Deusa dos Fluídos” o declínio de uma Divindade
Vulgaridade e pretenciosismo desfigurando a face de Yèyé omo ejá (Mãe cujos filhos são peixes), esta é uma exposição fotográfica assinada por Gal Oppido, que abrirá no próximo dia 26 de Fevereiro, no Museu Afro Brasil.
Há algum tempo um lixo cinematográfico – Yansan, produzido por Carlos Eduardo Nogueira, para o Porta Curtas Petrobras, no ano de 2006, patrocinado pelo Ministério da Cultura, Petrobras e Sabesp.
A família tradicional Afro-brasileira se constrangeu diante da criação depreciativa e distorcida daquele filme, ofendendo assim os pais que desejam educar seus filhos sem o vulgar e infeliz material divulgado.
E agora me deparo com outra possível aberração artística que transforma Yemonja, numa vulgar efígie saliente e insensível.
Para meu desagrado um significativo texto que continha partes intima de uma masturbação ótica, distorcendo mais uma vez a cultura Afro-brasileira, transformando num avacalhamento cultural.
Devo imaginar que a visão do ensaísta Gal, foi sob uma perspectiva nublada que tenta transformar um ensaio sexual feminino, para derrubar a tradição do orixá africano. Chegando a misturar “Nossa Senhora” à “Yemonja”, sem ao menos decifrar a própria essência da Odò (rio) ìyá (mãe) do povo Egbá.
A mostra também inclui uma instalação para a exibição dos vídeos "Bras au Vent” e "Iemanjá Deusa dos Fluídos: processo de construção de um ensaio”.
E não para por aí, ainda temos a apresentação da tal “Obra”
A concepção da criação dos deuses Yorùbá transformado num simples anódino orgasmo vulvário, em alguns momentos parece que as águas mencionadas, assemelham a corrimentos vaginais, sem pretensão alguma para desmerecer o trabalho que me chegou as mãos, o leitor poderá acompanhar no próprio texto que segue.
Deusa dos Fluido
A partir da figura de Iemanjá, despojada de suas vestes marianizadas e entendida como aparição palpável, aquela que com o cordão umbilical alimenta dentro de seu mar interno a vida sêmen-ada que jorra para o mundo seus oceanos vaginais com felizes náufragos incubados durante meses para aportarem na praia dos humanos.
O erótico como provedor dos ritos de celebração e pró-criação da vida, o corpo da mãe que se orgulha da não-virgindade, pois possibilita o outro corpo, que protege o irmão, o companheiro de luta e desespero; o mesmo corpo que na vigília e no caminhar épico pelos campos africanos religou todos os continentes.
Num sincretismo distorcido e despregado da cultura afro-brasileira, devo imaginar que a própria divindade se sentiria coagida diante tal comparação, devo imaginar que o criador de qualquer obra possa registrar o que gosta de levar para a cama, porem transformar o sagrado numa copula, já excede a liturgia desta cultura.
A Maria das Marias, a Maria do Mar, a Maria Preta, a Maria Ninguém, portanto etérea, fluída, onipresente, dos terreiros, terrenos e da terra.
"Humanos úmidos, uni-vos!" Gal Oppido
Considero que Yemonja ou Nossa Senhora não sejam duas vadias retratadas dê propositalmente, espero que os artistas comecem a estudar melhor a cultura Afro-brasileira e a Cristã para colaborarem para ambas as culturas, que apesar de não conhecer muito a cultura cristã, devo imaginar que ambas as famílias possam não ficar satisfeitas em levar seus filhos para ver um trabalho com um teor sexual tão vulgarizado.
Diretor curador: Emanoel Araujo
Diretor executivo: Luiz Henrique Marcon Neves
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/ nº
Parque Ibirapuera- Portão 10
São Paulo- SP - Brasil
CEP: 040094-050
Fone: 55 11 3320-8900
www.museuafrobrasil.org.br
Abertura: 26 de fevereiro
Hora: 12h00
Duração: 26 de fevereiro a 17 de abril
Funcionamento: de terça a domingo, das 10 às 17 horas (permanência até às 18h)
Estacionamento: Portão 3 – Zona Azul
Entrada: Grátis
Classificação: Livre
Para maiores informações: faleconosco@museuafrobrasil.org.br
Para agendar visitas: agendamento@museuafrobrasil.org.br ou
Fone: 55 11 3320-8900 ramal 121
O direito de resposta do Ensaista
“Deusa dos Fluídos” – o direito do olhar
Quando resolvi em viagem a África em 2010 a iniciar um ensaio sobre Iemanjá eu começava a descortinar um véu que sempre carreguei de que essa Deusa tão cultuada no Brasil, tinha na África, uma essência muito mais humana do que eu estava habituado a ver.
Envolta sempre em grandes rituais, vestes, e na liturgia, eu não conseguia dissociar a imagem de Iemanjá de uma santa, mais uma imagem de Maria, de mãe, como na igreja católica.
Percorrendo os vilarejos, vivenciando a simplicidade do culto em terras africanas, percebi que Iemanjá é uma Deusa Palpável.
Aliás, fui mais longe, Iemanjá pra mim é a única santa possível do século XXI.
Por quê?
