CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

domingo, 28 de abril de 2013

Candomblé e os Tipos Psicológicos Candomblé e os Tipos Psicológicos por Carminha Levy



Exu Bara
Exu Bara
Exu Baraô

Para nomes grafados em maiúsculo, vide Glossário.

EXU, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural, o intérprete da linguagem dos mortais e dos ORIXÁS. É pois o encarregado de levar aos deuses da África o-chamado de seus filhos éstrangeiros. E nestas notas introdutörias, ele e chamado a levar aos filhos estrangeiros amostragem das infinitas possibilidades este rico Panteão, que se mantém vivo na África, no Brasil e em outros países do Novo Mundo.

0 CANDOMBLÉ à uma estrutura de culto às forças da natureza, à um hino à vida como Eterno Movimento, que se manifesta nas danças, nas cores dos ORIXÁS, nos elimentos sacramentais. Ritual comunitário de cantos, danças e alimentos sagrados na sua forma pública, o Candomblé é sacra mentado pelo Pai ou Mãe de Santo, pelos Filhos de Santo, pélos tocadores de atabaque (OGAN), que entoam os cantos sagra dos possibilitando a vinda do ORIXÁ, com a participação da comunidade dos mais velhos às criancinhas. Todos cantam e saúdam os ORIXÁS, executam a dança sagrada, num hino à Alegria, Amor e Partilha.

Os ORIXÁS - deuses IORUBÁS na África e no Novo Mundo - seriam ancestrais míticos encantados e metamorfoseados nas forças da natureza. Cada Indivíduo tem um ORIXÁ principal que é o "donodda cabeça", e outros três que exigem cultuacão e que também oferecem proteção. A tradição afirma que cada ser humano, no momento em que é criado, escolhe livremente sua cabeça (ORI) e seu destino (ODU). Cada pessoa tem uma origem divina, que a liga a uma divindade específica. Esta parte divina à situada dentro da cabeça. A substâncla de origem divina (IPORI) torna manifesta a filiação a um deus especifico - o ELEDÁ, por Isso chamado o dono da cabeça. Conhecer seu ELEDÁ possibilita ao homem ser artifíce de seu próprio destino, cumprindo as obrigações ou In terdições que seu ORIXÁ determina. Saber manipular tais influências equivale ao conhecimento do horóscopo natal com as melhoras de vida, que se pode obter sabendo ouvir os astros. 0 "dono da cabeça" (ELEDÁ) determina o tipo psicológico de seu filho e responde, também, por suas características físicas e seu destino. Tradicionalmente, sabe-se qual o ORIXÁ da cabeça, pela leitura de búzios -forma divinatória na qual se lê o ODU. Para isso, usa-se búzio africano(CAURI ) previamente preparado para esse fim. Voltaremos, apös uma visão geral da estrutura do CANDOMBLË aos ORIXÄS e tipos psicolögicos.

O CANDOMBLÉ expressa-se nos terreiros ou roças, onde se cultuam os ORIXÁS e os ancestrais ilustres. 0 terreiro contém dois espaços, com características e funções diferentes: (a) um espaço urbano, construido, onde se dá a dança; (b) um espaço virgem (árvores e uma fonte, equivalentes à floresta africana), que é considerado sagrado.

0 chefe supremo do terreiro é o BABALORIXIÁ ou IYALORIXÁ (pai ou mãe que possuem o ORIXÁ). Eles são detentores de um poder sobrenatural - o AXÉ, a força propulsora de todo Universo. 0 AXÉ impulsiona a prática sagrada que, por sua vez, realimenta o AXÉ, pondo todo sistema em movimento. 0 AXÉ sendo principio e força é neutro. Transmite-se, aplíca-se e combina-se aos elementos naturais, que contám e expressam o AXÉ do terreiro, que pode ser: (a) o AXÉ de cada ORIXÁ, realimentado através das oferendas e da açio ritual; (b) o AXÉ de cada membro do terreiro, somado ao do seu ORIXÁ, recebido na iniciação, mais o AXÉ do seu destino individual (ODU) e o herdado dos próprios ancestrais; (c) o AXÉ dos antepassados ilustres.

0 AXÉ como força pode diminuir ou aumentar dependendo da prática iItúrgica e rigorosa observância dos deveres e obrigações. A força do AXÉ é contida e transmítída através de elementos representativos do reino vegetal, animal e mineral (oferendas) e podem ser agrupados em três categorias: (a) sangue vermelho do reino animal (sangue), vegetal (azeite de dendâ) e mineral (cobre); (,b) sangue branco do reino animal (sêmem, a saliva), vegetal (seiva), mineral (giz); (c) sangue preto do reino animal (cinzas de animais), vegetal (sumo escuro de certos vegetais) e mineral (carvão, ferro). Estes trás tipos de sangue, por onde veicula o AXÉ, com sua coloração, vai determinar a fundamental importância da cor no culto. Resumindo: o AXÉ é, portanto, um poder que se recebe, partílha-se e distribuí-se através da prática ritual, da experiência mística e iníciátIca, conceitos e elementos simbólicos servindo de veículo. É a força do AXÉ que permite que o ORIXÁ venha e realize-se.

