Para quem chegou até aqui, como eu disse e repeti várias vezes a religião é composta de elementos muito importantes, alguns intangíveis como o iwa pele e o nosso destino, outros lembrados mais indiretamente atualmente que é a ancestralidade que se perde um pouco devido a que nem todos de uma mesma família seguem a religião e uma casa de santo esta longe de representar uma família espiritual, mas, mesmo que a gente não se lembre a ancestralidade é uma das bases da nossa vida.
A religião que a gente adota é complexa em parte porque existem de fato conceitos pouco claros, na origem, ou que se tornaram complexo devido a junção aqui no Brasil de várias correntes religiosas e regionais distintas.
Infelizmente só recentemente existe um esforço de teologizar a religião que esbarra na polêmica e no preconceito.
Outras correntes religiosas contam com linhas filosóficas que procuram aprofundar as questões e interpretações essa religião aqui não contou com isso na Africa e no novo mundo esbarra em uma babel pior ainda.
Eu acho que não cabe discutir determinadas liturgias mas não podemos em função disso nos abster de discutir todo o resto independente de sabermos ou não as resposta.
Sem querer ser chato, mas enfatizando, assim na formo que eu vejo o cosmo yoruba baseado em textos de odù que eu consegui ler até hoje, em mitos que eu li ou ouvi ao longo de anos, o òrìṣà (orixá) não faz parte da ordenação das forças naturais do mundo em que vivemos.
Esse ordenamento não é explícito ou atribuído a Olódùmarè que como o
Deus distante (ou tornado distante) faz com que a natureza e o mundo funcione.
Os òrìṣà (orixá) conforme aparecem nas histórias e explicitamente no odù óxéotuwa são os braços e mãos de Olódùmarè no aiye, mas na sua ligação com nós.
Assim nosso ori é feito com nosso òrìṣà (orixá).
Os òrìṣà (orixá) surgem em todas as histórias representando papéis comuns como se fossem pessoas comuns, com as mesmas perfeições e imperfeições que temos de modo a que possamos nos espelhar e entender o conhecimento que passam.
São também a instância direta, junto com o ori e a ancestralidade, que recorremos para resolver nossos problemas, ligados ao nosso sucesso na nossa vida como a necessidade de termos saúde, de termos família, mulher, filhos, oportunidades, trabalho, dinheiro e podermos com nossa prosperidade darmos seguindo a nossa vida e atingir o destino que estabelecemos antes de iniciar essa nova encarnação.
Como braços e mãos de Olódùmarè os òrìṣà (orixá), conforme eu comentei no início disso tudo, tem controle sobre elementos da natureza, assim eles os usam e controlam na sua forma calma e ordenada.
Mas como elementos podemos considerar um todo, de vegetais, minerais, doenças, até fenômenos da natureza, e estes são usados não de uma forma reguladora, mas como instrumentos de sua necessidade e ação em exercer a sua missão junto a nós.
Eu assim não consigo ver um òrìṣà (orixá) sem o mesmo estar relacionado com nossa vida, ficando assim longe do significado que tem os deuses naturais das tradições europeus e greco-romanas (não tenho conhecimento suficiente para citar outras).
Assim o entendimento da metafísica desse cosmo deve passar pela lembrança que temos vários entidades e espiritos além dos òrìṣà (orixá).
Este conjunto esta longe de ser perfeito e complementar, existem coisas que parecem redundantes ou que não são complemente racionais, mas, como sabemos é um povo muito simples, agrário e que não teve unidade, continuidade e pensamento filosófico próprio para poder explorar e documentar cada faceta da rica cultura e religião.
Eu concordo com os críticos que podemos, veja, podemos, em algum grau, hoje, estar lidando com conceitos documentados e de alguma forma manipulado por aqueles estrangeiros que os estudaram, é muito difícil encontrar um analista isento, mas, agora é tarde tanto para evitarmos isso como para querermos dizer que existem outras verdades.
