CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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domingo, 13 de maio de 2012

Profissão: Pai de Santo



Profissão: Pai de Santo


Para encerrar essa trilogia sobre a questão dos sacerdotes despreparados e descontrolados, eu escolhi abordar a questão do religioso profissional. 


O título é provocativo porque lembra justamento uma precepção negativa na maioria das pessoas.


Eu gostaria de iniciar dizendo que não existe nenhum problema ético envolvido em ser um sacerdote profissional. 


Os padres católicos são sacerdotes profissionais e isso não prejudica sua imagem, talvez ao contrário, a dedicação absoluta desperta até admiração pelo sentido da vocação.


Assim, mesmo que, sendo um profissional remunerado,  a sociedade não deprecia o seu valor. 


Os pentecostais, pastores protestantes provavelmente popularizaram a opção de ser um sacerdote sem com isso abrir mão de sua vida civil incluindo família e filhos. 


Essa opção abriu uma nova perspectiva a prática sacerdotal, trazendo a dedicação a fé algo acessível a qualquer pessoa.


Junto com a imagem do sacerdote devoto e dedicado católico, o protestante trouxe a imagem do homem comum, com obrigações comuns que exerce o seu ministério pela Fé e dedicação. Sem dúvida, mais um exemplo positivo. 


Os kardecistas, muito populares no Brasil, adotaram também como modelo para o seu culto, ou seja lá como eles o chamem, como uma atividade compartilhada com a vida civil e majoritariamente como uma doação pessoal. 


O sentido da caridade pessoal atravessa toda a prática do espiritismo e esse culto ficou fortemente indetificado com isso.


Estamos no Brasil e sem dúvida essas são as principais religiões de convivência e que formam a percepção das pessoas. 


Esses conjunto e possivelmente também outras, contribuíram para formar na figura do religioso uma pessao dedicada, altruista, caridosa, ética e com sua fé acima de tudo.


A questão da remuneração da atividade religiosa nunca foi foco porque trata-se apenas de um fator de continuidade. 


Se a sociedade ou micro-sociedade no qual a igreja ou templo esta inserida quer um sacerdote que a assista em tempo integral ela tem que financiar essa atividade. 


Isso é bastante claro.


O modelo católico implica que sempre a sociedade vai ter que manter o sacerdote e a Igreja, seja pelo óbolo na Igreja, seja pelo dízimo da comunidade. Isso é bem claro e expontâneo. 


Mesmo a cobrança de taxas para cerimônias na Igreja é perfeitamente entendida pela população, o ativo tem que funcionar e as contas tem que ser pagas.


Os Kardecistas, como ja disse, muito populares na nossa sociedade, trouxeram uma doutrina muito mais radical. 


Eles entendem que tudo o que é feito através de um dom divino ou através do supernatural não pode ser cobrado. 


Se você recebe de graça deve transmitir de graça.


A situação da Umbanda


Neste contexto a opção padrão dos sacerdotes de Umbanda e Candomblé de serem quase sempre dedicados, e mais, viverem da religião transformando a sua opção religiosa em profissão, contrasta com essa realidade das outras relgiões,  e isso se mostra como um lado negativo dos sacerdotes e da própria religião.


A diferença a meu ver esta na forma como o sacerdote pratica a sua profissão e como obtêm seus recursos financeiros. 
Enquanto nas demais religiões o sacerdote poderá ser um profissional (como já citado) da mesma forma como os pais de santos são, ele o será em função da sua comunidade e da sua vocação. 


É a sociedade que o sustentará e ele assim viverá para a sua vocação e sua fé.
  
Existe,  neste caso nas outras religiões, claramente uma relação bi-unívoca, uma via de 2 mãos. 


Existe uma troca de interesses entre a comunidade e o sacerdote. 


Não existe o comércio de obrigações, liturgias e nem a venda de favores e facilidades através do mundo espiritual. 


O pai de santo profissional é excencialmente um comerciante que visa a ele mesmo, não importa aqui se ele faz o seu comércio pseudo-religioso para sustentar a sua casa ou a si mesmo ou aos dois.


 Isso não afeta a percepção de que a atividade não é exercida por vocação. A comunidade não o sustenta.


Muitos viram pai de santo para poder ser sustentar porque não tem nenhuma outra alternativa melhor. Outros substituem a sua profissão por ela adotando uma profissão mais rentável e na qual ele é seu próprio chefe.


