O povo Yoruba, do qual tem na atualidade mais de 25 milhões, ocupa a esquina sul ocidental de Nigéria, por toda a Vera de Dahomey; estende-se ate o mesmo Dahomey.
Ao este e ao norte, a cultura Yoruba chega a seus limites em o rio Niger. Porem culturas ancestrais diretamente relacionadas com os Yorubas floresceram ao norte de Niger (Mapa). Os descobrimentos arqueológicos e os estúdos genéticos sinalam que os antepassados dos Yorubas podem haver vivido em este território desde a pré-história.
Evidencias arqueológica indica que uma sociedade proto-Yoruba com alto nível tecnológicos e artísticos, se encontravam vivendo ao norte do Niger em no primeiro milênio de nossa era, tuverão conhecimento do ferro.
A teologia Ifá plantea que a criação da humanidade acontece na sagrada cidade de Ile-Ife, onde Oduduwa crio a terra firme do água. Muito tempo depois um número desconhecido migro para Ile Ifé.
Em este ponto se combinaram os africanos, orientais e ocidentais. Algumas hipófises, baseadas na similitude das esculturas egípcias e as encontradas na cidade do estados de Ife, sinalam que os Yorubas podem descender dos Oduduwa provenientes do Egito, estes fundaram os primeiros reinos. Os Yorubas aúm se denominam assim mesmos "Os filhos de Oduduwa".
Estas cidades estado Yoruba formavam parte dos mais de 25 reinos, todos eles centralizados. De todos eles, ile Ifé, é reconhecido universalmente como o mais importante. Sua fundação se acredita que data do ano 850. Seu eterno rival, o reino de Oyo, ao noroeste de Ifé, se funda aproximadamente ate o 1350 DC. Os Oni (rei) de Ifé e o Alafin de Oyo ainda são considerados como os Reis Yoruba é se rende respeito como tal em Nigeria. Outros reinos importantes eran Itsekiri, Ondo e Owo no sudeste, Ekiti e Ijesha ao noroeste o Egbado, Shabe, Ketu, Ijebu, e Awori em o sudeste.
Os exploradores portugueses "descobrirem" as cidades Yoruba e seus reinos em o ciclo XV, pero cidades tales como Ifé e Benin, entre outras, estão no mesmo sitio por centos de anos antes que os europeus chegaram.
O reino de Oyo se fundo com a ajuda das armas portuguesas. A finais do ciclo 18, se produze uma guerra civil na que um dos bandos conseguem o apoio dos Fulani, quem no ano 1830 se faz com o controle de tudo o império Oyo. A invasão Fulani empurro a muitos Yoruba para o sul onde se fundarão os povos de Ibadan e Abeokuta. Em 1888, com ajuda de um mediador Britânico, Yorubas e Fulanis, fazem um acordo para que os primeiros recuperasem o controle sobre sua terra. Em 1901 Yorubaland e colonizada oficialmente pelo império Britânico, quem estabelece um sistema administrativo que mamtem grande parte da estrutura de governo Yoruba.
Durante todos estes anos Ifé manteve sua importância vital como uma cidade estado sagrada, cunha dos Yorubas e base de seu pensamento religioso. Recentemente os Yorubas não se considerarem assim mesmos como uma só nação. Mais bem se consideravam como cidadãos de Oyo, Benin, Yagba, entre outras cidades. Estas cidades consideravam a os habitantes de Lagos e Owo, por exemplo, como vizinhos estrangeiros. Os reinos Yorubas não só guerrearem contra os Dahometanos, também entre sim. O nome Yoruba foi aplicado a todas as pessoas relacionadas lingüística e culturalmente por seus vizinhos do norte, os Hausas.
As típicas Cidades Yoruba Antigas, eram centros urbanos com granjas em volta que se entendiam por duzentas de milhas o mais. Oyo e Benin furão fundadas por reis de Ifé e seus descendentes. Benin obteve seus conhecimentos e rituais diretamente de Ife, e o sistema religioso de adivinhação, Ifa se expande desde Ifé pelo território Yoruba, alcançando tudo o mundo. Um sistema de crenças Yoruba comum dominava a região desde o Níger, movimentou para o este até o Golfo de Guinea no sul.
Não foi por acedente que a cultura Yoruba se expandira do Atlântico até América. Caçadores de escravos europeus capturaram violentamente a milhões de africanos e os enviaram a sua sorte em barcos negreiros sobrecarregados até América. Guerras de escravização começadas desde o reino de Dahomey contra alguns dos reinos Yorubas, e similares guerras entre os mesmos Yorubas, fizeram a estes prisioneiros de guerra, escravos disponíveis para sua transportação até América.
Escravos Yorubas fuiram enviados a colônias Inglesas, Francesas, Espanholas e Portuguesas em o novo mundo, em uma grande parte de estes lugares, as tradicionais Yorubas sobreviverem com grande força. Em Cuba, Brasil, Haití e Trinidad, os ritos religiosos Yorubas, crenças, músicas e mitos se encontram entronizados até nossos dias. Em Haití os Yorubas foram chamados Anagos. Atividades religiosas afrohaitianas deram um lugar de honore a os ritos e crenças Yorubas, seu panteão incluí numerosas deidades de origem Yoruba.
A escravatura em os Estados Unidos foi muito diferente a outras regiões colonizadas. O idioma e a cultura de estes cativos foram cruelmente eliminados, onde os africanos recebem geralmente a pena de morte por exercer suas praticas.
Em Cuba, ocorre um processo de sincretização da religião Yoruba com a Católica, dando lugar a um novo sistema, conhecido como Regra de Osha ou Santería, a qual se mantem com mais força é se estendem a América Latina, Estados Unidos e Europa. Este ressurgimento em popularidade e interes da adaptação de Yoruba e Ifá com o catolicismo, chegou a os Estados Unidos pelos Portorriquenhos em os 40's e os 50's (os quais anteriormente fuerão recebidos de Cuba) e logo em os 60's com o fluxo de refugiados cubanos.
Em Cuba, o panteão das deidades Yorubas a sobrevivido intacto, junto a um complexo de ritos, crenças, músicas, danças e mitos de origem Yoruba.
FONTE: http://regionbuzz.com/Africa/Benin/---02012013
Segundo Verger, Efe é um ser vindo do além que consegue neutralizar o efeito dos trabalhos maléficos feitos pelas iyá mi oxorongá, as temidas mães feiticeiras.
Efe não é propriamente cultuado como uma divindade.
É um ser imaterial, uma espécie de semi-deus, dotado de alguns poderes que o fazem ser reverenciado pelos homens, mas encontra-se em um patamar abaixo dos Orixás.
A tradição de invocar Efe é grande entre os povos Ayobo, e nas comunidades Awori, Oto-Awori e Iba, na região da cidade de Lagos na Nigéria.
Logo, trata-se de um mito da cultura Yorubá.
Alguns acreditavam que Efe seria o próprio Exu transmutado em pássaro.
Efe é trazido às ruas manifestado em um homem, portando uma máscara.
Ele é acompanhado por três percussionistas tocando tambores a tira colo, em ritmos alegres e agitados, produzindo o som com baquetas feitas de couro duro em forma de arco.
Efe teria a capacidade de anular os trabalhos maléficos das iya mi, responsáveis por calamidades como secas, infestações de ratos, doenças, etc.
Anualmente, ainda hoje, nas ruas da cidade de Lagos, fazem-se festejos públicos invocando Efe.
Isso ocorre sempre na noite anterior ao desfile das máscaras gelede.
No Brasil, este costume despareceu por completo.
O antropólogo Edson Carneiro, relata que o último Terreiro de Candomblé a realizar este culto, foi a Casa Branca do Engenho Velho, possivelmente até a década de 40.
A responsável era Mãe Maria Júlia de Figueiredo, iyakekerê do Ilê, que acumulava o cargo de iyalode erelu.
Era Mãe Maria Júlia quem coordenava o desfile gelede no bairro da Boa Viagem, em Salvador, sempre nos dias 8 de dezembro.
E foi ela mesma quem ensinou os homens do Axé a reverenciar Efe.
Como em toda cultura, os yorubás também têm sua teoria sobre a criação do mundo, dos seres e da atuação das divindades neste episódio.
O grande Deus da criação é Olodumare (Olódùnmarè), ou Olorun (Olóòrun – Senhor do Céu). Olorun é o Deus supremo, que age acima dos demais Orixás. Por essa razão, inclusive, o Candomblé é uma Religião monoteísta (acredita em um Deus único).
No momento anterior à criação, tudo que existia era uma massa de ar infinita. Tal massa era o próprio Olorun.
Além do próprio Olorun, só existiam os Orixás primordiais antes da criação do mundo. Estes eram os Orixás do branco (òrisa-funfun),. Essas divindades ocupavam o àwosùn dàra (a morada de Olorun, ou a morada do justo).
O momento mágico de início do nosso mundo e da existência de todos os habitantes é descortinado pelo Odù Ifá Òtúrúpòn-Òwónrín, através de um maravilhoso mito, o Ìtàn ìgbà-ndá àiyé
Ao mover-se lentamente e ao respirar, Olorun deu origem à água. Da relação entre a água e o ar, criou Orixanlá (Òrìsànlá), ou (Òsàlá) o Grande Deus Branco, conhecido também pelo nome de Obatalá (Obàtálà).
No movimento constante de água e ar, parte desta matéria solidifica-se dando origem a um monte de terra avermelhada, a qual Olorun soprou se hálito (èmí) e também o ar divino (òfurufú) para que nascesse Exu Iangui (Èsú Yangí), a primeira forma viva e individualizada do universo.
Da relação entre o ar e a terra, passa a existir Odudua (Odùduwà) (*1).
(*1) Em uma tradução livre, seu nome significaria “a cabaça de onde jorrou vida”. Odududa é frequentemente confundida com o guerreiro mítico divinizado e de mesmo nome, fundador da cidade de Ilê Ifé. A personalidade de Odudua é controvertida. O Padre Boudin, classifica essa divindade como feminina, constituindo assim o par da gênese com Oxalá. Verger discorda, acreditando que a parceira de Oxalá seja Iyemowo.
Olorun decide então criar o mundo para os novos seres. Para tal, convocou Oxalá e a ele entregou o saco da existência (àpò-iwà).
O Deus Supremo, conhecendo todas as coisas, advertiu Oxalá, seu primogênito, a procurar Orunmilá (O Senhor da Sabedoria e do Destino) a fim de que este lhe desse as orientações para obter êxito na incumbência.
Oxalá seguiu o conselho e foi até Orunmilá, o grande oluwò. Este consultou o rosário de Ifá e apareceu Ejiogbe, o primeiro dos 16 odus. Orunmilá então disse que Oxalá teria muitas dificuldades e que estaria sendo testado por Olorun. Recomendou que antes de partir, Oxalá fizesse uma oferenda a Exu contendo uma corrente de dois mil elos, 5 galinhas de cinco dedos em cada pé, cinco pombos e um camaleão. Advertiu-o também a não ingerir bebida alcoólica até a conclusão do trabalho.
Oxalá, no entanto, movido por sua vaidade e prepotência, contestou Oruminlá. Questionou o diagnóstico do sábio, alegando que ele (Oxalá) seria mais importante e mais velho que Exu, razão pela qual se Exu quisesse algo, que fosse atrás de Oxalá na missão.
Oxalá foi teimoso, pois esqueceu que Orunmilá não se equivoca. Foi prepotente, por pensar ser mais importante que Exu. Foi arrogante por esperar que Orunmilá devesse explicações do destino a qualquer um. Deveria saber que ninguém pode ver o rosto de Oruminlá, assim como não pode conhecer a razões do destino.
Oxalá foi também negligente. Desdenhou da predição e partiu no cumprimento da missão, sem atender as predições.
No percurso, deparou-se com Odudua e a convida para a empreitada. Contudo, Odudua recusa-se a acompanhar Oxalá, pois este não teria cumprido as recomendações do oráculo, nem tampouco realizado as obrigações rituais necessárias à tarefa.
Teimoso, Oxalá não deu ouvidos a Odudua e seguiu sozinho, até encontrar Exu na via (òna-òrun). Este, já empossado como olonan (senhor dos caminhos), perguntou a Oxalá se o orixá branco havia feito as oferendas para a jornada. Oxalá, esbanjando superioridade, não deu atenção a Exu; reuniu os Orixás que lhe auxiliariam na tarefa (Olúfón, Eteko, Olúorogbo, Olúwofin, Ògiyán e os demais Orixás funfun) e seguiu adiante.
Irado, Exu resolve se vingar de Oxalá.
Oxalá, ao longo da viagem, desacostumado naquele ambiente inóspito, sentiu muita sede. Parou ao pé de uma palmeira de dendê (igí-òpe), e fincou seu cajado (òpásórò) no tronco para sorver a seiva refrescante, o chamado vinho de palma (emun). Porém, como a bebida é fermentada, possui alto teor alcoólico e Oxalá acabou adormecendo.
Os Orixás que acompanhavam Oxalá ficaram atônitos, pois não conseguiam acordar o líder.
Exu então pegou o saco da criação e o levou de volta às mãos de Olorun, atestando a falha de Oxalá.
Olorun chamou Odudua deu-lhe uma pequena cabaça contendo terra e pediu que esta fosse realizar a incumbência antes conferida a Oxalá, que havia falhado na missão.
O Deus Supremo mostrou a Odudua o lugar determinado para a criação do mundo (òrun àkàxò).
Mais prudente, antes de iniciar sua marcha, Odudua foi a Orunmilá. O Senhor da Sabedoria consultou Ifá e viu Oyeku Meji, o segundo Odu no sistema de Ifá, que é a contra-parte de Ejiobe (o 1º signo).
Orunmilá orientou Odudua a fazer o mesmo ebó antes prescrito a Oxalá.
Odudua atendeu e ofereceu a Exu a cadeia de dois mil elos, as cinco galinhas de cinco dedos, os cinco pombos e o camaleão.
Exu, mostrando a generosidade que tem com aqueles que lhe respeitam, retirou um elo da corrente e o pôs no braço (de onde jamais retiraria para mostrar sua ligação com a gênese). Devolveu a Odudua o restante da corrente e ainda 1 galinha, 1 pombo e o camaleão, avisando-lhe que tais materiais seriam muito úteis à criação do mundo.
E Odudua partiu na expedição. Chegando diante do pilar que une o orun ao aiye (òpó-órun-oún-àiyé), lançou a cadeia de dois mil elos e desceu até o ponto exato da criação do mundo (òrun àkàxò). Em seguida, ainda pendurada, jogou a terra e mandou que a galinha de cinco dedos a espalhasse; determinou que o pombo a semeasse e fez com que o camaleão, com sua prudência, colocasse pé ante pé e fosse verificar se a terra estava segura e firme. Aí sim Odudua pisou no mundo. Sua primeira pegada é chamada de esè ntaiyé Odùduà.
Odudua fundou desta forma a cidade de Ilé-Ifè, o berço da civilização yorubá, que se espalhou para o resto do mundo.
Só depois disso Oxalá despertou. Olorun delegou a ele a tarefa de criar os seres vivos. E Oxalá criou os homens, as mulheres, as árvores, os peixes e tudo que habita a Terra.
Mas entre Oxalá e Odudua surgiu uma rixa. Olorun, com sua sabedoria, fez mostrar que os dois eram de fundamental importância para a Criação e a sobrevivência do mundo dependeria da harmonia de ambos.
Olorun os convenceu assim a celebrar um acordo (Odù Ifá Ìwòrì-Òbèrè) e chamou Oxalá para sentar à sua direita (òtun) e Odudua para sentar-se à sua esquerda (òsì). Instituiu assim a possibilidade de equilíbrio e de convivência harmônica entre homem e mulher.
