As mulheres da aldeia não engravidavam e tiveram a idéia de recorrer aos poderes de Iroco.
Juntaram-se em círculo ao redor da árvore sagrada, tendo o cuidado de manter as costas voltadas para o tronco.
Não ousavam olhar a grande planta, pois, os que olhavam Iroco de frente enlouqueciam e morriam.
Suplicaram-lhe filhos e ele quis saber o que teria em troca.
Cada uma prometia o que o marido tinha para dar: milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros.
Uma delas, chamada Olurombi, era a mulher do entalhador e seu marido não tinha nada daquilo para oferecer.
Desesperada, prometeu dar a Iroco o primeiro filho que tivesse.
Nove meses depois a aldeia alegrou-se com o choro de muitos recém-nascidos e as mães foram levar a Iroco suas oferendas.
Olurombi contou a história ao marido, mas não pôde cumprir sua promessa. Ela e o marido apegaram-se demais ao menino prometido. No dia da oferenda, Olurombi ficou de longe, segurando nos braços trêmulos, temerosa, o filhinho tão querido.
O tempo passou e ela mantinha a criança longe da árvore. Mas um belo dia, passava Olurombi pelas imediações do Iroco, quando, no meio da estrada, bem na sua frente, saltou o temível espírito da árvore.
Disse Iroco: "Tu me prometeste o menino e não cumpriste a palavra dada. Transformo-te então num pássaro, para que vivas sempre aprisionada em minha copa." Transformou Olurombi num pássaro que voou para a copa de Iroco para ali viver para sempre.
O entalhador a procurou, em vão, por toda parte. Todos os que passavam perto da árvore ouviam um pássaro que cantava, dizendo o nome de cada oferenda feita a Iroco.
Até que um dia, quando o artesão passava perto dali, ele próprio escutou o tal pássaro, que cantava assim: "Uma prometeu milho e deu o milho; Outra prometeu inhame e trouxe inhames; Uma prometeu frutas e entregou as frutas; Outra deu o cabrito e outra, o carneiro, sempre conforme a promessa que foi feita.
Só quem prometeu a criança não cumpriu o prometido."
Ouvindo o relato de uma história que julgava esquecida, o marido de Olurombi entendeu.
Sim, só podia ser Olurombi, enfeitiçada por Iroco.
Ele tinha que salvar sua mulher! Mas como, se amava tanto seu pequeno filho?
Foi à floresta, escolheu o mais belo lenho de Iroco, levou-o para casa e começou a entalhar.
Da madeira entalhada fez uma cópia do rebento, o mais perfeito boneco que jamais havia esculpido, com os doces traços do filho, sempre alegre, sempre sorridente.
Poliu e pintou o boneco com esmero, preparando-o com a água perfumada das ervas sagradas.
Vestiu a figura de pau com as melhores roupas do menino e a enfeitou com ricas jóias de família e raros adornos.
Quando pronto, ele levou o menino de pau a Iroco e o depositou aos pés da árvore sagrada.
Iroco gostou muito do presente, o menino que tanto esperava!
Sorria sempre, jamais se assustava quando seus olhos se cruzavam.
Não fugia como os demais mortais, não gritava de pavor e nem lhe dava as costas, com medo de o olhar de frente.
Embalando a criança, seu pequeno menino de pau, batia ritmadamente com os pés no solo e cantava animadamente.
Devolveu a Olurombi a forma de mulher que, aliviada e feliz, voltou para casa e para o marido artesão e o filho, já crescido e livre da promessa.
Dias depois, os três levaram para Iroco muitas oferendas.
Levaram ebós de milho, inhame, frutas, cabritos e carneiros, laços de tecido de estampas coloridas para adornar o tronco da árvore.
Eram presentes oferecidos por todos os membros da aldeia, felizes e contentes com o retorno de Olurombi.
Até hoje todos levam oferendas a Iroco.
Porque Iroco dá o que as pessoas pedem.
E todos dão para Iroco o prometido.
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