Este tema tem sido abordado por mim algumas vezes e vou continuar a fazê-lo.
O assunto tem muitas nuances e ao invés de um longo texto, como já fiz antes, vou publicar partes.
Não é o mesmo texto.
Toda publicação ou re-publicação é uma versão significativamente alterada e atualizada.
A prática do oráculo no Candomblé tomou mais de um caminho ao longo da nossa história e sofreu diversas influências.
A primeira coisa que eu lembro a todos é que Ifá e oráculo são sinônimos no Candomblé.
A maior parte das pessoas pode até desconhecer que existe um culto separado destinado a Ifá ou a divindade Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) mas sabe que existe um oráculo chamado de Ifá.
Assim, da mesma forma como Ifá e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) são em certo aspecto sinônimos em Ifá, no Candomblé, Ifá e oráculo são palavras sinônimas, sem que isso seja necessariamente vinculado ao uso de Odù.
Por muitos anos temos ouvido as pessoas chamarem o seu oráculo de Ifá sem isso guardar qualquer vínculo com o Culto de Ifá ou mesmo com o Oráculo de Ifá. Hoje a gente deve saber que o uso de Odù no oráculo do Candomblé é opcional e é dominado por muito poucos. Chego a ter a ousadia de dizer que ninguém sabe nada, apenas falam palavras soltas. Os Babalorixá (Babalórìṣà) não se preocuparam em aprender nada. Foram apenas “catando” coisas, copiando outros e chamaram o que fazem de jogar por Odù.
Mas, vamos voltar a esse ponto mais adiante. Para que cheguemos em algum lugar vamos examinar primeiro a ligação entre o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) e Ifá.
Com simplicidade, sem recorrer a textos complicados de Odùs, vamos considerar que tudo é uma mesma religião. Dentro do culto dos Orixá (Òrìṣà) ou do culto de Ifá estamos tratando da mesma religião. É o mesmo Olódúmarè, é o mesmo aiyé, é o mesmo orun (Ọ̀run), são os mesmos Orixá (Òrìṣà). A Teogonia é a mesma. E nesse conjunto, como estamos todos falando com as mesmas divindades e acreditando na mesma metafísica, se recorremos a um oráculo para tratar da vida e do destino das pessoas e recebemos respostas sobre isso que nos permitem ajudar e orientar essa pessoa então, tem que ser Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que esta se manifestando em nossa vida.
Assim, eu não vejo porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) não poderia falar através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Em Ifá existem diversos instrumentos. Os Babaláwo podem usar os Ikin, o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), o Obi e ainda cascas de coco (como os cubanos fazem). Por que não poderiam usar os búzios? Ou, porque um olhador que tenha sido iniciado e seus instrumentos consagrados não pode fazê-lo?
Eu lembro que o oráculo do candomblé, o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) sempre serviu e continuará servindo com louvor a tudo o que é necessário fazer em uma casa de Orixá (òrìṣà). Esse oráculo representa sim uma forma autêntica e verdadeira de diálogo entre nós e o divino, entre nós e certamente os Orixá (òrìṣà). Se não fosse assim tudo seria errado ou sairia errado, e não é isso o que ocorre.
A ligação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) existe nos versos do Odù Ogbè-Ọ̀sá, conforme transcritos por Wande Abimbola.
Houve um tempo que Olódùmàrè convocou todo os 401 Orixá (Òrìṣà) para o Órun (Ọ̀run), para para surpresa dos Orixá (Òrìṣà) eles encontraram as Ajé (Àjẹ́) no Órun (Ọ̀run) e estas passaram a comer um por um. Mas como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) havia feito um sacrifício antes de deixar a terra ele foi miraculosamente salvo por Oxun (Ọ̀ṣun) que substituiu Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) por carne fresca de cabrito (que Órunmilá havia usado no sacrifício recomendado por Ifá).
Quando eles retornaram a terra eles se tornaram mais próximos do que nunca. Este foi provavelmente o tempo no qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) teve Oxun (Ọ̀ṣun) como esposa.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então decidiu recompensar Oxun (Ọ̀ṣun) e então ele colocou junto os 16 búzios e ensinou a Oxun (Ọ̀ṣun) como usá-los.
...Este mostra como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) se tornaram unidos.
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que estava agradecido com o que ela fez por ele.
Foi uma coisa expecional.
Ele se esmerou no que dar a ele em agradecimento.