Até hoje os yorubás comemoram o dia do acordo através de uma grande festejo anual (ododún sise), celebrando a união que permitiu a sobrevivência do universo e da vida.
Toda esta epopéia durou apenas quatro dias. Para representar a gênese e o útero primordial, os yorubás utilizaram o igbá-odù (ou igbádù): uma cabaça pintada de branco, cortada horizontalmente ao meio em duas metades que devem manter-se sempre unidas, contendo em seu interior quatro pequenos recipientes de casca da noz do côco cortado ao meio contendo, cada qual, com um elemento que simboliza os três sangues do axé: o efun (branco), o osún (vermelho), o carvão (preto) e ainda lama (matéria-prima do homem).
Esses elementos significam também os quatro odus principais: Eji Ogbé, Òyèkún Meji, Ibara Meji e Edí Meji. Separar as duas metades de igbadu, significa a própria destruição do mundo.
A parte de cima de igbadu representa Oxalá, e a parte de baixo, Odudua.
Nesta época, o orun (òrun), o céu, não era separado do aiyê (àiyé), o mundo, e homens e deuses transitavam livremente entre os dois mundos.
Havia um camponês que morava exatamente no limite entre o orun e o aiye. A mulher dele era estéril. Este homem rogou muito a Oxalá que a mulher dele pudesse parir. Oxalá o atendeu e a mulher do camponês deu a luz a um menino. Contudo, Oxalá decretou como interdito que aquele menino jamais deveria ultrapassar os limites da terra, nunca podendo ir ao orun.
O camponês ensinou a proibição ao menino e tomava todos os cuidados para que o garoto nunca conhecesse o caminho que ligava os dois mundos.
Mas a curiosidade e a rebeldia foram maiores. Certo dia, o pai teria que entregar umas sementes no orun. Encheu um saco, o pôs nas costas e começou a trajetória. O menino esperto fez um pequeno furo no saco de sementes e assim ficou conhecendo o caminho do orun ao aiye.
No dia seguinte, seguiu o rastro e chegou ao orun. Não só descumpriu o interdito, como desafiou os deuses, se dizendo mais esperto e contando vantagem.
Oxalá ficou irado, pegou seu cajado e naquele momento separou o orun do aiye. Limitou assim o espaço dos homens e dos deuses, impondo uma nova ordem e uma nova relação entre homens e as divindades.
Entre o orun e aiye formou-se um vão, que foi preenchido pelo sopro de Olorun, dando origem à atmosfera (sánmò).
Este vão possui nove espaços, sendo quatro superiores () e quatro inferiores (òrun isalè mérèèrin), postando-se a Terra no espaço central.
O menino transgressor chamava-se Exu.
Exu foi aquele capaz de criar o caos e recriar a ordem universal.
FONTE: http://ori.net.br/artigo15.html
A benção meu egbomi..
Foi durante uma conversa com um Yaô que eu percebi o quanto nossa gente está desamparada e o quanto alguns zeladores se omitem diante de questões do cotidiano religioso de suas casas e dos seus filhos de axé.
Por isso decido escrever.
Mas se tem coisa que gosto de fazer é conversar com Yaô e Abiã, desvirtuo todos, no melhor sentido que esta palavra “desvirtuar” pode oferecer ao crescimento da pessoa.
Certas “virtudes” muitas vezes só servem para criar pessoas sem o gosto por perguntar e questionar, ou melhor, questionar-se.
Por isso acho que sou meio subversivo para essas questões de educação, gosto de questionamentos.
Durante essa conversa com um Yaô eu fiz várias perguntas, coisas do tipo: Como está a casa onde você mora?
Os móveis te agradam, as cores das paredes estão de acordo com seu gosto?
E sobre sua vida pessoal?
Você é feliz com seu parceiro?
Você está realizado na sua profissão?
Está estudando no momento?
O Yaô me olhou como se estivesse diante de um louco, e me perguntou por que eu estava lhe fazendo aquelas perguntas, afinal ele estava ali para ser iniciado e estas perguntas não faziam parte de uma iniciação e muito menos faziam parte da educação religiosa?
Minha resposta foi.
Se você não está completo em algum destes itens, por favor, levante-se e vá resolver, não fique aqui pensando que religião vai resolver para você o que de fato é problema seu.
A religião pode te ajudar indicando o caminho, e até uma boa limpeza e equilíbrio espiritual podem te fazer um grande bem, mas da sua vida quem cuida é você.
Vejo que muitas pessoas procuram uma tecla em sua vida chamada “control facilidade” ou “shifit tudo pronto” isso não existe, não há passes de mágica na vida, a vida é real, dura e difícil para quem não deseja lutar por seus objetivos.
Muitas pessoas procuram o Candomblé com a sensação de que dentro de uma Casa de Orixá ela vai encontrar solução para o problema que ela própria criou em sua vida, que a solução é simplesmente fazer um ebó ou uma oferenda.
Esses ainda não entenderam que precisam de esforço e de trabalho para conseguir o que desejam.
Os Orixás ajudam, isto é certo, mas sem sua própria colaboração sua vida pára, tudo acaba, fica sem cor.
E em inúmeras vezes acabam vítimas de pessoas menos habilitadas que se aproveitam de sua fraqueza. Neste ponto começa meu questionamento e sempre pergunto ao Yaô.
Devemos viver “Para o Candomblé”, “De Candomblé” ou “O Candomble”?.
Cada uma destas perguntas leva a pensamentos diferentes e visões de mundo diferentes.
As questões abaixo, são d eminha inteira responsabilidade e são apenas as minhas visões de mundo. Não sou nem quero ser ditador de normas, apenas exponho minhas idéias, meu modo de pensar a religião.
Viver para o Candomblé – A pessoa tem a vida resumida a religião, pensa e vive a religião, se dedica ao culto como se isso fosse sua tábua de salvação, geralmente acabam cobrando dos outros a mesma dedicação ou submissão que eles tem com a religião, se tornam na maioria das vezes pequenos tiranos, impondo suas normas e desejos.
O fazem não por consciência, mas por acharem que essa é a única forma de viver na religião, dedicação exclusiva e integral. Geralmente tem problemas com os membros da comunidade que tem uma vida fora da religião com filhos, companheiros, trabalho, estudos, enfim, uma vida social.
Viver de Candomblé – Qualquer mercador seja ele comerciante ou “Zelador mercantilista” pode viver de Candomblé desde que tenham como finalidade única o ganho financeiro nesta relação. (A diferença é que mercador/lojista tem uma finalidade clara e necessária, vender mercadorias, já o “Zelador mercantilista” nem sempre). Nestes casos os desavisados que procuram a tal tecla “control facilidade” devem ter muito cuidado, pois são alvos fáceis para o mercador de ilusões.
E são banhos, Boris e oferendas de todo tipo, quase sempre dispendiosas e desnecessárias.
O “Zelador mercantilista” é um tipo que tem se proliferado e causado danos a religião, que na sua maioria é formada por pessoas honradas e de bom coração.
Viver De Candomblé, é possível e muitas vezes necessário ao desempenho de tantas funções que demandam a presença constante do Zelador na Casa de Orixá, porém com respeito a religião e as pessoas.
Viver o Candomblé – Nesta lista estão as pessoas que conseguem diferenciar o Candomblé das suas obrigações diárias, das suas necessidades financeiras e de tudo mais que faz parte das necessidades da pessoa.
Não utilizam a religião para ganhos pessoais e não fazem ebós e oferendas desnecessárias.
Estes encontraram o caminho do equilíbrio e vivem de acordo com os preceitos básicos do Candomblé. Isto não é fácil, o aprendizado é longo e diário e é um grande compromisso com a vida religiosa.
Aos Yaôs com os quais tive a honra de conversar eu fiz meu alerta e cabe a eles encontrarem seus caminhos, que podem não ser nenhum dos que citei, afinal são minhas idéias e minhas visões de mundo, que são diferentes das suas que está me lendo, avaliando minhas visões de mundo e criticando bem ou mau, concordando ou não.
