CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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sábado, 5 de maio de 2012

Exu no Candomblé II Catiços e o conceito de ancestralidade



Exu no Candomblé II
Catiços e o conceito de ancestralidade


Em um comentário feito sobre o texto anterior sobre a presença de catiços de Umbanda no Candomblé, uma pessoa fez uma excelente colocação sobre uma das formas como as pessoas de Candomblé procuram se justificar para colocar dentro de uma casa de Candomblé um Catiço de Umbanda.


Existem muitos Pais de Santo - PDS  (não vou me referenciar a estes como Babalorixá ou Iyalorixá), que dizem para frequentadores e filhos de santo que os catiços de Umbanda devem ser considerados como ancestres e por isso podem ou podem ser cultuados em uma casa de Candomblé. Esta seria a justificativa deles estarem presentes em uma casa de Candomblé.


Vejam, esclarecendo esta não foi a colocação da pessoa, apenas ela fez uma citação que me lembrou este aspecto e resolvi abordar neste segundo texto esta questão. Mas se as pessoas afirmam isto, tem que existir uma explicação teológica para esta questão. Sim, qualquer questão dentro da religião deve ser respondida com dogmas, conhecimento da cosmogonia, etc..  Não se responde teologicamente dizendo o que a gente acha ou usando bom senso.


Os catiços de Umbanda, exus, pombo-gira e preto-velhos JAMAIS podem ser considerados enquadrados ou tratados em uma casa de candomblé, como uma ancestralidade ou parte de uma ancestralidade. Isto não é consistente com a religião Yoruba. Mas para isso vamos falar um pouco da questão de ancestralidade.


A ancestralidade é um elemento muito importante na religião Yoruba. Contudo esta visão e prática não foi incorporada no Candomblé pelo fato de que as linhagens de descendência terem se perdido com o processo escravagista. As famílias não eram trazidas ou mantidas juntas e fazia-se questão inclusive de dispersar a etnia e regionalidade, segundo creio.


Assim, era impossível se falar de ancestralidade ou se lembrar de ancestralidade, simplesmente porque isso se perdeu com a vinda deles para cá. Já foi um grande milagre os Orixá terem sido preservados.


Grande parte do Candomblé como conhecemos hoje foi estruturado pela nação Ketu e tardiamente, bem depois do término da escravidão. Não foi um processo simples, foi feito com o suporte de idas à africa e da vinda para cá da familia de Bangboxe. O culto foi estruturado e adaptado a nossa realidade, as liturgias foram re-constituidas, folhas e animais substituidos, cantigas, rezas, etc....


A estrutura que o Ketu montou, consistente e completa foi então copiada por outras nações, algumas delas, que NÃO tinham culto a orixá, inventaram divindades equivalentes aos Orixá e fizeram adaptações linguisticas para se estabelecerem criando assim uma nação artificial.


Mas este processo não trouxe o culto à ancestralidade, como se fazia na Nigéria, para o Candomblé. Esses laços se perderam e a família espiritual ou a família do terreiro veio a substituir a ancestralidade original criando uma nova raiz. Mesmo esta nova raiz não se manteve consistente porque a fidelidade de pessoas com terreiros não era perene.


Não foi possível manter a agregação das famílias em torno da religião. O culto não seguiu como sendo uma opção familiar e os membros da familia se dividiram em outras religiões. Além disso as casas filhas das matrizes principais nunca se caracterizaram por preservar a família e reunir debaixo de um terreiro mulher, marido e filhos. Os motivos torpes para isso não importam aqui, mas, o fato é que o Candomblé esta muito longe de ser uma religião estruturada em torno da família e da linhagem, como era a religião na Nigéria.


Por esta razão é que as pessoas aqui no Candomblé nunca entenderam o real sentido da palavra ancestralidade dentro desta religião. Ancestralidade não significa egungun. Ancestralidade é a soma de toda a nossa ascendência familiar, são todos os nossos ancestres familiares. Ancestralidade significa conhecer e honrar os antepassados recentes e distantes baseado nos laços de família e na relevância do seu papel para a família e sociedade.


Na estrutura Yoruba o Ori cuida da pessoa, o Orixá cuida da Famíla e os ancestres através dos egungun cuidam da sociedade contida na vila. Parece uma visão antiga, simplista e meio limitada, mas é assim mesmo.


