CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

quinta-feira, 15 de maio de 2014

GÈLÈDÉ




CULTO GÈLÈDÉ
Segundo os mitos da tradição afro-descendente, já que o mito é o discurso em que se fundamentam todas as justificativas da ordem e da contra-ordem social negra, a luta pela supremacia entre os sexos é constante, simbolizada na ìgbádù (cabaça da criação), já que o òrìsà Odùduwa, princípio feminino de onde tudo se cria - representação coletiva das Ìyámí ou mães ancestrais, é a metade inferior da cabaça e Obatálá ou Òòsààlà, princípio masculino, a metade superior. 

A relação Odùduwa/Obatalá, entendida simbolicamente, não representa uma simples relação de acasalamento do princípio feminino com o masculino.

Há um princípio de completude do outro, de que a vida se constrói de mãos dadas e de que cada um de nós à medida que estabelece esta relação, estabelece um elo mais completo com as coisas que estão à volta.

Significa todo um processo de equilíbrio e de harmonia. Para se entender bem tal relação, se faz necessário situar as mulheres do ritual GÈLÈDÈ, que representam o culto às ÌYÁMÌ, as grandes mães ancestrais, encabeçadas por: Nàná, Yemonja, Òba, Odùduwa, Òsun, Yewa e Oya. ODU simboliza a grande representante do princípio feminino, sendo o elemento responsável por todo o poder criador, do poder das mulheres, liderando o movimento das ÌYÁ MI, grandes mães ancestrais, que tudo criaram, transformaram e transmutaram desde o princípio dos princípios da formação do universo.

A sociedade GÈLÈDÈS, que já existiu no Brasil, é um ritual de mulheres que vestem panos coloridos - diferentes panos mostrando diferentes procedências. São as diferentes raízes que as pessoas podem ter na maternidade. A máscara ÈFÉ-GÈLÈDÈ que cobre a cabeça da mulher vai representar o mistério, o  maravilhoso, na cultura negra. O uso da máscara significa o símbolo de outro espaço, um espaço vivo, um espaço invisível que não se conhece, mas sente-se!
No Brasil esta sociedade existiu, sua ultima sacerdotisa suprema foi Omóníké Ìyálóde-Erelú que tinha o nome católico Maria Julia Figueiredo, uma das Ìyálàse do Ilè Ìyá-Nàsó, com sua morte cessaram-se as festividades, que eram realizadas no bairro da Boa Viagem. O propósito da sociedade G È L È D È é propiciar os poderes míticos das mulheres, cuja  boa vontade deve ser cultivada porque é essencial a continuidade da vida para esta sociedade.
Sem o poder feminino, sem o princípio de criação não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade. Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e preservação do mundo: sem a mulher não existe vida, sendo, segundo os mitos, ser reverenciada e respeitada pelos òrìsás e pelos homens.

As G È L È D È e suas máscaras se tornam uma metáfora, sendo uma linguagem para a mãe natureza. O GÈLÈ, pano de cabeça, é um símbolo das GÈLÈDÈ porque personifica o útero, pois ele carrega as crianças e as protege. Através das Ìyámì (mães ancestrais) a arte das máscaras é usada para aglutinar as pessoas que se relacionam como filhos de uma mesma mãe, fazendo com que o espírito se manifeste através desta máscara, seguindo e alimentando o espírito humano. Representam o não uso da violência para resolver questões. Nas culturas negras a mulher está presente em todos os lugares.
A máscara tem grande importância na vida religiosa, social e política da comunidade, mostrando as diferentes categorias de mulher:
- mulher secreta - ligada ao divino, serve como passagem e receptáculo do sagrado no mundo dos vivos, por gerar frutos.
-mulher símbolo político - não usa violência para resolver as questões, aglutinando as pessoas, vivendo o cotidiano.
- mulher sagrada - símbolo de todos os tempos, pois está virada para o futuro, sempre vulnerável e frágil, mas é aquela que abre o céu ( Ò run) e deixa lugar para a mudança, o futuro, e para a transformação.

A sexualidade da mulher negra faz parte da sua essência de princípio feminino, sendo muitos os mitos que representam a função e o papel mulher vista como útero fecundado, cabaça que contem e é contida, responsável pela continuidade da espécie e pela sobrevivência da comunidade. Não se encontra pecado nesta sexualidade.

Através das ÌYÁ as comunidades - terreiros se constituam num verdadeiro sistema de alianças. Desde a simples condição de irmão de santo até a mais complexa organização hierárquica, há o estabelecimento de um parentesco comunitário, como uma recriação das linhagens e da família extensiva africana. Os laços de sangue são substituídos pelos de participação na comunidade, de acordo com a antigüidade, as obrigações e a linhagem iniciática. Todos estão unidos por laços de iniciação às divindades cultuadas, aos demais iniciados, às autoridades, aos antepassados e aos ancestrais da comunidade.

