CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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terça-feira, 24 de julho de 2012

EXU? ( Parte 2 )




O que é o bem e o mal. onde ele se encontra? 


O que é o demônio e qual a sua suposta aparência? 


O que é fetiche ou feitiço? 


Como as religiões católica, neopentecostal e islâmica veem o mal? 


Se aguçarmos a nossa imaginação e buscarmos respostas na religiosidade tradicional e cognição africana, na lógica, chegaremos à seguinte conclusão. 


Se a cosmovisão africana crê que no mundo tudo é energia, o mal e o bem são energias que são alimentadas no nosso ego colaborando para o nosso equilíbrio ou desequilíbrio. 


Contudo o que deve prevalecer é o equilíbrio, ou seja, Maat na filosofia egípcia, Axé ioruba e Ntu, banto.


O demônio não existe! 


Foi uma invenção ideológico judaico-cristã, instituição igreja, para dominar os fiéis e justificar o poder na presença de Deus como o ser temido, vingativo a quem devemos obediência cega para evitarmos outra farsa, o inferno, onde por intermédio do padre, rabino, pastor nos orientarão para nos livrar do pecado, também nos colocando em contato direto com Deus e determinando a nossa penitência. 


Essa ideia de céu e inferno é invenção judaico-cristã. 


Na cosmovisão africana a vida existe aqui e agora, sem a ideia do pecado original, portanto o que devemos fazer de bom o lugar é aqui e agora, porque na religiosidade tradicional africana a energia circula entre dois mundos paralelos no qual Deus está presente, do orum (mundo espiritual) e o aiyê (mundo físico).


 A morte é o rito de passagem do mundo visível para o mundo invisível, mundo dos ancestrais, por via do Axexe, momento em que nossa energia vai retornar para Deus e reequilibrar a energia terrestre. 


Axexe é origem das origens, e é quando se celebra a passagem de um ara-aiyê, ser humano habitante do aiyê, para o orum.


 “Esta passagem caracteriza uma elaboração de morte que compreende o conceito de restituição. 


‘Vai-se para dar lugar a outros’. 


Uma vez restituídas de axé, as forças que regem o universo são capazes de engendrar novos nascimentos e expandir criação.” (LUZ 2000, p. 33).


Deus não está longe de nós, faz parte dos dois mundos, porque é energia na qual também estamos embebidos. Deus está em nós e nosso corpo é o seu templo. É nesse sentido que a festa se torna um elemento forte na cultura de base africana, a alegria em vez do sofrimento deve ser preservada. 


Por isso dançamos e cantamos quando celebramos. 


Por essa razão a celebração do candomblé se faz com música, indumentária impecável, e adereços significativos que são ao mesmo tempo obras de arte lindíssimas. 


Lembremo-nos do nosso artista imortal Mestre Didi, o Alapini (líder supremo) do culto do Egungun no Ilê Axé Assipá, na Bahia. 


É um artista que visualizou no candomblé as artes plásticas.


Os missionários chegaram ao continente africano com um amuleto, a cruz, e falando insistentemente em feitiço, palavra inexistente no vocabulário africano. 


Concluímos que o feitiço é uma ideia europeia inserida no contexto africano a partir da colonização. Por que os amuletos africanos eram satânicos se não existia a ideia do satanás? 


Não seria essa entidade católica, uma forma de desestruturar a religiosidade africana, com o intuito de fazer ruir a cultura africana e dominar para controlar o continente por razões sórdidas, criminosas motivadas pelos interesses político-econômicos e pela ganância para por via da religião, impor o poder europeu? 


A religiosidade africana antecede a colonização, logo o demônio, o satanás é uma ideologia utilizada pela crença judaico-cristã para implantar o terror, a força e o poder colonial objetivando a subalternidade e inferioridade da religiosidade africana e afro-brasileira, resultando no que vemos atualmente com a prática da intolerância religiosa. 


Onde o pobre Exu é o culpado de todos os males. 


A religiosidade africana e afro-brasileira são subjetivas e dialéticas. 


É preciso inteligentsia para alcançar essa subjetividade. Satanizar a religiosidade africana e afro-brasileira é um ato de bondade ou de maldade?