Este conceito vem inclusive ao encontro de um outro conceito muito sofisticado na religião que é o da reencarnação. A religião Yoruba prevê que a pessoa reencarnará NA MESMA FAMILIA. Assim uma linhagem significa a preservação da família e os descendentes são o meio para se voltar a viver em família no aiye.


Ancestralidade esta ligada a vinculos familiares diretos com as pessoas envolvidas e não com alguém ter vivido e morrido. A visão da vida desconectada é uma coisa kardecista, que dizem que você pode reencarnar em qualquer lugar. Não basta ter vivido para se dizer ancestre. O ancestre implica na existência de laços familiares.


Os Yoruba entendem que a família se preserva e vive unida, tanto na vida como após a morte. A reencarnação é uma forma de volta a viver junto no Aiye e assim as pessoas reencarnam na linhagem de uma mesma família.


O conceito de ancestralidade foi de fato perdido e o de reencarnação não entendido em função de sincretismo inadequado com o conceito de reencarnação de outras religiões, notadamente essa maluquice que é o kardecismos que prega uma coisa distinta.


Este é o conceito de ancestre e linhagem que existe na religião Yoruba é o que deve ser entendido e cultuado no Candomblé. Não se cultua mortos quaisquer. Se cultua a FAMÍLIA.


Lembro que a religião Yoruba é uma religião de FAMÍLIA e esta questão da família e ancestralidade é uma dos fatores fortes que fizeram com que os Yoruba não respeitassem o culto de Orixá fora da Nigéria. Eles não aceitam e não respeitam que pessoas que não sejam descendentes e participem da sua linhagem possam ter Orixá e serem equivalentes a eles.


O culto de egungun é distinto de orixá porque preve a incorporação de ancestres no aiye. Isto não pode ocorrer no candomblé, porque onde tem orixá não terá Egun, assim como também em casas de egungun não se permitem Orixá. Não podemos misturar essas coisas todas sem entender.


Uma coisa é o conceito de ancestralidade, linhagem e reencarnação que pertence ao Candomblé, ao culto de Orixá. Outra coisa é o culto de egungun que se dedica a materializar no aiye os baba egun e eguns de outras hierarquias.


A ancestralidade esta presente em ambos mas de forma sutilmente diferentes. Não se vai ter egungun em casa de Orixá.


Dentro do conceito de ancestralidade que é comum, uma casa de egungun jamais vai permitir dentro dela que catiços de umbanda trabalhem incorporados.


Aliás este é um ponto importante. Se Catiços de Umbanda pertencem ao Candomblé não estariam eles exclusivamente dentro de uma casa de egungun?  Sim, porque, voltando no culto de orixá cultuamos e lembramos de nossos ancestre, nós não damos caminho para que esses ancestres incorporem nos eleguns, que pertencem somente aos ORIXÁ. No culto de egungun eles cultuam ancestres e dão passagem para que estes ancestres incorporem nos seus membros.


Se Catiço tivesse alguma ligação com o conceito de ancestralidade ele deveria estar em uma casa de egungun e não em uma casa de Orixá.  Mas catiço não é ancestre de ninguém e JAMAIS deve ser considerado assim.


Eu nunca ouvi falar em casa de egungun onde catiço de Umbanda trabalha, mas certamente esta será a próxima fronteira da indignidade humana.


Assim, concluo de novo dizendo que Catiço de Umbanda NÃO pertence ao Candomblé. Repito que os catiços de Umbanda que se apresentam na forma de Exu não tem qualquer vínculo com Orixá e nâo tem qualquer tipo de equivalência com o Orixá Exu.


Se alguém esta recebendo assentamento de Tranca-Rua como se fosse o seu exu Bara, esta recebendo uma mentira. Pior, já ouvi gente que recebeu assentamente da "sua Bara". Sim, a indignidade humana não tem limite e tem gente tranformando Maria Padilha e Bara.


Se isso aconteceu com você, peça o seu dinheiro de volta, porque a pessoa que fez isso não entende nada do que faz ou esta enganando você.


O que dirá então essas histórias de terror que a gente ouve e ve foto de saída de Yawo na qual depois do Orixá vem a pessoa vestida com a Maria Padilha dela, fazendo assim uma quarta saída??


Veja, a pessoa faz as 3 saídas de orixá e depois, ainda de preceito e com tudo aquilo da saída recebe uma pombo-gira fantasiada de Orixá, e ainda com olhinho fechado e adê preto e vermelho.


Isso, para quem não sabe esta errado. Não existe. É uma mentira.



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