Esta foi a razão mais importante pela qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) criou os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Ele então colocou-os nas mãos de Oxun (Ọ̀ṣun).
De todos os Orixá (Òrìṣà) que usam os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Não existe nenhum que tenha feito isso antes de Oxun (Ọ̀ṣun).
Esta foi a forma pela qual Ifá foi dado a Oxun (Ọ̀ṣun).
E foi pedido para ela usá-los
Como um outro meio de consutar o oráculo.
Isto foi como Ifá foi usado para recompensar Oxun (Ọ̀ṣun).
Desta forma Oxun (Ọ̀ṣun) também podia chamar Ifá.
Ninguém mais pode saber
porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) tomou Oxun (Ọ̀ṣun) como esposa.
Das diversas formas de oráculo
owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún é a mais próxima de Ifá.
Assim de acordo com esse Odù foi Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que criou o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún e se Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é Ifá e o conhecimento de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é baseado em Odù e Ifá ele não poderia ter criado algo que não fosse parte do seu próprio conhecimento.
Isso muda a versão de um mito popular, corrente do Candomblé, de que Oxun (Ọ̀ṣun) teria obtido o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún de Exu (Èṣù) o que de fato teria como consequencia uma não ligação direta com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Como muita coisa no Candomblé sobre Odù e Ifá, mais uma bobagem.
Mas esse Odù Ogbè-Ọ̀sá, extraído por uma pessoa de credibilidade no culto de Ifá e na religião Yorùbá, deixa claro que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é de fato e direito o criador do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Este Odù também vai mostrar a seguir que o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ do próprio Olódùmàrè:
...A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para um teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os habitantes da terra.
Ou se eles estava dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo para ele.
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) terminou a consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é verdade”
Olódùmàrè então pediu a ela para consultar o oráculo para ele
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódùmàrè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz Ifá
Olódùmàrè então perguntou a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódùmàrè
como ele honrou Oxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Esta tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara tudo o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè
A transcrição desse Odù esta no artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination" de Wande Abimbola.
Um outro verso contido no Odù Okanransode, que foi transmitido pelo Babaláwo Ifátóògùn, famoso sacerdote de Ìlobùú, conta a história do saco da sabedoria.
Olódùmàrè jogou na terra o saco da sabedoria e pediu a todos os Orixá (Òrìṣà) que procurassem por ele. Ele garantiu que o Orixá (Òrìṣà) que o encontrasse seria o mais sábio de todos eles. Olódùmàrè mostrou como era o saco para todos os Orixá (Òrìṣà) para que eles reconhecessem quando o vissem. Uma vez que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) eram íntimos eles decidiram procurar juntos.
Uma pessoa velha amarou um um fio de contas mas ele se abriu
Um sábio amarrou um fio de conta e el ficou frouxo
Somete uma pessoa que apoia suas costas em ikins
irá amarrar um fio de contas que irá durar
Ifa foi consuktado para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
quando ele e Oxun (Ọ̀ṣun) foram procurar pela sabedoria
Foi Olódùmàrè que chamou as 401 divindades (da direita)
e as 201 divindades (da esquerda)
para se reunierem no Orun (Ọ̀run)
Quando elas chegaram lá
Ele disse que queria dar para elas profunda sabedoria e poder
Ele disse que que qualquer um poderia ver isto
que ele iria dar para o Ori deles
E esta seria a pessoa mais sábida na terra
Ele disse que 19 dias a frente
Ele jogaria o saco da sabedoria na terra
Mas se isso seria na floresta
ou seria no campo
Ou seria no rio
ou seria em uma cidade
ou seria em uma estrada
Ele não diria onde extamente seria
Olódùmàrè mostrou então a todos o saco da sabedoria
Ele disse “É isso”
Olhem bem
E observem bem.
Quando eles chegaram de volta a terra
alguns deles iniciaram a fazer sacrificios
Alguns fizeram remédios
Alguns planejaram a sua propria estratégia
Todos disseram “Essa coisa, serei eu quem vai achar”
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) costumavam fazer coisas juntos
Eles estavam sempre um na companhia do outro
Ambos adicionaram 2 búzios a 3
e foram consultar Ifá
Eles perguntaram aos babalawo (babaláwo) para verificarem sobre ambos
“A coisa que os Orixá (Òrìṣà) estão procurando poderiam ser ambos eles as pessoas que a encontrariam?”
