Os òrìṣà (orixá) são parte de um conjunto de divindades e não todo ele.
Nós que os cultuamos acabamos nos concentrando neles mas não podemos ignorar todo o resto.
Devemos nos lembrar que uma religião explica o mundo que vivemos através de uma estrutura metafísica e composta de elementos religiosos.
É o contraponto da ciência para a qual tudo tem uma explicação determinística e pode ser sintetizado em equações e previsibilidade.
Em um mundo onde não havia ciência a religião é quem explica ao homem o sentido de sua existência e também tudo o de bom e ruim que lhe acontece.
Se o seu apoio o mundo é algo sem sentido ou senso, de forma que as pessoas para conseguirem viver tem que se apoiar em uma ou outra.
No Cosmo Yoruba como em outras religiões temos um sistema metafísico que suporta toda a existência, assim as primeiras forças que se destacam são Olódùmarè e Èṣù (Exu).
Olódùmarè é o criador de tudo, fonte da existencia, designador dos destinos e quem julga nossa vida.
Èṣù (Exu) representa mais de uma coisa.
A primeira é o axé.
Èṣù (Exu) é considerado o axé em si, o movimento a força que põe a vida em ação.
Além disso ele é o policial de Olódùmarè e da religião, é uma força neutra acima do bem e do mal que se encarrega de verificar que tudo seja feito certo e que o àṣẹ (axé) das oferendas façam o seu efeito.
Também pune com o destino não evitado aqueles que falham no cumprimento de sua obrigação.
Ele não é a favor ou contra ninguém.
A terceira força é Ọ̀rúnmìlà (Orunmila) porque é o mensageiro de Olódùmarè e dos òrìṣà (orixá). É Ọ̀rúnmìlà (Orunmila) que estabelece a comunicação entre o divino e o físico.
Depois temos outros grupos mais conectados:
Ori
os ancestrais, a base de toda essa religião e que representam a sequencia da vida na terra.
Os òrìṣà (orixá)
Os espiritos
Ajé que são um elemento regulador da existencia evitando que tudo seja bem demais ou ruim demais. De fato um espírito que pode ser utilizado para o bem ou para o mal representando assim a ação dos homens.
os ajogun que são as coisas ruins (a morte, a guerra, a perda, a
doença, a paralisia, a feitiçaria, as maldições, os problemas...
Conforme comentei em outras ocasiões os yoruba acreditam que tudo que é grande ou significativo é um espírito, assim uma montanha tem um espírito em si, uma arvore, como o iroko é um espirito, um grande lago tem um espirito nele, o vento tem vários espiritos (nenhum é oya...) esta é a forma como os yoruba explicavam o mundo onde viviam, assim os espíritos estão presentes em tudo e torna o mundo um elemento vivo.
Este tipo de divindade é o que pode gerar essa relação com os elementos da natureza, mas observe, não são òrìṣà (orixá), são espiritos, e são associados com tudo como uma forma de os yoruba traduzirem as reações do mundo que os envolve.
Por uma questão de hábito ou correlação podiam até mesmo receber oferendas, uma vez que os òrìṣà (orixá) os recebiam, mas não me recordo de ter lido uma só linha de odù onde um desses espíritos recebesse algo.
Os odù nos relacionam com os òrìṣà (orixá) e na proteção contra os ajogun e ajé.
Assim conforme meu entendimento esses espíritos não são parte do culto principal da religião, fazem parte do entendimento do mundo por um povo agrário e sem ciência, mas estão longe de representarem um panteão de Deuses.
Àjẹ́ (Ajé) é uma parte chave nesse quebra-cabeça.
Sua existência explica a ação do mal ou do bem na sua forma mais direta.
É o mal de uma pessoa contra outra e elas, conforme todos os odù onde aparecem passam por cima dos òrìṣà (orixá) e desta forma de sua proteção explicando porque mesmo uma pessoa devota e portadora do àṣẹ (axé) do seu òrìṣà (orixá) será afetado pela ação da Àjẹ́ (Ajé) que são provocadas por outros serem humanos.
A imagem que se tem de Èṣù (Exu) aqui no Candomblé em parte deveria ser creditada a Àjẹ́ (Ajé).
A ação dos guias de Umbanda e da Macumba que podem fazer o bem ou o mal de acordo como são usados, para nós no Candomblé tem que ser explicado pela ação da Àjẹ́ (Ajé) que é desta forma uma força neutra.
Para entender ajé eu recomendo ler, com calma, Verger.
Os ajogun representam as piores forças da natureza ou a consequencia delas na sua forma mais bruta.
São apaziguados com oferendas e desta forma através de Èṣù (Exu) e também são forças superiores a proteção dos òrìṣà (orixá).
