O Candomblé e a natureza
Para a meia dúzia de fieis seguidores que acompanham o Blog, eu informo que já tem vários textos na agulha para serem publicados, compensando o mes de Janeiro bem pacato que houve. Vou abordar tanto assuntos de Ifá como Candomblé, sempre voltados para o entendimento do que é esta religião.
Como não tenho o hábito que tenho observado em outros Blogs sobre o mesmo assunto, onde as pessoas definem um assunto e escrevem uma meia dúzia de linhas, de informação comum na maior parte das vezes apenas opinativa, os textos me dão um pouco mais de trabalho. Eu coloco minha opinião, é claro, e análise tembém, mas sempre que possível eu adiciona as fontes, referências, mitos e versos que justificam a minha opinião.
Espero dessa maneira construir uma visão mais transparente e crítica sobre os temas. Seria fácil fazer como outros blogueiros mas não iria contribuir em nada eu apenas publicar o que eu penso. Assim as coisas são um pouco mais lentas. Como uma pessoa de fé tenho certeza que isso vai ter resultado.
No fim do ano passado eu preparei um texto e acabei não publicando. Desta forma estou agora publicando. Nesse caso aqui eu apenas expresso minha opinião sobre um assunto, mas, espero que ele toque as pessoas que o lerem. Tenho certeza absoluta que é a opinião de muitos.
Aproveito para pedir que divulguem o link do Blog. Como veem não tenho propaganda no Blog e não ganho em nada com os acessos. Apenas faço minha parte para mudar e concertar o mundo em que eu vivo, com as bençãos de Orunmila.
Todo fim de ano vem a vontade de escrever alguma coisa sobre o mesmo assunto. Isso ocorre porque participo de alguma cerimonia em cachoeira e ocorre de ver os absurdos que nos revoltam.
Existe uma balela falada por ai que o Candomblé portege a natureza porque dela depende. Sim é fato, mas isso não é nada de especial, a vida depende da natureza. Existe outra balela que se fala que diz que os Orixás são elementos da natureza, rsrsrsrs, claro que não são. Isso é uma bobagem.
Mas em relação à primeira afirmação, as pessoas de Candomblé, seja por desconhecimento, ignorância, mal formação ou mal caratismo mesmo, são pessoas que tratam mal a natureza. Basta ir em qualquer mata frequentada por candomblecistas, qualquer rio frequentado por eles ou qualquer cachoeira. Isso é público e notório.
Basta ir na floresta da tijuca, em mesquita ou qualquer lugar frequentado por essa "nata",
Além, claro, do fato que essas pessoas despejam trabalhos nas ruas, com alguidares, louças, bebidas, animais mortos, como se a população em geral tivesse algo haver com a religião deles e como se o fundo de um fétido caminhão de lixo fosse algum lugar nobre.
Obrigação em rua é sinal apenas de gente porca, não é sinal de religião.
Mas o evento que me mexeu ocorrer em um fim de semana passado ha pouco tempo. Estava eu lá acompanhando um toque na cachoeira de Umbanda, que sempre são muito bons e não existe motivo para recursar um bom convite. Era em um lugar conhecido, usado por muitos centros, dedicado a trabalhos de centros e casas e que tem uma pessoa que zela pelo lugar mantendo-o limpo, aliás, como existem outros na mesma região.
Estava em um platô, um pouco abaixo do caminho que segue paralelo ao Rio. Um lugar simples mas agradável e bem conservado.
Observei que acima de nós, no caminho usados pelos que lá vão, um grupo pequeno, pelas roupas, uma Iyalorixá de Candomblé e alguns homens nos quais ela passa um ebó. Sim ela passava ebó naquelas pessoas ali, no caminho que as pessoas andavam. O fato de em um lugar tão amplo e com mata em volta uma pessoa passar ebó acima das pessoas que tocavam já me incomodou muito, porque considerei a mais profunda falta de educação. Tinha muuuito lugar para eles fazerem aquilo.
Mas, entretido pelo toque e mais interessado no que era bom deixei aquela infeliz fazendo a bobagem dela. Quando acabou o toque, contufo, pude ver o que aquela infeliz tinha feito, uma lastima. Ao logo do caminho usado por todos, ela havia passado ebó naquelas pessoas, sim, vários ebós em algumas pessoas e isso ao longo do caminho, sujando todo o percurso comum.
Se não bastasse isso havia deixado inclusive ao lado dos ebós e ao longo do caminho os restos de sacos plasticos, caixas e embalagens usadas para carregar os elementos do ebó. Uma sujeira só.
O Zelador do lugar estava muito chateado, porque a pessoa havia sujado aquilo tudo, e não só com os elementos do ebó mas também com lixo comum.
Mas, como ele mesmo confirmou, isso não é uma raridade. É muito comum em pessoas de Candomblé, que vão lá e nada respeitam, deixam sujeira por todo o lugar emporcalhando tudo.
Ha alguns anos eu estive na chamada cahoeira de mesquita, um lugar bem pequeno mas que parecia uma lixeira. Uma lixeira de ebós, com urubu e tudo o mais e pude ainda presenciar o mesmo tipo de ato, a pessoa estava passando ebó em outra justamente no pequeno caminho que se tinha para passar.
Ou seja, a pessoa se dá ao trabalho de ir para uma mata passar um ebó e ao invés de procurar um lugar adequado para fazer aquele trabalho ou aquela descarga de negatividade, os infelizes faziam no caminho comum usado pela pessoas....
Gente, me poupe. Isso é ridículo.
Lamento mas o ato daquela Iyalorixá não é uma excessão, pelo contrário é regra. É isso mesmo, gente ignorante e porca que não se preocupa com a natureza, com o bem comum com o próximo e com a sociedade. Gente mal educada e mal formada.
Gente que diz que o "candombré" é cultura e que dizem que é uma religião ligada à natureza!! Gente mentiroza e ridícula.
Mas não é apenas isso. Eu mesmo participava de uma casa de Candomblé que fazia as obrigações dentro do terreiro, todas muito bonitas e em feitas, mas, na hora de despachar ebós e resto de trabalhos, o babalorixá mandava o pejigan dele levar aquilo tudo, as vezes volumes grandes, louças ou barro e material orgânico já em alguma decomposição (não muito porque eles não deixavam dar cheiro na casa) para o meio da rua! Sim, despachava em rua e praças como se os demais habitantes do bairro tivessem alguma coisa haver com aquilo, como se a rua ou a porta dos outros fosse a lixeira dele.
Claro, tudo na calada da noite. Qual o "afundamento" disso? Nenhum, porcaria não tem fundamento e o fundo de um caminhão de lixo não tem nenhum axé. Se o lixeiro ia fazer esse trabalho para ele, então que ele mesmo colocasse no lixo.
Mas voltando à cachoeira, por incrível que pareça, e minha surpresa, disseram depois que a tal Iyalorixá que tinha visto de longe era na realidade um babalorixá... do tipo que se veste com roupa de mulher para fazer obrigação de trabalho de orixá...
Lamento muito por ver isso e não podia deixar de registrar. Uns ebós ridículos, mal feitos e ainda executados daquela maneira, sem respeito as pessoas.
E as pessoas de Candomblé ainda enchem a boca para dizer que é uma religião que protege a natureza.... ! Apenas mais uma mentira das muitas que falam.
Eu deixo aqui esse depoimento com o relato e minha opinião sobre isso. O que vi foi real, ninguém me contou.
Eu faço parte de uma corrente distinta disso. Que acredita realmente em equilibrio ecológico, que se preocupa em respeitar a natureza e as pessoas que vivem no mundo.
SÃO JORGE NÃO É OGUM, UM ORIXÁ, ELE É UM CRISTÃO SANTO
SEI QUE MUITOS DEVOTOS DE SÃO JORGE SÃO DE RELIGIÃO AFRICANA.
ADMIRO AS RELIGIÕES AFRICANAS NO BRASIL, SUA FORÇA, MÚSICA, CULTURA, SEUS VALORES INEGÁVEIS.
ACHO MESMO QUE A IGREJA NO BRASIL FALHOU EM SUA CATEQUESE COM RELAÇÃO AOS NEGROS. FOI DISPLICENTE E MENOSPREZOU A FORÇA DA CULTURA NEGRA.
COMO TERIA SIDO BONITO SE NOSSAS IGREJAS FIZESSEM RODAS DE CANTO IGUAL AOS NEGROS NOS TERREIROS.
SOU FILHO DE UMA MISTURA E CONHEÇO BEM A TRADIÇÃO DO CANDOMBLÉ, XANGÔ E OUTRAS DENOMINAÇÕES.
NÃO CONHEÇO TÃO BEM PORQUE NUNCA FREQUENTEI TERREIROS. JÁ FUI UMA OU DUAS VEZES ACOMPANHANDO AMIGOS QUE CREEM.
ACHO LINDO VER OS AFOXÉS, MARACATUS, AS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS DESSA CULTURA E ESTUDAR SEUS MITOS E CRENÇAS.
NO ENTANTO, SOU CATÓLICO POR AMOR, FÉ E ESPERANÇA. NASCI CATÓLICO, PASSEI UM TEMPO LONGE. ESTUDEI E ENTENDI UM POUCO MELHOR MINHA FÉ, MAS NÃO DESPREZO AS DEMAIS RELIGIÕES. APESAR DE CRER NA SALVAÇÃO ÚNICA E PLENA PRESENTE NA SANTA IGREJA.
MAS É PRECISO FICAR CLARO QUE SÃO JORGE E OGUM SÃO PESSOAS DIFERENTES DE HISTÓRIAS DIFERENTES DE RELIGIÕES DIFERENTES E QUE POR UMA QUESTÃO HISTÓRICA PASSARAM A RECEBER UM CULTO SINCRETICIOSO.
COMO OS NEGROS NÃO PODIAM CULTUAR OGUM POR REPRESSÃO DA IGREJA, VENERAVAM SÃO JORGE POR IDENTIFICAR NELE CARACTERÍSTICAS DE SEU ORIXÁ.
SÃO JORGE É UM SANTO QUE DEMONSTRA FORÇA, PODER. SUA IMAGEM MOSTRA UM CAVALEIRO, UM GUERREIRO, UM SOLDADO.
POR ISSO SE PARECE COM OGUM. OGUM É O ORIXÁ DA GUERRA, DA LUTA, DA FORÇA. SUA COR TAMBÉM É O VERMELHO ( EM ALGUMAS CULTURAS É O AZUL ESCURO).
NO ENTANTO, O VERMELHO DE SÃO JORGE SIMBOLIZA SUA MORTE EM NOME DE CRISTO, SEU MARTÍRIO.
E O VERMELHO DE OGUM SIMBOLIZA O FOGO QUE É SEU ELEMENTO, A LUTA, A GUERRA.
POR ISSO, ACHO QUE OS DEVOTOS DE SÃO JORGE, OS CATÓLICOS MAIS CONSCIENTES NÃO DEVEM TER MEDO OU VERGONHA DE DIZER QUE VENERAM OU VENERAR UM SANTO TÃO GRANDIOSO, COM TANTA HISTÓRIA, COMO SÃO JORGE.
ELE FOI ALGUÉM QUE NÃO TEMEU MORRER PELA FÉ.
E QUANTOS DE NÓS TEMEMOS?
POR ISSO, O ADMIRAMOS.
NEM TODOS TIVERAM E NEM TODOS TÊM A CORAGEM DE DAR SUA VIDA POR ALGUÉM OU POR UMA CAUSA.
REZAR A SÃO JORGE É RECONHECER QUE DEUS ESTÁ PRESENTE AQUI NO MEIO DE NÓS.
E QUE DO MESMO JEITO QUE AJUDOU SEU SERVO SÃO JORGE, PODE TAMBÉM NOS AJUDAR A ENFRENTAR AS BATALHAS DA VIDA.
LI NO ORKUT UM DEPOIMENTO DE UMA PESSOA QUE DISSE TER SIDO CURADA DE CÂNCER POR SÃO JORGE E ESTAVA PERGUNTANDO SE ISSO ERA PECADO.
FIQUEI ABISMADO COM A FALTA DE FÉ. E PENSO SE ESSA PESSOA FOI MESMO CURADA. POIS COMO SE RECEBE UMA DÁDIVA DE DEUS E DEPOIS SE DUVIDA TANTO?
MAS LEMBRO DE TOMÉ QUE VIU TANTOS MILAGRES DE JESUS E MESMO ASSIM DUVIDOU QUE ELE RESSUSCITOU.
COM CERTEZA, ESSA PESSOA ESTAVA INFLUENCIADA POR CRISTÃOS DE OUTRA DENOMINAÇÃO QUE VIVEM ACUSANDO OS SANTOS DE SEREM DEMÔNIOS.
ENQUANTO QUE NÓS RESPEITAMOS E AMAMOS SÃO JORGE, UM HOMEM SANTO QUE LUTOU CONTRA ELES E CONTRA OS FALSOS DEUSES.
ADMIRO SÃO JORGE.
POUCO SABEMOS DE FATO SOBRE SUA VIDA ALÉM DO FATO DE QUE LUTOU PELA IGREJA E POR CRISTO.
NO ENTANTO, SÓ ISSO BASTA.
BASTA SABER QUE ELE FOI UM EXEMPLO DE AMOR A DEUS.
BASTA SABER QUE ELE FOI UM HOMEM DIFERENTE DOS OUTROS, POIS CONSEGUIU TANTOS ADMIRADORES EM VIDA PARA LEMBRÁ-LO NA MORTE.
BASTA SABER QUE SEM GRAÇAS E MILAGRES NINGUÉM O VENERARIA, POIS A DEVOÇÃO A UM SANTO SÓ CRESCE NA MEDIDA QUE O POVO SENTE A GRAÇA DE DEUS ATRAVÉS DO SANTO OU SANTA PARA O QUAL REZAM.
E SE DURANTE SÉCULOS DEUS ESCUTOU E ESCUTA A PRECE DE SEU POVO PELA INTERCESSÃO DE SÃO JORGE É PORQUE DE FATO ELE EXISTE E ATUA AINDA HOJE NA SUA IGREJA, REZANDO POR NÓS JUNTO A DEUS.
POR FIM, TAMBÉM NÃO CREIO SER NECESSÁRIO DEPOIS DE TANTOS SÉCULOS APONTAR O SINCRETISMO COMO ALGO RUIM.
CREIO QUE AS DUAS RELIGIÕES PODEM APRENDER MAIS UMA COM A OUTRA.
A IGREJA CATÓLICA PODE SE ENRIQUECER E APRENDER MUITO COM AS RELIGIÕES AFRICANAS.
DO MESMO MODO, AS DEMAIS RELIGIÕES COM A IGREJA.
É SEMPRE BOM UM POUCO DE ECUMENINSMO, SEM MUITO DE SINCRETISMO.
Èsù (Exú) - Caminhos, trilhas e encruzilhadas
Ògún (Ogum) - Ferro
Ò s ó ò s ì (Oxossi) - Florestas
Òsanyìn (Ossain) - Segredo das folhas
Obalúayé (Obaluaiê / Omolu) - Terra
Òsùmàrè (Oxumarê ) - Arco- íris
Sàngó (Xangô) - Raios, trovões e pedras
Irókò (Irôco) - A força física do povo de santo
Oya (Oiá/ Iansã) - Chuva, tempestade, vento
Ò s u n (Oxum) - Rios, cachoeiras
Yemonja (Iemanjá) - Mares e rios
Obà (Obá) - Grutas, cavernas e encontro das águas
Yewa (Euá) - Cosmos, mata virgem
Nàná (Nanã) - Pântanos e mangues
Òòsàálà (Oxalá) - Harmonia da natureza
Por trás do véu do sincretismo
Publicado em 31/08/2007 por Soteropolitanos 12
por Sara Regina
Ao caminhar no Pelourinho, quem passa em frente à Igreja do Rosário dos Pretos e escuta batuques de atabaques, ritmos africanos e vê a batina do padre incrementada com desenhos afros pode duvidar que trata-se realmente de uma missa católica.
Mas é o que acontece todas as terças-feiras, às 18h, na realização de uma missa que une o catolicismo com elementos da cultura africana.
Essa missa é um exemplo do sincretismo que uniu duas das religiões mais praticadas no Brasil: o candomblé e o catolicismo.
Existindo quem o apóie e quem o recrimine.
A Igreja do Rosário dos Pretos lota às terças-feiras.
Muitos fiéis assistem a missa de pé e são vários os que vão especificamente a essa celebração por seus diferenciais.
O sincretismo pode ser visualizado desde a homilia do padre que faz referências aos povos afros, até as músicas religiosas, que são acompanhadas pelos batuques dos atabaques, entre outros instrumentos africanos.
A freqüentadora da igreja há cerca de dois anos, Jacir Macedo, 33 anos, acha a missa interessante por gostar e se identificar com os elementos do candomblé: “Me sinto muito bem aqui, essa missa me transmite uma paz, tranqüilidade e muita fé”.
O sincretismo religioso trata-se da fusão de duas ou mais religiões, havendo uma troca de elementos de culto entre elas. Em Salvador esse sincretismo é visto mais fortemente, pelo fato da cidade apresentar grande número de afro-descendentes, associado à colonização feita pelos europeus que trouxe grande influência do catolicismo. Para o padre Arnaldo Lima, 60 anos, professor da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), a relação sincrética do catolicismo com a religião afro-baiana acontece de forma diversificada. “Para algumas pessoas essa relação é de forma suave, como o nadar no rio da cidade onde nascemos.
E Salvador teve a felicidade de acolher a religião dos africanos, na grande infelicidade da escravidão”.
Existem várias teorias para o surgimento do sincretismo religioso que ocorre atualmente. De acordo com Bel de Oxum, pai de santo há 45 anos, o sincretismo foi uma criação dos negros para enganar os patrões que impuseram a religião católica.
Os africanos pegavam as imagens da religião católica, como a de Santo Antônio e de Santa Bárbara, colocavam em cima de uma mesa e embaixo dela colocavam o ebós, que são as oferendas para o seu orixá. “Dessa forma, quando os patrões se aproximavam, acreditavam que os escravos estavam adorando as imagens católicas”, afirma ele.
Para o padre Arnaldo, por uma questão de sobrevivência, os povos oriundos da África vestiram os seus orixás com as vestes do catolicismo oficial e dessa forma conseguiram manter a fé em seu culto. “Assim esses fiéis fazem serenamente a síntese entre o candomblé e o catolicismo, apesar de toda perseguição dos graduados na hierarquia”, declara o padre.
Essa relação pode ser observada nas grandes festas religiosas e sincréticas que acontecem na cidade, como exemplos a Lavagem do Senhor do Bonfim, seguida por católicos e praticantes do candomblé, e o Dois de Fevereiro, dia de Yemanjá. Estreitando assim as culturas e as religiões vindas da Europa e da África.
