Muitas vezes, precisamos ofertar / fazer sacríficio e direcionar este trabalho para o odu em questão, porém, muitas vezes temos òrìsás que apoiam nossa empreitada.
Este algo mais, que ofertamos tem o nome de Etutu.
É sobre este ebó que falaremos a seguir complementando o texto bem elucidado anteriormente.
E um dos recursos fundamentais na transformação das condições existenciais, sejam elas de origem natural ou social e um ato propiciatório realizado a partir da orientação do oráculo visando prevenir o mal ou atrair o bem favorecendo a libertação dos problemas e a conquista do necessário ao desenvolvimento pessoal e grupal. Assim o Etutu atua em três níveis diferentes de energia:
Preventiva: para evitar que um mal se instale
Curativa: para afastar o mal instalado
Atrativa: para atrair coisas boas
A maioria dos Etutus realizados a partir da recomendação dada por Ifá segue rigorosamente a orientação contida nos enunciados do Corpus Literário do mesmo. Estes descrevem os problemas do consulente e as formas de solução possível que incluem, necessariamente, o Etutu. Muitos dos quais, realizados na presença do consulente, com diversos itens, materiais oferecidos às divindades para solução das adversidades em questão, que tanto podem ser de uma pessoa, de um grupo ou cidade.
A forma de realizar o Etutu não é criada pelo babalawo ao seu bel prazer, ela decorre de ensinamentos contidos nos enunciados de Ifá, de acordo com o Odu manifestado na consulta.
Analisando a forma como o personagem do Odu viveu que problema enfrentou, como os solucionou, inclui na maioria das vezes a prescrição de um Etutu.
As vitórias alcançadas e os males evitados pela personagem mítica do Odu em questão serão alcançados pelo consulente desde que o conselho seja compreendido, acatado e obedecido, conforme recomendações da sabedoria milenar Yoruba.
Para realização do Etutu, são fundamentais os elementos da natureza, assim como as condições climáticas.
Os itens utilizados incluem água das mais variadas fontes (rios, lagos, mares, nascentes, orvalhos, chuva), azeite de dende, mel, cana de açúcar, obi, orogbo, etc…, Cada elemento utilizado possui àse especifico cujo sentido pode ser aprendido ao explorarmos seus símbolos.
O mesmo vale para o significado dos astros (sol ou lua) nos rituais realizados durante o dia ou à noite, das condições climáticas e do local da entrega do etutu.
A água, elemento feminino, circula em toda a natureza. Possui o poder de tornar sagrado o que toca e de estabelecer harmonia. Como todo ser vivo depende da água, os banhos favorecem o renascimento dos rituais, ativando as circulações de energias para multiplicarem o potencial da vida.
Transparentes, profundas, fecundas, correntes, etc., cada uma delas exercem finalidades distintas nos rituais.
O sal, elemento de conservação, vida longa, prosperidade, preservação e durabilidade, confere formas e as sustenta. Sua associação com o esquecimento e a esterilidades o recomenda como importante elemento na neutralização de malefícios.
Como orientação geral, o elemento mineral confere forma as coisas, o vegetal promove renovação das forças e o animal favorece a reposição das energias perdidas.
Cada um dos elementos utilizados nos etutus, possuem peculiaridades energéticas, atuando de modo particular neste ou naquele ponto especifico, promovendo o alivio de dores físicas, favorecendo a realização de negócios, resolvendo problemas amorosos, etc…
Rituais realizados durante o dia a luz do sol diferem de outros realizados a noite. A luz da lua e as estrelas buscam estabelecer contato com seres que, tanto num caso como em outro, possuem atributos favoráveis às trocas que se pretendem estabelecer para alcançar a as finalidades do Etutu.
O local onde o etutu será entregue, também varia de acordo com as instruções contidas nos Odus, copa das arvores, matas, florestas, rios etc…
As encruzilhadas, lugares onde os caminhos se cruzam, são consideradas sagradas, pois nelas ocorre o encontro das forças do ayè com as do òrun.
As montanhas favorecem o crescimento e a serenidade, ponto de união do céu com a terra, sugere possibilidades de superação.
A floresta e a mata, por seus componentes essenciais, lugar de abundante vida vegetal e animal, não dominada nem cultivada, a beira da luz solar, símbolo da terra em sua natureza, guardiã de toda a espécie de perigos e doenças, bem como de múltiplas possibilidades de proteção, defesa e crescimento, favorece o encontro entre o humano e o sobrenatural, com trocas benéficas a ambas as partes.
O mar, local sagrado, cujo simbolismo inclui o poder das águas, de levar o mal para as profundezas, ponto de partida e retorno em meio ao movimento continuo e, muitas vezes, violento na sua existência. O mar, fonte de vida, com suas águas carregadas de sal, favorecem a limpeza da negatividade que cria obstáculos ao desenvolvimento.
O rio, cujas águas em continuo movimento simbolizam a força criadora da natureza, e, portanto a fertilidade, cujo curso irreversível sugere possibilidades de esquecimento. Suas águas lavam o mal e retiram azares.
As árvores, algumas sagradas, abrigando seres que presidem a vida são objetos de rituais para homenagem e suplicas.
Durante a realização do etutu o babalawo recita poemas integrantes de determinados Odus relativos à condição existencial do consulente, bem como outros versos específicos próprios para acompanhar o etutu.
Assim sendo, toda a consulta ao oráculo inclui a recomendação de interdições, de um etutu especifico que, através da orientação bem orientada da força vital, afasta o mal não instalado, neutraliza o já instalado e atrai o bem.
O sistema oracular de Ifá exige na pratica um conhecimento apurado da essência do ser, assim como as possibilidades de exercer ações eficazes sobre a natureza, quer seja através dos Etutus, ou das Oóguns (magias com folhas), ou seja, o todo articulado pela força vital (ase).
Esse conjunto explica o relacionamento existente entre os vários planos da realidade, que sem os mesmos Ifá permaneceria estático, resumindo-se a poemas e enunciados orais distantes da historia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário