo através de rotinas regulares de preceitos litúrgicos. No ilê , comumente, encontra-se uma salão principal, quartos sagrados dos orixás, árvores sagradas, peji (altar sagrado),cozinha de santo, quarto de jogo e um quarto especial denominado roncó, onde acontece o processo iniciático de “feitura de santo”. Os orixás têm sua preferências e seus interditos. O orixá Oxalá não gosta de barulho e de dendê. Esse orixá normalmente possui uma quarto e uma cozinha especial para seus rituais. Os orixás caçadores (odes) que na África possuíam moradas nos bosques também têm seus correspondentes locais nos ilês. Moram no lado de fora da casa principal, assentados em pés de árvores.
Essa característica se remete à atividade de caça, primordial para o povo iorubá. Assim Oxossi, Ogum. Obaluaiye terão suas moradas no bosque sagrado dos terreiros. Oxóssi é o Orixá caçador, rei da nação Ketu e patrono de todas as casas de Ketu. A morada de Oxossi é nas matas, tem domínio sobre os animais de grande porte assim como os pássaros noturnos. Oxóssi é um orixá ode, caçador, não suporta ficar preso. Assim como seus filhos é arredio, independente e amante da liberdade. Diz um trecho de um dos seus orikis (rezas):
“Oxossi, Òrìsà que vive tanto em casa de barro, como em casa de folhas.
É essa imagem arquetipica de Oxóssi e isso reflete na escolha de seus assentamentos nos bosques sagrados. Ogum, irmão mais velho de Oxossi, é o guerreiro, o desbravador de estradas, o que abre caminhos. Ogum não gosta de nada que incomode a sua caminhada. Ogum também é caçador e sentinela por isso está sempre assentado no lado de fora da casa principal.
Ainda, segundo os iorubás, Ogum é irmão de Exu e com este ronda, vigia e pune os malfeitores. Ressalta-se também o orixá Obaluaye, orixá cujo culto é oriundo do Antigo Daomé, dos denominados povo jeje. Obaluaye tem função de caçador na África.
No Brasil, caracterizou-se como orixá das moléstias e por esta razão, muitas vezes, é explicado a razão de seu assentamento ser fora das casa principal. Há uma conhecida lenda que conta e explica a ausência dos objetos sagrados de Obaluaye da casa principal:
Um dia, Nanã foi conquistar o reino de oxalá e se apaixonou por ele. Mas este não queria se envolver com outra orixá que não fosse sua amada esposa yemanjá.
Por isso, explicou tudo a nanã, mas ela não se fez de rogada. Sabendo que oxalá adorava vinho de palma, embriagou-o.
Ele ficou tão bêbado que se deixou seduzir por nanã, que acabou ficando grávida. Mas por ter transgredido
uma lei da natureza, deu a luz a um menino horrível, não suportando vê-lo, lanço-o no rio.
A criatura foi mordida por caranguejos, ficando toda deformada.
Por sua terrível aparência, passou a viver longe dos outros orixás.
De tempos em tempos os orixás se reuniam para uma festa.
Todos dançavam, menos obaluaiyê, que ficava espreitando da porta, com vergonha de sua feiura. Ogum percebeu o que acontecia e, com pena, resolveu ajudá-lo, trançando uma roupa de mariwo – uma espécie de fibra de palmeira que lhe cobriu todo o corpo.
Com este traje ele voltou a festa e despertou a curiosidade de todos, que queriam saber quem era o orixá misterioso. Yansã, a mais curiosa de todas, aproximou-se, e neste momento, formou-se um turbilhão e o vento levantou a palha, revelando um rapaz muito bonito.
Desde então os dois orixás vivem juntos,
e os dois passaram a reinar sobre os mortosA floresta tem papel central nos cultos iorubás tanto na África, quanto no Brasil.
Na África os santuários, os templos, a morada dos deuses é dentro das matas, aos pés de árvores sagradas. Na África, os ritos iniciáticos são realizados na floresta. Roger Bastide e Pierre Verger, ao pesquisarem o rito de Xangô na África e no Brasil constataram que as yaôs ficavam encerradas na floresta para rituais de iniciação.
No Brasil, os roncós são cobertos de folhagens e muitos ainda utilizam chão batidos de terra para resgatar uma equivalência simbólica das florestas/santuários africanos.