Os babalawo (babaláwo) pediram a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) que fizessem um sacrifício
Com os grandes alakas que eles estavam usando
Cada um deles deveria oferecer um cabrito
e um rato domético
Bem como 201 ọ̀kẹ́ cheios de búzios para cada um deles
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse a Oxun (Ọ̀ṣun) que eles deveriam fazer o sacrifício
Mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse m “por favor, deixe me descançar”
Vá fazer o sacrificio com o seu alaka
Qual a relação disso com o que estamos procurando?
Oxun (Ọ̀ṣun) se recusou a fazer o sacrifício
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) cujo outro nome era Àjànà,
pegou o seu alaka e ofereceu em sacrificio
Ele também usou um rato doméstico e dinheiro para o sacrifício
Eles então procuraram pelo saco da sabedoria mas não acharam
Todos os outros Orixá (Òrìṣà) tmbém não encontraram
Eles procuraram em Ẹ̀gá ajá
Ele foram longe até Ẹ̀sà adìẹ
alguns foram ainda até Ìkọ Àwúṣẹ̀
alguns procurara também em Ìdòròmù Àwúṣẹ̀
Onde o dia vira noite
Mas ele não encontraram
Um dia um rato doméstico foi até o alaka que Oxun (Ọ̀ṣun) usava
E fez um buraco no bolso
No dia seguinte eles se consideraram prontos
e procuraram o saco da sabedoria mais uma vez
Então Oxun (Ọ̀ṣun) o encontrou!
Ela exclamou “Han-in este é o saco da sabedoria!”
Ela colocou então no bolso do seu alaka
Ela então foi embora apressada
Como ela estava atravessando florestas mortas e subindo por troncos
repentinamente o saco caiu do seu bolso
pelo buraco que o rato tinha feito
Oxun (Ọ̀ṣun) estava chamando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Dizendo “Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), cujo outro nome é Àjànà
Venha rápidp, venha rápido
Eu vi o saco da sabedoria
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) estava indo ele viu o saco da sabedoria no chão
Ele então colocou no bolso do seu próprio Alaka
Quando ele chegou em casa
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse: Oxun (Ọ̀ṣun) deixe-me ver o saco
mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse que ela jamais mostraria para um homem
Mas se um homem precisasse ver
Ele teria que dar lhe 200 ratos
200 peixes
200 passaros
200 animais
e um monte de dinheiro
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) implorou por muito tempo para ver o saco
mas ela não permitiu
Ele então retornou para a sua própria casa
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tentou pegar o saco no seu bolso
de maneira que ela o visse mais uma vez
Ela colocou a sua mão no bolso
e sua mão entrou dentro do buraco feito no fundo do bolso
Então Oxun (Ọ̀ṣun) foi encontrar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) na sua casa
Ela começou a implorar a ele
Ela começou a agradar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Assim foi então como Oxun (Ọ̀ṣun) foi para a casa de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
para viver com ele como marido
De maneira que ele pudesse ensinar para ela um pouco de sabedoria
Nos tempos antigos, quando uma pessoa se casava
Não era obrigatório para a esposa ir para a casa do marido viver com ele
Assim foi como os casais passaram a viver juntos
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tirou o seu alaka
ela colocou àṣẹ na sua boca e disse
daquele dia em diante nenhuma mulher ia vestir um alaka como os homens
Ela então jogou o seu alak no lixo
Depois de muitos pedidos de Oxun (Ọ̀ṣun)
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pegou um pouco de sabedoria e deu para ela
Este é o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
O qual Oxun (Ọ̀ṣun) faz uso
O saco de sabedoria é Odù Ifá,
os remédios e todas as demais profundas sabedorias do povo Yoruba
Assim vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode ensina:
Oxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso a sabedoria de Ifá. Ela encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela obteve antes de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de Ifá. Devido a sua teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o saco para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse dele por todo o tempo e a sabedoria e poder que Olódùmàrè prometeu. Mas não se pode ignorar o acesso que Oxun (Ọ̀ṣun) teve a Ifá.
Oxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e este lhe deu mais sabedoria de Ifá.
Esse Odù nos dá também uma excelente explicação de porque somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Oxun (Ọ̀ṣun) se tivesse acesso teria omitido isso dos homens, Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso de Oxun (Ọ̀ṣun) ao conhecimento de Ifá. Essa interpretação deve ser estendida aos homens em geral e as mulheres também, e não especificamente a Oxun (Ọ̀ṣun) e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Oxun (Ọ̀ṣun) é a essência feminina e um Odù é uma metáfora. Assim isso explica o papel de babalawo (babaláwo) e de Apetebi.
Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no uso da sabedoria de Ifá. O desejo de Oxun (Ọ̀ṣun) era se enriquecer com essa sabedoria. Isso foi penalisado, assim a sabedoria de Ifá jamais deve ser usada para enriquecer ninguém.
Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio, Oxun (Ọ̀ṣun) não quis pagar e não obteve exito na sua busca. A sabedoria exige sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável os seguintes vínculos:
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Ifá com o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) com Oxun (Ọ̀ṣun)
de Oxun (Ọ̀ṣun) o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
Unindo os versos de Okanransode com o de Ogbè-Ọ̀sá fica demonstrado e clara e evidente ligação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).
OS MÉTODOS DE CONSULTAR IFÁ COM BÚZIOS
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) fala através de Odù, isso é definitivo. Os búzios (owó-ẹyọ mẹ́rindílógún) também obtêm respostas através de Odù.
Eu vou transcrever abaixo um trecho do artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination". O autor do artigo, como já citei, é Wande Abimbola um dos mais eminentes acadêmicos Nigerianos da atualidade que se dedicou a reconstituir a cultura de Ifá na Africa. O autor é Nigeriano e ao mesmo tempo 100% comprometido com Ifá. Isso o torna bastante isento, o texto a seguir é uma análise dele sobre a pesquisa e a interpretação dos Odù Okanransode e Ogbè-Ọ̀sá que já transcrevemos anteriormente:
"Por "Ifá Divination" nós queremos traduzir como Ifá e sistemas correlacionados de oráculo baseados em estórias e símbolos de Odù tais como Dida owo (uso do opele), etite-ale (uso do ikins), eerindinlogun (16 buzios), agbigba (um outro tipo de opele) e obi.
O propósito desse artigo é examinar a íntima relação de Oxun (Ọ̀ṣun) com o oráculo de Ifá de duas formas, através dela mesma e através da instrumentalização de oxetuura, seu filho. Nós iremos iniciar com a visão popular que envolve Oxun (Ọ̀ṣun) em Ifá no qual ela obteve o seu conhecimento de Ifá através de seu marido Órunmilá.
Nós examinaremos então a importância de oxetuura para o sacríficio resultante do oráculo. Nas ultimas páginas deste artigo nós iremos então fazer a afirmação de que Oxun (Ọ̀ṣun) tem muito mais relação com Ifá do que os Babaláwo são capazes de admitir.
Eu irei, claro, colocar a hipótese que que todo o sistema de Ifá se iniciou a partir de Oxun (Ọ̀ṣun) e ela o deu para Órunmilá e não o contrário. Eu irei basear minhas afirmações em versos de Ifá. Eu também irei examinar a possibilidade que o eerindinlogun é mais antigo do que dida owo e etite-ale que são desenvolvimentos posteriores do oráculo de Ifá".
Assim, ele não deixa nenhuma dúvida de que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é um sistema que se baseia nas histórias e simbolos de Odù, tanto quanto todos os outros. Isso é uma afirmação básica e não uma hipótese. É claro que como eu disse, precisa-se de fato usar o instrumento, os búzios, e o conteúdo de Ifá, os Odù com suas histórias e símbolos.
O simples uso dos búzios, contudo, não caracteriza um oráculo de Ifá e essa afirmação é devido as variações que são encontradas principalmente devido a mediunidade dos olhadores.
Dito isso tudo eu inicio com a afirmação que podemos dizer que Ifá fala também através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).
Não existe nenhuma restrição conceitual a isso e apenas a prática pode separar uma coisa da outra. Por esses motivos não existe razão para que pessoas pré-estabeleçam que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) não é Ifá. Essa afirmação pura e simples ao meu ver mostra apenas desinformação. O que temos que examinar de fato são questões de prática que podem desconectar o uso do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) de Ifá e faremos um analise disso a seguir.
Na análise desse oráculo eu encontrei inúmeras formas do mesmo ser usado. Acredito que de maneira muito geral posso dividir em 3 tipos principais, o uso africano, o cubano e o brasileiro. É claro que se estivesse estendido essa análise para outros lugares geográficos poderia ainda criar outros grupos, sem dúvida, mas, nesse momento esses 3 tipos refletem não somente uma geografia mas sim uma forma bem distinta de usar o oráculo.