No momento em que os africanos passaram a utilizar as imagens dos santos para poder reverenciar seus orixás, começou a surgir a fusão com os santos da igreja católica.
Para parte da população, essas divindades correspondem-se, por apresentar desde vestes a histórias de vidas semelhantes. Exemplos de Iansã, que é sincretizada com Santa Bárbara, e os Ibejis que são associados a Cosme e Damião, entre outros. Mas para Bel de Oxum, cada um é único, quando se reverencia Ibejis não é o mesmo que reverenciar Cosme e Damião.
Convívio
O hibridismo religioso existente entre os católicos e os praticantes do candomblé é explicitado entre os que freqüentam as duas religiões de forma harmônica e aqueles que são praticantes de uma delas e em alguns momentos dirige-se a outra, seja numa missa ou num ritual do candomblé. A equede (nome dado no candomblé a aqueles que cuidam dos orixás) Sandra, do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, diz ser batizada numa igreja.
Atualmente não se considera católica, mas vai à missa em certas ocasiões: “Aprendi muitas coisas freqüentando a igreja, cada um tem a sua cabeça e aqui existe liberdade para cada um segui-la”.
O babalorixá Bel do Oxum, nome também utilizado para pai-de-santo, considera que devido ao sincretismo todos nós devemos ser batizados.
De acordo com o pai-de-santo, a relação existente entre as duas religiões é quase que perfeita, existindo muitos padres que celebram missas nos terreiros e que vão até lá para comer o caruru de São Cosme. “Nunca houve uma discriminação grande, sempre existiu o misticismo”, declara Bel. De acordo com as convicções do padre Arnaldo Dias, o sincretismo é uma benção na cidade de Salvador.
Limites
Apesar de o sincretismo religioso ter se mostrado como fonte de sobrevivência da religião afro, parte dos católicos e dos praticantes do candomblé acreditam que deva existir um limite na relação entre as duas religiões. Fato que pode ser visto na Lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim, onde o ritual foi modificado e somente as escadarias passaram a ser lavadas enquanto a igreja se mantém de portas fechadas abrindo-se somente na realização da missa por considerar a festa um ato profano.
Membros da Renovação Carismática, movimento eclesial dentro da Igreja Católica que procura resgatar os valores da igreja, costumam ser mais radicais quando se trata do sincretismo religioso. Maria de Lucia Ferreira, 35 anos, há 12 fazendo parte da Renovação Carismática, acha que deve existir uma separação entre as religiões, pois se tratam de práticas diferentes e os católicos não devem freqüentar outras práticas religiosas que não sejam as da igreja católica. “Cada qual é cada qual. E a Renovação Carismática é fechada à prática de outras seitas religiosas”, disse Maria Lucia.
De acordo com o padre Arnaldo Lima, essa relação acontece de forma tensa para alguns e de forma libertadora para outros: “Outras pessoas abjuram o passado, tentam esquecer uma religião que foi socialmente desprezada e teologicamente, ‘demonizada’, escondem suas crenças maiores”, afirma o padre.
O candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, conduzido por Mãe Stella, localizada no bairro de São Gonçalo, também não é adepto do sincretismo religioso, apesar de respeitar todas as religiões e dar liberdade aos seus praticantes de exercer a prática.
A mãe-de-santo deixou claro sua posição contra o sincretismo religioso em um documento de 1983, assinado por várias outras yalorixás (nome também utilizado para mãe-de-santo), que tenta promover a separação total das práticas do candomblé com as católicas, por acreditar que o sincretismo leva ao consumo e a profanação da religião africana.
Divindade masculina ioruba, figura que se repete em todas as formas mais conhecidas da mitologia universal.
Ogum é o arquétipo do guerreiro.
Bastante cultuado no Brasil, especialmente por ser associado à luta, à conquista, é a figura do astral que, depois de Exu, está mais próxima dos seres humanos.
É sincretizado com São Jorge ou com Santo Antônio, tradicionais guerreiros dos mitos católicos, também lutadores, destemidos e cheios de iniciativa.
A relação de Ogum com os militares tanto vem do sincretismo realizado com São Jorge, sempre associado às forças armadas, como da sua figura de comandante supremo ioruba.
Dizem as lendas que se alguém, em meio a uma batalha, repetir determinadas palavras (que são do conhecimento apenas dos iniciados), Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o evocou.
Porém, elas (as palavras) não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, tendo excitado a fúria por sangue do Orixá, detonaram um processo violento e incontrolável; se não encontrar inimigos diante de si após ter sido evocado, Ogum se lançará imediatamente contra quem o chamou.
É orixá das contendas, deus da guerra. Seu nome, traduzido para o português, significa luta, batalha, briga.
É filho de Iemanjá e irmão mais velho de Exu e Oxossi.
Por este último nutre um enorme sentimento, um amor de irmão verdadeiro, na verdade foi Ogum quem deu as armas de caça à Oxossi.
O sangue que corre no nosso corpo é regido por Ogum.
Considerado como um orixá impiedoso e cruel, temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos, ele até pode passar esta imagem, mas também sabe ser dócil e amável.
É a vida em sua plenitude.
A violência e a energia, porém não explicam Ogum totalmente. Ele não é o tipo austero, embora sério e dramático, nunca contidamente grave.
Quando irado, é implacável, apaixonadamente destruidor e vingativo; quando apaixonado, sua sensualidade não se contenta em esperar nem aceita a rejeição. Ogum sempre ataca pela frente, de peito aberto, como o clássico guerreiro.
Ogum não era, segundo as lendas, figura que se preocupasse com a administração do reino de seu pai, Odudua; ele não gostava de ficar quieto no palácio, dava voltas sem conseguir ficar parado, arrumava romances com todas as moças da região e brigas com seus namorados.
Não se interessava pelo exercício do poder já conquistado, por que fosse a independência a ele garantida nessa função pelo próprio pai, mas sim pela luta.
Ogum, portanto, é aquele que gosta de iniciar as conquistas, mas não sente prazer em descansar sobre os resultados delas, ao mesmo tempo é figura imparcial, com a capacidade de calmamente exercer (executar) a justiça ditada por Xangô. É muito mais paixão do que razão: aos amigos, tudo, inclusive o doloroso perdão: aos inimigos, a cólera mais implacável, a sanha destruidora mais forte.
Ogum é o deus do ferro, a divindade que brande a espada e forja o ferro, transformando-o no instrumento de luta. Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta, sendo o padroeiro de todos os que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, militares, soldados, ferreiros, trabalhadores, agricultores e, hoje em dia, mecânicos, motoristas de caminhões e maquinistas de trem. É, por extensão o Orixá que cuida dos conhecimentos práticos, sendo o patrono da tecnologia.
Do conhecimento da guerra para o da prática: tal conexão continua válida para nós, pois também na sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem justamente das pesquisas armamentistas, sendo posteriormente incorporada à produção de objetos de consumo civil, o que é particularmente notável na indústria automobilística, de computação e da aviação.
Assim, Ogum não é apenas o que abre as picadas na matas e derrota os exércitos inimigos; é também aquele que abre os caminhos para a implantação de uma estrada de ferro, instala uma fábrica numa área não industrializada, promove o desenvolvimento de um novo meio de transporte, luta não só contra o homem, mas também contra o desconhecido.
É, pois, o símbolo do trabalho, da atividade criadora do homem sobre a natureza, da produção e da expansão, da busca de novas fronteiras, de esmagamento de qualquer força que se oponha à sua própria expansão.
É fácil, nesse sentido, entender a popularidade de Ogum: em primeiro lugar, o negro reprimido, longe de sua terra, de seu papel social tradicional, não tinha mais ninguém para apelar, senão para os dois deuses que efetivamente o defendiam: Exu (a magia) e Ogum (a guerra); Em segundo lugar, além da ajuda que pode prestar em qualquer luta, Ogum é o representante no panteão africano não só do conquistador, mas também do trabalhador manual, do operário que transforma a matéria-prima em produto acabado: ele é a própria apologia do ofício, do conhecimento de qualquer tecnologia com algum objetivo produtivo, do trabalhador, em geral, na sua luta contra as matérias inertes a serem modificadas.
É o dono do Obé (faca) por isso nas oferendas rituais vem logo após Exú porque sem as facas que lhe pertencem não seriam possíveis os sacrifícios. Ogum é o dono das estradas de ferro e dos caminhos. Protege também as portas de entrada das casas e templos (Um símbolo de Ogum sempre visível é o màrìwò (mariô) - folhas do dendezeiro (igi öpë) desfiadas, que são colocadas sobre as portas das casas de candomblé como símbolo de sua proteção).
Ogum também é considerado o Senhor dos caminhos. Ele protege as pessoas em locais perigosos, dominando a rua com o auxílio de Exú. Se Exú é dono das encruzilhadas, assumindo a responsabilidade do tráfego, de determinar o que pode e o que não pode passar, Ogum é o dono dos caminhos em si, das ligações que se estabelecem entre os diferentes locais.
Uma frase muito dita no Candomblé, e que agrada muito Ogum, é a seguinte: “Bi omodé bá da ilè, Kí o má se da Ògún”. (Uma pessoa pode trair tudo na Terra Só não deve trair Ogum).
Ogum foi casado com IANSÃ que o abandonou para seguir XANGÔ. Casou-se também com OXUM, mas vive só, batalhando pelas estradas e abrindo caminhos.