Os òrìṣà (orixá) são divindades criadas e enviadas por Olódùmarè.
Definir o que é um òrìṣà (orixá) seria como definir o que é um anjo.
No nosso caso òrìṣà (orixá) representa a representação de Olódùmarè na terra e os òrìṣà (orixá) possuem forças e propriedades designadas por esse.
Eles se dividem em 2 grupos, os primordiais criados por Olódùmarè e os ancestres divinizados.
Aos òrìṣà (orixá) cabe a assistência e proteção aos homens e conforme mito também conhecido, quando houve a separação do orun e do aiye eles não mais puderam transitar entre os 2 mundos livremente.
Para isso teriam que contar com uma pessoa o elegun que seria preparado para ser essa ponte.
Assim sem elegun não temos òrìṣà (orixá) de forma que onde não existem homens não existira a divindade.
Assim os òrìṣà (orixá) sendo eles primordiais ou não são manifestações reais do divino, eles se fazem presente junto de nós e são representados nos mitos e odù atuando como pessoas, sujeitos as mesmas coisas que qualquer um se sujeita.
Devemos lembrar que essas estórias são metáforas e não expressão da realidade. É através delas que entendemos como nos comportar, que exemplos seguir, as consequencias de atos ruins, etc..
Ori e òrìṣà (orixá) representam a presença do divino em nossas vidas, nos orientado e protegendo, não sendo superiores a forças maiores do mundo que nos cerca, mas, sendo de uma forma muito vísivel para nós o exemplo de como devemos ser.
Os òrìṣà (orixá) são a manifestação humana do divino, a mais próxima e a mais palpável que nos faz sentir protegidos, ouvidos e assistido por Olódùmarè.
Eles são parte de nosso ori, assim junto com ori que é a principal divindade que nos assiste, junto com nossos ancestres que fazem parte do ori, todos temos um orixá que nos acompanha no nosso elemento mais fundamental, nosso ori.
Sem um iniciado o òrìṣà (orixá) não se manifesta no aiye, o sacerdote feito, é a ponte entre o aiye e o orun é a ligação do homem com o divino, não só para aquela pessoa mas para todas que a cercam, assim a feitura e a participação ativa na religião tem um sentido muito maior do que a própria satisfação pessoal.
Os elegun são a presença do òrìṣà (orixá) na vida da terra e enquanto existirem elegun, enquanto existirem babalawo o divino estará junto da humanidade na forma dos òrìṣà (orixá).
Se os òrìṣà (orixá) fossem as forças da natureza então eles já estariam aqui e não seria necessária essa ponte qe representa o elegun.
Alguém poderia dizer que não que a iniciação é uma preparação da pessoa para poder incorporar um òrìṣà (orixá), mas, eu respondo que o mito não diz isso, diz sim o que eu mencionei.
O pessoal da Umbanda, sempre muito confuso com tudo, e os Lukumi (cubanos) são os primeiros a dizer que os elegun não incorporam um òrìṣà (orixá) porque sendo eles elementos da natureza teriam uma força tremenda e assim uma pessoa, um elegun, não poderia os incorporar.
Essa é de fato a visão de quem acredita que os òrìṣà (orixá) são elementos da natureza.
Mas o Candomblé não pensa assim.
No Candomblé os elegun de fato incorporam os òrìṣà (orixá), ou sua energia como se queira.
Desta feita para seguir com esse entendimento temos que desconsiderar que òrìṣà (orixá) sejam os elementos da natureza e sim divindades que tem o controle sobre alguns elementos.
Assim na concepção que eu tenho, os òrìṣà (orixá) tem estreita ligação com os homens e não são forças desconectadas de nós.
O cosmo yoruba não é muito simples mas o òrìṣà (orixá) tem um papel estreito com a raça humana e isso esta no nosso dia a dia e também nos textos de odù.
A gente que vive isso todo o dia sabe o que e como é um òrìṣà (orixá). Sabe também o que é a natureza e suas forças sejam boas ou mas e a gente não confunde isso, não?
Então na forma que eu vejo os òrìṣà (orixá) dentro da concepção metafísica da religião são a ligação do divino com o homem, são reais e não concepções abstratas e inatingíveis, mas fazem parte da ordenação divina e representam a ação de forças que são superiores a nós, o divino, na assistência a nossa vida, seja pela nossa saúde, pela nossa prosperidade como pela nossa proteção.
Não são absolutos mas são a parte mais significativa para nós no equilíbrio das forças que dominam o nosso mundo e dia a dia.
FONTE: http://blog.orunmila-ifa.com.br/2012/08/serao-os-orixa-orisa-elementos-da.html
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