Através do rito se tem todo um sentido de manifestação das mulheres do grupo: rodando, dançando, se integrando com o cosmos, mostrando que temos consciência de que somos elementos dinâmicos, de que o movimento da roda - já que as mulheres são os elementos que dançam em círculo - representa o altar da criação, da vida, já que a terra está em movimento, o universo está em movimento e só se conseguirá estar em sintonia com o universo através do movimento.
GÈLÈDÈ é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades tradicionais yorubás, que expressam o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade.

O culto Gèlèdè visa apaziguar e reverenciar as mães ancestrais para assegurar o equilíbrio do mundo. A principal representação do culto também nos fala um itòn de òséyèkú, que obàtálá e odù logbojé são uma única coisa e no culto a Obàtálá, Òsòrongà, Iyà mi, é diretamente participante, o próprio itòn nos fala: "tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através das mãos das mulheres. esta é uma tradição do culto a Obàtálá, pela relação direta de Odu. - ìtòn òsá méjì ( o mito da roupa de Éégún)- quanto ao culto Èfé-Gèlèdè, os homens participam, até nas chamadas "incorporações"- dàpò sòkan - e uma das principais diferenças, estão nas próprias danças rituais, quando "feminina" e lenta e nobre, quando "a masculina" é firme e agressiva, e cabe aos òsò de Òòsààlà' esta função. - Seja ako, baká, mundiá, tetedè, okunriu, onilu e "às outras" .

Mas quando se trata da essência da filosofia, na relação Obàtálá (símbolo da ancestralidade masculina) e, Odu (Òsòròngà - símbolo da ancestralidade feminina) como uma relação perfeita, trazida por Òsé-òyèkú , e também pela relação de ambos com Ikú.
O culto anual de Èfé-Gèlèdè , originário da cidade de Ketu no décimo quarto século, é organizado no começo da estação agricultural exatamente por uma importante questão dentro da cultura Yorùbá - a Fertilidade. Este culto se organiza da seguinte forma- sua parte diurna é exatamente Gèlèdè e sua parte noturna é Èfé ( o pássaro ). Os dançarinos são homens, contudo representam homens e mulheres em suas representações.
Isto prova que o culto das G è l è d è não é vetado aos Homens.

Na dança feminina G è l è d è é poderosa e contida, entretanto, na dança masculina é violenta e agressiva. Os nomes citados são os próprios nomes das 9 principais G è l è d è em sua ordem de entrada na praça do mercado, pois este culto, e na verdade todos de acordo com a direção da cabaça de Odù que vai ser desperta( òséyèkú) deveriam ser feitos ao livre como nos ensina o antigo culto à Olòrun. (Akò, Baká, Mundiá, Tetedè, Okunriu, Onilu, Isa-orò, Alopajanja-eledè e Woogbáwoobaarsan )
Sendo assim, é exatamente no conhecimento deste culto que podemos perceber que os homens principalmente os "òsò" participam de toda uma enorme variedade de fundamentos do culto na sociedade Òsòròngà, pois se assim não o fosse, como explicar o tabu de que as mulheres não podem olhar Odù ( ìtòn irètégbè ), como entender que são os Bàbáláwo - filhos de Òrúnmílá que entregam as cabaças com os pássaros as mulheres iniciadas no culto à Òsòròngà ( itòn irèté méjì )

“ Èfé “são as máscaras rituais que simbolizam o espírito das  ancestrais femininas e os diferentes aspectos de seu poder sobre a terra simbolizados pelos pássaros.
As òrìsás femininas cultuadas nos candomblés brasileiros representam aspectos socializados deste poder conforme a visão de mundo negro africana segundo a qual homens e mulheres se equivalem e controlam determinadas forças da natureza Porém a continuidade da vida sobre a terra, atributo eminentemente feminino nesta tradição é reverenciado de modo especial.
Por isso Obarìsà, Osalá, o grande ancestral masculino canta:

“E kúnlè o, e Kúnlè f’obinrin o
E obinrin l’ó bí wa, k’àwa tó d’enia
Ogbon àiyé t’obinrin ni, e kúnlè f’obinrin
E obinrin l’o bí wa o, k’àwa tó d’enia”
(Ajoelhem-se para as mulheres. A mulher nos colocou no mundo, nós somos seres humanos
A mulher é a inteligência da terra. A mulher nos colocou no mundo, nós somos seres humanos).

ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ
O f ó ( Encantamento)
Mo júbà ènyin ÌYÁ MI ÒSÒRÒNGÀ.
(Meus Respeitos a Vós Minha Mãe OSORONGA!)
Mo júbà è nyin Ìyámí Òsòròngà
O Tònón Èjè e nun
O Tòo kón èjè èdò
Mo júbà è nyin Ìyámí Òsòròngà
O Tònón Èjè e nun
O Tòo kón èjè èdò
Èjè óyè ní Kálè o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò
Èjè óyè ní Kálè o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò
(Meus respeitos a vós minha mãe Osoronga)

Vós que seguíeis os rastros do Sangue interior.
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do sangue do fígado.
Meus respeitos a vós minha mãe Osoronga
Vós que seguíeis os rastros sangue interior
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do fígado
O sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos,e ele sobrevive, sobrevive ó mãe muito velha o Sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos e ele sobrevive, o mãe muito velha)

Ìyámì Òsòròngá não é um òrìsá, mas sim uma energia ancestral coletiva feminina, cultuada pelas GÈLÈDÈ; sociedade feminina fechada da Ìyámì Eléeye (minha mãe senhora dos pássaros), representada pela máscara dos pássaros. A sociedade Òsòròngá congrega as àjé–feiticeiras que têm poderes de se  transformarem em determinados pássaros è hurù, eluùlú,àtióro,àgbìgbò e òsòròngà ,este ultimo refere-se ao próprio som que a ave emite e da nome a Sociedade. Exercem sua força máxima nos horários mais críticos -meia-noite – ocasiões em que é preciso muita cautela para que elas não pousem na cabeça de ninguém.

Suas cerimônias são realizadas no início da
estação do plantio relacionado à fertilidade.
Estas cerimônias tiveram início na região de Ketú, dividindo-se em duas partes a diurna e a noturna. Segundo nos conta um ìtàn do Odù Ogbé Òsá, diz que quando as Ìyá mì chegaram do Òrun pousaram em sete árvores.
Segundo um Ìtòn as 7 árvores das Ìyá mì seriam:
Orobo
Àjànrèré
Iroko
Orò
Ogun Bereké
Arere
Igi ope

Porém outro ìtàn, lenda, nos da outra apresenta uma relação diferente das sete árvores estas seria as árvores sagradas das Mães Ancestrais:
Ose -
Iroko
Ìyá
Asunrin
Obobo
Iwó
Arere

A contrario do que se pensa aqui no Brasil existe sim a presença masculina no culto a Iyá mí.
São detentoras de poderes terríveis, consideradas as donas da barriga (por onde circularia a energia vital do corpo) Ninguém pode com seus Ebo, dos quais, o Òjijì (sombra) é o mais fatal. São ligadas diretamente ao ODU ÒYEKU MEJI, são  propiciadoras para a alteração do destino de uma pessoa. Seus poderes são tamanhos que só se consegue no máximo apaziguá-las, vencê-las jamais. Relacionam-se com Òsun a quem estão ligadas pela ancestralidade feminina, bem como Odúduwa, considerada fundadora do culto GÈLÈDÈ.

Deve-se lembrar, portanto, que "òsò" é um título de quem trás o Égan (símbolo de Èsù o qual  foi dado através das mãos de Òsòròngà (itòn òséòtúrá)e mesmo assim se foi iniciado no tradicional culto de Obàtálá / Odu e ainda tiver profunda relação com Ikú, através de algumas se suas principais ònifás, como Òyèkú méjì, Òbàrà méjì, Òtúrúpòn méjì e algumas outras poucas. O sangue(èjè) não é de nenhum Òrìsà a não ser de Òsòròngà como vemos no Oriki ( èjè ó yè ní kálè o - o sangue fresco que recolhe na terra cobre-se de fungos )

Afirma a tradição que as Ìyámí segue o rastro do sangue do fígado e do coração, isto se deve por os chamados Àse das oferendas são de Òsòròngà! estes órgãos se classificam em comportamentos Ofú (aqueles que produzem e fazem circular a energia no corpo) estômago,  bexiga,vesícula biliar,intestino grosso e o intestino delgado,como também em comportamentos Osa (coração,pulmões,rins,  fígado, baço e pâncreas) Estes detalhes são importantíssimos no culto à Òsòrongà e principalmente no culto Èfé -Gèlèdè ainda mais se falamos do sacrifício de elédé (porco )

Relacionam -se com Òsòròngà:
È s ù : somente com sua ajuda é que conseguimos a comunicação com as Ìyámí,além de ser a prova viva do poder das Ìyá mí.
Oòrùn (caminho do oeste) é bem mais íntimo de              Òsòròngà, se não fosse ele o senhor do sagrado ato da oferenda de animais, juntamente com Èsù e Òsòròngà .

