CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Por que o culto do orixá é chamado de CANDOMBLÉ?



Por que o culto do orixá é chamado de CANDOMBLÉ?


Em 1830, algumas mulheres negras originárias de Ketu, na Nigéria, e pertencentes a irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, reuniram-se para estabelecer uma forma de culto que preservasse as tradições africanas aqui, no Brasil.


Segundo documentos históricos da época, esta reunião aconteceu na antiga Ladeira do Bercô; hoje, Rua Visconde de Itaparica, próximo a Igreja da Barroquinha na cidade de São Salvador - Estado da Bahia.


Desta reunião, que era formada por várias mulheres, conforme relatei anteriormente, uma mulher ajudada por Baba-Asiká, um ilustre africano da época, se destacou:


- Íyànàssó Kalá ou Oká, cujo o òrúnkó no orixá era Íyàmagbó-Olódùmarè.


Mas, o motivo principal desta reunião era estabelecer um culto africanista no Brasil, pois viram essas mulheres, que se alguma coisa não fosse feita aos seus irmãos negros e descendentes, nada teriam para preservar o "culto de orixá", já que os negros que aqui chegavam eram batizados na Igreja Católica e obrigados a praticarem assim a religião católica.


Porém, como praticar um culto de origem tribal, em uma terra distante de sua ìyá ìlú àiyé èmí, ou a mãe pátria terra da vida, como era chamada a África, pelos antigos africanos?


Primeiro, tentaram fazer uma fusão de várias mitologias, dogmas e liturgias africanas. Este culto, no Brasil, teria que ser similar ao culto praticado na África, em que o principal quesito para se ingressar em seus mistérios seria a iniciação. Enquanto na África a iniciação é feita muitas vezes em plena floresta, no Brasil foi estabelecida uma mini-África, ou seja, a casa de culto teria todos os orixás africanos juntos. Ao contrário da África, onde cada orixá está ligado a uma aldeia, ou cidade por exemplo: Xangô em Oyó, Oxum em Ijexá e Ijebu e assim por diante.


Mas, por que esse culto foi denominado de CANDOMBLÉ?


Este culto da forma como é aqui praticado e chamado de Candomblé, não existe na África. O que existe lá é o que chamo de culto à orixá, ou seja, cada região africana cultua um orixá e só inicia elegun ou pessoa daquele orixá. Portanto, a palavra Candomblé foi uma forma de denominar as reuniões feitas pelos escravos, para cultuar seus deuses, porque também era comum chamar de Candomblé toda festa ou reunião de negros no Brasil. Por esse motivo, antigos Babalorixás e Yalorixás evitavam chamar o "culto dos orixás" de Candomblé. Eles não queriam com isso serem confundidos com estas festas. Mas, com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas.


A palavra Candomblé possui 2 (dois) significados entre os pesquisadores: Candomblé seria uma modificação fonética de "Candonbé", um tipo de atabaque usado pelos negros de Angola; ou ainda, viria de "Candonbidé", que quer dizer "ato de louvar, pedir por alguém ou por alguma coisa".

Como forma complementar de culto, a palavra Candomblé passou a definir o modelo de cada tribo ou região africana, conforme a seguir:


Candomblé da Nação Ketu


Candomblé da Nação Jeje


Candomblé da Nação Angola


Candomblé da Nação Congo


Candomblé da Nação Muxicongo


A palavra "Nação" entra aí não para definir uma nação política, pois Nação Jeje não existia em termos políticos. O que é chamado de Nação Jeje é o Candomblé formado pelos povos vindos da região do Dahomé e formado pelos povos mahin.

Os grupos que falavam a língua yorubá entre eles os de Oyó, Abeokuta, Ijexá, Ebá e Benin vieram constituir uma forma de culto denominada de Candomblé da Nação Ketu.


Ketu era uma cidade igual as demais, mas no Brasil passou a designar o culto de Candomblé da Nação Ketu ou Alaketu.


Esses yorubás, quando guerriaram com os povos Jejes e perderam a batalha, se tornaram escravos desses povos, sendo posteriormente vendidos ao Brasil.


Quando os yorubás chegaram naquela região sofridos e maltratados, foram chamados pelos fons de ànagô, que quer dizer na língua fon "piolhentos, sujos" entre outras coisas. A palavra com o tempo se modificou e ficou nàgó e passou a ser aceita pelos povos yorubás no Brasil, para definir as suas origens e uma forma de culto. Na verdade, não existe nenhuma nação política denominada nàgó.


No Brasil, a palavra nàgó passou a denominar os Candomblés também de Xamba da região norte, mais conhecido como Xangô do Nordeste.


Os Candomblés da Bahia e do Rio de Janeiro passaram a ser chamados de Nação Ketu com raízes yorubás.


Porém, existem variações de Nações, por exemplo, Candomblé da Nação Efan e Candomblé da Nação Ijexá. Efan é uma cidade da região de Ilexá próxima a Osobô e ao rio Oxum. Ijexá não é uma nação política. Ijexá é o nome dado às pessoas que nascem ou vivem na região de Ilexá.


O que caracteriza a Nação Ijexá no Brasil é a posição que desfruta Oxum como a rainha dessa nação.


Da mesma forma como existe uma variação no Ketu, há também no Jeje, como por exemplo, Jeje Mahin. Mahin era uma tribo que existia próximo à cidade de Ketu.


Os Candomblés da Nação Angola e Congo foram desenvolvidos no Brasil com a chegada desses africanos vindos de Angola e Congo.


