CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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sexta-feira, 15 de março de 2013

O Candomblé e a Essência do Ser




O culto aos Orisás é o culto à natureza. 

A harmonia com as forças da natureza é que torna o lado humano dos Orisás tão forte e sagrado. 

O templo dos Orisás é a natureza.

O culto ao Orisás, o Candomblé não se tornou uma religião institucionalizada como outra qualquer. 

Também não é uma seita mágica. 

O Candomblé é uma filosofia de vida. 

Consiste em toda uma ideologia que permeia moral, ética, coerência no pensar e no agir que vai totalmente à contra mão dos valores do mundo capitalista-cristão. 

Em África o culto era praticado nas aldeias e cidades ao ar livre, em sua maioria. 

Nos centros dos aglomerados sociais, à beira de rios e cachoeiras e no interior das florestas e savanas se praticavam a maior parte dos rituais.

No Brasil, o contexto social, assim como as condições espaciais, se transformou a partir do processo de intensa urbanização. 

Os negros libertos que formaram os Candomblés de Nação o fizeram nos centros urbanos, em Salvador, no Rio de Janeiro e mais tarde em São Paulo. 

Posteriormente foi se espalhando para outras cidades. 

O contexto urbano não proporcionava mais o contato direto e livre com a natureza como espaço de vivência. 

Da mesma forma o contexto social e político da sociedade escravista não permitia o culto aos 

Orisás, mesmo aos negros livres. 

Por isso os negros alforriados e livres se organizaram, adquiriram espaços formando então os terreiros de Candomblé. 

Tais terreiros constituídos em casas, chácaras e sítios concentravam os cultos em seu interior, mas não por uma simples opção e mudança da tradição. 

O espaço urbano e principalmente a proibição por parte do poder público impôs tal condição. Isso não significou que a natureza deixou de ser o único e principal templo de culto.


Mesmo quando os africanos foram arrancados de seu território natal, continuaram essa mesma relação em seu processo de mais de trezentos anos de resistência à escravidão. 

Nos quilombos principalmente se reproduzia todo um comportamento e maneira de pensar estritamente original. 

Posteriormente, com a formação dos Candomblés de Nação limitados às populações negras, isso se manteve por muito tempo.

O declínio, ou mesmo distorção dessas relações se dá após a segunda metade do século XX (1950 em diante) quando as práticas religiosas africanas começam a sair do âmbito criminal e começa a ser tratado pelo poder público como resquícios culturais, ou folclore, como queira.

A partir de então os rituais e tratamentos espirituais como o jogo de Búzios, o Ebó, o Bori e até mesmo a iniciação tornaram-se produtos de comércio. 

O Candomblé passou a ser procurado pelas pessoas, principalmente intelectuais e artistas, como uma religião alternativa, onde não era necessário seguir os padrões de comportamento cristãos, mas sem a noção de que no Candomblé também existe um padrão de comportamento. 

E tal padrão pode ser considerado tão ou mais rígido do que aquele imposto pela maioria das religiões. 

A diferença é que justamente ele não é imposto, mas sim esclarecido, e se o iniciado não cumpre, não leva punições da Casa ou do Babalorisá, ele simplesmente não se coloca como um praticante de sua própria religião. 

E os resultados disso são subjetivos, porém óbvios. 

Ao longo das gerações que procederam e propagaram os cultos, a relação foi se transformando. 

Hoje casas de Candomblé se tornaram verdadeiros templos suntuosos, semelhantes à templos cristãos, que simbolizam a riqueza material daquela casa. 

Temos leis e decretos que permitem o culto e a prática de rituais em espaços naturais, desde que feito com consciência, e mesmo assim a natureza enquanto templo está perdendo seu valor para os praticantes do culto ao Orisás. 

Isso por que os valores materialistas e consumistas do mundo atual estão inseridos no modo de pensar candomblecista. 

Terreiros suntuosos, roupas caríssimas, jóias, fartura exagerada de comidas e bebidas simbolizam Asé. 

Riqueza, bens materiais, muito dinheiro e fama simbolizam Asé. 

A força espiritual está ficando, cada vez mais, em segundo plano. 

A força do dinheiro em primeiro.

Hoje, o Orisá é forte à medida em que seu filho conquista bens materiais, e não felicidade, ou melhor, a felicidade através de bens materiais, como na sociedade consumista. 

E se essa felicidade pelos bens materiais, pelo sucesso financeiro não vem o Orisá não é bom, o Babalorisá não é bom, então pode e deve ser abandonado para se tentar a sorte em outra religião, na maioria das vezes evangélica. 

O lado religioso, litúrgico, ritualístico do Candomblé recebe tratamento de mágico, místico e folclórico pelos próprios adeptos. Iniciados não colocam sua própria religião no mesmo patamar de outras. 

Para muitos é uma religião visual, em que roupas bonitas e suntuosidade são prioridades. Sendo que na verdade a verdadeira essência do Candomblé não se vê, apenas se sente.

Autor: Alan Geraldo Myleô
FONTE: O Candomblé e a Essência do Ser


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