Mas o que peço aos mais velhos de nossa Religião é que mostrem aos mais novos de suas Casas as suas visões de mundo e suas idéias, os valores do Candomblé e a hierarquia, as regras e principalmente os orientem, conversem com seus irmãos, os protejam.
Façam sua parte de mais velho.
FONTE:http://blog.ori.net.br/?p=419
O que é a mistura?
E o mais complicado de tentar explicar em palavras.
O que é a tradição?
Mas porque então falar sobre misturas e tradições, se de ante mão reconheço que as misturas sempre existiram na nossa tradição religiosa de matriz afro, e a própria tradição religiosa em nosso Pais é fruto de diversas misturas de crenças e de Axés?
Porque eu creio que todos, abiã e/ou yaô, ou mesmo aqueles indivíduos que simplesmente frequentam uma Casa de Axé, merecem um mínimo de respeito e clareza na condução/orientação de sua religiosidade por parte de seus Líderes Religiosos.
É natural que sujam dúvidas quando eles se deparam com liturgias ou ritos praticados em outras Casas. As trocas de informações acerca da religião são comuns hoje em dia, num mundo cada vez mais globalizado.
E aí surgem perguntas difíceis de serem respondidas se não nos baseamos na tradição do nosso Axé, naquilo que era ou é feito nas nossas Casas Matriz.
E como então se pode responder a perguntas difíceis se a tradição religiosa não é mantida na Casa?
Se a mistura desenfreada e desmedida é o valor para medir o sucesso de um Zelador?
O que vemos hoje é que as misturas cada vez mais se solidificam em certas Casas de Axé, que pelo fato de estarem fortemente enraizadas e presentes na sociedade religiosa, estas misturas acabam sendo aceitas como algo que faz parte do candomblé. Quando na verdade não é. E deveriam ser questionadas sempre.
Há diversos textos de diversos autores que versam sobre este tema: Tradição. Mas me pareçe que a força da mistura é bem maior que os bons gestos em defesa da tradição. É com certeza mais fácil fazer aquilo que agrade e traga prestígio imediato do que manter-se fiel a uma raíz e uma tradição.
O problema é que há prós e contra em toda esta luta titânica por manutenção do pouco que resta de tradição e tentativa de separar aquilo que é simplesmente uma mistura que empobrece.
E o pouco interesse dos filhos/público em geral em conhecer de fato a religiosidade tradicional de uma Casa de Axé. Dando espaço ao folclórico, ao caricatural e descaracterizado desde que isso lhes resolva os problema imediatos de faltas ou carencias ou necessidades pessoais.
Se são tradicionais ou simples misturas de bolo, isso não importa ao suplicante (de milagres baratos), lhe basta o resultado.
Mas, seguindo esta linha, quero citar o caso dos exus e pombagiras (“catiços”) no candomblé. Estes, sem nenhum demérito, são exus pertencentes à umbanda. Mas que tem sido tão amplamente cultuados hoje em dia e com o mesmo, e por diversas vezes até com mais status que o culto ao Orixa em algumas Casas de Axé, que algumas pessoas estão dando a estas práticas uma roupagem de tradicional e verdadeira dentro do candomblé. Quase não conseguimos mais diferenciar o tradicional do que é sincrético/mistura.
Mas até aonde esta prática é válida ou aceitável ou benéfica para uma comunidade Terreiro e até onde esta prática descaracteriza o culto principal seja Umbanda ou Candomblé? Isso só mesmo cada Casa é capaz de refletir e ter seu próprio valor a respeito, não nos cabe julgar.
Meu foco está na desinformação e descaracterização que muitas vezes é feita sob medida para “agradar a todos” e com isso abrir novos mercados de fé. Misturas, como eu falei antes, sempre ocorreram e sempre ocorrerão, e podemos afirmar que são saudáveis e necessárias em muitos casos. Mas, voltando ao principal deste texto, os filhos desamparados destas misturas.
Mas, e quando estas práticas, de tão descaracterizadas ou sincréticas ou feitas por encomenda, não podem ser devidamente esclarecidas à comunidade por falta de base religiosa que as sustente no mundo da tradição?
Quando não se tem argumento claros que expliquem certas práticas, como as citadas acima. Ocorrem equívocos como os que vemos diariamente com pessoas que acham que todos tem que ter um exu catiço e cultuá-lo em detrimento do orixá. Ou que tudo se resume em agradar pombagiras. Perde-se o contato com o Orixa e com sua essencia pessoal.
Outro ponto que tem sido muito discutido e debatido sobre a manutenção da tradicão é a questão das casas em sua maioria usar o dialeto yorubano apesar de não pertencerem a nação ketu.
Não que o dialeto seja propriedade exclusiva, mas é ele quem distingue um segmento do outro, e é ele que identifica sua origem. Quando uma Casa Bantu se refere ao seus Deuses como Orixas, isso indica um alto grau de mistura e consequente perda da cultura primitiva daquela Casa. E em muitos casos fica latente a falta de conhecimento da cultura a qual se dizem pertencer.
O ketu é a nação que mais se difundiu por ter se aberto aos estudiosos e permitido publicações, o que por um lado é positivo e por outro é invasivo demais, por isso suas terminologias e vocabulário são mais utilizados, mas isso não é desculpa para não utilizar o vocabulário aprendido com os ancestrais e esquecer a tradição de cada Casa.
Como já expressei algumas vezes, existem diferenças culturais entre os segmentos, e considerar que todas as divindades são iguais e todas as nações são iguais, e que só muda a língua, é julgar uma nação com a ótica da outra, o que pode ser considerado um genocídio cultural e tradicional.
Se é para considerarmos que é tudo igual, que tudo pode ser misturado e pasteurizado, então voltemos ao sincretismo…Iansã volta a ser Santa Bárbara e desperdicemos mais uma vez a oportunidade de utilizar nossa liberdade de expressão, como povo do Axé e como nação que lutou para que um legado chegasse a nós.
Se é tudo igual toquemos todos com aguidavi, esqueçamos o kimbundo, o kikongo, esqueçamos os caboclos, apaguemos da história o nosso contato com os indígenas e as folhas que os angolanos aprenderam a utilizar antes dos yorubás, esqueçamos as nossas raízes e de onde viemos.Tanto da cultura Kongo-Angola já se perdeu nesses 510 anos, esses pequenos resquícios a gente pode esquecer fácil em uns 50 anos, se começarmos agora mesmo.
É verdade que muito se aprendeu entre nações, mas é preciso se autoconservar, o fato de estarmos em constante contato com uma nação não nos faz pertencer a ela, nem nos obriga a parecer com ela nem usar as mesmas ferramentas lingüísticas e rituais.
Somos filhos de orixá/inkisse/ou vodun, de acordo com um jogo de búzios que prevê essa diferenciação. Se tudo fosse igual o jogo de búzios não faria diferenciação.
Essa história de “aprendi misturado e vou continuar misturado” é desculpa, casas tradicionais ainda existem, busquemos beber nessas fontes.
Fazer uma análise crítica e necessária. Imagine se Mãe Stela não tivesse tido a idéia de combater o sincretismo, até hoje estaríamos todos louvando nossos deuses nas datas sincréticas.
E se não houvesse um santo católico com o que o orixá se sincretizasse ?
Ele não ia ter festa?
Não seria louvado?
Só vejo as pessoas indo mudar de águas, ninguém busca se aprofundar na mesma raiz?
Eu só vejo falarem: Porque minha raiz é essa ou aquela, raiz não diz quem é cada um, porque cada cabeça é um mundo e o que vemos é cada zelador fundando um culto separado da realidade da casa onde seu orixá/inkisse/vodum nasceu.
Muitas vezes recebem o deká, fazem o primeiro filho de santo e nunca mais voltam na Casa de sua mãe porque nunca se deram bem com o zelador (a), uma pessoa dessas se baseia em quê para dar seguimento a um axé? Só no orixá/inkisse/vodum?
E os fundamentos?
De onde ele tira os conhecimentos?
E quando surge uma dúvida?
Muda de águas??
