A benção meu egbomi..
Foi durante uma conversa com um Yaô que eu percebi o quanto nossa gente está desamparada e o quanto alguns zeladores se omitem diante de questões do cotidiano religioso de suas casas e dos seus filhos de axé.
Por isso decido escrever.
Mas se tem coisa que gosto de fazer é conversar com Yaô e Abiã, desvirtuo todos, no melhor sentido que esta palavra “desvirtuar” pode oferecer ao crescimento da pessoa.
Certas “virtudes” muitas vezes só servem para criar pessoas sem o gosto por perguntar e questionar, ou melhor, questionar-se.
Por isso acho que sou meio subversivo para essas questões de educação, gosto de questionamentos.
Durante essa conversa com um Yaô eu fiz várias perguntas, coisas do tipo: Como está a casa onde você mora?
Os móveis te agradam, as cores das paredes estão de acordo com seu gosto?
E sobre sua vida pessoal?
Você é feliz com seu parceiro?
Você está realizado na sua profissão?
Está estudando no momento?
O Yaô me olhou como se estivesse diante de um louco, e me perguntou por que eu estava lhe fazendo aquelas perguntas, afinal ele estava ali para ser iniciado e estas perguntas não faziam parte de uma iniciação e muito menos faziam parte da educação religiosa?
Minha resposta foi.
Se você não está completo em algum destes itens, por favor, levante-se e vá resolver, não fique aqui pensando que religião vai resolver para você o que de fato é problema seu.
A religião pode te ajudar indicando o caminho, e até uma boa limpeza e equilíbrio espiritual podem te fazer um grande bem, mas da sua vida quem cuida é você.
Vejo que muitas pessoas procuram uma tecla em sua vida chamada “control facilidade” ou “shifit tudo pronto” isso não existe, não há passes de mágica na vida, a vida é real, dura e difícil para quem não deseja lutar por seus objetivos.
Muitas pessoas procuram o Candomblé com a sensação de que dentro de uma Casa de Orixá ela vai encontrar solução para o problema que ela própria criou em sua vida, que a solução é simplesmente fazer um ebó ou uma oferenda.
Esses ainda não entenderam que precisam de esforço e de trabalho para conseguir o que desejam.
Os Orixás ajudam, isto é certo, mas sem sua própria colaboração sua vida pára, tudo acaba, fica sem cor.
E em inúmeras vezes acabam vítimas de pessoas menos habilitadas que se aproveitam de sua fraqueza. Neste ponto começa meu questionamento e sempre pergunto ao Yaô.
Devemos viver “Para o Candomblé”, “De Candomblé” ou “O Candomble”?.
Cada uma destas perguntas leva a pensamentos diferentes e visões de mundo diferentes.
As questões abaixo, são d eminha inteira responsabilidade e são apenas as minhas visões de mundo. Não sou nem quero ser ditador de normas, apenas exponho minhas idéias, meu modo de pensar a religião.
Viver para o Candomblé – A pessoa tem a vida resumida a religião, pensa e vive a religião, se dedica ao culto como se isso fosse sua tábua de salvação, geralmente acabam cobrando dos outros a mesma dedicação ou submissão que eles tem com a religião, se tornam na maioria das vezes pequenos tiranos, impondo suas normas e desejos.
O fazem não por consciência, mas por acharem que essa é a única forma de viver na religião, dedicação exclusiva e integral. Geralmente tem problemas com os membros da comunidade que tem uma vida fora da religião com filhos, companheiros, trabalho, estudos, enfim, uma vida social.
Viver de Candomblé – Qualquer mercador seja ele comerciante ou “Zelador mercantilista” pode viver de Candomblé desde que tenham como finalidade única o ganho financeiro nesta relação. (A diferença é que mercador/lojista tem uma finalidade clara e necessária, vender mercadorias, já o “Zelador mercantilista” nem sempre). Nestes casos os desavisados que procuram a tal tecla “control facilidade” devem ter muito cuidado, pois são alvos fáceis para o mercador de ilusões.
E são banhos, Boris e oferendas de todo tipo, quase sempre dispendiosas e desnecessárias.
O “Zelador mercantilista” é um tipo que tem se proliferado e causado danos a religião, que na sua maioria é formada por pessoas honradas e de bom coração.
Viver De Candomblé, é possível e muitas vezes necessário ao desempenho de tantas funções que demandam a presença constante do Zelador na Casa de Orixá, porém com respeito a religião e as pessoas.
Viver o Candomblé – Nesta lista estão as pessoas que conseguem diferenciar o Candomblé das suas obrigações diárias, das suas necessidades financeiras e de tudo mais que faz parte das necessidades da pessoa.
Não utilizam a religião para ganhos pessoais e não fazem ebós e oferendas desnecessárias.
Estes encontraram o caminho do equilíbrio e vivem de acordo com os preceitos básicos do Candomblé. Isto não é fácil, o aprendizado é longo e diário e é um grande compromisso com a vida religiosa.
Aos Yaôs com os quais tive a honra de conversar eu fiz meu alerta e cabe a eles encontrarem seus caminhos, que podem não ser nenhum dos que citei, afinal são minhas idéias e minhas visões de mundo, que são diferentes das suas que está me lendo, avaliando minhas visões de mundo e criticando bem ou mau, concordando ou não.
Mas o que peço aos mais velhos de nossa Religião é que mostrem aos mais novos de suas Casas as suas visões de mundo e suas idéias, os valores do Candomblé e a hierarquia, as regras e principalmente os orientem, conversem com seus irmãos, os protejam.
Façam sua parte de mais velho.
FONTE:http://blog.ori.net.br/?p=419
Muito bom seu texto, parabéns!!!
ResponderExcluirIsso mostra que em nossa Religião ainda tem pessoas com discernimento e não vivem de enganar o outro.
Asé ooo!
Francisco Lima (Omó de Ayrá)