Para o africano lamentavelmente uso como base somente o que foi descrito por Bascon em seu livro sobre o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Infelizmente não obtive nenhuma outra fonte de referência adicional sobre o uso desse oráculo e mesmo os autores cubanos fazem a mesma referência quando analisam o método africano.
No método africano descrito por Bascon, o oráculo é muito similar a Ifá, tira-se apenas 1 Odù para ser analisado para a consulta e esse Odù é um Odù Méjì. Assim, uma caída para determinar o Odù e as demais caídas para o sentido, ebós (ẹbọ), etc..
A interpretação fica restrita aos 16 Odù Méjì, os olodù, e também a 1 Odù.
Mas o processo é o mesmo e existem sempre as histórias. Existe a análise da orientação do odu, o uso do Ibo, etc.. tudo o que caracteriza o sistema de Ifá.
Os Cubanos se orgulham de ter um oráculo de owó-ẹyọ mẹ́rindílógún, o dillogun, mais completo do que o africano e muito mais próximo de Ifá. Eu concordo com eles.
No método deles, são feitas 2 caídas para se determinar um Odù composto. Formalmente eles evitam de chamar isso de omon Odù (ọmọ Odù), provavelmente devido a convivência com os Babaláwo (babaláwo), assim, eles chamam de Odù composto, ou outro eufemismo e também usam uma notação distinta.
Mas, uma análise bem detalhada mostra uma fusão muito nítida com Ifá.
O Dillogun cubano, além de usar 2 caídas para formar um Odù completo, o processo oracular é exatamente o mesmo de Ifá. Análise de orientação, intensidade, determinação de origem do ire/ibi e detalhamento do ébó (ẹbọ).
Os tipos de Ibi e de Ire são os mesmo e a forma de escolher o ebó também.
Veja, reforçando, exceto pelo uso dos búzios ao invés do opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), a estrutura de isso do oráculo a mesma entre o Dillogun e Ifá, ou pelo menos altamente equivalente.
A variação de fato é na determinação do Odù através de instrumentos diferentes e eventualmente de uma forma distinta de analisar esse Odù composto ou omon Odù (ọmọ Odù).
A forma de analisar é também muito similar. No que pese existir a fama do Ifá cubano ser interpretado, não é de fato assim. Existem sim interpretações para cada omon Odù (ọmọ Odù), mas existem também mitos associados a eles. Esses mitos são chamados de pataki e são próprios do lukumi.
Revisando, o Dillogun, emprega um Odù composto para ser interpretado (não usa Odù Odù Méjì), a interpretação é baseada em mitos (patakis) que devem ser contados e também em aspecto pré-interpretados próprios de cada Odù.
A estrutura do oráculo é a mesma de Ifá, com determinação de orientação, origem, ebós através dos ìbò.
Dessa maneira eles tem bastante razão para dizer que tem um oráculo mais completo do que o africano (de acordo com Bascon) e ainda equivalente a Ifá. Isso é fato.
Encontrei, contudo, variações na forma de analisar o Odù composto.
Em qualquer caso, eles tomam o primeiro Odù que cai como o mais importante da caída e o que deve merecer mais atenção.
Na forma mais próxima a Ifá existe um conjunto de interpretações para cada omon Odù (ọmọ Odù) de maneira que todas a combinações são analisadas em relação a significados, pataki e ébó (ẹbọ), ou seja, existe uma análise particularizada para os 256 Odù.
Em outra forma, o Odù composto é dividido em 2, sendo que o primeiro Odù, é tratado como um Odù Méjì e seu significado está relacionado com a Positividade, a sua positividade influencia o consulente.
O segundo Odù, é o contrário, a sua negatividade influencia o consulente, assim, retira-se os aspectos positivos de um e os negativo de outro.
Adicionalmente se analisa essa intensidade usando a senioridade dos Odù de acordo com o processo já descrito anteriormente. Se um Odù maior sai na positividade e um menor na negatividade, isso significa que que os aspectos positivos são mais fortes que os negativos.
O mesmo para o inverso. Se caem 2 maiores ou 2 menores então se analisa essa intensidade através da distância entre eles na escala de senioridade.
Em outra forma o Odù principal é o determinante, como já dito e o seguinte complementa esse Odù. Assim não se entra nesse método de negatividade e positividade mas em problema e detalhamento do problema.
Aqui no Brasil, o método é quase individual devido a superioridade da vidência mediúnica sobre qualquer processo de interpretação.