O mundo ocidental é dicotômico, lida com ideias fixas de bem/mal; bom/ruim; claro/escuro; acima/abaixo, belo/feio. 


O Exu,  Esu, Eshu, Odara, Bara, Ibarabo, Legbá, Elegbara, Eleggua (Cuba), Akésan, Igèlù, Yangí, Ònan, Lállú, Tiriri, Ijèlú. 


São a subjetividade, são duas ou mais coisas ao mesmo tempo. 


A palavra Exu, significa esfera. 


Onde começa e termina a esfera? 


As ferramentas de Exu são obras de arte, assim como todas as outras que estão e são inerentes às indumentárias dos demais orixás. 


Porque a arte faz parte do universo africano e se notarmos bem do afro-brasileiro. 


Uma forma de se relacionar com o sagrado. 


São formas que contém em si energia vital. 


O Exu pode ser bom ou ruim dependendo dos homens, por que as energias positivas e negativas fazem parte do universo humano, logo, o mal e o bem são energias que emergem das atitudes humanas. 


Um dos símbolos e principal do Exu é o tridente, que limita, mas não dilacera, fere, mas equilibra, não mata. 


A lança transpassa e dilacera o adversário, porém e o tridente é o limite. 


O Exu é evocado no padê ou ipadê, reunião convocatória de todas as forças capazes de trazer o bem estar e prosperidade à comunidade, tempo em que oferenda a Iya-Agba, as mães ancestrais. (LUZ 2000, p. 51)


Exu é o orixá princípio da comunicação, por isso está em todos os lugares, em todos os caminhos em todas as pessoas, transmitindo dinamismo. 


Caminhos são encruzilhadas que levam a todos os lugares possíveis, com várias opções, com várias escolhas. 


Por essa razão as oferendas a Exu, são no abrigo da natureza, na rua e nas encruzilhadas para abrir os caminhos. 


Essas oferendas são a ligação entre o homem e o sagrado, ele faz circular o axé dinamizador do ciclo vital. 


A assentamento de Exu é na frente das casas de candomblé para protegê-la e aos seus adeptos.


 O “assento” de Exu,  que é uma casinhola de pedra e cal, de portinhola fechada a cadeado é a sua representação mais comum em que está sempre armado com suas sete espadas, [...]Entre os iorubás o lugar consagrado a Exu é constituído por pedaços de pedras porosas chamada yangi ou por um montículo de terra modelada numa forma similar a figura humana que tem olhos, nariz e boca assinalados por cauris (búzios). 


Outras vezes são representados por uma estátua que contém fileiras de cauris, tendo às mãos uma pequena cabaça (adó) que no seu interior leva ingredientes com poderes mágicos para a realização dos seus trabalhos, nestes casos, seus cabelos projetam-se numa longa trança sobre o crânio com a finalidade de ocultar a lâmina de uma faca que ele possui no alto do crânio que correspondem aos sete caminhos do seu imenso domínio, eram outros tantos motivos a apoiar a símile. (SODRE 2009, p.5)


Onde estão a maldade e satanismo ou vestígios desses nos assentamentos e nas oferendas a exu?


Exu é orixá l’odê, isto é, orixá de rua, irmão de Ogun. 


Tem várias representações. 


É responsável pelo interior do corpo. 


Exu Bara, oba+ara = rei do corpo, logo todo o indivíduo tem o seu exu. 


Ele responde pela circulação interna do corpo e pelo movimento. 


Está relacionado com  as cavidade internas do útero. 


É o patrono da relação sexual, fazendo interagir o sêmen e o óvulo que é a representação do axé e principio feminino e masculino respectivamente. 


Está ligado à placenta, ou seja, ipori, matéria de origem. 


Também associado à introjeção e restituição que estão representadas nas esculturas que o representa. Transfere as matérias do ayiê para o orun. (LUZ 2000, p. 51)


Exu é filho da interação dos princípios masculino e feminino. 


Orunmila orixá funfun, da cor branca, da direita e com Ybiérru, orixá da esquerda da cor vermelha. 


