CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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sábado, 2 de novembro de 2013

Acaçá onde tudo começou.



As definições mais elementares do acaçá (àkàsà)  é de uma pasta de milho branco ralado ou moído, envolvido, ainda quente, em folhas de bananeiras. 

A definição é correta, mas extremante superficial, pois o acaçá é de longe a comida mais importante do culto africano. 

Seu preparo e forma de utilização nos rituais e oferenda. 

Envolvem preceitos e regulamentos bem rígidos, que nunca podem deixar de ser observados.

Todos os orixás, de Exu a Oxalá, recebem acaçá. 

Todas as cerimônias, do ebó mais simples as sacrifícios de animais, levam acaçá. 

Em rituais de iniciação, de passagens fúnebres e tudo o mais que ocorra em uma casa de culto africano só acontece com a presença do acaçá. 

A vida e a morte no candomblé se processam à partir desta oferenda 

fundamental, sem a qual nenhum homem seria poupado dos dissabores e percalços do destino. 

Quando recorremos á história dos orixás, percebemos o grande mal que a humanidade todas as vezes que se afasta do poder divino, representada, nesse caso, pelo poderoso Orun, a morada de todas as divindades, e pelo supremo, senhor do Destino dos Homens. 

Olodumaré, também conhecido como Olorum (Zambi).

Só existe uma oferenda capaz de restituir o axé e desenvolver a paz e a prosperidade na Terra, ela é justamente o acaçá. 

Mas o que faz de uma comida aparentemente tão simples a maior das oferendas aos orixás?

Será que todos sabem o que realmente é um acaçá?

Façamos então uma classificação dos elementos que compõem o acaçá para chegarmos à derradeira conclusão. 

Primeiramente, é preciso esclarecer que a pasta branca à base de farinha de milho (que fica alguns dias de molho e depois passada pelo pilão ou moinho) chama-se na verdade eco (èko). 

Depois de coxear, uma porção da pasta ainda quente, é envolvida em um pedaço de folha de bananeira para enrijecer (na África é utilizada outra folha, chamada èpàpo), tornando-se, agora sim, um acaçá. 

(Hoje em dia nós temos a facilidade de encontrar o milho vermelho moído que é o fubá vermelho e o milho branco que é o fubá branco, mais existem sacerdotes que ainda utilizam o ritual de antigamente).

Percebe-se a fundamental importância da folha de bananeira, uma vez que o eco só passa a ser acaçá quando envolvido em uma folha verde que lhe atribui existência individualizada, pois passa a ser uma porção desprendida da massa, assim como e emi, que dá vida aos seres, é, na verdade, uma parte da atmosfera, ou do próprio Olorum, que todos ser leva dentro de si, o sopro da vida, o ar que respiramos.

Portanto, o acaçá é um corpo, o símbolo de um ser. A única oferenda que restituí a redistribui o axé.

É importante insistir que o que faz do acaçá um corpo único, eminente representação de um ser, é a folha, seu poderoso invólucro verde, que lhe confere individualidade e força vital diante do poderoso orun, os orixás e do grande Deus Oludumaré.

Somente a água é tão importante quanto o acaçá, pois não existem substitutos para nenhum dos dois, que são, a exemplo do obi, elementos indispensáveis em qualquer ritual. Ambos configuram-se como símbolo da vida, e é justamente para afastar a morte do caminho das pessoas, para que o sacrifício não seja o homem, que são oferecidos.

O acaçá remete ao maior significado que a vida pode ter: a própria vida. E por ser o grande elemento apaziguador, que arranca a morte, a doença, a pobreza e outras mazelas do seio da vida, tornou-se a comida e predileção de todos os orixás.

Fato é que quem não faz um bom acaçá não é um bom conhecedor do candomblé, pois as regras e diretrizes da religião nunca foram ditadas pela intuição. “Constituem grandes fundamentos cristalizados” ao longo de anos e anos de tradição. Aos incautos vale afirmar que candomblé não é intuição, mas fundamento sim, e fundamentos se aprende.

Fundamento é o segredo compartilhado, o detalhe que faz a diferença e a prova de que ninguém pode enganar o orixá.

O acaçá deve permanecer fechado, imaculado até o momento de ser entregue ao orixá. Só então é retirado da folha. É como se o sagrado tivesse de ficar oculto até a hora da oferenda, prova de que o segredo é quase sempre um elemento consagrado. E o segredo do acaçá é enrolar na folha de bananeira, é o que mantém um terreiro de candomblé de pé. Não existe acaçá que não seja enrolado na folha de bananeira..

Entretanto, a imprudência vigora em muitos terreiros e não raras vezes se ouve falar de novas iguarias apresentadas como acaçá. Os mais comuns são os acaçá de pia e de forma. No primeiro caso a massa de ecó, mais grossa, é colocada às colheradas sobre o mármore das pias, onde os bolinhos esfriam antes de serem utilizados nos ritos. Na segunda receita a massa é espalhada em uma forma e posteriormente cortada em quadradinhos. Este é um procedimento incorreto e condenável, e as pessoas que agem assim então fadadas ao insucesso e não podem ser consideradas pessoas de axé.

Não há candomblé sem acaçá, nem acaçá sem folha. A religião dos orixás não admite modificações na essência , e esta comida é essencial, portanto, inviolável. Primeiro vem o acaçá antes dele só a vida. Logo, a folha de bananeira guarda uma vida. Deixar a massa do acaçá exposto é o mesmo que deixar a vida vulnerável. Eis o grande fundamento.

Aos incautos vale afirmar que candomblé não é intuição, mas, fundamento sim, e fundamento se aprende.

Fundamento é o segredo compartilhado, o mistério sagrado, o detalhe que faz a duferença e a prova de que ninguém pode enganar o Orixá. 

Aqui o grande fundamento é que o sangue dos animais jamais pode jorrar sobre os ibás sem a presença do elemento pacificador, pois, o acaçá simboliza a paz. 

Quando ofertado e retirado do seu invólucro verde, tornando-se a comida de Oxalá que agrada a todos os orixás, a primeira oferenda que deve ser colocada diretamente no assentamento, juntamente com o obi e a água, antes de qualquer sacrifício.

O acaçá deve permanecer fechado,imaculado até o momento de ser entregue ao Orixá, só então é retirado da folha. É como se o sagrado tivesse que ficar oculto até a hora da oferenda, prova de que o segredo é quase sempre um elemento consagrado.

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