Aí descobre pelo jogo do novo pai ou mãe de outra nação que fez um monte de filho errado, porque será?
Já vimos casos assim.
O que mais posso dizer?
Muitas vezes me sinto atirando pedra em telhado de vidro, porque fui iniciada numa casa que não é tradicional, e só fui percebendo isso depois, mas também consigo perceber hoje uma evolução no sentido de se recuperar o que foi perdido, principalmente o vocabulário, as rezas, as celebrações. Percebo que mesmo não sendo de uma raíz famosa é possível buscar conhecimento junto aos mais velhos em casas tradicionais, basta ter humildade que é algo que muitos poucos zeladores(as) têm.
Então venho nesse texto pregar isso: HUMILDADE, busquemos aprender o axé de nossa raíz, o nosso vocabulário, e passemos a usar um olhar mais crítico sobre nossas atitude, chega de perpetuar a cultura alheia, valorizemos a nossa.
AXÉ
Este texto é um híbrido entre um texto de minha autoria e uma grande parte de um texto publicado no blog ocandomblé. Credito à Carol de Matamba, ex colaboradora do blog ocandomblé.
fonte:http://blog.ori.net.br/?p=833
OS IRUNMALÉS parte 2
by tomeje
Sociedade Educacional Sul-Rio-Grandense FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS – FAPA DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Hendrix Alessandro Anzorena Silveira Turma 1221 Monografia apresentada a FAPA como requisito parcial à aprovação na disciplina de História Antiga II.
Orientadora: Profª Marise Hoff Failace
A Cultura Religiosa Dos Iorubás Do Surgimento à Diáspora
Porto Alegre 2004
Parte 2
OS IRUNMALÉS
1.2.2.3. Divindades dos rios
É interessante notarmos como os povos antigos sempre cultuaram, como divindades ligadas à fecundidade, deusas de rios. Enquanto que o touro era cultuado como símbolo fecundador, por isso o seu sacrifício sobre a terra a ser semeada, o peixe é o símbolo da procriação, da multiplicidade e da filiação.
A mulher, como ser que é fecundada e cujo fruto dessa fecundação é uma nova vida, está sempre ligada à fertilidade e a geração de vidas. Ora, isso não passou despercebido pelos africanos, daí os iorubás possuírem várias deusas de rios ligadas à fertilidade tanto dos animais quanto dos seres humanos.
Entre elas temos Oiá, a senhora da tarde, dona dos espíritos, carregadeira de ebó (alimento), senhora dos raios e tempestades. Ela é a deusa do rio Níger e tem o apelido de Iansã (iyá = mãe / mesan = nove) em alusão aos nove braços do delta desse rio. Diz-se que ela teve nove filhos, outra explicação para o apelido.
Oiá foi uma princesa real na cidade de Irá, na Nigéria. Sobrinha-neta do rei Elempe, e neta de Torôssi (mãe de Xangô), conquistou com valentia, coragem e dedicação seu caminho para o trono de Oió. Conhecedora de todos os meandros da magia encantada, Oiá nunca se deixou abater por guerras, problemas ou disputas. Nobre guerreira, jamais tripudiou sobre inimigos e rivais vencidos.
Foi mulher de seu primo Xangô, e ajudou-o a conquistar os reinos que foram anexados ao império iorubá. Porém, quando ele tentou invadir Nupe e Tapa, onde Oiá havia nascido, ela o abandonou e postou-se na entrada daquelas cidades disposta a enfrentá-lo. Como nem mesmo Xangô ousou desafiá-la, ninguém passou.
Oiá é a menina dos olhos de Orixanlá, seu protetor, e é a única divindade que entra no Balé de Egum (casa dos mortos), por seu poder e onisciência.
Outra deusa de rios, Obá é a senhora das ilhas e penínsulas e foi a terceira mulher de Xangô, e sua lenda fala de uma terrível rivalidade entre ela e Oxum, a segunda esposa. Sabendo do apetite de seu marido, procurava sempre surpreendê-lo com pratos de que gostasse. Um dia, Oxum resolveu pregar uma peça em Obá, e apareceu usando um lenço
enrolado em volta da cabeça, escondendo as orelhas. Disse que havia preparado suas orelhas numa receita muito especial, e servido a Xangô. Querendo agradar seu esposo, Obá resolveu imitar a rival. Cortou uma de suas orelhas e preparou a receita a Xangô. Ele ficou furioso, e Obá, percebendo que havia sido enganada, entrou numa violenta luta corporal com Oxum.
Mais irritado ainda, Xangô fez explodir todo o seu furor. As duas mulheres, apavoradas, fugiram e se transformaram nos rios que levam seus nomes. No ponto onde os dois rios se encontram, existem corredeiras e as ondas se agitam, numa lembrança da antiga disputa entre as divindades.
Obá é a mais velha dos eborás femininos. Ele teria sido a primeira esposa de Ogum, que, posteriormente, o teria abandonado por Xangô.
Deusa do rio de mesmo nome, Oxum carrega consigo predicados de beleza, riqueza e a capacidade de proteção social. É uma ninfa da cultura iorubá, cuja cidade, Oxogbô, na Nigéria, está localizada às margens desse rio. Ela é a dona do ovo, a maior célula viva.
Diz a lenda que ela era a segunda mulher de Xangô, tendo vivido antes com Ogum, Orunmilá e Odé. Seu pai teria sido Orixanlá. Mulheres que desejam ter filhos costumam fazer seus pedidos a Oxum.
Conta-se que quando os irunmalés chegaram a terra, costumaram reunir-se sem a presença das mulheres. Aborrecida por não poder participar das deliberações, Oxum preparou sua vingança, trazendo a esterilidade às mulheres, e impedindo que os objetivos dos deuses fossem alcançados. Os irunmalés buscaram então a ajuda de Olodumare, que lhes explicou que sem a presença de Oxum nada poderia dar certo. Dengosa, ela demorou a aceitar o convite para que participasse das reuniões, mas finalmente concordou, e a fecundidade voltou.
Filha de Olocum, a senhora dos oceanos, Iemanjá é a deusa do rio Ogun (não o eborá). Diz a lenda, foi casada com Oduduá, homem poderoso com quem teve dez filhos. Um dia, cansada de sua permanência em Ifé, foge na direção oeste, levando consigo uma garrafa que havia ganho certa vez de sua mãe, contendo um misterioso preparado, a qual ela deveria quebrar jogando ao chão quando estivesse em perigo.
Iemanjá instalou-se em Abeocutá. O marido lança seu exército em sua busca com o objetivo de trazê-la de volta a Ifé. Quando se vê cercada, ela não se entrega, mas segue os conselhos de Olocum e quebra a garrafa. Imediatamente forma-se um rio, que a leva para ocum, o mar, morada de Olocum.
A lenda acima é, com certeza, a representação mitológica de um fato histórico.
A nação egbá vivia na região de Ifé, próximo ao rio Iemanjá, e foram expulsos de lá por Oduduá. Eles, então, migraram de Ifé a Abeocutá, levando os assentamentos da deusa, se estabelecendo às margens do rio Ogun, no bairro de Ibará.
Deusa dos pântanos, Nanã Burucu representa a memória ancestral da humanidade préhistórica. A mais antiga das divindades vindas do oeste.
Verger (1997: 236) dá uma série de pistas sobre a provável origem dessa deusa que chegou a ocupar a posição de ser supremo entre os achanti, no atual Gana. Esta posição, ostentada e perdida mais tarde para Orixanlá, é, provavelmente, um resquício cultural da época em que os africanos respeitavam a linhagem matriarcal de família. Daí ela representar a memória transcendental do ser humano e o acervo das reações pré-históricas de nossos antepassados.
Na liturgia dos sacrifícios a essa divindade, não se pode utilizar objetos feitos de metal (facas, por exemplo), pois isso é uma restrição. Mais um pressuposto para a crença de que essa divindade é anterior a idade dos metais desenvolvida nessa região.