Porque sua vida, seus amores, seus filhos e a própria cultura africana, possibilitam, devolvem a ela e a mulher, o direito a sexualidade, sem que ela perca absolutamente nada do que representa dentro do culto.
Essa é a grande vitória de Iemanjá, a grande vitória das mulheres que representa, a grande vitória de um culto que não coibi, e que mesmo permeando o lúdico, carrega em si, muito mais da realidade que enfrentamos todos os dias e que precisamos enfrentar para crescer.
Caro editor, o direito ao olhar é um direito adquirido.
Sua interpretação, seus significados, também percorrem um caminho que é muito pessoal.
Aceito a crítica, mas preciso expressar que talvez sim em minha vida eu tenha conhecido mulheres de Iemanjá, e talvez de Oyá ou Oxum.
No entanto, nessa exposição eu mostro a imagem de uma Iemanjá que eu conheci não na intimidade de dois corpos que se encontram, mas aquela que me surpreendeu na África.
Despojada de vestes, de luxo.
Uma Iemanjá que me olhou fundo no olho e que me mostrou que além de deusa é mulher, e que enquanto mulher exercia seu direito maior, o de existir, o da sua sexualidade sim.
Fluídos vaginais, fluídos do leite que alimenta, fluídos do rio, do mar, do vaso de água que carregavam por caminhos longos, as filhas de Iemanjá, e não só de Iemanjá, que encontrei em terras áridas.
Espero poder contar com sua presença.
Espero que juntos tenhamos o direito do olhar.
Iremos compartilhar dos fluídos dessa Deusa que também são aqueles fluídos invisíveis.
Energéticos.
Esses com certeza mais visível a você do que a mim, que só enxergo a imagem palpável, e permaneço no campo do estético, enquanto a ti, foi dado o campo da essência.
Iemanjá nessa exposição está longe da decadência, mas sim da mulher que exerce a sua sexualidade sem, pelo contrário, perder sequer uma gota de seu valor.
Essa é uma ideia que deixa refém mulheres e mulheres ao longo de toda uma história, que sabemos injusta.
Não caia nessa armadilha fácil do julgamento.
Banhe-se nas águas profundas da Deusa.
Banhe-se de sua energia fluídica e compartilhemos.
Atenciosamente,
Gal Oppido
Comentário do Redator
Gostaria de comentar que o fotógrafo Gal Oppido, não deve ter frequentado os atuais terreiros que aboliram o sincretismo com a cultura Cristã, fazendo uma enorme confusão entre os rituais da Umbanda e do Candomblé, onde Yemonjá não é mais associada a imagem de Maria, são pontos importantíssimos que fariam diferença na hora de fotografar, mesmo porque todos os sacerdotes que mostrei a matéria se sentiram ultrajados com a postura orgástica da modelo, que em momento algum traduz o prazer de ser mãe, passando para teor sexual e deixando de lado a pureza e o sentimento de ser mãe, sabemos que na África é comum as mulheres andarem com os seios de fora, contudo adornar uma mulher com o Adé de Yemonja e colocar em poses maliciosas não faz desta exposição o merecimento de carregar uma homenagem à Deusa, sugerimos que reformule o conteúdo e destine apenas a Maria, que quem sabe possa ser melhor aceita, não precisamos de mais conteúdo depreciativo para a nossa cultura.
Sugerimos também que retire nossos adornos sagrados, pois não são objetos d e chacota e muito menos desejamos que sejam usados desta forma, nossas Deusas e divindades possuem o poder da sedução e sensualidade, o que difere de uma vulgaridade registrada, nós sacerdotes e a família tradicional africana, esperamos que reconsiderem que está exposição irá nos ofender profundamente.
A assessoria de Imprensa do Museu Afrobrasil, antecipou um comunicado com o seguinte recado - Olá amigos, comunico que a exposição do fotógrafo ensaísta, Gal Oppido, que abrirá no próximo dia 26 de fevereiro, às 12 horas, será “Antífona” e não mais “Deusa dos Fluídos”, como divulgado anteriormente.
Será uma mostra com 27 imagens baseada na obra de mesmo nome do escritor negro, Cruz de Souza.
- esta vitória nos proporciona o respeito e o reconhecimento ao qual lutamos, chega de marginalizarem os nossos ícones e religião.
Grato pelo bom censo ao redefinirem uma nova exposição, tenho certeza que será um sucesso.
Erick Wolff8 - redator
Postado por Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi às 20:14 5 comentários:
fernanda disse...
com pode as pessoas deturparem tanto assim....minha...nossa.....religião....algo tão lindo....ser comparado com algo tão mentiroso....feio....é por isso e outras coisas que as pessoas acabam vendo nossa religião de outra forma....
contribuir para uma obra dessas...ou até mesmo ir ver uma coisa destas é contribuir com a desmoralização de algo que os pr´prios artistas não conheçem.
17 de janeiro de 2011 11:44
Luiz Marins disse...
Só tenho a lamentar a visão e a interpretação completamente equivocada do Sr. Gal Oppido.
Ele tem o direito de enxergar como quiser, e a sociedade afro-brasileira tem o direito de não gostar da forma equivocada como ele viu e publicou.
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