Orixás do Carybé
A doutoranda em Letras, Waldelice Souza, deu entrevista coletiva aos alunos do Laboratório de Comunicação Crítica:Técnica de linguagem jornalística aplicada da ECO/UFRJ, e falou da importância do reconhecimento das diferenças.
Ela usou como exemplo o povo africano e sua cultura candomblecista, esquecidos pela visão tradicional dualista de um mundo dividido em Ocidente e Oriente.
Segundo a pesquisadora, as pessoas se assustam quando percebem que a África está presente, interferindo em suas formas de agir e de se alimentar.
E observou que a população precisa estar aberta a processos, pois não há uma verdade definitiva sobre o mundo.
Waldelice falou que a sociedade só poderá vangloriar-se, de fato, quando reconhecer as desigualdades e considerar as concepções de vida defendidas pelos povos díspares.
Para ela, além da predominância do pensamento eurocentrista, as pessoas deixam-se levar e representar pelas mídias, que nada mais são do que corporações com discurso em prol de um conjunto de interesses pré-estabelecidos.
“É preciso compreender possibilidades diferentes daquelas oferecidas por instituições que prometem um futuro novo e desenvolvido.”, alertou.
Em abordagem histórica, a doutoranda discorreu sobre a Conferência de Berlim de 1885, realizada para constituir o mapa político da África.
Contou que a partir das justificativas estabelecidas na conferência, iniciou-se um processo de exploração que devastou os povos africanos.
Esclareceu ainda que ao serem expulsos de suas terras e perderem suas riquezas e cultivos, os africanos foram basicamente sequestrados de seu lugar, de suas vidas.
“Não há justificativas lógicas para isso, mas esses povos persistiram e existem camuflados em sociedades como a brasileira”, ressaltou.
Segundo Waldelice, é preciso entender quem eles são, o modo de vida que levam e o seu sistema simbólico, pois ao longo da historia, suas convicções foram tidas como ineficazes para explicar as questões do mundo.
A pesquisadora analisou a escultura que representa o pensador angolano refletindo, sentado no chão, como um gesto comum do povo africano que vincula reflexão e cotidiano. Ela explicou que naquele Continente as pessoas se mantêm conectadas à natureza, à vida dos outros e à morte.
Waldelice estuda o Candomblé, especialmente como a religião é praticada no Brasil. “Os candomblecistas não separam a vida espiritual da física, o corpo do homem é tido como um altar e deve ser bem tratado, pois recebe a presença divina; o mais importante, é que realizam rituais que os elevam a lugares sagrados, mas, infelizmente, esses ritos são estranhados e condenados usualmente”, explicou.
Ao fim da coletiva, a doutoranda chamou a atenção para a importância do pesquisador deixar o objeto de estudo falar, e que isso não implica aderir a ele. “É com a intransigência que surgem as barbáries e as guerras, por isso é preciso mais amor e compaixão”, concluiu.
Por Tamara Stern*
* Aluna do Ciclo Básico do Curso de Comunicação da ECO/UFRJFONTE: http://leccufrj.wordpress.com/2011/10/18/doutoranda-defende-%E2%80%9Cmundo-esquecido%E2%80%9D-entre-o-ocidente-e-o-oriente/
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