A floresta além de servir de morada para os Orixás, também é o local do sombrio, das forças que precisam ser controladas. É na Floresta que moram os mortos.
Os mortos são denominados Eguns (espíritos de mortos) ou Egungum (espíritos de mortos que foram sacerdotes do culto aos Orixás).
O culto é de exclusividade masculina.
Para que a morte volte à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos é preciso de ritos específicos executados pelas mãos dos Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ìsan, que quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a “morte se torne vida”. No Brasil a casas mais antigas de culto a Egungun é Ilê Agboulá, em Itaparica, Bahia.
A ancestralidade feminina recebe o nome de Yá mi Agbá (minha mãe anciã). Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Yá mi Oxorongá (minha mãe feiticeira), chamada também de Yá Nlá, a grande mãe. As sociedades (egbés) que representa este poder de ancestralidade coletiva feminina são denominadas “Sociedades Geledê”, compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este temível poder. O medo da ira de Yá mi nas comunidades africanas é tamanha que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino. A morada das Ya mi Oxorongá são as grandes árvores dos bosques sagrados. Também conhecida como eleiye (a proprietária do pássaro), Yá mi Oxorongá assume a forma de um grande pássaro que habita as noites das florestas. As aves de hábito noturno, como a coruja, pertencem a Yá mi Oxorongá. Pierre Verger ao estudar o culto ancestral feminino na África encontrou a seguinte lenda:
O poder de íyàmi serve para o bem e para o mal
Ogbè Sá sobe na árvore
Ogbè Sá sobe no teto Ifá é consultado para todas as eleye, quando elas vieram do além para a Terra., quando elas chegaram sobre na Terra,
Elas dizem que elas queriam ter uma residência.
Elas dizem, sete residências são os sete pilares da Terra.
Elas dizem, estes sete são os lugares onde farão suas residências.
Elas dizem que elas terão uma primeira residência.
Elas dizem, elas ficarão sobre a árvore iwó que nós chamamos orógbó.
Elas dizem, quando elas partirem de cima do orógbo
Elas dizem, elas ficarão sobre a árvore arère.
Elas dizem, quando elas tiverem tido uma reunião sobre a arère,
Elas dizem, elas ficarão sobre a árvore de osè .
Elas dizem, quando elas deixarem osè,
Elas dizem,elas ficarão sobre a árvore ìròkó.
Elas dizem, quando elas elas deixarem ìròkó
Elas dizem, elas irão sobre a árvore iyá
Elas dizem, quando elas deixarem a iyá, Elas dizem, elas ficarão sobre a árvore àsùrìn,Elas dizem, uando elas
deixarem a àsùrìn, Elas dizem, elas ficarão sobre a árvore òbòbò,
que é o chefe das árvores dos campos, Verger identifica seis dessas árvores.
O orógbó é árvore de orobô (Garcinia livingstoni T. Anders.), semente sagrada do Orixá Xangô.
O arerê é identificada como Triplochiton nigericum. Osé(Adonsonia digitata L.,Bombacaceae) é conhecida no Brasil como baobá e árvore dos mil anos.
A árvore de ìròkó (Fícus doliaria M.) é a mais sagrada árvore dos cultos afros.
A árvore iyá é identificada como Daniellia oliveri. Àsùrìn é classificada como Erythrophelum guineense.
A sétima árvore, òbòbò, não é identificada pelo autor.
Na África, o culto ao poder ancestral feminino está relacionado a essas sete árvores.
No Brasil, o culto a Ya mi Oxorongá é muito restrito e as sociedades geledes são praticamente inexistente. Isso, possivelmente, é resultante do temor e da restrição que sacerdotisas antigas tinham em passar certos conhecimento rituais.
No candomblé, o culto a Ya mi Oxorongá é reservado a assentamento em árvores específicas como cajazeira (Spondias lútea L.)ou jaqueira(Artocarpus integrifolia L.f.).