Odu* :(Yemòwo) Grande Ìyá, Senhora do ìgbá- eye (cabaça dos pássaros) é a Ìyá'nlá seu nome é modificação da palavra Odù Logboje, a mulher primordial, também denominada Eleyinjú Egé ,a dona dos olhos delicados fazendo parte das divindades geradoras representada pelo Preto, fundadora do culto e sociedade Gèlèdè.



Òsun :Grande protetora da gestação, é a Ìyámí-Àkókó, mãe ancestral suprema.
Nàná: patrona da lama e dos primórdios da criação do Àiyé,é a Omo Àtìóro oké Ofa.
Oya e Yewa:são todas Ìyá- Eléye possuidoras da cabaça com pássaro símbolo do poder feminino.
Olórí ìyá-àgbà Àjé Eléye, chefe supremo de nossas mães ancestrais possuidoras dos pássaros.
Ògágun ati Ògájùlo ninu awon Ìyá mí òsòròngà.
Chefe supremo, comandante entre todas as Ìyámí.
Òrúnmìlà: Este foi o único òrìsà que quando as ìyá mí estavam zangadas conseguiu apaziguar sua fúria e desta forma salvou o àiyé e restabeleceu a Harmonia, entre os Homens e Mulheres.

Toda mulher é uma Ajé, porque as Ìyámí controlam o sangue menstrual elas representam os poderes místicos das mulheres no seu aspecto mais perigoso. São as Avós, as mães em cólera que em sua boa vontade a própria vida na terra não teria continuidade

Ìtàn do Odù Òsá Méjì

* Odù torna-se Ìyámí *

Nos primórdios da criação, Olódùmarè, o Ser Supremo que vive no Òrun, mandou vir ao Ayè (universo conhecido) três divindades: Ògún (senhor do ferro), Obàrìsà (senhor da criação dos homens) (Um dos òrìsà funfun, isto é ,òrìsà que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas) e Odù, a única mulher entre eles.Todos eles  tinham poderes, menos ela, que se queixou então a Olódúnmarè.
Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (ìgbá Eléye ) e ela se tornou então, através do poder emanado de Olódùmarè, Iyá Won, nossa mãe para eternidade (também chamada de Ìyàámí Òsòròngà, minha Mãe Òsòròngà)
Mas Olódùmarè a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela sob pena de ele mesmo repreendê-la.

Ela diz qual é o meu poder?
Ele diz: Você será chamada para sempre de Mãe de todos.
Ele diz: Você dará continuidade.
Olódùmarè lhe entrega o poder.
Ele entrega o poder de Eléiye para ela.
Ela recebe, o pássaro de Olódùmarè.
Ela, recebe, então, o poder que utilizara com ele.
Ele diz: Utilize com calma o poder que eu dei a você.
Se você utilizar com violência, Eu o retomarei.
Porque aquela que recebeu o poder se chama Odù.
O homem não poderá fazer nada sozinho na ausência da mulher"
"Lati ìgbá náà ni Olódùmarè ti fun obìrin l'à se"
Desde aquela época, Olódùmarè outorgou àse as mulheres
Elas exerciam todas as atividades secretas:
O mú Égun jáde
O mú Orò jáde
Gbogbo nkan, kò si ohun ti ki se nigba náà.
Ela conduz Égun.
Ela conduz Orò em todas as coisas, não há nada que ela não faça nesse tempo.
Mas ela abusou do poder do pássaro.
Preocupado e humilhado,Obarìsà foi até Òrúnmìlà fazer o jogo de Ifá e ele o ensinou como conquistar e apaziguar e vencer Odù, através de sacrifícios, oferendas( ebo com ìgbín e haste de Àtòrì) e astúcia.
Ele lhe ofertou e ela negligentemente, aceitou, a carne dos ìgbín.
Odù náà gba omi ìgbín,  o muú
Nigbati Odù mu omi ìgbín tán, inú Odùnrò die die.
Odù recebe a água de caracol para beber, quando Odù bebeu, o ventre de Odù se  apaziguou.
Obàrìsà e Odù foram viver juntos.
Ele então lhe revelou seus segredos e após algum tempo,  ela lhe contou os seus, inclusive que cultuava Éégún.
Mostrou-lhe a roupa de Égun, a qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava.
Juntos eles cultuaram Égun.
Aproveitando um dia quando Odù saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Égungun.
Com um bastão na mão (opa osu), Obarìsà foi à cidade (o fato de Égun carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas.
Quando Odù viu Égun andando e falando,  percebeu que foi Obàrìsà quem tornou isto possível.
Ela reverenciou e prestou homenagem a Égun e a Obàrìsà, conformando-se com a vitória dos homens e aceitando para si a derrota.
Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Égun, e lhe outorgou o poder:
Tudo o que Égun disser acontecerá.
Odù retirou-se para sempre do culto de Égungun e partiu para o culto Gèlèdè.
Só Eléiye, indicara seu poder e marcara a relação entre Égungun e Ìyàámí.
Gbogbo agbára ti Egúngún si nlò agbára Eléiye ni.
Todo o poder que Égungun utilizar é o poder do pássaro.
O conjunto homem-mulher dá vida a Égungun (ancestralidade), mas restringe seu culto aos  homens, os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por Olódùmarè através dos abusos de Odù.
Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente e somente os homens têm direito à individualidade, através do culto de Égungun.