Características
Cor Vermelha (Azul Rei) (Em algumas casas também o verde)
Fio de Contas Contas e Firmas Vermelhas Leitosas
Ervas
Peregum(verde), São Gonçalinho, Quitoco, Mariô, Lança de Ogum, Coroa de Ogum, Espada de Ogum, Canela de Macaco, Erva Grossa, Parietária, Nutamba, Alfavaquinha, Bredo, Cipó Chumbo.
(Em algumas casas: Aroeira, Pata de Vaca, Carqueja, Losna, Comigo Ninguém Pode, Folhas de Romã, Flecha de Ogum, Cinco Folhas, Macaé, Folhas de Jurubeba)
Símbolo Espada.
(Também, em algumas casas: ferramentas, ferradura, lança e escudo)
Pontos da Natureza Estradas e Caminhos (Estradas de Ferro). O Meio da encruzilhada pertence a Ogum.
Flores Crista de Galo, cravos e palmas vermelhas.
Essências Violeta
Pedras Granada, Rubi, Sardio. (Em algumas casas: Lápis-Lazúli, Topázio Azul)
Metal Ferro (Aço e Manganês).
Saúde Coração e Glândulas Endócrinas
Planeta Marte
Dia da Semana Terça-Feira
Elemento Fogo
Chakra Umbilical
Saudação Ogum Iê
Bebida Cerveja Branca
Animais Cachorro, galo vermelho
Comidas Cará, feijão mulatinho com camarão e dendê. Manga Espada
Numero 2
Data Comemorativa 23 de Abril (13 de Junho)
Sincretismo São Jorge. (Santo Antônio na Bahia)
Incompatibilidades: Quiabo
Qualidades Tisalê, Xoroquê, Ogunjá, Onirê, Alagbede, Omini, Wari, Erotondo, Akoro Onigbe.
Atribuições:
Todo Ogum é aplicador natural da Lei e todos agem com a mesma inflexibilidade, rigidez e firmeza, pois não se permitem uma conduta alternativa. Onde estiver um Ogum, lá estarão os olhos da Lei, mesmo que seja um "caboclo" de Ogum, avesso às condutas liberais dos freqüentadores das tendas de Umbanda, sempre atento ao desenrolar dos trabalhos realizados, tanto pelos médiuns quanto pelos espíritos incorporadores. Dizemos que Ogum é, em si mesmo, os atentos olhos da Lei, sempre vigilante, marcial e pronto para agir onde lhe for ordenado.
As Características Dos Filhos De Ogum
Não é difícil reconhecer um filho de Ogum. Tem um comportamento extremamente coerente, arrebatado e passional, aonde as explosões, a obstinação e a teimosia logo avultam, assim como o prazer com os amigos e com o sexo oposto. São conquistadores, incapazes de fixar-se num mesmo lugar, gostando de temas e assuntos novos, conseqüentemente apaixonados por viagens, mudanças de endereço e de cidade. Um trabalho que exija rotina, tornará um filho de Ogum um desajustado e amargo. São apreciadores das novidades tecnológicas, são pessoas curiosas e resistentes, com grande capacidade de concentração no objetivo em pauta; a coragem é muito grande.
Os filhos de Ogum custam a perdoar as ofensas dos outros. Não são muito exigentes na comida, no vestir, nem tão pouco na moradia, com raras exceções. São amigos camaradas, porém estão sempre envolvidos com demandas. Divertidos, despertam sempre interesse nas mulheres, tem seguidos relacionamentos sexuais, e não se fixam muito a uma só pessoa até realmente encontrarem seu grande amor.
São pessoas determinadas e com vigor e espírito de competição. Mostram-se líderes natos e com coragem para enfrentar qualquer missão, mas são francos e, às vezes, rudes ao impor sua vontade e idéias. Arrependem-se quando vêem que erraram, assim, tornam-se abertos a novas idéias e opiniões, desde que sejam coerentes e precisas.
As pessoas de Ogum são práticas e inquietas, nunca "falam por trás" de alguém, não gostam de traição, dissimulação ou injustiça com os mais fracos.
Nenhum filho de Ogum nasce equilibrado. Seu temperamento, difícil e rebelde, o torna, desde a infância, quase um desajustado. Entretanto, como não depende de ninguém para vencer suas dificuldades, com o crescimento vai se libertando e acomodando-se às suas necessidades.
Quando os filhos de Ogum conseguem equilibrar seu gênio impulsivo com sua garra, a vida lhe fica bem mais fácil. Se ele conseguisse esperar ao menos 24 hs. para decidir, evitaria muitos revezes, muito embora, por mais incrível que pareça, são calculistas e estrategistas.
Contar até 10 antes de deixar explodir sua zanga, também lhe evitaria muitos remorsos. Seu maior defeito é o gênio impulsivo e sua maior qualidade é que sempre, seja pelo caminho que for, será sempre um Vencedor.
A sua impaciência é marcante. Tem decisões precipitadas. Inicia tudo sem se preocupar como vai terminar e nem quando. Está sempre em busca do considerado o impossível. Ama o desafio. Não recusa luta e quanto maior o obstáculo mais desperta a garra para ultrapassá-lo. Como os soldados que conquistavam cidades e depois a largavam para seguir em novas conquistas, os filhos de Ogum perseguem tenazmente um objetivo: quando o atinge, imediatamente o larga e parte em procura de outro.
É insaciável em suas próprias conquistas. Não admite a injustiça e costuma proteger os mais fracos, assumindo integralmente a situação daquele que quer proteger. Sabe mandar sem nenhum constrangimento e ao mesmo tempo sabe ser mandado, desde que não seja desrespeitado. Adapta-se facilmente em qualquer lugar. Come para viver, não fazendo questão da qualidade ou paladar da comida. Por ser Ogum o Orixá do Ferro e do Fogo seu filho gosta muito de armas, facas, espadas e das coisas feitas em ferro ou latão. É franco, muitas vezes até com assustadora agressividade. Não faz rodeio para dizer as coisas. Não admite a fraqueza e a falta de garra.
Têm um grave conceito de honra, sendo incapazes de perdoar as ofensas sérias de que são vítimas. São desgarrados materialmente de qualquer coisa, pessoas curiosas e resistentes, tendo grande capacidade de se concentrar num objetivo a ser conquistado, persistentes, extraordinária coragem, franqueza absoluta chegando à arrogância. Quando não estão presos a acessos de raiva, são grandes amigos e companheiros para todas as horas.
É pessoa de tipo esguio e procura sempre manter-se bem fisicamente. Adora o esporte e está sempre agitado e em movimento, tendem a ser musculosos e atléticos, principalmente na juventude, tendo grande energia nervosa que necessita ser descarregadas em qualquer atividade que não implique em desgastes físicos.
Sua vida amorosa tende a ser muito variada, sem grandes ligações perenes, mas sim superficiais e rápidas.
Cozinha ritualística
Cará com Dendê e Mel
Lave um inhame em sete águas (sete vezes), depois coloque numa gamela de madeira ou alguidar. Com uma faca (obé), bem afiado, corte-o na vertical. Na banda do lado esquerdo se passa dendê e na do lado direito mel.
Paliteiro de Ogum
Cozinhe um Cará com casca e tudo. Coloque numa gamela de madeira ou alguidar. Espete palitos de Mariô por toda a superfície. Pode regar com dendê ou mel.
Feijão Mulatinho
Cozinhe o feijão mulatinho (ou cavalo) e tempere-o com cebola refogada no dendê, coloque em um alguidar e enfeite com 7 camarões fritos no dendê.
Lendas de Ogum
Como Ogum Virou Orixá
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos. Ele trazia sempre um rico espólio em suas expedições, além de numerosos escravos. Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odúduá, seu pai, rei de Ifé.
Ogum continuou suas guerras. Durante uma delas, ele tomou Irê e matou o rei, Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de Rei. Ele é saudado como Ogum Onirê! - "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa, "akorô". Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô - "Ogum dono da pequena coroa".
Após instalar seu filho no trono de Irê, Ogum voltou a guerrear por muitos anos. Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar. Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo devia guardar silêncio completo. Ogum tinha fome e sede. Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam vazias. O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se. Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas. A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de Ogum e ofereceu-lhe seus pratos prediletos: caracóis e feijão, regados com dendê, tudo acompanhado de muito vinho de palma. Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência, e disse que já vivera bastante, que viera agora o tempo de repousar. Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra. Ogum tornara-se um Orixá.
Lenda de Ogum Xoroquê
Uma vez ao voltar de uma caçada não encontrou vinho de palma (ele devia estar com muita sede), e zangou-se de tal maneira que irado subiu a um monte ou montanha e Xoroquê (gritou Ferozmente ou cortou cruelmente do alto da montanha ou monte), cobrindo-se de sangue e fogo e vestiu-se somente com o mariwo, esse Ogum furioso chamado agora de Xoroquê, foi para longe para outros reinos, para as terras dos Ibos, para o Daomé, ate para o lado dos Ashantis, sempre furioso, Guerreando, lutando, invadindo e conquistando. Com um comportamento raivoso que muitos chegaram a pensar tratar-se de Exu zangado por não ter recebido suas oferendas ou que ele tivesse se transformado num Exu (talvez seja por isso que chegue a ser tratado como sendo metade exu por muitos do candomblé). Antes que ele chegasse a Ire, um Oluwo que vivia lá recomendou aos habitantes que oferecessem a Xoroquê, um Aja (cachorro), Exu (inhame), e muito vinho de palma, também recomendou que, com o corpo prostrado ao chão, em sinal de respeito recitassem o seus orikis, e tocadores tocassem em seu louvor. Sendo assim todos fizeram o que lhes havia sido recomendado só que o Rei não seguiu os conselho, e quando Xoroquê chegou foi logo matando o Rei, e antes que ele matasse a população Eles fizeram o recomendado e acalmaram Xoroquê, que se acalmou e se proclamou Rei de Ire sendo assim toda vez que Xoroquê se zanga ele sai para o mundo para guerrear e descontar sua ira chegando ate a ser considerado um Exu e quando retorna a Ire volta a sua característica de Ogum guerreiro e vitorioso Rei de Ire.