A Jaqueira conhecida entre o povo iorubá como Apáòká ( opa = cajado + Oka= serpente africana) é uma árvore de origem indiana, disseminada por diversas áreas tropicais e subtropicais, inclusive África e Brasil. Apáòká é uma divindade fitomórfica, considerada mãe do orixá caçador Oxossi. Embora a dendrolatria da jaqueira ainda seja forte no Brasil, o culto do Orixá Apáòká é praticamente esquecido. Grande parte dos mitos já desconsideram a maternidade de Apáòká, concebendo como mãe de Oxossi a divindade Yemonjá.
Entre as árvores de origem africanas relacionadas ao culto de Ya mi Oxorongá estão a cajazeira conhecida em ioruba pelos nomes de igí íyeyé e okinkán, também é denominada no Brasil como taperebá. Esta planta está disseminada por várias regiões do Brasil. À esta árvore é atribuída fortes valores místicos, sendo uma planta de muito fundamento nos cultos afro-brasileiros. Por ser um relacionada ao poder ancestral feminino, muitas casas religiosas proíbem o consumo dos seus frutos pelos candomblecistas.
Outra forma de dendrolatria é o culto a Iroko, o orixá que habita a gamaleira branca (Fícus doliaria M.).
A Gameleira é uma árvore de grande porte.
Suas raízes se espalham, formando uma base característica da espécie. É também conhecida como figueira ou “mata pau”, pois se origina como uma parasita, sufocando o hospedeiro com o tempo para se tornar uma árvore autônoma. Também é conhecida como Figueira-grande, figueira-branca, guapoí, figueira brava, guaporé.
O leite do seu tronco é usado na medicina caseira para para expulsar vermes e combater a hidropsia. No Brasil, a gameleira substitui o verdadeiro Iroko Africano (Chlorophora excelsa), uma morácea conhecida na África como ero iroko.Tem conotação sagrada na Africa e é muito cultuada no candomblé.
Dizem que nunca se retira um pé de gameleira, esteja onde estiver e que não se retira suas folhas depois do meio dia, pois ela passa a pertencer ao Orixá Exu se tornando muito quente.
Também se fala que a gameleira é a árvore primordial que foi dada aos homens, e existe desde sempre.
“No começo dos tempos, a primeira árvore plantada foi Iroco. Iroco foi a primeira de todas as árvores, mais antiga que o mogno, o pé de obi e o algodoeiro.
Na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito. E o espírito de Iroco era capaz de muitas mágicas e magias. Iroco assombrava todo mundo, assim se divertia. À noite saía com uma tocha na mão, assustando os caçadores.
Quando não tinha o que fazer, brincava com as pedras que guardava nos ocos de seu tronco. Fazia muitas mágicas, para o bem e para o mal
Em vários terreiros da Brasil encontramos grandes e imponentes árvores Iroko plantadas no espaço sagrado. Deve-se observar que a árvore em si não é a divindade. Para tal é preciso cumprir rituais para que o deus se sacralize na árvore. Após as oferendas e sacrifícios, a árvore deixa de ser um simples vegetal e passa a ser a morada-templo do deus Iroko.
Como um local santo, passa a ser paramentado como tal: com laços de panos brancos amarrados em seus galhos e troncos. Junto a suas raízes expostas, são colocadas oferendas: alimentos, quartinhas (recipientes com água) e sacrifícios votivos são regularmente realizados. Roger Bastide em duas obras distintas – Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto e em Candomblé da Bahia – faz uma importante alusão ao interdito de tocar em uma árvore Iròkò consagrada.
Um dos mitos relata uma terrível punição sofrida por uma mulher que teria tocado o Iròkò sem ter cumprido o período de abstinência sexual antes de fazer as oferendas ao deus (foi engolida pelo tronco da árvore).
“Alguns terreiros possuem igualmente uma árvore sagrada que é vestida, enfeitada de fitas, coberta de tecidos, rodeada por um círculo mágico – a gameleira que os ‘nagôs’ chamam de Iroko e os ‘gêges’ de Loko; se cortasse um ramo dessa árvore brotaria sangue
Pierre Verger expôs no seu memorial livro Notas sobre o Culto aos Orixás e Voduns, 1999) uma série de textos sobre a divindade Iroko ou Loko, entre os jejes. Entre estes textos se destaca o de Nina Rodriguês e de Melville Herskovits.
