É necessário esclarecermos alguns pontos de destaque na religião tradicional africana, que influenciaram diretamente o Candomblé e Umbanda:
- primeiramente os Yorùbá não criam no “céu” e “inferno”, pois para eles o maior castigo que existia era o de não poder se tornar um Àgbà Eégun (Grande Ancestral), merecedor de ser cultuado no Ilé Igbàále (Casa dos Antepassados) e assim ter a oportunidade de vir a ser, novamente, um Ayórunbò (retornado do além), por isso os Yorùbá crêem em reencarnação (àtúnwá), mas não é a mesma que existe no hinduísmo ou no espiritismo, pois, para os Yorùbá, voltar ao Àíyé (mundo físico) era uma certeza cíclica, sem fim, dentro de uma mesma linhagem humana, pela qual se perpetuava a conjunção dos Ancestrais com os seus descendentes vivos e aqueles que ainda iriam nascer.
Não há uma escala evolutiva entre os Yorùbá, mas é possível, através de seus atos, comportamentos, de seu Ìwà Pẹ̀lẹ́, em vida, trasnformar-se num Àgbà Eégun ou, ainda, tranformar-se em um Òrìşà.
Os Yorùbá crêem que existem nove céus (Mẹ́sàn Ọ̀run).
No mais alto deles (Àjàlórun) está OlỌ̀run (Deus): Ser Supremo, Incriador e Criador.
Olòdúmarè (outro nome de Deus) criou da lama (erùpè) Èşù Àgbà (Exu Primordial), dando-lhe vida através de seu hálito, com a incumbência de dinamizar, transformar e restituir tudo, quer no Ọ̀run, quer no Àíyé.
Logo depois Olòdúmarè criou Òrìşànla (Grande Orixá), um dos nomes de Ọbàtálá.
Em seguida foram criados os demais Irúnmọlẹ̀: os da direita (Ojùkòtún) e os da esquerda (Ojùkòsì) – que não tem nada que ver com bem e mal.
Os da direita são expressos pela cor Funfun (branca), e eram os realmente chamados Òrìşà.
Os da esquerda são expressos pela cor Dúdú (preta), denominados Ẹbọra.
Das relações entre essas duas classes de Irúnmọlẹ̀surgiram os demais seres do panteão Yorùbá, que tem a ver com o poder da realização (Àṣẹ), expressos pela cor pupa (vermelha).
Destes gerados existem:
- Os Ọmọdé Ọkùnrin, ou seja, os descedentes masculinos; e
- Os Ọmọdé Obìnrin, descendentes femininos, também chamadas de Ìyá-Mi (minha mãe, ou minha senhora)
Os Ọmọdé Ọkùnrin e Obìrin também eram colocados à esquerda e à direita, respectivamente.
Toda essa classificação era muito importante na ocasião das iniciações e na feitura dos assentamentos de um Irúnmọlẹ̀.
Infelizmente, no Brasil, isso se perdeu causado pela escravidão e a conseqüente reunião de todos os Irúnmọlẹ̀ num so espaço físico, tornando o apelativo Orixá comum a todos os Irúnmọlẹ̀, sejam eles da direita ou da esquerda, fossem geradores, ou gerados.
No credo Yorubá cada Ará Ọ̀run (corpo do além) deveria se “ajoelhar” aos pés de Ọlọ́run para pedir a Ele seu novo destino, antes de volta ao reencarnar, sendo, pois, assim, Olòrùn o seu verdadeiro ẹ̀lẹ̀dà (Criador), sendo que ao nascer como Ará Àíyé este estaria ligado a algum Irúnmọlẹ̀ (da direita) ou Igbàmọlẹ̀(da esquerda), que lhe emprestaria algumas de sua qualidades, que seriam “detectadas” pelo processo oracular de Ifá
Vê-se que o Ará Àiyé antes de reencarnar precisa da autorização e da destinação de Olórùn, por isso é necessário que ele esteja em condições de ficar em sua presença, e é preciso que ele esteja em alguns dos céus (além) e não perdido, como, p.ex., as almas dos suicidas.
Olòdúmarè após criar o mundo pediu a Ọbàtálá que moldasse o corpo do ser humano de argila, para que fosse animado por Olòdúmarè; portanto ele deu a forma onde habitaria nossa alma, ou espírito.
Olòdúmarè recebe o epíteto de Ọlọ́run (Senhor do Céu) e de Ọlọ́fin (possuidor da lei divina), sendo que em algumas tradições Ọbàtálá (rei que se veste de branco) é chamado de Ọlọ́fin.
Em todas as tradições africanas de origem nagô Ọbàtálá recebe o epíteto de Òrìşànla (Grande Orixá), que acabou virando Oxalá, pois é comum entre os Yorubás fazerem a simplificação fonética (metaplasmo) de várias de suas palavras, podemos concluir, então, que Oxalá é um epíteto de Ọbàtálá, o criador do corpo (ará) do homem.
Na criação do corpo (ará) do ser humano Ọbàtálá foi ajudado por seu auxiliar Àjàlá (ou Ijàlá), por isso ele é considerado como o “Senhor de todas as cabeças (ori)”, daí deduziu-se que ele é o responsável por todas as coisas que estão acima, ou as que dirigem as coisas.
(fonte Wande Abimbola, in Ijinlé Ohún Enu Ifa-Apá Keji , Ibadan, 1976 e J.A. Ademakinwa, in Ife Cradle of the Yoruba , Lagos, 1958)
Por Mário Ifágbóògùn Filho
fonte:http://cefeco.wordpress.com/tag/orixa/
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