A verdade sera a soma de todas essas mentiras que são contadas temos que buscar alguma coerência nisso tudo, contando com isso com as inúmeras fontes, lembrando também para os críticos que qualquer literatura sobre assunto teve origem na tradição oral de forma que apesar de escrita é o reflexo da tradição oral, não sendo assim pior ou menos importante do que essa.
Em relação ao distânciamento que se criou de Olódùmarè a ponto de muitos criticarem sua real existência, eu lembro que, o distanciamento pode ter sido fruto apenas do apego, carinho e amor aos òrìṣà (orixá) de modo que esta relação devocional acabou afastando e deixando distante a presença e culto a Olódùmarè.
Igualmente a multiplicação linear do número de òrìṣà (orixá) em cada região, seja pela divinização ou seja somente pelo estabelecimento de qualidades que estivessem mais de acordo com as tradições locais contribuiu para isso.
Hoje estamos muitos centrados no culto ao òrìṣà (orixá) a ponto de eu mesmo ter que reconhecer, contrario a minha vontade, que aqueles que dizem que Candomblé é um culto ou uma seita e não uma religião tem os seus motivos.
A centralização de tudo em torno do culto aos òrìṣà (orixá) é uma realidade de forma que é isso o que se vê.
A externalização do sincretismo com essa identificação de òrìṣà (orixá) com santos católicos assim como a imensidão de Candombecista que se acha espirita e usa as teses do evangelho kardecista para se explicar é outra.
Só falta agora iyawo e babalorixa participar de congresso e reunião espirita.
Sugiro que vão vestidos à carater.
É por essa razão que eu sugiro que os críticos de uma teologia mais centrada na existência de uma alta-divindade - Olódùmarè podem não estar certos.
Eu considero que a cosmogonia composta de Olódùmarè, Èṣù (Exu), Ọ̀rúnmìlà (Orunmila), ancestrais, orixa, espiritos, aje, ajogun, etc.. quando colocada em uma perpectiva mais ordenada e adequada para dar coerência a tudo o que precisamos.
Contudo o sincretismo e influencias externas tornaram isso muito complicado (ou chato) hoje e dia, como por exemplo o próprio verger em seu livro òrìṣà (orixá) citar que as pessoas consideram que ogun, Èṣù (Exu) e oxossi são irmãos e filhos de yemanja.
Eu não vou nem me ater a essa coisa de filho e irmão, mas Èṣù (Exu) não pode estar nivelado assim, muito menos ogun, assim, pode me jogar pedra, mais isso não ajuda.
Nesse ponto a falta do pensamento teológico e da escrita, bem como o escravagismo as invasões e introdução do cristianismo e islamismo foram fatores que levaram a isso.
Eu lembro ou informo que o islamismo é uma religião muito forte e simples e adotada por pessoas de todas as classes sociais.
Mas ela é composta de uma base escrita, o alcorão que são poemas que foram ditados diretamente pelo arcanjo gabriel a mohamed.
São versos.
Complementar a isso existe o registro escrito da tradiçao oral, o hadith e Sana que complementam o alcorão com interpretações e complementos e finalmente a charia é o código de ética.
A existência do alcorão faz com que cada crente tenha a NECESSIDADE de aprender a ler para poder ele mesmo, ler, estudar e repetir as palavras do profeta e de Deus.
Mais ainda,em todo o mundo os versos do alcorão e suas rezas devem ser ditos em árabes, a lingua original.
Assim o divino e a tradição oral convivem juntos com a literatura e a farta filosofia mulçumana a Falsafa.
Como no caso dos Yoruba a religião invade a vida comum, a arte, a dança, a música e a literatura.
Assim, religião e tradição oral não são antagônicos ao registro escrito, pelo contrário lhes dão força.
FONTE: http://blog.orunmila-ifa.com.br/2012/08/serao-os-orixa-orisa-elementos-da.html
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