A partir de Maria Néném e depois os Candomblés de Mansu Bunduquemqué do falecido Bernardino Bate-folha e Bam Dan Guaíne muitas formas surgiram seguindo tradições de cidades como Casanje, Munjolo, Cabinda, Muxicongo e outras.


Nesse estudo sobre Nações de Candomblé, poderia relatar sobre outras formas de Candomblé, como por exemplo, Nàgó-vodun que é uma fusão de costumes yorubás e Jeje, e o Alaketu de sua atual dirigente Olga de Alaketu.


O Alaketu não é uma nação específica, mas sim uma Nação yorubá com a origem na mesma região de Ketu, cuja sua história no Brasil soma-se mais de 350 (trezentos e cinquenta) anos ao tempo dos ancestrais da casa: Otampé, Ojaró e Odé Akobí.


A verdade é que o culto nigeriano de orixá, chamado de Candomblé no Brasil, foi organizado por mulheres para mulheres. Antigamente, nas primeiras casas de Candomblé, os homens não entravam na roda de dança para os orixás. Mesmo os que tornavam-se Babalorixás tinham uma conduta diferente quanto a roda de dança. Desta forma, a participação dos homens era puramente circunstancial. Daí ter-se que se inserir no culto vários cargos para homens, como por exemplo, os cargos de ogans.


Hoje, a palavra Candomblé define no Brasil o que chamamos de culto afro-brasileiro, ou seja: "UMA CULTURA AFRICANA EM SOLO BRASILEIRO".




A ORGANIZAÇÃO DO CANDOMBLÉ NO NOVO MUNDO


Antigamente, na Nigéria, os dias da semana eram apenas 04 (quatro) e eram assim denominados:


1º dia - Ójumò Exu


2º dia - Ójumò Ogun


3º dia - Ójumò Xangô


4º dia - Ójumò Oxalá


sendo que estes 04 (quatro) dias estavam ligados aos 04 (quatro) pontos cardeais:


1º a leste onde habita Exu


2º ao norte onde habita Ogun


3º a oeste onde habita Xangô


4º ao sul onde habita Oxalá


Como se pode observar, os yorubás tinham sua própria semana organizada que foi modificada ou adaptada à semana ocidental. Isto aconteceu porque não se manteve a tradição milenar de apenas 04 (quatro) dias.


Quando o Candomblé foi estabelecido na Bahia por Yanassó teve-se que se adaptar, como foi visto anteriormente, o culto para os moldes ocidentais, ou seja, cultuar vários orixás no mesmo espaço. Com esta junção, criou-se o que foi chamado Ójumò-osé ou dia de limpar ou ainda Ójumò-uenumó ou dia do descanso. Essa distribuição foi feita da seguinte forma:




2ª feira cuidaria-se de Exu e Omolu e  Egunguns 


3ª feira cuidaria-se de Ogun e Oxumarê


4ª feira cuidaria-se de Xangô, Obá e Oya


5ª feira cuidaria-se de Oxossy, Otim e Ossânym 


6ª feira cuidaria-se de Oxalá e Orí


No sábado seria a vez de se cuidar de todas as Yas ou Mães que seriam: Oxum, Yemanjá, Nanã, entre outras. Já no domingo, cuidaria-se de Ibeji.


Esta distribuição foi feita para que cada Omon-orixá tivesse seu orixá ligado a um dia da semana e nesse dia esse omon-orixá estivesse na casa de Candomblé para prestar culto ao seu orixá, não fugindo assim com a sua responsabilidade de cuidar de seu orixá.


Como comprovam vários estudiosos da cultura africana, não só houve a adaptação da semana yorubá para a semana ocidental, como uma série de cerimônia e ritos da religião de orixá tiveram que se adaptar ao Novo Mundo, conforme mostra o próprio ritual de iniciação que na Nigéria é feito em aldeias que ficam no interior das florestas.


Outra adaptação feita para o Brasil foi o do Jogo de Búzios. Enquanto no culto de orixá na Nigéria apenas o Babalawo faz o culto à advinhação e é ele, por determinação de Ifá, quem orienta todos os acontecimentos dentro do egbé; no Brasil, o jogo de búzios foi uma modalidade criada pelo Olwô Bamboxé para as mulheres ou Yalorixás da época.




AS VARIAÇÕES DAS TRÊS NAÇÕES:


JEJE, KETU E ANGOLA


Dos muitos grupos de escravos vindo para o Brasil, 03(três) categorias ou nações se destacaram:




Negros Fons ou Nação Jeje


Negros Yorubás ou Nação Ketu


Negros Bantos ou Nação Angola


Cada uma dessas 03 (três) nações tem dialeto e ritualística própria. Mas, houve uma grande coligação entre os deuses adorados nessas 03 (três) nações, por exemplo:


Na Nação Jeje os deuses são chamados de Voduns


Na Nação Ketu, de Orixás


Na Nação de Angola, de Inkices


Abaixo, encontram-se relacionados os deuses, as suas ligações e correspondência em cada uma dessas 03 (três) nações


KETU              JEJE              ANGOLA




Exu                Elegbá           Bombogiro


Ogun             Gu                 Nkosi-Mucumbe


Oxossy          Otolú             Mutaka Lambo


Omolu           Azanssun       Cavungo


Xangô           Sogbô            Nizazi ou Luango


Ossayn         Ague              Katende


Oya / Yansã. Guelede-Agan ou Vodun-Jó Matamba/Kaingo


Oxum          Aziri-Tolá         Dandalunda


Yemanja     Aziri-Tobossi      Samba Kalunga/Kukuetu


Oxumarê     Becém              Angoro - Ongolo


Oxalá         Lissá                Lemba




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