Como todas as divindades femininas, Nanã Burucu está ligada à água. As águas paradas e pântanos lhe pertencem, numa referência às águas primordiais de onde Obatalá criou os seres humanos.
1.2.2.4. Divindades originárias do oeste
Devido às diversas guerras eclodidas entre os iorubás e os jejes10, do Daomé (hoje Benin, Togo e parte do Gana), houve aculturações e sincretismos religiosos entre essas etnias africanas. Os daomeanos importaram os deuses iorubás modificando apenas seus nomes (tal qual os romanos sobre os gregos), mas a cultura iorubá também adotou alguns deuses daomeanos por não possuírem semelhante em sua cultura. Também mudaram os nomes desses deuses, conservando suas características.
Já conhecemos dois deles, Xapanã e Nanã Burucu, que, por terem características mais semelhantes a outros deuses, os classifiquei de forma diferente.
Entre os deuses do Daomé, temos a grande serpente do arco-íris, símbolo da aliança entre os homens e a eterna paz dos deuses, Oxumaré é, segundo Verger (1997: 206), o orixá da riqueza. Mitologicamente seria um hermafrodita, macho e fêmea em um só corpo, um servidor de Xangô, que teria a função de recolher a água caída sobre a Terra e levá-la de volta às nuvens.
Originário do Daomé é o deus conhecido pelos fons como Dan ou Bessen. Simboliza o movimento, a atividade, a continuidade e a permanência. Às vezes é representado por uma serpente enroscada que morde a própria cauda. Outras, como uma serpente que envolve toda a Terra, como se, com sua força, impedisse a desagregação do planeta.
Assim como Iemanjá e Oxum, Euá também é uma divindade feminina das águas e, às vezes, associada à fecundidade. É reverenciada como a dona do mundo e dona dos horizontes.É a deusa do rio Eua. Apesar disso não a incluí na categoria anterior porque sua ligação com os rios é secundária e quase despercebida.
Em algumas lendas aparece como a esposa de Oxumaré, como sua metade mulher, pertencendo a ela a faixa branca do arco-íris. Em outras ele é esposa de Xapanã.
Eborá que protege as virgens e tudo o que é inexplorável, Euá tem o poder da vidência. Senhora do céu estrelado rainha do cosmos, ela está no lugar onde o homem não alcança. É representada pelo raio do sol, pela neve, pela saliva. Seu símbolo é o arco e flecha dourado, assim como o arpão, uma espingarda ou uma serpente de metal. Uma deusa de muitos mistérios, pouco se sabe a seu respeito.
10 O termo jeje (pronuncia-se gêge) é originário da língua iorubá, e quer dizer estrangeiro. Os iorubás consideravam como jejes os fons, euês, achantis, adelês, gens, huedas, mahis, etc.
De tudo o que estudamos até aqui, nota-se um relacionamento vigoroso entre os iorubá e os elementos que constituem o mundo natural.
Como vimos anteriormente, o transcendente e o imanente estão ligados. O símbolo dessa ligação é a árvore, pois suas raízes bem fincadas na terra, adentram o mundo dos mortos, enquanto que sua copa vagueia pelo espaço inatingível.
É evidente, então, que existam seres imateriais que habitam essas árvores, ou mesmo que sejam elas.
Iroco é partícipe do culto ancestral feito às árvores sagradas (Iroko, Apaoka, Akoko, etc). É o eborá da floresta, das árvores, do espaço aberto; por extensão governa o tempo em seus múltiplos aspectos. É cultuado pelos mahis com o nome de Locô.
É referido como “eborá do grande pano branco que envolve o mundo”, numa alusão clara às nuvens do Céu. As árvores nas quais Iroco é cultuado normalmente são de grande porte; são enfeitadascom grandes laços de pano branco e ao pé dessas árvores são colocadas suas oferendas.
Jamais uma dessas árvores pode ser derrubada sem trazer sérias conseqüências para a comunidade. No culto aos vodum, Locô ocupa lugar destacado, comparado somente a Lissá (vodum equivalente a Orixanlá) e Dan (Oxumaré). Iroco é invocado em questões difíceis, tais como desaparecimento de pessoas ou problemas de saúde, inclusive a mental.
1.2.2.5. Outras divindades
Alguns eborás, por serem ligados a uma cidade ou ao coletivo, recebem tratamento especial, tendo sacerdotes e rituais específicos. Desses explicitarei apenas aqueles cuja cultura se transpôs ao Brasil na época da escravatura.
Entre esses eborás temos Exu, que pertence tanto aos irunmalés da direita quanto aos da esquerda, pois serve de veiculação da força imaterial divina, o axé, entre os orixás e os eborás, “intercomunicando todo o sistema”. (SANTOS, 1986:75) Por isso ele é sempre o primeiro a ser cultuado nos rituais. Os sacrifícios e oferendas devem ser sempre feitas primeiro a ele. A não observância desse dogma pode gerar diversos distúrbios provocados pelo próprio.
Exu é um dos únicos (se não o único) eborá que aparece nos rituais de todos os povos da África antiga e mesmo em outras culturas que nada tem a ver com as culturas africanas. Também é chamado de Elegbará, o senhor da vida.
É a divindade da procriação, portanto da vida, e rege a fertilidade e a libido.
É Exu quem permite que se possa extrair todo o prazer do amor. É, para as religiões africanas, o executor da ordem divina: “crescei e multiplicai-vos”. É o mensageiro dos irunmalés, é ele quem leva as súplicas dos seres humanos ao orum e traz as ordens e bênçãos dos deuses. Tal qual o deus Hermes da mitologia grega, ou Mercúrio da Romana.
Exu é a liberdade, a procriação, o orixá do culto à beleza. Autêntico, verdadeiro, objetivo e flexível, através dos tempos e das culturas este orixá se manifesta de diferentes formas, em muitas lendas.
Uma delas conta que uma mulher se encontra no mercado vendendo seus produtos. Exu põe fogo na sua casa, ela corre para lá, abandonando seu negócio. A mulher chega tarde, a casa está queimada e, durante esse tempo, um ladrão levou as suas mercadorias. Isso não teria acontecido se ela tivesse feito a Exu as oferendas e sacrifícios usuais.
Legba é Exu entre os fons, assim como Bombogiro entre os bantus de Angola.
Segundo as lendas antigas, Oduduá, após dominar Ifé, mandou seus filhos conquistarem as regiões vizinhas a fim de formar vários reinos ligados ao seu próprio. Assim Ogum fez, e lutou em vários lugares trazendo o espólio das batalhas como presente para seu pai.
Numa dessas ocasiões, trouxe uma donzela tão linda que ele mesmo não resistiu e a possuiu. Com medo, não falou nada a seu pai, Oduduá. Este, quando viu a beleza da moça, ficou perturbado e a possuiu naquela noite. O fruto desse triângulo amoroso é Oraniam, que possuía uma característica muito pitoresca. Ele era metade branco e metade preto. Ora, Ogum era um homem negro, enquanto que Oduduá tinha a pele branca (provavelmente albino).
Oraniam se tornou um grande guerreiro e conquistou Oió, tornando-se o primeiro Alafin-Oió, o rei de Oió. Teve dois filhos: Dadá Ajacá e Xangô, de quem estudaremos agora. Orixá da justiça e do fogo, Xangô é o terceiro Alafin-Oió, e viveu em 1450 a.C., destacando-se pela sua valentia e liderança. Foi marido de Oxum, Obá e Iansã. Castiga mentirosos, infratores e ladrões. Por isso a morte pelo raio é considerada infamante, assim como uma casa atingida por uma descarga elétrica é tida como marcada pela ira de Xangô.
O xerê é um chocalho feito de porongo alongado, que quando agitado lembra o barulho da chuva, é um dos símbolos de Xangô. Outro símbolo bem conhecido é o oxé, um machado de duas lâminas que deixava Xangô muito poderoso.
Garboso, ele é conhecido também como o “dono das mulheres”. Ele é filho de Oraniam e tem Tobôssi como mãe. Tobôssi era a filha de Elempê, rei dos Tapás, aquele que havia firmado uma aliança com Oraniam. Xangô cresceu no país de sua mãe, indo instalar-se, mais tarde, em Kossô, onde os habitantes não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-se para Oió, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Obá Kossô (rei de Kossô).