Existem outros que atuam como profissionais depois de terem exercido uma profissão regular, depois de se aposentarem. 


É uma abordagem distinta mas isso não muda o aspecto profissional da questão que vou comentar a seguir.


O pai de santo profissional se sustenta através do seu grupo e o forma com essa finalidade. A iniciativa é dele e náo da comunidade. 


Ele forma o grupo e não o contrário. 


O pai de santo profissional, organiza sua casa, que será um lugar seu e não da comunidade. 


O local da prática pertence ao pai de santo e não a comunidade. 


Esse local vai acabar quando o pai de santo desistir do que faz ou quando morrer.


Nas estruturas religiosas de fato, o templo e a comunidade são superiores ao sacerdote, elas permanecem enquanto o sacerdote pode mudar.


O pai de santo profissional estabelece sua atividade pseudo-religiosa através do clientelismo. 


O principal grupo de clientes são os membros da casa de forma que quanto maior o grupo maior será a demanda de trabalho, muitas vezes geradas pelo próprio pai de santo. 


A este grupo se adiciona o grupo dos clientes, pessoas que procuram o pai de santo para solução de problemas e pagam por isso.


Os  dois grupos tem quase a mesma finalidade, sustentam financeiramente o pai de santo. 


O grupo das pessoas da casa, além de pagar pelos trabalhos e so suporte do pai de santo, doam o seu tempo gratuitamente para este  para ajuda-lo a ganhar dinheiro com o grupo de clientes.


Juntam duas coisas ai. 


A primeira é que essas pessoas inicialmente acreditam nessa dedicação. Depois eles observam que assim aprenderam como fazer os trabalhos para poderem ser no futuro independentes.


A direção das casas segue unicamente as vontades do pai de santo. É ele que dita os rumos ou os des-rumos e a rotina e não sua comunidade. O sentido de comunidade é muito pouco aplicável porque o grupo de um pai de santo é absoluto.


O pai de santo se mantêm independente, autônomo e acima de todos e tudo. 


No fim das contas, como as pessoas da casa não tem qualquer controle ou participação nos rumos da casa e na pratica da "religião" elas são apenas um grupo subserviente que atende à necessidades econômicas e laborial do pai de santo. 


A porta de entrada da umbanda profissional são os ditos oráculos. A umbanda não tem oráculos, isso não faz parte da Umbanda, mas os pais de santo profissionais trouxeram isso para a Umbanda.


Assim a vulgaridade dos videntes, que sempre existiram e são uma atividade, que ninguém tem dúvida, completamente profissional, se adicionou a Umbanda de forma bastante ruim. 


Um vidente era uma pessoa que falava sobre a vida da pessoa e sobre outros.


Na umbanda, adicionou-se a isso os trabalhos para resolver os problemas, atingir os objetivos ou prejudicar os desafetos. O cliente chega no pai de santo, paga para ter uma consulta com um "oraculo"  de videntes e depois disso o próprio pai de santo, sabendo do que afeta a pessoa ou a sensibiliza ele passa os diversos trabalhos para resolver esses problemas.


Ele ganha dinheiro com a vidência e com os trabalhos. Quanto maior o problema ou a necessidade de resolvê-lo mais caro será o trabalho.


De fato me parece muito pouco ético um vidente fazer uma consulta para alguém, entender seus problemas e angustias e depois passar trabalhos pagos que ele mesmo vai fazer para resolver esses problemas.


Me parece cruel e desumano porque a pessoa vai pagar o valor que for estabelecido. É uma forma cruel de manipular as pessoas.


Quando uma pessoa tem uma dificuldade, algo que não consegue resolver ela sabe que a última porta que vai bater é a de um centro de Umbanda e lá em uma ou várias idas vai procurar alguém que o ajude. 


Essa ajuda será normalmente desprovida de qualquer ética. Sabe-se que normalmente ele será atendido no seu pedido de intervenção porque estará pagando por isso. 


O sacerdote ou seus guias não vão fazer qualquer avaliação se sua causa é justa. O que as pessoa exergam é que se estão pagando serão atendidas.


A prática é completamente desprovida de ética e de todo o sentido religioso que encontramos em qualquer religião. Isso é facilitado devido a boa imagem que o Kardecismo traz, de pessoas caridosas e dedicadas e também da boa imagem de Padres e pastores. 