Quando associado ao barro vermelho endurecido, considerado a primeira matéria do universo.


 “Exu  realiza o processo capaz de engendrar a passagem e o nascimento de um ser do orun para o aiyê, das matérias massa, princípios genéricos, para a existência material concreta”. (LUZ 2000, p. 51).


Exu possui alguns nomes que variam segundo suas características. 


Exu Yangi primeira matéria do universo.


Exu Bara rege o interior do corpo. 


Exu Odara primogênito masculino de Oxum, iniciado em um homem em São Paulo, o Sacerdote Alexandre de Odara, da casa de Mãe Ana de Ogum.


Exu Enugbarijo ligado às funções da boca, da introspecção e da fala. 


Exu Ojixé=ebo, mensageiro e transportador de oferendas. 


Exu Elebó, senhor das oferendas que estabelece a ligação dos seres humanos com os orixás e vice-versa. 


Exu Onã, que abre e fecha os caminhos, prefere as encruzilhadas. 


Exu-obé, o que maneja a faca que separa e auxilia o nascimento e propicia a morte. 


Exu Osetuwa, que movimenta a posição dos símbolos que representa os Odu que regem o destino. (LUZ 2000, p. 51).


Exu é andarilho, é invisível, mas existe. 


Representa o riso e a brincadeira. 


Um dia Exu resolveu trocar a lua, o sol e o oceano dos seus lugares de origem. 


Oxalá viu a lua passar em lugar que não lhe era particular e perguntou o que ocorreu. A Lua respondeu: – foi Exu. 


E Oxalá ordenou que tudo fosse restituído ao seu lugar.


Quais são as ideias de lateralidade na religião de matriz africana as quais podemos dizer que Exu utiliza no seu ofício de mensageiro entre os dois mundos, responsável pelo ciclo de energia vital?


Tendo a oferenda na mão esquerda estende o braço para a frente saudando o nascente, o iyo-õrun; levando o seu braço para trás, saúda o poente, o ìwò-õrun; depois estende o braço para a direita, saudando o lado direito do mundo, o ótún-àiyé; e finamente para a esquerda, saudando o lado esquerdo do mundo, òsì-aiyé. (SANTOS 2008, p. 69)


Observemos então que as oferendas e comunicação se dão extremamente conectadas com o mundo e a natureza. 


Exu notadamente não é especificamente um orixá, é um princípio comunicação e da circulação do axé, da energia vital entre o homem, a mulher e o sagrado, as divindades, o meio ambiente. É a força dinamizadora.


Não há existência sem Exu, porque não há existência sem uma forma cultural que lhe dê sentido. Exu dá sentido ao interligar todos os seres. 


Os seres são porque são interligados. 


Exu é o princípio da comunicação e como toda a comunicação é pública, logo política. 


Exu é o princípio mais dinâmico da cultura afro-brasileira na medida em que coloca todos os seres em intercâmbio relacional conferindo-lhe a existência individualizada, principalmente o sentido que faz com que as coisas sejam o que são [...] a inteligibilidade sobre as coisas. (OLIVEIRA, p. 108.)


Exu é Exu! Exu é nossa natureza humana, Exu é alegria e tristeza, é a personificação da dinâmica da vida.


BIBLIOGRAFIA


LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. 2a Edição. Salvador: EDUFBA. 2000.


OLIVEIRA, David Eduardo de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente. Fortaleza: LCR. 2003.


SANTOS. Juana Elben dos. Os Nãgõ e a Morte: Pàde, Asèsè e o culto égun na Bahia. Tradução UFBA. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.


SOUSA JUNIOR, Vilson Caetano. Nossas Raízes Africanas. (Org.). São Paulo: Atabaque, 2004.


Bibliografia Eletrônica


Exu e seu tridente Disponível em: . Acesso 06 fev. 2012.


SODRÉ, Jaime. Exu – forma e função. In: Revista VeraCidade – Ano IV – Nº 5 – Outubro de 2009 Dsiponível em . Acesso 6 fev. 2012.


Exu (orixá). Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Exu_(orix%C3%A1). Acesso 06 fev. 2012.


Por Rosivalda Barreto



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