CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Camafeu de Oxossi


Seu nome de batismo era Ápio Patrocínio da Conceição, mas ficou conhecido como Camafeu de Oxossi.

Filho de Faustino José do Patrocínio, mestre-pedreiro, descendente de africanos e Maria Firmina da Conceição, negociante de tabuleiro na Baixa dos Sapateiros, Camafeu nasceu em Salvador, Bahia, no ano de 1915.


Seu apelido surgiu quando, um dia passeando com amigos pelo Pelourinho, tropeçou e quando caiu viu um broche lindo, um camafeu, jóia usada pelas senhoras da sociedade para prender a gola de seus vestidos, e que geralmente tinha como principal atrativo uma figura em relevo do rosto de uma senhora ou do seu esposo.

Ápio gostou tanto que os amigos o apelidaram de Camafeu de Oxossi.


Andarilho do Pelourinho, era um homem de sorte. Tanto no jogo, quanto no amor, o que segundo relatos, teria sido outro motivo para chamá-lo de Camafeu.

Sua mãe teve 16 filhos, cada um de um pai.

Ficou órfão de pai aos sete anos, e resolveu sair de casa. De menino de rua que passou fome e perdeu toda a família, estudou na Escola de Aprendiz de Artífice, trabalhando na fundição, vendeu cordão de sapato na porta do Elevador Lacerda, passou para o passeio do Mercado Modelo como engraxate, foi marítimo até se tornar proprietário da famosa barraca de São Jorge, no velho mercado.


A música entrou em sua vida desde garoto.

Foi criado na roda de samba, tocando berimbau, ensinando aos turistas como tocar o instrumento.

Era um homem de muitas palavras, casos e lendas para contar. Chegou a ser diretor das escolas de samba Só Falta Você, Deixa Pra Lá e Gato Preto, onde aproveitava para cantar seus sambas.

No Mercado Modelo ele começou a cantar música de capoeira e ijexá, tocando berimbau e atraindo a clientela.

A partir daí começou a fazer sucesso.


Na sua Barraca São Jorge, cercado de objetos rituais de obis e orobôs, ele ensinava os mistérios da Bahia. Na década de 60, a Universidade Federal da Bahia criou o curso de língua ioruba e Camafeu foi um dos primeiros alunos.

Foi convidado para ir à África, representando a Bahia no Primeiro Festival de Arte Negra do Senegal, junto com Pastinha e outras pessoas. Lá ele cantou em iorubá para Oxum e para Oxossi.


Sobrinho de Mãe Aninha e filho-de-santo de Mãe Senhora, foi um dos 12 Obás de Xangó do Terreiro Axé Opô Afonjá.

Foi personagem de muitos livros de Jorge Amado, de quem era amigo particular. Seu nome está presente em dezenas de músicas, entre as quais a que diz “Camafeu, cadê Maria de São Pedro”, gravada por Martinho da Vila.


Tocador de berimbau, batuqueiro, ex-presidente dos Filhos de Gandhi, Camafeu de Oxossi gravou dois discos, um deles Berimbau da Bahia com os cantos de capoeira mais belos, alguns velhos do tempo da escravidão ou da Guerra do Paraguai.

Com o tempo, a voz rouca não cantava mais, porém se emprestava a histórias e nomes com quem conviveu.


“No mercado, em meio a seus Orixás, aos colares e às figas, queimando o incenso purificador, rindo sua gargalhada, saudando São Jorge. Oxossi, rei de Ketu, o grande caçador.

Camafeu comanda a música, o canto e a dança.

Um baiano dos mais autênticos, um dos guardiães da cultura popular. Homem que possui o saber do povo, um desses que preservam o passado e constroem o futuro”, relatou Jorge Amado no livro Bahia de Todos os Santos. E diz mais: “Compositor, mestre solista de berimbau, Obá de Xangô, Osi Obá Aresá, filho de Oxossi, preferido de Senhora, amigo de Menininha e de Olga de Alaketu, o riso cortando o rosto, dono da amizade...”


Um ritual religioso marcou no dia 27 de março de 1994 o sepultamento de Camafeu, que faleceu aos 78 anos de idade.

O enterro contou com a presença de vários amigos e admiradores daquele que era uma das maiores autoridades do culto afro-brasileiro na Bahia.

Entre os babalorixás presentes estava Luís da Muriçoca cantando cantigas fúnebres em yorubá. Camafeu também ficou conhecido como proprietário de um dos mais famosos restaurantes de comidas típicas da Bahia, que tinha seu apelido, localizado no Mercado Modelo, e que, desde então se tornou um dos pontos obrigatórios de passagem para todo o turista que visita Salvador

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