Uma pessoa que chega a um centro de Umbanda vê no pai de santo ou mãe de santo um equivalente ao sacerdotes éticos e movidos pela fé que encontra nas outras religiões da mesma base teogônica.


As pessoa sabem que também podem encontrar em centros de Umbanda o porto seguro para demandas contra outras pessoas. 


Pedidos absolutamente injustos e orientados ao malefício. 


A Umbanda ou o pai de santo justificam isso deparando as entidades que trabalham, assim existem as entidades do bem e as entidades do mal.


Além da questão da possibilidade de ir a uma casa dita religiosa para comprar o malefício, a cobrança desses trabalhos é absolutamente indecente. 


Valores astronômicos são impostos para qualquer coisa.  Tudo vira uma consulta paga, um trabalho pago e até mesmo o oráculo de vidência domina a Umbanda.


Este é um cenário muito negativo e percebido pela população. 


Tanto as pessoas que frequentam os médiuns como os consulentes compartilham da mesma visão ruim e muitas casas se transformam em casa de resultado. 


Tudo isso voltado para sustentar a vida do pai de santo ou mãe de santo.


É muito comum esse modelo atrair os estelionatários para serem pais de santo. 


É muito comum pessoas sem estudo, sem edicação ou sem formação nenhuma, quando descobrem que são médiuns planejarem para sua vida se transformarem em pais de santo para que esta seja a sua profissão. 


Ou seja, ela não deu certo para mais nada, seja pela falta de carater seja pela falta de preparação (estudo, ofício) e visualizam na função de pai de santo a sua forma de ganhar dinheiro substituindo a profissão ou ocupação que não tem.


A população percebe isso. Ninguém é bobo.


Assim não existe aqui o modelo do sacerdote que se dedica como uma decorrência da exigência da sociedade sobre ele.


 Não, a profissão é a meta inicial e a pessoa deve transformar sua atividade em algo rentável para sua vida.


Não temos como enquadrar aqui o sentido de vocação e de fé. 


Mas muitos podem pensar, é este o modelo desse culto?  


Claro que não. 


Pior as pessoas que assim procedem são normalmente aquelas que não são preparadas para serem sacerdotes. 


Isso nunca foi designado a elas. 


Elas não tem a capacidade de o serem, elas não tem o preparo pessoal e religioso, elas não tem a vivência para poder fazê-lo.


Mas vão se dizer pai de santo assim mesmo.


Não pode existir uma casa religiosa ou um sacerdote que em uma hora use sua mão para abençoar e na outra use para fazer o malefício. 


A mão que foi suja pelo malefício jamais será limpa para abençoar qualquer pessoa.


A Umbanda é toda assim?  não, claro que não. Mas o tema aqui é falar em Pai de santo profissional e para esse tipo não existe exceções. Não importa se cobra muito ou pouco, é tudo igual.


A Umbanda de verdade não é comercial ou profissional. Não confunda a Umbanda como religião com a dita Umbanda que é praticada pelos pais de santo profissionais.


 O objetivo desse pequeno texto foi caracterizar a prática justamente dessas pessoas que se dizem de Umbanda mas que com o seu profissionalismos, com o seu mercantilismo em nada contribuem com ela.


Pais de santo profissionais são falsos Umbandistas.


A situação é, se a pessoa governa sua casa e não o contrário, se ela faz daquilo sua fonte de receita, se ele e a casa são independentes da comunidade, se ele cobra para fazer trabalhos, se ele usa um jogo qualquer para fazer vidência antes de recomendar trabalhos, se os guias dessa pessoa mandam os consulentes procurarem depois o pai de santo para ele jogar para eles (ao invés de eles mesmo resolverem os problemas) então essa pessoa é um pai de santo profissional.


Uma casa religiosa ou uma religião não pode se fundamentar em cima de uma base financeira. 


Não existe religião quando a comunidade não participa. Não existe religião quando a comunidade serve ao sacerdote. Não existe religião quando uma casa é um lugar de rotatividade, com as pessoas entrando e saindo.


Existem bons lugares de Umbanda. Se você esta em um lugar assim, fique tranquilo, o que frequenta não é religião.


Alguns leitores mais espertos podem estar se perguntando, mas como pode esse mundo supernatural tolerar isso?  Como podem esses guias permitirem esse tipo de uso?  se existem entidades do bem e do mal, como podem elas conviverem com essa realidade.