Para que tivéssemos de fato uma interpretação por Odù teríamos que ter mitos de conhecimento amplo e uma padronização na sua interpretação.
Não temos nenhum dos 2.
Temos base de conhecimento interpretada de analisar Odù que associa cada Odù a acontecimentos, causas e consequências bem diretas.
A ligação do jogo de búzios no Brasil com Ifá veio através do método de bangboxe.
Esse método foi bem descrito pelo José Beniste em seu livro “O jogo de Búzios”.
Dentro do universo de poucas obras que temos, é uma obra de referência no assunto.
Minha obervação é que o método é muito pouco empregado.
Eu de fato nunca vi ninguém usá-lo e digo que é pouco usado porque suponho que alguém deve usá-lo.
É nesse método que encontramos as famosas 4 caídas, onde aparecem 4 Odù e que todo mundo que diz jogar por Odù usa.
Contudo, primeiro, eu lembro que as pessoas que usam esse método hoje não guardam na sua prática o alinhamento com o formato oficial, preservando as histórias associadas a cada Odù.
Sim, existem histórias de origem africana, que hoje podem ser lidas em 2 fontes mas são todas originas da mesma pessoa, é o material da Iyalorixá Aninha.
O Verger publicou essas histórias, há muito tempo atrás, preservando inclusive o linguajar, mas Aninha não gostou de ele ter publicado e ele nunca mais republicou o livro.
Depois disso o Beniste publicou essas histórias em uma forma interpretada no seu livro o Jogo de Búzios.
Ele não publicou as histórias completas e sim uma interpretação do seu significado.
Nesse livro, ele cita a fonte de sua pesquisa e a autoria do material original.
Quase simultaneamente o Prandi publicou as mesmas histórias tendo como fonte o Agenor, mas este, o Agenor, preservando o Hábito de dizer que eram deles as coisas dos outros, não citou a fonte, pelo contrário dizia que era dele.
Mas tudo isso era o mesmo material da Aninha já publicado pelo Verger.
Ao todo são 72 histórias. Cada Odù até Ika tem histórias, 4 ou 5, sendo que ejionile tem 8.
Essas histórias foram chamadas de os caminhos dos Odù, porque para um mesmo Odù elas davam opções diferentes, criando assim caminhos de interpretação para aquele Odù.
Foi dai que eu acredito que uns gênios do Candomblé, entenderam que Odù era caminho, mas, eu acho que eles confundiram as histórias que criavam os caminhos em cada Odù com Odù ser um caminho.
O livro do Prandi-Agenor se chama Caminhos de Odù. O conteúdo dele é apenas e unicamente as 72 histórias associadas a cada Odù. Então dai para entender que, Odù = caminho foi apenas um passo, de cego, é claro.
Mas, voltando ao método o que as pessoas de fato utilizam até hoje são as 4 caídas. Cada consulta é composta de 4 caídas e cada Odù é analisado em separado.
Algumas pessoas usam dar um significado a cada caída, como por exemplo, a pessoa , o presente, o futuro, a solução.
Outras consideram que as 3 primeiras explicam o problema, com a segunda detalhando a primeira, e as 2 seguintes estão ligadas a como resolver o problema.
Minha avaliação é que o método se perdeu, raríssimas pessoas devem usá-lo e as pessoas pegam apenas alguns aspectos do método, dizem que fazem por Odù, e fazem quase tudo por vidência e mediunidade.
O jogo de búzios feito no Brasil não guarda qualquer vinculação com Ifá, seja na forma de jogar seja na forma de interpretar.
É um oraculo baseado em Orixá e em vidência do olhador.
Os Babalorixas não sabem o que é odu, não sabem fazer ebó de odu e não sabem nada de Ifá.
Eles desenvolveram um oráculo particular no Candomblé.
Essas pessoas que dizem que jogam por Odu apenas iludem quem os consultam no sentido de enganar essas pessoas que estão interpretando um Odu.
Eles não sabem rezar um Odu.
Eles acham que Odu é um número.
Pior são os ebós. essas pessoas desinformadas acham que fazer um ebó com elementos cozidos ou crus e contando 3,4, 5, etc.. vai invocar um Odù. Não vai.
Isso também não prejudica ninguém, pelo contrário ajuda muito as pessoas que os procuram, mas é apenas a maravilhosa força dos Orixás, não é Odu e nem é Ifá.