Ogum dá ao homem o segredo do ferro
Na Terra criada por Oxalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole. Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área de lavoura. Ossãe, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido. Do mesmo modo que Ossãe, todos os outros Orixás tentaram, um por um, e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio. Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os outros Orixás tinham fracassado, Ogum pegou seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno. Os Orixás, admirados, perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era o ferro, um segredo recebido de Orunmilá. Os Orixás invejaram Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só à agricultura, como à caça e até mesmo à guerra.
Por muito tempo os Orixás importunaram Ogum para saber do segredo do ferro, mas ele mantinha o segredo só para si.
Os Orixás decidiram então oferecer-lhe o reinado em troca do que ele lhes ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta. Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro. E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua lança de ferro. Mas, apesar de Ogum ter aceitado o comendo dos Orixás, antes de mais nada ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e passou muitos dias fora numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e maltrapilho. Os Orixás não gostaram de ver seu líder naquele estado. Eles o desprezaram e decidiram destituí-lo do reinado. Ogum se decepcionou com os Orixás, pois, quando precisaram dele para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizem que não era digno de governá-los. Então Ogum banhou-se, vestiu-se com folhas de palmeira desfiadas, pegou suas armas e partiu.
Num lugar distante chamado Irê, construiu uma casa embaixo da arvore de Acoco e lá permaneceu. Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro, celebravam a festa de Uidê Ogum. Caçadores, guerreiros, ferreiros e muitos outros fazem sacrifícios em memória de Ogum. Ogum é o senhor do ferro para sempre.
Ogum livra um pobre de seus exploradores
Um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía. Um dia esse homem foi a um babalawo, que o mandou fazer um ebó na mata. Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, foi ver o que ocorria. O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o chão. E assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo.
Ogum chama a Morte para ajuda-lo numa aposta com Xangô
Ogun e Xangô nunca se reconciliaram. Vez por outra digladiavam-se nas mais absurdas querelas. Por pura satisfação do espírito belicoso dos dois. Eram, os dois, magníficos guerreiros. Certa vez Ogum propôs a Xangô uma trégua em suas lutas, pelo menos até que a próxima lua chegasse. Xangô fez alguns gracejos, Ogum revidou, mas decidiram-se por uma aposta, continuando assim sua disputa permanente. Ogum propôs que ambos fossem a praia e recolhessem o maior número de búzios que conseguissem. Quem juntasse mais, ganharia. e quem perdesse daria ao vencedor o fruto da coleta. Puseram-se de acordo.
Ogum deixou Xangô e seguiu para a casa de Iansã, solicitando-lhe que pedisse a Iku (a morte) que fosse à praia no horário que tinha combinado com Xangô. Na manhã seguinte, Ogum e Xangô apresentaram-se na praia e imediatamente o enfrentamento começou. Cada um ia pegando os búzios que achava. Xangô cantarolava sotaques jocosos contra Ogum. Ogum, calado, continuava a coleta. O que Xangô não percebeu foi a aproximação de Iku. Ao erguer os olhos, o guerreiro deparou com a morte, que riu de seu espanto. Xangô soltou o saco da coleta, fugindo amedrontado e escondendo-se de Iku. À noite Ogum procurou Xangô, mostrando seu espólio. Xangô, envergonhado, abaixou a cabeça e entregou ao guerreiro o fruto de sua coleta.
ANAIS DO III ENCONTRO NACIONAL DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES –
ANPUH -
Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. IN: Revista
Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III, n.9, jan/2011. ISSN 1983-2859.
Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html
_
O SINCRETISMO ENTRE SÃO JORGE E OGUM NA UMBANDA:
RESSIGNIFICAÇÕES DE TRADIÇÕES EUROPEIAS E AFRICANAS
Adílio Jorge Marques
1
Professor Colaborador PROEPER/UERJ
Colégio Santo Inácio
adiliojm@yahoo.com.br
Marcelo Alonso Morais
2
Professor Colaborador PROEPER/UERJ
alonsomarcelogeo@yahoo.com.br
Introdução
São Jorge sempre despertou-nos mais variados povos da Antiguidade, e ainda hoje, o
fascínio de uma divindade que mesclava a força, a energia criativa, à proteção do guerreiro,
daquele que traz consigo o poder da terra e dos veios ferrosos. O ferro, enquanto matéria
prima imprescindível para a confecção das armas que manteriam determinada sociedade em
condições de lutar pela sua sobrevivência, associou-se a vários outros símbolos que
culminaram por forjar o famoso “Santo Guerreiro”. O povo brasileiro, muito associado ao
Santo em questão, possui a mestiçagem de ancestrais que de alguma forma estiveram em
contato com o vasto simbolismo que São Jorge nos ensina: a força da terra, com suas matas e
grutas em pedra; a guerra e o cavaleiro; o ferro e a forja no fogo; um alfabeto mágico; o
dragão e os veios energéticos que marcam os terrenos das sociedades. O São Jorge que ora se
apresenta nestas linhas é a tentativa de mostrar o elo entre muitas culturas, inúmeros
simbolismos, mesmo arquétipos que uniram povos desde o norte da Europa até os nossos
ancestrais portugueses e africanos. Esse é o caso da aproximação realizada nos rituais
umbandistas, em território brasileiro, entre o santo católico e o Orixá Ogum.
Os Celtas na Ibéria
Através de achados arqueológicos na Península Ibérica, e com estudos da distribuição
espacial dos variados sítios arqueológicos que levaram à localização de peças da Antiguidade,
geneticistas como Barry Cunliffe
3
, Bryan Sykes
4,5
, Stephen Oppenheimer
6
e Spencer Wells
7
levantaram a hipótese de que as populações ibéricas podem ser a origem dos povos que
repovoaram a Europa atlântica no período pós-glacial, particularmente durante o Paleolítico e o Mesolítico, e mesmo no Neolítico. Especificamente no caso de Portugal, principal
influência europeia da população brasileira, um dos principais componentes para o
desenvolvimento populacional durante a Idade do Ferro foi a movimentação de populações
celtas na Península.
O ferro, símbolo de Ogum, nos remete a Idade do Ferro. Esta se refere ao período em
que ocorreu a metalurgia desse metal, sendo marcante por se mostrar superior ao bronze em
relação à dureza e abundância na natureza. Caracterizada pela sua utilização, esta época
mostra utilização importada do Oriente através de tribos indoeuropeias (celtas), que a partir de
1.200 a.C. começaram a chegar a Europa Ocidental. O seu período alcançará até a época
romana. As migrações das populações protoceltas e celtas acentuam o carácter indoeuropeu
do panorama antropológico na Península Ibérica, e muito particularmente no panorama
português. O protocelta (às vezes chamado também de pré-celta) dará origem aos lusitanos,
povo que habitou onde hoje é Portugal.
8
O protocelta, também chamado de celta comum, seria o suposto ancestral de todas as
línguas celtas conhecidas. Falada provavelmente por volta de 800 a.C., o protocelta é uma
língua descendente direta do proto-indoeuropeu, e é amplamente considerada como a primeira
das línguas indoeuropeias a se espalhar na Europa norte-ocidental e atlântica. Apesar de
algumas sentenças completas encontradas pela arqueologia estarem escritas em gaulês e
celtíbero, a literatura celta substancialmente mais antiga é encontrada no irlandês antigo, a
mais antiga língua céltica insular registrada, como veremos quando mencionarmos o Ogam.
9
Celta, enfim, é a designação dada a um conjunto de povos organizados em muitas
tribos, que ocuparam o território desde a Península Ibérica até a Anatólia, pertencentes à
família linguística indoeuropeia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir
do segundo milénio a.C.. Os celtíberos são o povo que resultou da fusão das culturas do povo
celta com o povo íbero, tanto nas regiões montanhosas onde nascem os rios Douro e o Tejo
quanto nas partes costeiras. Não há ainda, contudo, unanimidade quanto à origem destes
povos. Boa parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até a eventual
conquista daqueles territórios pelo Império Romano. A maioria das tribos celtas foi
conquistada pelos Romanos, embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com
muitas alterações resultantes da aculturação (inclusive a cristianização), sobrevivido em
grande parte do território ocupado.
8
Os celtas exaltavam as forças telúricas expressas nos seus muitos ritos, e a natureza
era a expressão máxima da Deusa Mãe. A “divindade” máxima era, então, feminina, cuja manifestação era a própria natureza, mesmo não sendo o matriarcado a estrutura da sociedade
celta. Mesmo assim, a mulher era soberana no domínio das forças da naturais, existindo
crenças a muitas divindades com características animistas. Ou seja, todos os elementos
naturais e as divindades, assim como em outras formas de religiosidade, seriam passíveis de
emoções, desejos, vontades, ou mesmo de inteligência, o que tornava a simbiose com o
homem fácil e inteligível a todos. Os ritos deveriam, quase sempre, ser realizados ao ar livre,
junto aos elementos constituintes no natural, em especial o fogo, a água, a terra e o ar.
