Os árabes estiveram na África sub-saariana a partir do século VI e alcançaram a costa atlântica por volta do século VIII.
Estiveram em África durante muitos séculos e por isso imprimiram seus hábitos e costumes em muitos povos.
Os povos iorubanos de fala yorubá foram bastante influenciados pelos árabes e essa influência chegou com eles ao Brasil.
Um desses usos é o gosto pelo torso, tão usado nos nossos candomblés e pelas mulheres tradicionais na Bahia.
Aliás, o pano na cabeça das mulheres é comum em toda a África negra de norte a sul, com arranjos os mais diversos, e em alguns povos, de influência mulçumana também usado pelos homens.
A influência mulçumana se faz sentir mais entre os povos chamados de nagô, e entre os bantu, só na costa oriental ela se faz sentir.
No candomblé do Brasil, todas as mulheres usam torso, em algumas casas há certas interdições, mas é regra geral de todas usarem.
Todos os fiéis quando de obrigação costumam usar para cobrir a cabeça que está “comendo”.
No candomblé de ketu é comum os homens usarem torsos vistosos em dias de festa, ou no dia a dia da casa, por influência distante dos mulçumanos.
E nos últimos anos, com a vinda de nigerianos comerciantes ao Brasil, lindas roupas africanas têm sido introduzidas no Candomblé, com algumas gafes é verdade, muitos homens usando roupas femininas e vice-versa, mas tudo é africano, colorido e brilhante, então vale.
O candomblé de congo-angola sempre se pautou por uma maior sisudez e simplicidade.
Os homens no candomblé de congo-angola sempre usaram calça branca, camisa branca, às vezes paletó e gravata e um boné branco.
No entanto, por influência de outras nações, ou por vaidade desmedida, alguns angoleiros têm envergado trajes nigerianos em festas de angola, o que não condiz com os princípios da nação.
Na África bantu, os homens usam calça, quando muito uma bata colorida, e na cabeça um bubu, ou seja, um simples bonezinho africano.
Se os angoleiros querem se vestir de africanos, porque não seguem o modelo bantu?
Bem mais simples, mais prático e mais masculino.
Claro que não é tão deslumbrante quanto o modelo nagô, mas muito mais condizente com a nação a qual pertencem.
O torso foi introduzido em África pelos mulçumanos, que não só ensinaram o uso do torso, como obrigaram a populações inteiras se tornaram mulçumanos e foram os primeiros grandes traficantes de escravos.
Preocupados com a perpetuação sobre o vestuário dos praticantes do Candomblé, bem como dos nossos Òrìsàs, o Terreiro Ilé Òsùmàrè Asè Ogodo, e seus descendentes diretos e indiretos como a casa do Ilé Asè òmò Yemojà em São Paulo Brasil, vem por meio deste veículo, esclarecer alguns pontos, tendo como princípio a cultura que nos foi passada, ao longo de mais de um século de tradição.
Percebemos que o complexo código de ética relacionado às vestes dos praticantes do Candomblé, está sendo diariamente infringido, expondo a nossa religiosidade de forma profana em meio à sociedade.
Dessa forma, esse artigo tem por objetivo, dirimir dúvidas de pessoas que não tiveram o acesso à informação e, também expor a opinião do Ilé Asè òmò Yemojà sobre esse importante aspecto da nossa religiosidade.
Desatentos às hierarquias das indumentárias e vestimentas do Candomblé, muitos participantes (talvez pela falta de conhecimento) estão desrespeitando, não somente os seus mais velhos, mas também as nossas Divindades.
Isso ocorre, principalmente, com a chamada “carnavalização” dos tradicionais paramentos dos Òrìsàs.
A situação vem se agravando, ao ponto de recriarem os trajes, implantando assim, uma nova maneira de vestir os Òrìsàs e seus filhos, ignorando a tradições centenárias, originarias de uma Religião milenar e, desrespeitando, de forma muito preocupante, a essência de cada Òrìsà.
Com o cuidado de não ditar ou impor um código vestuário, apontaremos abaixo, apenas algumas violações (as mais recorrentes) que comprometem as tradições do Candomblé, descaracterizando de forma muito triste a nossa religião, bem como, algumas recomendações da nossa Casa.
ÌYÁWÓ
MOKAN: Uso indispensável
IKAN: Uso Indispensável
DILOGUN: Uso Indispensável:
“LAÇINHO” e “GRAVATINHA” ACIMA DO PANO DE COSTAS: Uso Indispensável
ROUPA DE SIRE: Até completar um ano de iniciada, deve-se dançar Sire de branco;
ÌYÁWÓ DO SEXO MASCULINO.
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO
(NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, Também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ: – NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);
OGÁ (OGAN):
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ, CHAPÉU OU BOINA (NÃO É TOLERÁVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);
EKEJI (EKEDE):
SAIA: Ekeji não usa saia com anáguas de baiana;
TOALHINHA: A cada dia é mais raro vermos uma Ekeji com uma toalhinha para “enxugar” o Òrìsà.