Dadá Ajaká, irmão mais velho de Xangô, reinava em Oió. Descontente com a forma que seu irmão conduzia a administração da cidade, Xangô destronou-o, exilando-o em Igboho.
Assim começou a história de um poderoso rei que anexou todo o oeste da Nigéria ao Império Iorubá.
OS IRUNMALÉS Parte 1
by tomeje
Sociedade Educacional Sul-Rio-Grandense FACULDADE PORTO-ALEGRENSE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS – FAPA DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Hendrix Alessandro Anzorena Silveira Turma 1221 Monografia apresentada a FAPA como requisito parcial à aprovação na disciplina de História Antiga II.
Orientadora: Profª Marise Hoff Failace
A Cultura Religiosa Dos Iorubás Do Surgimento à Diáspora
Porto Alegre 2004
Parte 1
OS IRUNMALÉS
Para os iorubás a existência transcorre simultaneamente em dois planos: no aiê e no orum. O aiê é o mundo material, palpável, onde vivem os ara-aiê, os seres naturais. Orum é o mundo imaterial, transcendente, onde vivem os ara-orum, os seres sobrenaturais.
Quanto ao orum, Juana dos Santos é insistente: (…) o espaço òrun compreende simultaneamente todo o do àiyé, terra e céu inclusos, e conseqüentemente todas as entidades sobrenaturais, quer elas sejam associadas ao ar, à terra ou às águas, e que todas são invocadas e surgem da terra. É assim que os àra-òrun são também chamados irúnmalè
(…) (SANTOS, 1986:72)
É no orum que se encontra Olodumaré (ou Olorum, Obá-orum, etc.), o deus supremo dos iorubás e detentor dos poderes que possibilitam e regulam toda a existência, tanto no orum como no aiê. Esses poderes foram transmitidos para os irunmalés, de acordo com suas funções.
Os irunmalés são divididos em dois grupos: os quatrocentos irunmalés da direita e os duzentos irunmalés da esquerda. Os números assinalados não significam, para os iorubás, números regulares, limitados, mas sim, que o número duzentos represente, simbolicamente, um número grande e o quatrocentos um número muito grande.
O sentido utilizado para “direita” e “esquerda” é muito profundo e exige um estudo pormenorizado que não caberia neste trabalho. A obra de Juana dos Santos é excepcional e indispensável para essa compreensão.
1.2.1. Os quatrocentos irunmalés da direita: os orixás funfun
Os quatrocentos irunmalés da direita são os orixás, não os orixás como são conhecidos no Brasil, mas sim um grupo mais restrito. Seriam os orixás funfun, ou orixás do branco, mais conhecidos no Brasil como Oxalás. Na África são chamados Orixanlá (grande orixá), Obatalá (rei do pano branco), ou ainda Obarixá (rei dos orixás). São divindades relacionadas à criação do mundo e dos homens. Um mito iorubá conta como se realizou essa façanha.
Olorum-Olodumaré encarregou Obatalá, o senhor do pano branco, de criar o mundo.
Para isso lhe entregou o “saco da criação”. Obatalá foi consultar Orunmilá, que lhe recomendou fazer oferendas para ter sucesso na missão. Mas obatalá não levou a serio as prescrições de Orunmilá, pois acreditava somente em seus próprios poderes.
Oduduá, o irmão mais novo, observava tudo atentamente e naquele dia também consultou Orunmilá. Orunmilá assegurou a Oduduá que, se ele oferecesse os sacrifícios prescritos, seria o chefe do mundo que estava para ser criado. Oduduá fez as oferendas.
Chegado o dia da criação do mundo, Obatalá se pôs a caminho até a fronteira do além onde Exu é o guardião e não fez as oferendas nesse lugar, como estava prescrito. Exu ficou muito magoado com a insolência e usou seus poderes para se vingar de Oxalá provocando-lhe uma grande sede. Obatalá aproximou-se de uma palmeira e tocou seu tronco com seu bastão fazendo jorrar vinho em abundância, que bebeu até embriagar-se, adormecendo na estrada, à sombra da palmeira de dendê. Quando se certificou do sono de Oxalá, Oduduá apanhou o saco da criação e foi a Olodumaré lhe contar o ocorrido. Olodumaré viu o saco da criação em poder de Oduduá e confiou a ele a criação do mundo.
“Com quatrocentas mil correntes Oduduá fez uma só e por ela desceu até a superfície de ocum, o mar. Sobre as águas sem fim, abriu o saco da criação e deixou cair um montículo de terra. Soltou a galinha de cinco dedos e ela voou sobre o montículo, pondo-se a ciscá-lo. A galinha espalhou a terra na superfície da água. Oduduá exclamou na sua língua: ‘Ilê nfé!’, que é o mesmo que dizer ‘a terra se expande!’, frase que depois deu nome à cidade de Ifé, cidade que está exatamente no lugar onde Oduduá fez o mundo. Em seguida Oduduá apanhou o camaleão e fez com que ele caminhasse naquela superfície, demonstrando assim a firmeza do lugar. Obatalá continuava adormecido. Oduduá partiu para a Terra para ser seu dono”.6
Obatalá despertou e, tomando conhecimento do ocorrido, voltou até Olodumaré contando sua história. Olodumaré, para castigá-lo, proibiu-o de beber vinho-de-palma, ele e todos os seus descendentes. Mas Olodumaré deu outra missão a Obatalá: a criação de todos os seres vivos que habitariam a Terra. E assim Obatalá criou todos os seres vivos. Ele modelou em barro os seres humanos e o sopro de Olodumaré os animou. O mundo agora se completara e todos louvaram Obatalá
No próximo capítulo veremos que Oduduá é o ancestral dos reis iorubás.
“os orixás funfun seriam em número de cento e cinqüenta e quatro”. Estes orixás são cultuados, cada um, em uma cidade diferente, onde ele pode ser o padroeiro dessa cidade, ou um orixá secundário. Entretanto, mesmo não sendo o padroeiro da cidade ou comunidade, ele tem grande importância graças a sua relação com a criação, mantendo, assim, uma posição de destaque, possuindo um ritual próprio e sacerdotes próprios também.
Desenvolveram-se rituais muito semelhantes para estes orixás nas diferentes cidades em que se apresenta, o que nos leva a crer que, na verdade, estes orixás são os desdobramentos de um único orixá (Orixanlá) cultuados em diferentes locais, e não divindades diferentes.
Como divindades do branco, tudo o que for branco lhes pertence. Só se vestem com essa cor e seus pertences são marcados com pintas brancas. Os albinos, por terem a pele branca, são também consagrados a este orixá.
Com raríssimas exceções, estes orixás se apresentam como sendo muito velhos, lentos e sábios. Como todas as culturas antigas, existe também na África um grande respeito pelos mais idosos, graças a relação com a ancestralidade, cosmovisão que se evidencia na representação da maior divindade do panteão iorubá.
São representantes do poder fecundador masculino, sendo considerados os pais da humanidade. Também são considerados como pais dos duzentos irunmalés da esquerda.
Então concluímos que os orixás funfun são os grandes senhores deste mundo (aiê) e do outro também (orum).
Suas oferendas são constituídas por alimentos brancos ou claros. Os animais oferecidos em sacrifício são também de pelagem ou penugem branca. É muito utilizado como oferenda o igbin, um caracol grande muito comum na região.
Verger nos conta que, em Ifé, a Meca dos iorubás, são sacrificadas duas cabras para Orixanlá e Iemouô, sua única esposa – o que ressalta aqui é que os africanos são poligâmicos. A primeira cabra, após os procedimentos litúrgicos, é cozida e distribuída a todos os participantes, já a segunda sofre um tratamento diferente. “Antigamente era um ser humano que devia ser sacrificado”8, por isso evita-se tocar no animal que, após a imolação, é arrastado com uma forquilha e jogado no mato. Comer a carne desta cabra seria atrair para si uma maldição, e também seria antropofagia.
