CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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segunda-feira, 14 de abril de 2014

ORIXÁ, DIVINDADE AFRICANA




(Postado em 11/06/10 no www.elianehaas.blogspot.com - cabendo observar que não se trata de um texto para iniciados, mas destinado a leigos interessados)

Segundo a concepção yorubá, que no âmbito afro-brasileiro é predominante e conhecida como Ketu ou Nagô, os Orixás são energia pura e expressão das facetas múltiplas da Suprema Inteligência Universal ( Olodumare / Olorun ), divindades primordiais que estiveram presentes na formação do planeta Terra e presidem, até hoje, as atividades dos diversos reinos da natureza.


São um componente dessas forças e estabelecem também uma espécie de elo entre a humanidade e o Ser Supremo – já que cada ser humano é, energèticamente, proveniente desses elementos vitais.


Na qualidade de entidades pertencentes a uma hierarquia não humana, não compartilham conosco a capacidade de verbalização e a forma de cultuá-los é ùnicamente através do ativamento e direcionamento das suas energias particulares.


Isto tem a ver com a manipulação de energia que se chama magia e não com atividades devocionais ligadas a orientação ou doutrinação, pedidos e recompensas.


A energia vital – axé – que permeia todas as forças da natureza é parte do Orixá, representa o seu aspecto inteligente e estabelece um elo entre a humanidade e Olodumare.


Os Orixás são Seres Divinos emanados diretamente da Divindade Suprema Universal e atuam de acordo com as funções que lhes são delegadas por Olodumare, inclusive como mediadores entre o Grande Mistério e os seres humanos. A criação da Vida na Terra foi delegada ao Orixá Obatalá ( o Rei do pano branco que esconde a Vida e a Morte ), que com o seu ofu-rufu (o sopro divino) permeou várias outras dimensões além da material. Dele emanaram os outros Orixás, com a tarefa de exercer domínio pleno sobre os diversos reinos e elementos da natureza terrestre, sempre dentro dos limites e tarefas por Ele estabelecidos.


Há um itan (mito) que relata como “o corpo de Obatalá foi atingido e partido em mil pedaços. Ao receber a notícia, Olodumare designou Orunmilá para recolher todas as partes e traze-las de volta. Recolheu-os numa grande cabaça, assegurando o seu renascimento no Orun. 

O restante foi espalhado por todo o mundo, fazendo com que de cada um nascesse uma divindade”.

Por esta razão, considera-se Obatalá o Orixá maior, aquele que tudo abrange e dentro do qual todos os outros estão contidos – como a cor branca contém todas cores. O termo Orixá foi, inicialmente, utilizado para designar Obatalá, conhecido como Orisa nla ou Osaala ( o grande Orixá), tornando-se, posteriormente, comum a todos.


A concepção de características antropomórficas deve-se à condição arquetípica que lhes é inerente. No entanto, cabe ressaltar que os Orixás não pertencem à cadeia de evolução humana. Como personificação das mais violentas , grandiosas e incontroláveis forças da natureza, força pura, axé (energia vital) esmagador, é evidente que Orixá desvincula-se da cadeia cármica da evolução humana.

Conceber Orixá como um ancestral humano divinizado é um belo mito que confirma a filiação humana a determinada linhagem dos reinos da natureza com seus quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Ancestrais humanos podem ter se tornado encantados, pois a gama de seres divinizados tutelares é imensa. 

Aliás, antes da ruptura entre o Orun ( o além, fora da dimensão física ) e o Aiyê (o mundo material, terreno) – seres pertencentes a hierarquias não-humanas engravidaram mulheres, dando origem a estirpe dos chamados “semi-deuses” , vastamente mencionados, por exemplo, na mitologia grega.


Diante de recentes teorias que ousam atribuir a origens não-terrestres o progresso tecnológico e feitos arquitetônicos não condizentes com o adiantamento das civilizações de eras remotas, poderiam os Orixás “antropomorfizados” estar incluídos nesses grupos. Humanos ou não, é importante notar que deles se originaram as primeiras instruções registradas, com relação ao corpo ritualístico / mágico das mais antigas práticas religiosas da Terra.

Os Orixás constituem energia pura que interfere, também, na existência dos seres humanos, já que conosco compartilham da natureza terrestre e concorrem diretamente para a nossa formação como seres individualizados que somos. No momento em que o ser humano vem a ( re - ) encarnar, aceitando o seu destino, seus corpos são criados com a energia predominante de um Orixá e a de outros, em menor grau, formando assim um complexo inédito.


Em virtude de tanto se falar em Orixá dentro dos mais variados contextos, cabe ressaltar que Orixá é africano, concebido e cultuado de forma eficiente sòmente quando de acordo com a tradição contida no que se chama “corpo literário de Ifá” - assunto que abordaremos em outra ocasião.


Isso não impediu que, absorvidos através do sincretismo afro-brasileiro e assimilados pela Umbanda, sejam freqüente e errôneamente concebidos como espíritos ligados aos diversos elementos da natureza, porém que, já liberados do processo reencarnatório, dariam continuidade a sua evolução espiritual, mediante a missão de organizar e orientar uma legião de espíritos menos adiantados. Cada pessoa estaria ligada a um ou mais desses Orixás e suas características, deles recebendo proteção e auxílio.


Por conta desse sincretismo forçado, costuma-se , na Umbanda, associar um Orixá à imagem de algum santo católico. No entanto, Ogun não é São Jorge , Iansã não é Santa Bárbara e tampouco Yemanjá encarnou no corpo da Virgem Maria, mãe de Jesus. 

Esses personagens históricos jamais poderiam, dentro da limitação da sua condição humana, atingir a dimensão de uma manifestação Divina como é o Orixá. Então, quando um médium de Umbanda encorpora uma entidade que utiliza o nome do Orixá, está , na verdade, encorporando não o Orixá, mas uma entidade que se manifesta dentro desta faixa vibratória.


Com relação à verdadeira essência do que seja um Orixá, há pontos de vista que se deturparam, em decorrência do longo período em que a religião de negros, até quando já não eram mais escravos, foi proibida no nosso país.

Eliane Haas



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