1.2 HIPÓTESES
O silêncio que ronda o nome de Iyami Osoronga leva a supor:
1. Se Osoronga foi um mito matriarcal do período neolítico época na qual o sistema familiar, conceito de posse e leis não eram definidos, então o pânico, terror e superstição existente entre os sacerdotes e devotos dos cultos africano e afro-descendentes poderiam ser resultantes do medo de um caos social.
2. Caso a devotas de Iyami Osoronga não pudessem cultuá-la abertamente, devido o sincretismo religioso católico-iorubano, então seria venerada sob os véus da Irmandade da Boa Morte, através da devoção a Nossa Senhora.
1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A escassez bibliográfica sobre o tema levou-nos a encontrar Iyami Osoronga sob as qualidades dos Orixás femininos retratados por Pierre Verger na Bahia e Nigéria, nos rituais nagô sobre a morte descritos por Juana Elbein, nos rituais axexê e mitos iorubanos comentados por Prandi e nos abiku, as crianças que nascem para morrer, pesquisados por Augras aprofundando- nos no Candomblé percebendo-o enquanto fator de resistência política e cultural do negro - religião de origem africana estabelecida no País.
Nina Rodrigues1 foi o pioneiro no estudo da questão negra no Brasil, estudou as diferentes etnias africanas e sua religião com "um olhar de fora": distanciado da comunidade africana e afro-descendente estabelecida no País.
Alertados por Marco Aurélio Luz percebemos seu pensamento segregacionista-científico europeu, conseqüente de sua época:
"O critério científico da inferioridade da raça negra...
Para a ciência, não é esta inferioridade mais do que um fenômeno
de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do
desenvolvimento filogenético da humanidade".
Ìrété Òwánrín
Orunmilá consulta Ifá para ir a Otá e descobrir os segredos das Eleye. O babalaô pede-lhe para fazer uma oferenda. Ele faz o sacrifício e parte para a cidade das mulheres pássaro.
Exú o vê, e notamos que possivelmente Exú estava sob a forma de um pássaro (o grifo é nosso):
"Exu (que faz o bem e o mal, que faz todas as coisas).
Exu transforma-se rapidamente,
Tornou-se então uma pessoa.
Ele vai chamar todas as àjé que estão em Ota."
(Verger; 1992:42)
E conta para as Ajé que Orunmilá possui um pássaro tão poderoso quanto o delas. As donas do pássaro estranham:
"Elas dizem, este homem tem um pássaro?"
(Verger; 1992:42)
As Iabás foram avisadas por Exú que a divindade Orunmilá possuía um pássaro, porém elas referem-se ao Orixá como homem, ressaltando a relação de gênero. Ao se dar o confronto entre ele e as Ajé, ao verem Orunmilá sentado o que indica uma falta de respeito - elas praguejam:
"elas dizem que não querem retirar
seus maus olhados do corpo de Orumilá.
Elas dizem que lutaram com ele.
Elas dizem que elas estão em cólera porque
ele conhece o segredo delas.
Elas dizem, eles querem assim conhecer seu segredo.
Elas dizem, se elas pegam Orumilá, elas o matarão."
(Verger; 1992:42)
Orunmilá consulta outro babalaô, Tèmáyè, que indica-lhe um ebó4 para ficar protegido da fúria delas. As Eleye comem o ofertado e tentam novamente perseguir Orunmilá, porém não conseguem mais vê-lo. Orunmilá fala:
"... àjé não é severa, ela não pode comer ekujebu, vós de modo algum, podeis matar-me.
Ele diz, o frango òpìpì não tem asas para voar sobre a casa, elas não podem matar-me.
Isto foi o que Òrúnmilá fez naquele dia, para que elas não sejam capazes de matá-lo, quando Òrúnmilà foi a Òtà para ver o segredo delas."
(Verger; 1994:39)
O ebó que Orunmilá ofereceu faz parte das proibições para as ajés.
Resenha:
Até então grandes mitos foram levantando sobre a Iyami Òsòròngà, por falta de dados que pudessem fornecer um embasamento para sua definição, contudo sabemos que ela é um orisá o mais antigo e famoso conhecido por todas as nações africanas cultuadas dentro do Brasil.
Qualquer definição que fuja deste referencial é um erro grave ao culto.
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