AS SENHORAS DO PÁSSARO DA NOITE Ìyàámi Osorongá, aqui tratada como Odu, é o termo que designa as terríveis ajés, feiticeiras africanas, uma vez que ninguém as conhece por seus nomes. As Ìyàámi representam o aspecto sombrio das coisas: a inveja, o ciúme, o poder pelo poder, a ambição, a fome, o caos o descontrole. No entanto, elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas. Podem-se usar os ciúmes e a ambição das Iyami em favor próprio, embora não seja recomendável lidar com elas.
O poder de Ìyàámi é atribuído às mulheres velhas, mas pensa-se que, em certos casos, ele pode pertencer igualmente a moças muito jovens, que o recebem como herança de sua mãe ou uma de suas avós.

Uma mulher de qualquer idade poderia também adquiri-lo, voluntariamente ou sem que o saiba, depois de um trabalho feito por alguma Ìyàámi empenhada em fazer proselitismo.
Existem também feiticeiros entre os homens, os Osò, porém seriam infinitamente menos virulentos e cruéis que as Ajé (feiticeiras).

Ao que se dizem ambos são capazes de matar, mas os primeiros jamais atacam membros de sua família, enquanto as segundas não hesitam em matar seus próprios filhos. As Ìyàámi são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua influência. Ìyàámi é freqüentemente denominada Eleyé, dona do pássaro. O pássaro é o poder da feiticeira; é recebendo-o que ela se torna ajé. É ao mesmo tempo o espírito e o pássaro que vão fazer os trabalhos maléficos.

Durante as expedições do pássaro, o corpo da feiticeira permanece em casa, inerte na cama até o momento do retorno da ave. Para combater uma ajé, bastaria, ao que se diz esfregar pimenta vermelha no corpo deitado e indefeso. Quando o espírito voltasse não poderia mais ocupar o corpo maculado por seu interdito. Ìyàámi possui uma cabaça e um pássaro. A coruja é um de seus pássaros. É este pássaro quem leva os feitiços até seus destinos. Ele é pássaro bonito e elegante, pousa suavemente nos tetos das casas, e é silencioso.
"Se ela diz que é pra matar, eles matam, se ela diz pra levar os intestinos de alguém, levarão".
Ela envia pesadelos, fraqueza nos corpos, doenças, dor de barriga, levam embora os olhos e os pulmões das pessoas, dá dores de cabeça e febre, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz.

As Ìyàámi costumam se reunir e beber juntas o sangue de suas vítimas. Toda Ìyàámi deve levar uma vítima ou o sangue de uma pessoa à reunião das feiticeiras. Mas elas têm seus protegidos, e uma Ìyàámi não pode atacar os protegidos de outra Ìyàámi. Ìyàámi Osòróngá está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que Ìyàámi se sinta ofendida.

Ìyàámi é muito astuciosa; para justificar sua cólera, ela institui proibições. Não as dá a conhecer voluntariamente, pois assim poderá alegar que os homens as transgridem e poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas. Ìyàámi fica ofendida se alguém leva uma vida muito virtuosa, se alguém é muito feliz nos negócios e junta uma fortuna honesta, se uma pessoa é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas.
E só Òrúnmìlá consegue acalmá-la.

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Fragmentos sobre o culto Gèlèdè e textos de:
Pierre F.Verger - do livro " As Senhoras do Pássaro da noite" e do artigo publicado em 1965 no "Journal de la Societe des Africanisters"
..."Grandeur et decadence du culte de Ìyàámi Osòróngá "
Organização e tradução-Carlos Eugênio M.de Moura.

http://orisaifa.blogspot.com.br/p/ogboni.html



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