CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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sábado, 2 de agosto de 2014

Poema de Ifá: A luta entre Ifá e o Ajé



- Então Òrúnmilá colocou o àsé de Èsú em sua boca.

O ser humano sempre questionou o motivo de sua estadia sobre a Terra e, principalmente, o mistério que envolve o seu futuro. 

A insegurança em relação ao porvir fez com que o homem tentasse, de diferentes maneiras, prever o que lhe estava reservado, precavendo-se desta forma, da má sorte, ao mesmo tempo em que assegura a efetivação de acontecimentos tidos como benéficos. 

Muitos são os  processos utilizados nestas finalidade e, no decorrer dos séculos, diversos sistemas oraculares fora  desenvolvidos e consultados com maior ou menor possibilidade de erros e acertos. Dentre os sistemas  oraculares utilizados pelas pessoas na ânsia de descobrir o futuro ou contatar as deidades com a  finalidade de desvendar o motivo de suas provocações, destacamos alguns como a Cartomancia, a  Quiromancia, a Geomancia e a Astrologia, que por sua popularidade e contabilidade, continuam a ser  muito solicitadas nos dias atuais. 

Quase todos os oráculos, independentemente de sua origem cultural,  tendem ao aspecto religioso, sugerindo sempre uma prática ritualista de caráter muito mais místico que  científico. No Brasil, o sistema divinatório mais amplamente divulgado, aceito e praticado, é o  popularmente denominado "Jogo de Búzios" que tem sua origens nas religiões africanas, mas  especificamente no culto de Òrúnmìlá, o Deus da Sabedoria e da Adivinhação. O presente trabalho  apresenta-se como uma proposta essencialmente didática que por isto mesmo, não assegura à pessoas  não iniciadas o direito de ter acesso ao oráculo. 

Pois como será explicado mais adiante, o Jogo de  Búzios, como quase todos os demais processos adivinhatórios, tem como pré-requisito a iniciação por  parte do adivinho, assim como a consagração dos objetos concernentes à prática oracular. Segundo  alguns Babalawo, somente eles podem através do Jogo dos Ikins, determinar o ODÚ de qualquer  pessoa. Isto é contestado em várias literaturas sobre o assunto, com muita veemência. O que podemos  afirmar, é que qualquer pessoa habilitada a consultar o Oráculo, pode através dos búzios, "sacar" o ODÚ  pessoal de quem quer que seja, sem que para isto o interessado tenha que ser submetido a qualquer  tipo de iniciação e que este tipo de procedimento é indispensável para todos os iniciados e iniciandos. 

O  princípio do ÀSÉ está presente em todos os elementos naturais animados e inanimados e é oferecido ao  homem através do seu ÒRÍ pelo ÈSÚ. Èsú é também o portador dos sacrifícios e oferendas, OJISÉ-EBÓ  - carregador de ebó. O ebó é o ato pelo qual o homem devolve a natureza parte daquilo que recebeu e  pleiteia novas benesses. 

O ebó renova o Àsé pessoal, presente nos assentamentos do ofertante, ou  seja, nos objetos rituais nos quais se fixaram os seus compromissos com seu ÒRÍSÀ (dono do ÒRÍ). 

Esú  conduz o ebó ao destinatário, o ÒRÍSÁ, que, interdependente do Òri do próprio homem, recebe a oferta,  reforça e acrescenta o ÀSÉ, que outra vez é trazido pelo Èsú para permitir ao ofertante a mudança da  realidade e do destino desejado. 

Dar-receber, e, síntese de acrescentar é a ação de ÈSÚ OJISÉ-EBÓ,  integrando dialeticamente o homem ao mundo exterior. 

É o ato que reintegra o indivíduo na harmonia cósmica pela absorção e restituição de energia, princípio mesmo a existência humana. A posse do ÒRÍ  pelo ÒRÍSÁ não se confunde com a despersonalização total e posse mediúnica dos terreiros espíritas de  "macumba". 

Os "encantados" (Iyawô e Eleguns = mulheres e homens iniciados na roda de encantados),  não se despem da sua personalidade, mas acrescentam ao seu ÒRÍ, as forças vitais da natureza e de  sua comunidade sintetizadas em seu Òrísá. Não se tornam uma entidade alienígena, superior, divina ou  santa. 

O Òrísá manifestado não precisa falar, comer ou beber para se expressar. A sua dança  característica o identifica e expressa a energia de sua presença. 

