Mãe/ Foto: Sérgio Guerra
A relação do fotógrafo pernambucano Sérgio Guerra com a Angola é tão profunda que deu origem a cinco livros que reúnem um dos mais completos registros fotográficos do país e suas populações.
Em Hereros, seu livro mais recente, Guerra aprofunda seu olhar sobre a cultura de Angola. A partir das fotos desse livro foi criada a exposição Hereros Angola. São cerca de 100 fotos selecionadas pelo artista plástico e curador Emanoel Araujo, no Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera em São Paulo.
A mostra faz parte das comemorações do Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, declarado pela Assembléia Geral das Nações Unidas.
Após ter sido realizada em Luanda e Lisboa, em 2009, com ampla repercussão, a mostra Hereros Angola ganhou novos contornos e dimensão maior para exibição em São Paulo. Sérgio Guerra realizou mais viagens ao deserto do Namibe, produziu novas fotos, fruto do estreitamento das relações com os Hereros.
Além das fotografias, em diversos formatos, algumas plotadas em grandes formatos, a mostra inclui uma cenoAs imagens e depoimentos levam o expectador ao universo destes pastores de hábitos seminômades, que são exemplo da perpetuidade e resistência de uma economia e cultura ancestrais ameaçadas pelo acelerado processo de modernização e ocidentalização dos países africanos.
Os hereros se dividem entre Angola, Namíbia e Botsuana, totalizando mais de 240.000 representantes da etnia. Apesar dos subgrupos, todos falam o mesmo idioma, o herero, além de português em Angola, inglês em Botsuana e inglês e africâner na Namíbia. São um povo mítico, com uma história marcada por sangue.
Em Angola, resistiram à colonização portuguesa. Na Namíbia, resistiram à escravidão e se opuseram à dominação alemã, ação que os tornou vítimas de um dos maiores genocídios da história. Em 1904, o general Lothar von Trotha ordenou às tropas alemãs o cumprimento de uma “ordem de extermínio” e dizimou cerca de 80 % da população dos hereros.grafia que reúne vestimentas, adereços e objetos de uso tradicional e ritualístico da etnia.
O trabalho que resultou no livro, na exposição e no futuro documentário Hereros Angola teve início em junho de 2009, quando Guerra viajou para as províncias do Namibe e Kunene, acompanhado por 17 pessoas. Foram 60 dias de documentação dos hábitos e costumes dos hereros, resultando em mais de 10 mil imagens e uma centena de depoimentos. De lá para cá, somaram-se mais de 10 viagens e pelo menos mais 10 mil imagens.
O contato inicial de Sérgio Guerra com os hereros causou impacto imediato no artista. “Quando os vi pela primeira vez, foi como se uma porta da minha percepção tivesse sido aberta para algo que sabia existir, mas hesitava em acreditar”, recorda.
Guerra registrou imagens dos mukubais, um dos subgrupos dos hereros. Sete anos depois, retornou ao Namibe e descobriu outros subgrupos: os muhimbas, os muhacaonas, os mudimbas e os muchavícuas. ‘Comecei a entender que aqueles povos, apesar da aparência diferente, eram todos da mesma raiz, da mesma família”.
Para conhecer mais de perto o modo de vida dos hereros, Guerra passou uma temporada vivendo dentro das comunidades e observando suas práticas cotidianas. “Vi que, mesmo diante da escassez, dividem sempre o alimento com os demais.
Vi que cultivam a solidariedade, que evitam o personalismo e o egocentrismo, que praticam uma economia familiar de grande inteligência, sempre voltados para a ampliação de um patrimônio cujo usufruto é sempre coletivo. Vi que honram e festejam os seus antepassados.
Vi que praticam com grande eficácia a justiça, coibindo infrações com pesadas multas que, a um só tempo, são prejuízo econômico e reprimenda moral”.
Sérgio Guerra
Fotógrafo, publicitário e produtor cultural, Sérgio Guerra nasceu em Recife, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até se fixar na Bahia nos anos 80.
A partir de 1998, passou a viver entre Salvador, Rio de Janeiro e Luanda, onde desenvolve um programa de comunicação para o Governo de Angola.
Em suas constantes viagens pelo país, testemunha momentos decisivos da luta pela paz e reconstrução, constituindo um dos mais completos registros fotográficos das 18 províncias angolanas.
Mãe/ Foto: Sérgio Guerra
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