Tais ritos eram demarcados astronômicamente seguindo os períodos do ano, ou as
quatro estações, celebrando-se especialmente os equinócios e solstícios. Calendários de pedra
macavam em alguns lugares, como em Stonehange, as festas anuais. Tais ritos acabaram
chegando até nossos dias, como por exemplo, o do dia 1º de novembro Sanhain, quando
celebrava-se o dia seguinte ao do contato com os mortos ancestrais.
Destacamos, para este artigo, o ritual de Beltane, ou Beltain, Bealtaine, um festival
celta ainda comemorado nos dias atuais em todo o mundo (inclusive no Brasil), nas
comemorações da primavera para o hemisfério norte, e que originalmente marcava o período
anterior ao ápice solar (o verão). Beltane ocorre em 1º de maio (próximo ao dia escolhido para
as festas de São Jorge, 23 de abril) no hemisfério norte. A comemoração em tempos remotos
possuía um enfoque na fertilidade da terra, sendo uma festa de grande energia, jovialidade e
alegria, quando os participantes dançavam ao redor de uma fogueira.
10
Durante o evento eram acesas fogueiras nos topos dos montes e lugares considerados
sagrados, símbolo que nossas velas ainda perpetuam, especialmente quando colocadas em um
ponto mais alto do que a nossa cabeça. Os lugares mais altos eram mais próximos do céu,
logo, também dos deuses. Assim, Beltane era o início do verão (com o fogo) e a morte do
inverno (o mal, o dragão que consome a luz), estando associada à imagem que mais tarde
seria mundialmente conhecida por São Jorge.
10
Beltane é um festival da fertilidade, simbolizando a união entre as energias masculina
(a lança do guerreiro) e feminina (a donzela, representada em algumas imagens do Santo da
Capadócia). Nas gálias tornou-se a fertlidade da terra e os fogos do deus Belenos, muito
proximo do Apolo grego, já que o fogo não estava representando apenas o sol enquanto astro,
mas a luz solar e seus princípios.
11
Alimentos eram, algumas vezes, oferecidos ao elemento
fogo.
Tal energia telúrica deveria fluir ou ser terminada naturalmente para que não causasse
danos às práticas ali efetuadas. Quando não havia uma terminação natural, sempre medida pela radiestesia, podia-se interromper a corrente de energia fincando-se uma seta ou lança de
ferro no solo, como se fosse um interrupetor. O ferro, bom condutor elétrico, passou acabou
incorporado à São Jorge, com sua longa lança que é fincada em um dragão que se contorce,
exatamente como fazem as linhas de força na terra. O dragão é um animal mítico, e que
representava, para os povos da Europa e mesmo em vários lugares da Ásia, a linha de
radiação que passava pelo chão, sendo, portanto, benéfico. O equilíbrio entre as forças ou as
polaridades sempre foi uma busca de todas as religiosidades. Nas histórias medievais, o
dragão passou a ser o guardião de algum tesouro (algo que normalmente fica enterrado) ou
mesmo tomou a feição de algo ruim, o que não possuía qualquer relação com a sua origem
simbólica. E, enquanto o dragão estava ligado à crosta terrestre, São Jorge buscava salvar a
donzela, a virgem, representante da energia do céu ou cósmica.
12
No Oriente o dragão, enquanto força cósmica, era personificado em uma linha
imaginária celestial: a órbita da Lua cruzando a órbita do Sol, o que ocorre em dois pontos.
Na astrologia tais pontos passaram a ser conhecidos como nodo norte, ou Cabeça do Dragão
(na ascenção), e nodo sul, ou Cauda do Dragão, na órbita descendente da Lua. Assim, São
Jorge atua na terra mas também no céu, tendo o senso popular posto o Santo guerreiro
morando em nosso satélite.
13
Lenda ou história? A versão popular
Por volta do final do século III, São Jorge teria nascido na região da Capadócia, atual
Turquia. Ainda criança perdeu o seu pai, e sua mãe o levou para a Palestina, educando-o para
a carreira militar. Sua dedicação e habilidade levaram o imperador Diocleciano a lhe conferir
o título de Tribuno. Jorge torna-se cristão, mas com a idade de vinte e três anos passou a
residir na corte imperial romana, exercendo altas funções.
Em determinado momento o Imperador Diocleciano planejou matar todos os cristãos
que poderiam ameaçar o poder em seu Império. No dia marcado para o Senado confirmar o
decreto imperial, Jorge levantou-se na assembléia e declarou-se contra aquela decisão.
Defendeu com tanta força a sua fé que provocou a ira do Imperador, que tentou fazê-lo
desistir de suas ideias, chegando até a tortura. Era periodicamente levado a Diocleciano, que
exigia a Jorge que renegasse a sua fé, o que não aconteceu. O Imperador, não tendo êxito,
mandou degolar o mártir cristão no dia 23 de abril de 303 d.C., sendo este o dia dedicado a
São Jorge.
13
São Jorge em Portugal e na Inglaterra
A importância de São Jorge é tamanha entre os portugueses que a influência do Santo
Guerreiro surge ligada às armas através do sincretismo cristão, séculos após os primeiros
povos celtas terem habitado as terras lusas. Algumas fortificações medievais e posteriores
possuem ainda o seu nome, o que aumentou ainda mais o sincretismo de São Jorge com a arte
da guerra e da vitória sobre os inimigos da fé e da soberania de uma nação. O primeiro bastião
que não pode ser esquecido é o Castelo de São Jorge, talvez o mais famoso deles, localizado
em uma das colinas de Lisboa e construído, provavelmente, no século II a.C..
Quando da Reconquista cristã as forças de D. Afonso Henriques (1112-1185), com o
auxílio de vários povos cruzados (principalmente normandos, flamengos, alemães e ingleses)
que se dirigiam à Terra Santa, investiu contra esta que era uma fortificação muçulmana, que
acabou capitulando em 1147 após um cerco de três meses. Provavelmente, sob a influência da
cultura das ilhas da Bretanha, já presente nas terras portuguesas ancestralmente, e fortalecidas
pelo contato inter-cultural das Cruzadas, a devoção a São Jorge estabelece-se em Portugal de
vez. Após a vitória o castelo em Lisboa foi colocado, por gratidão, sob a proteção do mártir
São Jorge, a quem muitos cruzados na época já dedicavam forte devoção. O dia da conquista,
25 de Outubro, passou a ser o Dia do Exército em Portugal, sendo esta uma instituição que
possui São Jorge como padroeiro.
Poucas décadas mais tarde, entre 1179 e 1183, o castelo ainda resistiu com sucesso às
forças muçulmanas que assolaram a região entre Lisboa e Santarém. E foi no reinado de D.
Afonso IV (1291-1357), chamado de “o Bravo”, que o uso do grito de guerra “São Jorge” se
tornou regra, substituindo o grito anterior dos portugueses que era “Santiago”. D. Nuno
Álvares Pereira (1360-1431) considerou São Jorge o responsável pela famosa vitória
portuguesa na batalha de Aljubarrota em 1385
14
. Como o Rei D. João I de Portugal também
era devoto do santo, substituiu São Jorge a Santiago como patrono de Portugal. Em 1387, D.
João I ordenou que a imagem do santo, montado a cavalo, fosse transportada na procissão
católica do corpo de Cristo. Assim, séculos mais tarde, essa imagem também chegaria ao
Brasil.
15
Curiosamente, o cavalo era um animal nobre entre os celtas, justamente por ser um
servidor dos homens nas guerras. Viriam de outro mundo oculto, e eram tidos como
possuidores de inteligência humana. Após a morte do heroi ou do cavaleiro, retornaria para
esse outro mundo superior, e com isso passaram a ser vistos também como condutores das
almas.
10
Há, também, o Castelo de São Jorge da Mina, também designado por Castelo da Mina,
ou Feitoria da Mina, e posteriormente chamado por Fortaleza de São Jorge da Mina. Localizase na atual cidade de Elmina, Gana, litoral da África Ocidental. A “Mina” já funcionava em
meados do século XV, e teve a função inicial de assegurar a soberania e o comércio de
Portugal no Golfo da Guiné, constituindo-se no seu principal estabelecimento na costa
africana, fonte da riqueza que alimentou a economia do país até se iniciar o ciclo da Índia
após a viagem de Vasco da Gama em 1498.
16
A Inglaterra, aliada histórica dos portugueses, foi o país ocidental onde a devoção ao
santo teve papel mais relevante. O monarca Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a
Ordem da Jarreteira, fundada por ele em 1330, pois a imagem de santo guerreiro, ligado às
espadas, já existia. Por considerá-lo a imagem perfeita dos cavaleiros medievais, o rei inglês
Ricardo I, comandante de uma das Cruzadas, constituiu São Jorge padroeiro daquelas
expedições que tentavam conquistar a Terra Santa aos muçulmanos.
No século XIII, a Inglaterra já celebrava o nome de São Jorge, e em 1348 surge a
Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses adotaram definitivamente São Jorge como
padroeiro do país, trazendo também a sua cruz vermelha (cor do sangue, do fogo e do
sacrifício pelas grandes causas) na bandeira de fundo branco (cor da pureza).
Ogum e São Jorge: sincretismo, dimensões simbólicas e arquetípicas
Filho de Iemanjá, Ogum tem sua importância destacada pela ligação com os metais,
principalmente o ferro, matéria-prima básica para os instrumentos utilizados por caçadores e
agricultores. É associado atualmente à metalurgia e à siderurgia, representando, dentro do
panteão africano, um símbolo da Revolução Industrial. Não é a toa que muitas das oferendas à
Ogum são realizadas em ferrovias, simbolizando a abertura dos caminhos diante do elemento
ferro
17
. Este elemento simboliza a transformação, já que as ferramentas em ferro se tornam
úteis (interação) à produção no momento em que são forjadas em altas temperaturas (o fogo
simbolizando o potencial criativo da mente). O ferro, portanto, é o símbolo dos objetos que
servem aos seres humanos, tornando-os produtivos à sociedade e salvando-os do mal, fato que
pode ser percebido na espada de São Jorge
18
.