Na concepção Yoruba, o humano  possui 3 elementos associados que olhe permitem atuar como ser vivo: ARA / EGBÉ – corpo material;  EMI – a respiração (energia vital que anima o EGBÉ) e o ÒRÍ – a mente ou a cabeça (o mais importante,  dotado originariamente de uma herança ancestral). 

Nenhum desses elementos, entretanto, quando  dissociados, possui personalidade própria, e tanto o EMI como o ÒRÍ não correspondem à idéia cristã ou  espiritualista de alma". 

O EMI, separado do EGBÉ permanece como energia pura, podendo animar  qualquer outro ser. 

O ÒRÍ, como vimos, porta a esperança ancestral sintetizada e implícita nos 4  elementos: OMI (água), IBI ou ARÔ ou ILÊ (terra), INÁ ou GBINÁ (fogo) e AFEFÉ (ar). 

Estes elementos  que permitem a fixação do Orisá no Orí, de acordo com sua identificação ou tendência, como, por  exemplo: Sangò – INA; Omolú – ILE; Osun – OMI e Osalá – AFEFÉ. 

Pela iniciação se dá a recriação do  Ser na integração definitiva do EGBÉ e EMI com Orí, através da "feitura da cabeça". 

É ainda o SEU, no  BARA, que sintetiza dialeticamente as entidades ligadas ao funcionamento fisiológico do indivíduo:  ANUN (GEGE) / ENU (boca), AGBENDÚ / INU (estômago), EYA (sexo) e WIWI / IFÓHUN / ORÓ (fala).  

O Ser adquire sua personalidade definitiva com o BARA, com a síntese do EBGÉ com o EMI e o ÒRÍ. 

Na  sua morte, pelo ritual do ASESE, libera-se o ÒRÍSÁ (o dono da cabeça e o ÈSÚ individual), também no  ÒRÍ se acumula o ÀSÉ. 

O ÒRÚN não existe sem AIYE e ambos dependem do desenvolvimento do ÒRÍ.  A evolução do ÒRÍ é um trabalho constante de seu portador, o homem, desde a escolha do ÒRÍSÁ  certo, pela leitura de seu ODU pessoal obtido pelo Babalawo ou Iyalòrìsá no jogo de búzios ou pelo  ÒPÈLÉ IFÁ. 

Desde seu cO Ser adquire sua personalidade definitiva com o BARA, com a síntese do EBGÉ com o EMI e o ÒRÍ. onhecimento de seu ODÚ pessoal, o homem inicia seu BARA, passa a cumprir  sua obrigações" com seu ORIXÁ e, assim, desenvolve e revitaliza o seu ÒRÍ. 

É este ÒRÍ que possibilita  homem a formar e a mudar o seu destino e transformar a própria natureza ao seu redor. Para os  Yoruba, o homem que, em sua constante evolução dialética, desenvolve em vida o ÒRÍ pela magia do  ÀSÉ e recria na morte pela contradição implícita do ARAORUN (que surge do próprio òrí); o eterno  princípio. 

Dessa forma, identificam no amor humano o maior dos ÀSÉ, o grande princípio. 

O  conhecimento do ODU pessoal é, como ficou claro, de suma importância para que se encontre o perfeito  equilíbrio na vida, seguindo as orientações contidas no ratado do seu ODU, o ser humano poderá  prosseguir em sua vida com total segurança, evitando os percalços ocasionados pela quebra de tabus,  que nos levam a situações inusitadas e indesejáveis de desconforto e infelicidade. 

É muito raro  encontrarmos pessoas que sejam de ODU MEJI e a possibilidade matemática de que isso possa ocorrer  é muito remota. 

Todos tem o direito de orientar suas vidas, buscar o equilíbrio e a segurança que o  conhecimento das mensagens contidas nos seus ODU pessoais podem proporcionar e isto só é  possível através da consulta ao Oráculo de Ifá, devendo serem desprezadas todas e quaisquer  técnicas baseadas em cálculos matemáticos, feitos, quer seja a partir da data de nascimento da  pessoa, quer seja pela numerologia de seu nome. 

O Oráculo Divinatório de Ifá é praticado há muitos  e muitos séculos, sendo originário do coração da África Negra, desde uma época em que as pessoas  sequer conheciam o calendário, não sabiam as datas dos seus nascimentos, não liam, não escreviam e  não dominavam a Aritmética.



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