ADES, COROAS E PARAMENTAS DE ÒRÌSÀS:
DISCERNIMENTO E COERÊNCIA: Deve-se ter coerência ao vestir os Òrìsàs (Nossos deuses são elementos da natureza, que utilizam representações da natureza, POR ISSO NÃO DEVEM SER CARNAVALIZADOS);
MÁSCARAS: É inadmissível a utilização de máscaras na confecção da Roupa dos Òrìsàs;
ALTURA DOS ADES: Deve se ter discernimento, coroas são coroas e não paramentos carnavalescos gigantescos;
ÒSÀLÁ: ÒSÀLÁ SÓ USA BRANCO. Esse é um Òrìsà Fúnfún, não admite prata ou “azul clarinho”
PENAS.: Nossa religião é tribal, mas não indígena, a utilização de penas na confecção das roupas dos Òrìsàs deve ser ponderada e não excessiva;
SÀNGÓ: Não tolera roupas roxa ou preta;
ÀSÈSÈ:
HOMENS: Calça, Camisa de Ração (brancos) e Ékété;
MULHERES: Saia de ração e camisa de crioula (brancas);
PROÍBIDO: Brilho, Bordados, Vazados e Roupas Coloridas;
BATA:
QUEM PODE USAR: A utilização da bata é restrita as autoridades femininas da Casa (autoridade máxima, Ìyálásè, Ìyákekère, Ìyámaye, etc. – Se todas as Ègbón usarem batas, será impossível distinguir as autoridades);
CUMPRIMENTO: Bata é Bata e não vestido!
Um ditado tradicional nos Candomblés da Bahia diz: Quanto Maior a Bata, Maior a Ignorância da Ègbón;
PANO DE CABEÇA:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Cabeça é restrita às mulheres (o Babalòrìsà “em sua casa” tem a autonomia de optar ou não pelo uso.
O pano de cabeça, poderá ainda ser utilizado por homens, em obrigações internas em que o mesmo está “recebendo asè, como por exemplo Bori”);
ABAS: As abas do Pano de Cabeça, estão relacionadas ao Òrìsà da filha de Santo e a sua idade de santo (se seu Òrìsà for Oboro – masculino, você não poderá usar duas abas, sendo que essa ficou para as filhas de santo, que possuem Òrìsàs Ayabas – femininos);
ALTURA DO PANO: Deve-se ter discernimento ao usar o Pano de Cabeças. O pano de Cabeças não é turbante com diversas voltas e de altura desmedida; Seu pano de cabeça também não pode ser maior do que o da sua Ìyálòrìsà;
PANO DE COSTAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Costas é restrito às mulheres.
UTILIZAÇÃO: O pano da costa deve ser colocado na altura dos seios (somente as autoridades quando estão trajadas de Bata, podem usar o pano na cintura);
USO TRANSVERSAL DO PANO POR HOMENS: Indevido, à exceção das festividades do Pilão e durante o Pilão de Òsògíyàn;
FIOS DE CONTA.:
AFRICANOS/CORAIS/PEDRAS: de uso exclusivo para autoridades do Candomblé e as pessoas com obrigação de sete anos (obrigações arriadas);
BOLAS DE PLÁSTICO: Não pertencem ao Candomblé;
SAIAS:
QUEM USA: Uso restrito à mulheres (homem não usa saias, mesmo se seu Òrìsà seja ayaba);
CUMPRIMENTO: A saia deve ser longa, cobrindo o calçolão (o uso de saieta é cabível somente para Òrìsàs masculinos – em mulheres);
ROUPAS BRILHOSAS E BORDADOS:
ROUPAS BRILHOSAS: A utilização de roupas com muito brilho está condicionada ao Òrìsà e à determinados Òrìsàs (existem roupas para dançar o Sìré e roupas para vestir os Òrìsàs, sendo que alguns também não toleram o brilho);
BORDADOS: As roupas bordadas como Rechilieu, Asa de Mosca, Roda de Quiabo e panos mais elaborados, são de uso exclusivo para autoridades e pessoas com obrigação de sete anos arriada;
BRINCOS E PULSEIRAS:
Ìyáwò de Òrìsà Oboro (Santo Masculino), não deve usar brincos e/ou pulseiras.
O Ilé Asè òmò Yemojà, pede que as pessoas reflitam sobre a essência de nossa ancestralidade, os Òrìsàs.
Uma Ìyáwò aguardar a conclusão de suas obrigações, para a utilização de determinadas vestes, não a coloca inferior à ninguém, muito pelo contrário, mostra somente sua resignação por um determinado período, em obediência às regras do Candomblé pelo seu Òrìsà.
O cumprimento desses interditos, confere ainda mais valor à obrigação de sete anos, em que a então ìyáwò, poderá utilizar-se de outras indumentárias, estando desta forma, em outra fase de sua missão religiosa (torando-se uma ègbón).
No Candomblé, todos os passos são galgados, assim como na vida, afinal, a criança não nasce andando, existe um processo de aprendizagem.
Uma mãe preservadora resguarda sua filha das maquiagens até a idade certa, etc.
Assim é o Candomblé.
Um Ogá não pode se sentir desprezado por não vestir-se como um Babalòrìsà, ele sim, deve se sentir orgulhoso em pode estar preservando a cultura dos antigos Ogá.
Um Ogà vestido como Ogà, é facilmente identificado em meio a multidão.
O mesmo se aplica aos Babalòrìsàs, que não podem almejar as vestes femininas, pois nesse caso, ao invés de mostrar poder e distinção, evidência sua falta de conhecimento sobre a liturgia de cada elemento utilizado.
O Ilé Asè òmò Yemojà, não tem a intenção de ditar regras, mas sim, expor seus costumes, aprendidos ao longo de gerações, divulgado e esclarecendo muitas pessoas que jamais foram orientadas sobre como se vestir no Candomblé e por isso, cometem tantos erros.
Atenciosamente,
Ilé Asè òmò Yemojà.
Imporantissimo texto só entristece que se falando de nação Ngola, onde se utiliza a tradição Bantu, se utilize no texto termos na linguagem Yoruba
ResponderExcluirEx: Yawo ao invez de Muzenza e por ai vai....