Além disso, Ogum representa a capacidade do ser humano de controlar a natureza e
utilizá-la para o benefício de todos. Por conta dos metais, Ogum passou a ser associado à
guerra, desviando seu papel de comandante das atividades agrícolas para a atividade bélica e
passando a ser o “Vencedor das demandas”.
Tendo como elementos centrais a guerra e a metalurgia, Ogum, ferreiro e guerreiro,
pode ser associado ao deus romano da guerra, Marte, que tem como correspondente Ares, o
deus grego, o vingador, assim como com Vulcano e Hefesto, respectivamente os deuses
romano e grego do fogo, que possuíam a arte de forjar o ferro.
Acompanhado por Éris (Discórdis), Deimos (Terror), Phóbos (Medo) e Enio
(Devastadora), Ares, proveniente da Trácia, norte grego, apresentava-se com lança, capacete e
armadura em suas batalhas, levando a morte a e destruição por onde passava. Associado ao
movimento, ao ferro, ao vermelho e à coragem, Ares pode nos revelar as “forças primitivas,
instintivas e selvagens em luta com forças atuantes na consciência”, cuja energia decorrente
se relaciona diretamente com a competição e a vontade de seguir em frente, lutando e
vencendo as batalhas
19
.
Já com Vulcano/Hefesto, o ourives divino, o simbolismo do artesão, que forja o ferro
utilizando o fogo dos vulcões, ou seja, a energia desprendida do inconsciente pode representar
a união concreta e abstrata entre arte e técnica
20
. A libido (vulcão) se manifesta para a
realização das ações e vivência plena, concretizadas nos objetos criados a partir da
manipulação e transformação dos metais, expressão de uma “erupção” de ideias e
potencialidades mágicas que equivalem à evolução da tecnologia no intuito de dominar,
comandar, desbravar e punir
21
·.
Através da mitologia dos Orixás africanos, podemos perceber algumas semelhanças
entre as divindades greco-romanas citadas anteriormente e Ogum, o grande guerreiro e
manipulador dos metais.
Ogum era o mais velho e o mais combativo
dos filhos de Odudua, o conquistador e rei de Ifé.
Por isto, tornou-se o regente do reino quando Odudua,
momentaneamente, perdeu a visão.
Ogum era guerreiro sanguinário e temível.
Ogum, o valente guerreiro,
O homem louco dos músculos de aço!
Ogum, que tendo água em casa,
lava-se com sangue!"
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Ele trazia sempre um rico espólio de suas expedições,
além de numerosos escravos.
(...)
Durante uma delas, ele tomou Irê.
Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias.
Por isto chamam-no, ainda hoje, Ogum mejejê lodê Irê-
"Ogum das sete partes de Irê"
Ogum matou o rei Onirê e o substituiu pelo próprio filho,
conservando para si o título de Rei.
Ele é saudado como Ogum Onirê! "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma coroa,"akorô".
Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô-"Ogum dono da pequena
coroa".
Após instalar seu filho no trono de Irê,
Ogum voltou a guerrear por muitos anos.
Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar.
Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia,
na qual todo mundo devia guardar silêncio completo.
Ogum tinha fome e sede.
Ele viu as jarras de vinho da palma,
mas não sabia que elas estavam vazias.
O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se.
Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas.
A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente o filho de Ogum
e ofereceu-lhe seus pratos prediletos:
caracóis e feijão, regados com dendê;
tudo acompanhado de muito vinho de palma.
"Ogum, violento guerreiro,
o homem louco dos músculos de aço.
Ogum, que tendo água em casa,
lava-se com sangue!"
"Os prazeres de Ogum são o combate e as brigas.
O terrível orixá, que morde a si mesmo sem dó.
Ogum mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro.
Ogum mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada!"
Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência,
e disse que já vivera bastante,
que viera agora o tempo de repousar.
Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra.
Ogum tornara-se um orixá.
22
Segundo esse mito, Ogum é constituído pela coragem, franqueza e impulsividade. No
entanto, a agressividade e a virilidade masculinas acima expressas revelam também que, após
a explosão inicial, descontrolada e destrutiva, como uma erupção vulcânica, Ogum se mostra
arrependido, sensível e amoroso, transformando-se pela culpa. Essa postura, aparentemente
contraditória, possibilita a sua libertação das consequências nefastas que irão atingi-lo, pois a
partir do momento em que ele se dá conta de que o inimigo não existe, volta-se contra si
mesmo. Essa situação pode ser análoga em situações cotidianas de estresse, pois a ansiedade
leva o organismo a se preparar para a guerra, sem, no entanto, haver inimigo. Sendo assim,
toda a descarga energética acaba atingindo o próprio combatente, destruindo-o
23
·.
Numa alusão à Ògún mèjeje lóòde Iré, ou seja, senhor absoluto das sete aldeias ao
redor de Irê, Ogum passou a ter o número sete associado ao seu arquétipo. Simbolicamente, para Oliveira e Oliveira (2009, p.189-190), o número sete representa a síntese da sacralidade,
com as virtudes cardeais (prudência, temperança, justiça e força) e teologais (fé, esperança e
caridade). Sete são os dias da semana, as cores do arco-íris, as notas da escala diatônica, os
degraus do sonho de Jacó na Bíblia e os graus da consciência (corpo físico, emoção,
inteligência, intuição, espiritualidade, vontade e vida), segundo Chevalier
24
. Ele ainda pode
ser representado, graficamente, pela união do triângulo e do quadrado, que em muitas culturas
poderia ser atribuído à junção do céu (ordem vertical de três dimensões) e da terra (ordem
horizontal dos quatro pontos cardeais), assim como as divindades mitológicas identificadas
pela Cabala hebraica às hierarquias celestes (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e
Saturno, respectivamente os anjos da luz, dos sonhos, civilizador, do amor, exterminador,
dominador e da solicitude). São sete os emblemas de Buda no Tibete, assim como o número
de céus, terras e mares no Islã
25
. Portanto, o número sete, associado ao orixá Ogum, sintetiza
o sentido de transformação, o fechamento de um ciclo e de sua renovação
26
.
No Brasil, o simbolismo de guerreiro acabou ocasionando, nos rituais umbandistas, a
aproximação de Ogum com São Jorge (Rio de Janeiro) e Santo Antônio (Bahia). Trazido
pelos negros escravos do Golfo da Guiné, mas com raízes mitológicas já presentes no sul da
Europa, Ogum é o porto seguro, o senhor da lei e vencedor das demandas, o protetor daqueles
que lidarão com a agricultura e os instrumentos de trabalho manuais, assim como diante das
batalhas contra o opressor.
Ogum
27
, Santo Antônio
28
e São Jorge
29
- senhores da guerra e protetores contra a maldade do Mundo.
Em Salvador, durante as invasões holandesas, Santo Antônio foi visto como um
“santo militar”, dada a popularidade de seus milagres. Para a população da cidade, o Santo foi responsável pela defesa e libertação da capital baiana, sendo associado ao Orixá guerreiro,
Ogum. No caso do Rio de Janeiro, São Jorge, segundo consta, nascido na Capadócia
(atualmente território turco), se aproxima do imaginário de Ogum pela qualidade de soldado
montado em seu cavalo branco (símbolo da pureza), lutando contra um dragão (o mal,
Satanás), representados comumente pelas imagens comercializadas nas casas de Umbanda
30
.
A princesa que aparece nas telas européias, que poderia representar a Fé cristã ou a própria
Igreja, não aparece nas representações do santo guerreiro
31
.
Senhor da Guerra, indomável e imbatível defensor da lei e da ordem, Ogum assume de
guardião cujo papel é de defensor dos fracos, protege as estradas e os que estão sob demanda.
Contraditoriamente, se torna, através do sincretismo com São Jorge, o santo padroeiro dos
cavaleiros, dos soldos que, imponentes, montavam seus cavalos brancos e impunham a
ordem. Esse atributo explica porque o Orixá é o padroeiro dos policiais, que usam suas armas
para a proteção da população, e dos caminhoneiros.
32
Um fato curioso, no Rio de Janeiro, é o
fato da proteção de Ogum, que “fecha o corpo” do fiel e o ajuda nas demandas, retratada em
filmes como O Amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, e Besouro, de João Daniel
Tikhomiroff, se tornou muito popular na metrópole carioca, como podemos perceber na
presença de medalhas, imagens, colares – guias, tatuagens, camisetas e adesivos em táxis e
carros
33
.
Como figuras de poder, São Jorge e Ogum exercem funções simbólicas diferentes.
Enquanto o primeiro está profundamente ligado ao poder público, externo e às forças
armadas
34
, o segundo não é o único orixá que representa o poder, além de sua expressão se
apresentar como um meio, muito particular, de ligação entre o mundo espiritual e o material.
À espacialidade simbólica católica, externalizada, se opõe outra, interiorizada e relacional nos
terreiros de Umbanda
35
.