Diz Rodrigues que:
A fitolatria africana na Bahia parece ter duplo sentido. A árvore pode ser um verdadeiro fetiche animado ou, ao contrário, mal representa a morada ou altar de um santo. A gameleira branca (Chlorofora excelsa), árvore abundante neste Estado, é o tipo da planta deus. Com o nome de Iroco é objeto de um culto fervoroso. Mais de uma mãe de terreiro exortou-me a jamais permitir que se abatesse uma gameleira em um terreiro de minha propriedade, pois tal sacrilégio foi causa de grandes infortúnios para muita gente.[9]
Herskovits afirma sobre Loko, orixá da gameleira entre os jejes:
“…este deus é importante para a compreensão da religião daomeana, na medida em que oferece uma visão das inter-relações dos diversos cultos no Daomé. Entre as divindades do céu, Loko é encarregado de cuidar das árvores que se encontram na terra e suas funções são de tal modo significativas que ele tem como assistente seu jovem irmão, Medje. As árvores têm alma e são associadas aos espíritos denominados Aziza, que, por um lado, dão a magia aos homens, por outro, são associados ao culto dos antepassados. Que Loko seja o deus das árvores e que as árvores tenham uma alma explica a importância do emprego das folhas na prática medicinal e religiosa no Daomé e estabelece a declaração de um informante, sacerdote: “Se alguém souber o nome e a história de todas as folhas da mata, saberá tudo o que existe para saber a respeito da religião daomeana”.
Outras árvores sagradas para os iorubás são as de obi (Cola acuminata),
orobô (Garcinia livingstoni T. Anders.,) e aridã (Tetrepleura tetráptera).
São três espécies originárias da África e trazidas por escravos ao Brasil e muito usadas nas liturgias dos candomblés.
O obi também conhecido como noz-de-cola (Cola acuminata) é uma esterculiácea relacionada as divindades Ossaim e Orumilá.
A árvore da noz de cola pertence a Ossaim, mas a semente de seu fruto (obi) é utilizado em oferendas para diversos orixás. Existe diversas espécies de obi: o obi funfun (obi branco), o obi pupa (obi vermelho) oferecido, preferencialmente, ao orixá Exu.
Os obis também se diferenciam de acordo com a quantidade de gomos: obi gbanja (obi de dois gomos) e obi abata (obi de três gomos). Utilizados largamente para confecção dos rosário de opele–Ifá necessários à prática oracular do jogo de ifá, o obi é elemento sagrado para os iorubás relacionado-se com o deus da adivinhação Orunmilá.
Diz o pesquisador e ogã José Beniste sobre o obi:
Fruto usado tanto para a prática religiosa como para alimentação, pelo seu alto valor nutritivo .Com apenas alguns gramas reduzidos a pó, permite empreender longas caminhadas e realizar trabalhos pesados sem se sentir fome ou cansaço, tendo sido utilizado com freqüência pelos escravos. Já foi usado como moeda corrente e representa a melhor garantia de um juramento feito ou de um compromisso assumido.
O obi é um interdito do Orixá Xangô pois, segundo a tradição oral, o deus do trovão teria se enforcado aos pés de uma árvore de obi. A Xangô se oferece o fruto do orobô.
O orobô apresenta duas espécies principais: a livingstoni e a Garcinia Kola, conhecida na África como iwó. A primeira é considerada mais apropriada pelos especialistas, contudo a última é encontrada com mais facilidade. O orobô é o fruto dos orixá Xangô e pertence ao elemento fogo. É utilizada em jogos divinatórios, em oferendas. Segundo a crença iorubá, quando ralado e misturado a determinados banhos de ervas tem a capacidade de trazer prosperidade e proteção.
Fruto em formato de pêssego e cuja semente em formato liso e ovalado é indispensável nas oferendas a Sángò. “ Orógbó ní obí bàbá mi/O orògbó é o obi de meu pai”.
Ao contrário do obí , não abre em gomos, sendo, portanto, necessário um tipo de corte especial para ser oferecido como oferenda e modalidade de jogo.
O aridã é uma árvore de origem africana cultivada no Brasil graças ao seu uso litúrgico nos candomblés. Os frutos do aridã são favas que segundo os iorubás são importantíssimas para combater feitiços inclusive os das temidas Ya mi oxorongá (as mães feiticeiras). Pertence ao Orixá Ossaim e está ligado ao elemento Terra.