A cidade de Ejigbô, também tem um ritual específico para Orixanlá, aqui chamado de Orixá Oguian – Oxanguiã no Brasil. Este orixá é muito específico, pois, ao contrário dos outros orixás, que são velhos e serenos, este é jovem e guerreiro. Seu nome deriva de òrìsàjiyán, “orixá-comedor-de-inhame-pilado”, segundo a lenda este orixá tem um apetite descontrolado por esta iguaria chamada ian em iorubá. Foi ele quem inventou o pilão para facilitar o seu preparo. Ele também é o fundador da cidade de Ejigbô e ancestral dos reis locais que ostentam o título de Elejigbô, o “Senhor de Ejigbô”.
Este orixá funfun é considerado o deus da cultura material, pois teria ensinado Ogum a lutar e a fazer as ferramentas de ferro, da mesma forma que o ensinou o cultivo da terra.
Orunmilá é outro dos orixás funfun que tem particularidades bem diferenciadas dos demais. Possui as mais altas posições no panteão iorubá. Orunmilá é o deus da adivinhação. Ele conhece todos os destinos dos homens. Um itan (mito) conta como ele adquiriu esse conhecimento.
Obatalá reuniu as matérias necessárias à criação do homem e mandou convocar seus irmãos orixás. Apenas Orunmilá apareceu por isso Obatalá o recompensou. Permitiu que apenas ele conhecesse os segredos da construção do homem. Revelou a Orunmilá todos os mistérios e os materiais usados na sua confecção.
Orunmilá tornou-se assim o pai do segredo, da magia e do conhecimento do futuro. Ele conhece as vontades de Obatalá e de todos os orixás envolvidos na vida dos humanos. Somente Orunmilá sabe de que modo foi feito cada homem, que venturas e que infortúnios foram usados na construção de seu destino.
O sacerdote de Orunmilá é denominado babalauô, o pai para tudo. Ele utiliza o oráculo de Ifá (Orunmilá) para conhecer o destino dos homens e mulheres que o procuram. Os iorubas não fazem viagens longas sem consultar antes o babalauô. Também o consultam para saber o sexo dos filhos antes de nascer, e qual o seu destino. Dependendo da resposta dada pelo oráculo, ele terá sua vida conduzida para se tornar um mercador, lavrador ou sacerdote, antes mesmo de seu nascimento.
Orunmilá é o “símbolo coletivo dos irunmalés”9, por isso não se manifesta em seus iniciados. Ele apenas comunica-se com eles através do oráculo, o jogo dos búzios.
1.2.2. Os duzentos irunmalés da esquerda: os eborás
Os duzentos irunmalés da esquerda são todas as outras divindades cultuadas pelos iorubás – Ogum, Oiá, Xangô, Oxumaré,… e Egum (ancestrais) – e são chamados de eborás.
Os eborás são divindades menores, intermediárias entre Olorum e os seres humanos. Alguns eborás são objetos de culto de toda uma cidade. Quando essa cidade tem um soberano, os eborás servem para reforçar a autoridade do líder, que pode ser um rei (Obá), um rico mercador (Balé) ou um chefe de aldeia.
Entretanto, a grande maioria dos eborás está intimamente ligado à noção de família.
A família numerosa, originária de um mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá (eborá) seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização. O poder, àse, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada.
Estes seres excepcionais não poderiam simplesmente morrer, mas sim, transcender a morte de forma que não sobrasse nem mesmo um corpo para ser enterrado. Esta é a grande diferença entre os eborás divindades e os eborás ancestrais.
Grosso modo, pode-se dividir o estudo dos eborás em pequenos grupos para melhor entendimento. Essa divisão se dá pelas similaridades de arquétipo e funções sociais dessas divindades.
1.2.2.1. Divindades da cultura material
Pode-se agrupar nessa categoria os eborás cujos cultos são indispensáveis para o bom andamento da vida cotidiana das pessoas. A agricultura foi a base da economia iorubá até meados do século XIX, quando descobriu-se petróleo na região. Desta feita divindades ligadas à agricultura tem grande destaque religioso.
Grande artífice da natureza, Ogum é o eborá que personifica o homem pré-histórico.
Ele é um dos pouquíssimos eborás cultuados por quase todo o território iorubá.
Ogum é desbravador, conquistador, guerreiro feroz e destemido. Foi o deus Orixá
Oguian quem lhe ensinou a lutar e a trabalhar com o ferro e com a agricultura. Mas foi Ogum quem entregou os segredos dessa cultura aos homens. Por isso ele é chamado de Ogum Alagbedé, o ferreiro. Ele confeccionava as ferramentas para poder cultivar a terra de formaque também ficou conhecido como o deus da agricultura, daí a importância desse eborá paratodos os povos de língua iorubá.
Segundo a mitologia iorubá, é o filho primogênito de Oduduá, fundador dos iorubás.
É considerado o mais ativo entre todos os eborás. Aliado poderoso, guerreiro feroz,
Ogum é líder, centralizador de poder e hábil estrategista.
A caça também é motivo para cultos específicos, pois esses povos viviam em florestas e caçar era um fator importante na economia de subsistência, assim como a pesca e a criação de animais (caprinos e ovinos).
Odé é o deus dos caçadores iorubás. Pede-se sua proteção quando o caçador se embrenha na floresta em busca do alimento. O povo iorubá é constituído por varias etnias que falam a mesma língua e possuem uma cultura semelhante, assim existem vários deuses da caça que estão diretamente relacionados às famílias que os cultuam ou às cidades.
Então temos: Oxossi em Queto, onde esse deus foi rei, recebendo o título de Alaketu; Ijá em Oió; Oré ou Oreluerê em Ifé; Otin em Inixá; Erinlé e Ibualama em Ilobu na região de Ijexá; Logunedé é o filho de Erinlé e Oxum Ipondá, seu culto tem lugar na cidade de Ilexá, também na região de Ijexá.
1.2.2.2. Divindades da saúde
Claro que toda civilização antiga possuía um ou mais deuses responsáveis, exclusivamente, pela saúde de seu povo. Entre os iorubás não foi diferente e percebemos dois eborás bem distintos, que não têm nada em comum a não ser o fato de serem cultuados esperando-se a saúde física e, subseqüentemente, a manutenção da vida.
Ossânim é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas. Segundo Verger (1997:122) “o nome das plantas, sua utilização e as palavras (ofò), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses iorubás”. Ele vive na floresta em companhia de Aroni, um anãozinho com uma perna só, que fuma constantemente um cachimbo feito de caracol.
Ossânim tem um sacerdote próprio denominado olossânim, senhor de Ossânim. É também chamado de Onixegum, curandeiro. Em Ifé, é Elisijé que ocupa o lugar de curandeiro.
Um fator importante é que os olossânim não entram em transe de possessão, eles adquirem a ciência do uso das plantas após uma longa aprendizagem.
O eborá Xapanã conhece os segredos da vida e da morte, por isso ele é chamado de Omolu, filho do senhor, ou Obaluaiê, rei dono da terra. É a divindade das pestes, da varíola, das doenças de pele. Tem o poder de afastar as doenças, mas também pode trazê-las.
Cobre-se com um manto de palha da cabeça aos pés, pois sua pele é coberta de chagas e feridas. Carrega consigo um cetro, semelhante a uma vassoura que se chama xaxará, feito de palitos de dendezeiro bordado com palha-da-costa e muitos búzios.
O vínculo de seu nome com as doenças faz deste Orixá o protetor da saúde daqueles que o cultuam e faz com que seja constantemente procurado para resolver problemas ligados a esta área. A origem desse eborá está ligado ao oeste, mais precisamente o Daomé, onde esse deus é cultuado sob o nome de Sakpatá. Assim como os iorubás, os daomeanos evitavam chamá-lo assim, preferindo invocá-lo como Ainon, que, como Xapanã entre os iorubás, significa Senhor da Terra.