Considerações Finais
Estudando a espacialidade do sagrado, especificamente no Candomblé, Corrêa
36
nos fornece elementos preciosos sobre como o uso de vestimentas, artefatos, cores e adornos
alicerçam o processo identitário dos praticantes como grupo sóciorreligioso. Segundo a
autora, “a identidade, fomentada nas ações de significar objetos e coisas em especial, se
realiza sob a estratégia de portá-las nos corpos através das vestes, dos adornos e bens
religiosos (...)”. Esse processo, donde o corpo, durante a festividade, se torna um suporte
sígnico, e as vestes e objetos operam como marcas que passam a designar a identidade do grupo, também pode ser percebido na Umbanda, onde os signos presentes nas vestes, imagens
e objetos do orixá Ogum, sincretizado com o santo católico São Jorge, possuem significados
que engendram a constituição do grupo.
Através desse exemplo, portanto, percebemos que a materialidade da experiência
social é essencial, mas nunca deve estar dissociada da natureza simbólica e subjetiva. “Na
construção da identidade não é possível pensar de forma dissociada sua natureza simbólica e
subjetiva (representações) e seus referentes mais “objetivos” e “materiais” (a experiência
social em sua materialidade)”
37
.
A partir dos sistemas de representação, os indivíduos podem se posicionar, se tornar
sujeitos, pois as representações incluem as práticas de significação e os sistemas simbólicos
por meio dos quais os significados são produzidos. O que somos só tem sentido a partir dos
significados produzidos pelas representações. Os sistemas simbólicos fornecem novas formas
que dão sentido à experiência das clivagens e disparidades sociais e aos meios pelos quais
alguns grupos são excluídos e estigmatizados.
Percebemos que os símbolos são universais, e que Ogum consegue fazer uma ponte
entre povos e culturas aparentemente distintas no tempo e no espaço. Desde os mitos do norte
da Europa até os orixás africanos, passando pela aculturação cristã, verifica-se o quanto São
Jorge/Ogum/Cavaleiro/Guerreiro está sempre presente nas energias e no imaginário popular,
ou mesmo das elites.
Notas
1
Doutor em História das Ciências e Epistemologia pela UFRJ.
2
Mestre em Geografia pela PUC - Rio.
3
Cunliffe, Barry, Facing the Ocean: The Atlantic and Its Peoples, 8000 BC to AD 1500, Oxford University
Press, 2001.
4
Sykes, Bryan, The Seven Daughters of Eve, Corgi Books, 2002. Bryan Sykes, Blood of the Isles: Exploring the
Genetic Roots of Our Tribal History, Bantam Press, 2006.
5
Sykes, Bryan, Blood of the Isles: Exploring the Genetic Roots of Our Tribal History, Bantam Press, 2006.
6
Oppenheimer, Stephen, The Origins of the British - A Genetic Detective Story, Hardcover, 2006.
7 Wells, Spencer: coordenador do programa de investigação em história genética das populações humanas da
National Geograhic Society, EUA, conhecido por Genographic Project.
8
Mattoso, José (dir.), História de Portugal. Primeiro Volume: Antes de Portugal, Círculo de Leitores, 1992, pp.
30-40.
9
Moura, Mário (Ed.), Os Celtas, Pergaminho, 2001, p. 101.
10
Alvim de Barros, Maria Nazareth, Uma luz sobre Avalon. Celtas e Druidas, Mercuryo, 1994, p. 112.
11
Baggott, Andy, Rituais Celtas. A roda céltica da vida. Os poderes sagrados da natureza. Madras, 2002, p. 66-
68.
12
Uyldert, Mellie, Mãe Terra. A ação do campo energético da Terra sobre os seres vivos. Pensamento, 1998, p.
35-36.
13
Jorge, Fred, História de São Jorge. Prelúdio, 1959.
14
A Batalha de Aljubarrota ocorreu em 14 de Agosto de 1385 entre tropas portuguesas, com aliados ingleses, e
comandadas por D. João I e D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e aliados, liderados por D. Juan I
de Castela. A batalha deu-se no campo de São Jorge, nas imediações da vila de Aljubarrota, entre as localidades
de Leiria e Alcobaça, centro de Portugal.
15
Silva dos Santos, Georgina.Ofício e sangue: a Irmandade de São Jorge e a Inquisição na Lisboa moderna.
Colibri; Portimão: Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, 2005.
16
Rau, Virginia, Feitores e feitorias - "Instrumentos" do comércio internacional português no Séc. XVI,
Brotéria, Vol. 81, nº 5, 1965, p. 65-70.
17
Cabe observar também que o ferro é o elemento químico essencial para a formação dos glóbulos vermelhos.
Da mesma forma como sua carência torna o indivíduo anêmico, a carência da raiz energética de Ogum cria uma
espécie de anemia espiritual, ou seja, uma falta de coragem e de disposição para lutar pelo próprio
desenvolvimento. É por causa dessa função revitalizadora que Ogum é apresentado nos mitos africanos como o
orixá que vem na frente, o pioneiro na tarefa de descer à Terra e acordar os homens. Trata-se, evidentemente, de
uma função típica de Áries e Marte (www.constelar.com.br, acesso em 3 de julho de 2010).
18
Scipioni, Silvia; Correa, Daura. Os orixás e os chacras. Porto Alegre: Besouro Box, 2008.
19
Oliveira, Bosco e Oliveira, Ingrid Constant. Mitologia e vivências humanas. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009,
p.209-210.
20
Oliveira, Bosco e Oliveira, Ingrid Constant. Mitologia e vivências humanas. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009,
p.209-210.
21
Brandão, Junito de Souza, Mitologia Grega. Vol 1, Petrópolis: Vozes, 2002, p.48.
22
Verger, Pierre, Lendas Africanas dos Orixás. Salvador: Editora Corrupio, 1997.
P.14-16.
23
Zacharias, José Jorge de Morais, Ori Axé, a dimensão arquetípica dos orixás. São Paulo: Vetor, 1998, p. 147-
155.
24
Chevalier, Jean e Gueerbrant, Alain, Dicionário de Símbolos. José Olympio, 2009, p. 831.
25
Cirloto, Juan-Eduardo, Dicionário de Símbolos. São Paulo: Centauro, 2005, p. 526-529.
26
Oliveira, Bosco e Oliveira, Ingrid Constant, Mitologia e vivências humanas. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.
27
Ogum (www.your-soul.com/archives/ogum-7.gif). Acesso em 25 de maio de 2010.
28
Santo Antônio (www.santoantoniodopari.org.br/Imagens/santo%2...). Acessado em 25 de maio de 2010.
29
São Jorge (vivaverve.files.wordpress.com/2009/04/sao-jor...). Acesso em 25 de maio de 2010.
30
Costa, Valdeli Carvalho, Umbanda : os "seres superiores" e os orixás/santos: um estudo sobre a
fenomenologia do sincretismos umbandístico na perspectiva da teologia católica. São Paulo:Loyola, 1983, p.
208.
31
Trindade, Diamantino Fernandes; Linares, Ronaldo Antonio e Costa, Wagner Veneziani, Os Orixás na
Umbanda e no Candomblé. São Paulo: Madras, 2008, p. 149-150.
32
Fonte: http://www.umbanda.etc.br/orixas/ogum.html. Acesso em 24 de julho de 2009.
33
Machado, Maria Augusta, São Jorge: arquétipo, santo e orixá. Rio de Janeiro: Íbis Libris, 2009, p. 233-234.
34
Ogum é um dos orixás mais populares no Brasil. Perdeu, todavia, os atributos de protetor da agricultura e da
caça, que passaram a ser identificados exclusivamente com Oxóssi, e tornou-se conhecido, sobretudo como deus
da guerra, sendo sincretizado na Bahia com Santo Antônio de Pádua e nos outros Estados, especialmente o Rio
de Janeiro, com São Jorge. Em função do sincretismo e da forte presença negra entre as tropas brasileiras, esses
santos passaram a receber honras militares, o que incluía até mesmo patentes de oficial no Exército e na
Marinha, com direito a soldo! Cabe lembrar que os negros constituíam maioria entre os soldados e marinheiros
que lutaram na Guerra do Paraguai. As tropas jamais deixaram de invocar a proteção de Ogum, seja diretamente
ao orixá, seja na forma de São Jorge, o que talvez explique algumas expressões presentes nos pontos cantados,
como Ogum jurou bandeira nos campos do Humaitá. A hipótese se torna ainda mais forte quando lembramos
que Humaitá é o nome de uma localidade onde ocorreu uma das mais importantes batalhas daquela guerra, sendo
ao mesmo tempo o nome atribuído à região do mundo invisível - o orum - que se acredita seja a morada de
Ogum (www.constelar,com.br, acesso em 3 de junho de 2010).
35
Sahr, Wolf Dietric,. O mundo de São Jorge e Ogum: contribuição para uma geografia da religiosidade
sincrética. In: Rosendahl, Zeny e Correa, Roberto Lobato (orgs.), Religião, Identidade e Território. Eduerj,
2001, p.63-66.
36
Corrêa, Aureanice de Mello, Espacialidades do sagrado: A disputa pelo sentido do ato de festejar da Boa
Morte e a semiografia do território encarnador da prática cultural afro-brasileira. In: Espaços culturais:
vivências, imaginações e representações. Serpa, A. (org.), Salvador, EDUFBA, 2008, p. 168-170.
37
Cruz, Valter do Carmo, Territorialidades, identidades e lutas sociais na Amazônia. In Araújo, Frederico
Guilherme Bandeira; Haesbaert, Rogério, (org.). Identidades e territórios: questões e olhares contemporâneos.
Rio de Janeiro: Access, 2007, p. 99.
ANAIS DO III ENCONTRO NACIONAL DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES –
ANPUH -Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. IN: Revista
Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III, n.9, jan/2011. ISSN 1983-2859.
Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html