Por fim, é interessante ressaltar o trabalho do antropólogo Raul Lody que listou as doze árvores sagradas para os cultos afro-brasileiros. São elas:
Gameleira branca_______Orixá Iroko
Mangueira_____________Orixá Oxum
Pitangueira____________Orixá Ossaim e Oxum
Cajazeira______________Orixá Ogum
Dendezeiro_____________Orunmilá- Ifá
Coqueiro-da-bahia________Caboclo
Bambu_________________ Orixá Oya
Pinhão Branco___________ Orixás Ogum, Oxossi , Oya
Jaqueira_________________Orixá Apaoka, Xangô e Exu
Cactus__________________Vodum Azizã- culto jeje
Peregum________________Orixá Ossaim
Ginjeira________________Tobossi- culto Casa de Minas/MA
A lista é variável conforme a modalidade e a localidade de culto, porém atesta a variedade e a enorme contribuição do cultos afro-brasileiras que, através da dendrolatria, ajudou a preservar diversas espécies de árvores.
Embora o uso de plantas nativas do Brasil seja corriqueiro nos candomblés yorubás, as plantas importadas da África são as que possuem maior valor simbólico como a Gamaleira. Talvez por estas plantas estarem ligadas às trocas comerciais transatlânticas e remeterem ao sempre nostálgico retorno a Terra Mãe. No candomblé nada se faz sem obi e orobô.
Eles representam a fala dos orixás, eles determinam o sim ou o não da aceitação das oferendas. Representa a licença sagrada para o culto. Do obi depende a iniciação do adepto candomblecista. Ele é premissa para o culto à Ori, a cabeça. Pois na tradição oral do povo de santo em Ori buruku (cabeça ruim) não se faz orixá.
A natureza também cria tradições nas dinâmicas do espaço-tempo e na readaptação e transmutação das agências dos atores sociais.
“Os terreiros reelaboraram a noção de família e o sentimento de pertencimento comunitário, social e etnocultural, dando mãe (de santo), irmãos (de santo), casa (de santo) e família (de santo) aos que nada tinham. A partir da relação de fé proporcionada pelo advento religioso consolidaram a representação do continente negro africano no Brasil, reproduzindo, por meio de pequenas casinholas ou quartos destinados a divindades específicas, as regiões de culto aos orixás do que hoje, representa a África Negra.
Construíram, assim, a áfrica nos quintais brasileiros, por meio de recordações ou mesmos da invenção de práticas oriundas das terras africanas em composição com a realidade brasileira”[13].
Nestas constantes mudanças, parafraseando o povo de santo, cada um puxa a sua folha para seu lado.
[1] http://aps18.sites.uol.com.br/oriki_osala.html
[2] www.lendas.orixas.nom.br
[3] www.orixas.com.br
[4] “Vara feita de um galho de árvore denominada àtóri ( Glyphaea Lteriflora) ou feita das nervuras da folha do Igi òpe ( Elais Guineensis), entre nós conhecida como dendezeiro.Tem 1,60 de altura e, quando não utilizada, deve permanecer de pé.São os ojé que se utilizam do ìsan para invocar e conduzir os espíritos Egúngún, além de impedir que as pessoas toquem em seus tecidos.” (BENISTE,2006).
[5] www.ceao.phl.ufba.br/phl8/popups/snt_r2.pdf
[6] Verger,Pierre Fatumbi. “Esplendor e Decadência do culto de Ìyàmi òsòròngà – Minha mãe Feiticeira- entre os iorubas.in:Artigos/Pierre Verger.Editora Corrupio,São Paulo,1992.
[7] PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 164.
[8] BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste Místico em Branco e Preto. RJ: Emp.Gráfica “O Cruzeiro”1945. p. 73.
[9] VERGER, Pierre. Notas sobre o Culto aos Orixás e Voduns. São Paulo: EDUSP. 1999,pg.519.
[10]IBDEM (25).
[11] BENISTE,José.Mitos Yorubás: o outro lado do desconhecido .Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2006.p119.
[12]Ibdem,2006.p103.
[13] Conduru,Roberto.Àwon olodé: os senhores da caça.Rio de Janeiro:IPHAN,CNFCP,2004,pg.12
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