Pois é, são perguntas muito boas. Esses guias toleram essa situação assim como toleram todo o tipo de canalhice dos sacerdotes despreparados. Isso fica para outro texto.


A situação no Candomblé


No Candomblé a situação é similar com algumas diferenças.


 No Candomblé o sentido da comunidade é mais forte e muitas casas existem de forma perene, acima dos sacerdotes. 


É uma religião iniciática que exige longa preparação e uma casa sempre vive muito mais em torno de si e de seus membros.


A Umbanda não é uma religião iniciática. 


O Candomblé pelo seu formato sempre exigiu do sacerdote uma dedicação muito grande.


É um longo processo de aprendizado que exige presença física 24 hs ao dia.  


O Candomblé foi formatado como uma prática sectarista e que poucos podiam entrar. 


Era muito dificil, fora o aspecto da discriminação, a uma pessoa comum se submeter as obrigações e a dedicação necessária.


O formato do Candomblé requeria dedicação e mais, uma comunidade participante e atuante. 


Diferente da Umbanda, o Candomblé requer uma permenência de muitos anos em uma casa. É uma relação de longo prazo e não um lugar de rotatividade no qual por qualquer motivo a pessoa se muda para outro lugar.


O clientelismo no Camdomblé sempre existiu. 


As pessoas procuravam uma casa de candomblé para resolver problemas e a receita com isso era usada para sustentar a casa de candomblé. 


As casas de candomblé nunca foram ricas e o pai de santo ou mãe de santo (principalmente esta segunda) nunca rica. Havia sempre uma grande comunidade de dependentes e desocupados para sustentar.


Sim essa sempre foi a fama e a realidade do candomblé. Um monte de gente que não trabalhava e era sustentado pela mãe de santo.


Mas parecia uma coisa distinta. A comunidade, bem fechada, ficava com a pratica da religião e os clientes com os trabalhos. 
O segundo grupo não se misturava com o primeiro.


Mas isso já mudou muito.  


Para começar o Candomblé virou uma religião mais aceita e aberta a sociedade. Seus ritos e liturgias se adaptaram a isso e se tornaram mais fáceis de serem adotados e praticados.


 Não é mais uma religião étnica e de guetos.


Com isso veio também o lado negativo. A migração massiva de Umbandistas trazendo a pratica dos videntes e todo o profissionalismo havia lá.


Mais do que isso essas pessoas que se diziam umbandistas trouxeram entidades como exus e pombo-giras para o Candomblé vulgarizando toda a religião de orixá.


Esses pais de santo ou médiuns que migraram da Umbanda para o Candomblé, não importa o motivo, não eram de fato Umbandistas, nunca entenderam de fato o que faziam ou praticavam e nunca deram valor a isso. 


Essa migração foi feita apenas para melhorar o produto deles, o produto que eles comercializam.  Assim vão se dizer babalorixás, vão dizer que jogam por odu, vão dizer que são babalawo. Eles serão aquilo o que as pessoas querem comprar.


O Candomblé esta cheio de "ex-Umbandistas". Falsos "ex-".  Pessoas que se dizem arrependidos e que abrem casas que não serão perenes, vão acabar junto com eles, pessoas que não sabem nem explicar a religião do Candomblé, muito menos praticá-la.


E Ifá?


É bem diferente.


Um babaláwo em qualquer lugar é uma pessoa que se dedica a um oráculo. Ele vive do que faz e cobra por isso.  Ele não é responsável pela prática de uma religião e não forma sacerdotes e comunidades como uma missão.


Um babaláwo sempre será ou poderá ser um profissional.  Isso por definição.


O que não esta no script, na definição, é o babaláwo ser uma pessoa rica e exuberante. 


Se isso ocorre é porque ele dá mais valor ao dinheiro do que ao quese propos a fazer. 


Nesse caso ele estará se afastando da religião e se aproximando dos videntes.


Se afaste dessas pessoas.




Os neo-pentecostais


Os Neo-pentecostais representam uma exceção ao universo do bem.


Coloque a IURD e todas as semelhantes. 


São a pior espécie de pessoa que poderá encontrar, representam a falta de princípio e de caráter.


Muito pior do que um pai de santo profissional é um maldito pastor neo-pentecostal.



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