Ao contrário do que muitos pensam, a ética e a moral são de importância substancial no pensamento e na vida dos africanos, que são baseadas nos costumes, em leis tradicionais, tabus e tradições de cada um dos povos da África.
Deus é visto como o derradeiro sancionador e sustentador da moralidade.
O relacionamento humano pelo parentesco e vizinhança é extremamente importante e a ética e moral tradicionais são construídas, largamente, através das relações humanas.
Moralidade pode ser resumida, em Yorùbá, pela palavra Ìwà - caráter.
Os Akan de Gana chamam o caráter de Suban. Caráter é a essência da ética africana e sobre ele se estabelece a vida de uma pessoa.
Deus exige que o homem seja puro eticamente.
Deus é o buscador de corações, que a tudo vê e sabe e cujo julgamento é correto e inevitável.
Deus julga os homens por seu comportamento aqui e agora, bem como no porvir.
Dessa forma a paz na vida após a morte é decidida de acordo com a moral exercida, pelo ser humano, sobre a terra.
Mau comportamento pode destruir o destino de uma pessoa, enquanto bom caráter é uma armadura suficiente contra o mal e a desgraça.
Os costumes regulam o que deve e o que não deve ser feito. De acordo com Mbiti: "Roubar, agredir as pessoas, mostrar desrespeito aos mais velhos, mentir, praticar feitiçaria, dormir com a mulher de alguém, matar, caluniar as pessoas e assim por diante são consideradas grandes ofensas, que podem ser severamente punidas pela sociedade através do degredo, indenização, pagamento de multas, espancamento, apedrejamento e até mesmo a morte. Por outro lado, a bondade, a cortesia, a generosidade, a hospitalidade, o respeito, a diligência, a frugalidade e o trabalho duro são aspectos da moral ensinadas às crianças em várias comunidade africanas, como princípio básico de vida." (Mbiti, John. Introduction to African Religion. London:Heinemann.
Os Yorùbá e, na verdade, os africanos têm a moralidade como a essência que torna a vida alegre e agradável.
Para os Yorùbá, segundo Bólájí Ìdòwú, o bom caráter (ìwà rere) deve ser a mola mestra na vida das pessoas. De fato é isso que distingue o ser humano dos animais.
Quando os Yorùbá dizem de alguém O şe Ènìyàn (os atos da pessoa), querem dizer que ela se comporta como deve, ou seja, ela mostra que sua vida e suas relações com os outros são regrados pelas suas melhores características.
A descrição contrária kìí şe ènìyàn, n şe lof’awon ènìyàn bora (Ele não é uma pessoa, ele assumiu a pele de uma pessoa).
Isso significa que a pessoa é socialmente indigna; em consequência de sua característica, não está apta a ser chamada de pessoa, embora tenha a aparência de uma.
Em geral, deve-se dar ênfase a que Deus, as divindades e os antepassados requerem um bom comportamento dos seres humanos.
Mas podemos perguntar por que as pessoas que seguem a Religião Tradicional Africana, assim como os seguidores de outras religiões (cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo etc), praticam atos imorais?
A resposta é simples: hoje, muitas pessoas professam uma determinada religião, porém deixam de agir de acordo com os princípios e os ditames dessa mesma religião, que é a principal causa para os atos de corrupção, violação dos Direitos Humanos, péssimas práticas eleitorais, etnicismo, bem como outras práticas imorais e aéticas.
No entanto, esses problemas não são insuperáveis, basta que as pessoas façam valer aquilo que aprenderam e unam a religião à moralidade, que são coisas indissociáveis.
Um adágio Yorùbá diz Ìwà l’èsìn, Èsìn ni Ìwà (religião é uma exibição de moralidade, moralidade é o maior ato de adoração).
Por isso é que os adeptos das diversas religiões devem saber e acatar que nossos atos de adoração só se tornarão dignos e significativos ao Criador, se eles forem acompanhados pela ética e pela moral.
Texto de Mário Filho
Bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, e Ciências da Religião (ambas pela PUC/SP)
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