CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Tabu da ocupação, fundamento litúrgico da cultura Afrosul



Finalizando minha leitura do livro “Dos Yoruba ao candomblé de Ketu”, lançado recentemente pela Edusp, por Aula Barret Filho, na página 275 do capitulo "Segredos dos escrever e o escrever dos segredos. Reflexão sobre a escrita etnográfica nas religiões afrobrasileiras", Vagner Gonçalves da Silva, registrou a fala do escritor Gaúcho Norton Corrêa (autor do livro BATUQUE DO RIO GRANDE DO SUL), criticando os costumes do Batuque (cultura afrosul de culto aos Orixás), mais uma vez desmerecendo aquela cultura.

É sabido que os escritores e críticos das religiões afrodescendentes de matrizes africanas costumam objurgar os costumes da cultura Afrosul, talvez o mais perseguido seja o tabu da possessão nesta cultura. 

Assim manifestou-se fulano:

Norton Corrêa diz, respeito da publicação de fotografias nas quais os adeptos do Batuque aparecem em transe, que:


Vagner: Mas se você publica a foto[no livro], a pessoa vai se”ver no santo” [em transe].


Fala Norton Corrêa: Mas isso eu não publico. Muitas vezes passei estes Slides [...]


Eu fazia as fotos da casa e depois eu chegava lá na outra festa: “Olha, eu vou passar as fotos, os slides, só que tem um detalhe: só podem assistir os Orixás”. 

Ai baixava um monte de orixás que [normalmente] não baixavam, mas nesse dia baixavam. 

Era uma farra enorme. 

Eu passava no fim da festa. 

E eles mesmos evitavam entrar na sala onde eu passava isso. 

Quando eu passava na universidade ou qualquer coisa assim, eu olhava atentamente na sala para ver se tinha pessoas ali que eu sabia que não poderia ver. [página 275]


Reza os preceitos e fundamentos do Batuque Afrosul, que todo iniciado no fundamento jamais deverá saber da manifestação do seu Òrìsà durante os rituais, talvez este Tabu fosse criado no inicio da origem destas famílias religiosas, que para preservar os Ẹlẹ́gùn dos rituais secretos a que são deparados às divindades por eles cultuadas, alguns destes rituais chamados de provas eram temidos até mesmo pelos iniciados mais velhos que não entravam em transe.


Com a modernidade virtual, onde a maioria dos religiosos adora montar verdadeiros "Book virtuais" nas páginas de relacionamento da internet, o Batuque manteve-se fora deste verdadeiro festival de horrores, sem exposição das divindades e fundamentos que são postados sem critério algum. 

Mas não pensem que foi por livre escolha, que não foi, na verdade é que se mantiveram fieis aos princípios exigidos pela sua religião e fundamentos, mantendo o “Tabu de não contar aos Ẹlẹ́gùn que sua divindade vira (que há o estado de transe)”. 

Estado chamado de ocupação, o momento que o Òrìsà toma totalmente a consciência do iniciado.


Apesar de ser um momento muito difícil de estudar e pesquisar, pela intervenção de perguntar ao iniciado se ele sabe ou não desta ocupação. Posso observar que o Ẹlẹ́gùn não sofre durante o transe e muito menos se recorda do estado, deixando passar acontecidos e momentos importantes que poderiam ser mencionados, ou não. 

Mas em determinados momentos a própria divindade determina que tal episódio será compartilhado, sem que o mesmo venha a saber de um todo acontecido. 

Contudo mesmo assim é proibido de comentar ou perguntar qualquer coisa que possa levar o Ẹlẹ́gùn a desconfiar que houvesse algum relacionamento com o transe.




Tal comportamento e TABU, foi estudado por Norton Corrêa, que produziu riquíssimo material, não vou dizer que revelou um Batuque como deveria, mas ele conseguiu registrar muitos rituais e conceitos que viu, nada além disso, porem a seguinte frase “Ai baixava um monte de orixás que [normalmente] não baixavam, mas nesse dia baixavam. 

Era uma farra enorme.”, ridiculariza e desmerece o baseamento da cultura Afrosul, este assunto que merece atenção e estudo, mesmo que seja tão difícil se aproximar dos iniciados que se ocupam para tocar no assunto entre os religiosos Batuqueiros.


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