A existência transcorre em dois planos: o AIYE (mundo, habitação do homem) e o ORUN (além, habitação dos ORIXÁS, mundo paralelo ao mundo real, que coexiste com todos os conteúdos deste). Cada indivíduo, árvore, animal, cidade, etc, possui um duplo espiritual e abstrato no ORUN. Os mitos revelam que em épocas remotas, o AIYÉ e o ORUN esta vam ligados, e os homens podiam ir e vir livremente de um local a outro. Houve, porém, a

violação de uma interdição e a consequente separação e o desdobramento da existência. Um mito da criação nos conta que nos primórdíos, nada existia a lám do ar. Quando OLORUN começou a respirar, uma parte do ar transformou-se em massa de água, originando ORIXALÁ - o grande ORIXÄ FUNFUN do branco. 0 ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles transformou-se em bolha ou monticulo uma matéria dotada de forma - um rochedo avermelhado e lamacento. OLORUN soprou vida sobre ele e com seu hálito deu a vida a EXU, o primeiro nascido, o procriado, o primogénito do Universo.

OLORUN abrange todo espaço e detém três poderes que regulam e mantém ativos a existência e o Uníverso: IWÁ, que permite a Uníverso genérica o ar, a respiração; AXÉ, que permite a exístência advir dinâmica; ABÁ, que outorga propósito e dá direção. Ou como diz o poeta Moraes Moreíra em "Pensamento Iorubá."

Para tudo ser tem que ter IWA

Para vir a ser tem que ter AXÉ

Para o sempre ser tem que ter ABÁ

Ao combinar esses três poderes de forma específica, OLORUN transmite-os aos IRUNMALÉ, entidades divinas que remontamaos primórdios de universo, encarregados de mantê-las nas diferentes esferas de seu domínio. Os IRUNMALÉ seriam em número de seiscentos, quatrocentos da direita (os ORIXÁS, detentores dos poderes maseulinos) e duzentos da esquerda (os EBORAS, detentores dos poderes femininos. os ORIXÁS aio massas de movimentos lentos, serenos, de idade imemorial. Estio dotados de um grande equilíbrio que controlam as relações do que nasce, do que morre, do que à dado, do que deve ser resolvido. São associados i Justiça e ao equilíbrio, principio regulador dos fenômenos cómicos, sociais e individuais.

Vimos que quando OLORUN começou a respirar, gerou ORIXALÁ e EXU, o procriado. Na qualidade de procriado, EXU não pode ser isolado nem classificado em qualcher categoria. Minha homenagem ao meu BARA ! Nestes escritos sobre os ORIXÁS, EXU com seu perfil psicológico e o tipo determinante dos seus filhos, abrirão os caminhos sendo o primeiro a ser evocado.

EXU

EXU é o pré-existente à ordem do mundo. Como a própria vida, ele se transforma sem parar, mas não uniformemente, porque EXU muda o jogo a seu bel prazer - é um "tríckster". É astucioso, vaidoso, inteligente e ambíguo- a tal ponto que os primeiros missionários assustados com pararam-no ao diabo, dele fazendo símbolo de tudo que é maldade. Mas EXU, por ser o próprio dinamismo, é quem faz, com seus paradoxos, as coisas manterem-se vivas. É ele que propicia estar o AXE sempre circulando e, ao ser tratado com consideração (oferendas), reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e

prestativo. EXU revela-se o mais humano dos ORIXÁS, nem completamente mau, nem completamente bom. Por estar relacionado com os ancestrais, ele é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Cada pessoa tem o seu BARA - até cada ORIXÁ tem seu EXU. Ele está em tudo e com tu do, pois à o intermediário eterno entre os homens e os deuses. É por isso que em todas as cerimónias do CANDOMBLÉ, sua oferenda é a primeira e chama-se PADÉ - que significa re-u nião. No PADÉ, EXU é chamado, saudado, cumprimentado e enviado ao alem, com dupla intenção: convocar os outros ORIXÁS para a festa e ao mesmo tempo afasta-lo, para que não perturbe a boa ordem da cerimônia, com seus golpes de "tríckster". Como transportador das oferendas, ele é OXETUÁ, filho de OXUM com os dezesseis ODU do oráculo (Jogo de buzios) (CAURI) Este aspecto benfazejo de EXU outorga-lhe o poder de restituir a fecundidade ao mundo. Como senhor do poder da transformaço, ele é EXU ELEGBARA, que foi cortado em pedaços e em seguida se regenerou e, ao fazê-lo, reuniu simbolicamente o Universo inteiro.

EXU mantém o equilíbrio das trocas, provoca o conflito para promover a síntese. Tudo que se une, multiplica-se, separa-se, transforma-se - tudo é EXU, personifícação do principio da transformação. Seu dia é segunda-feira. Ele está associado ao nascente e ao futuro e sua cor é o azul-escuro arroxeado, cor do místério da procríação. Seu animal e o cão; o cacto e o mandacaru são suas plantas. Rege o sexo e usa um chapéu que se assemelha ao falo: não há sexualidade sem EXU.

OKOTÓ é o caracol, símbolo de EXU, e representa a espiral da evolução. Quando se manifesta, é saudado por um de seus nomes (LAROYE). Veste-se de branco, azul e vermelho, leva na mão um tridente ou um ferro de sete pontas ou ainda uma lança.

0 tipo psicológico do filho de EXU tem as seguintes características: é robusto, ágil, dinâmico, incansavel, transborda vitalidade. Ë grande amigo dos prazeres da vida, guloso, estä sempre com fome e bebe bastante. E por isso que ninguém do CANDOMBLË deve beber nada sem antes jogar no chão da porta da rua, bebida para EXU. Alegre, brincalhão, gosta de pregar peças, esconder objetos, contarmentiras, ensinar o caminho errado. Adora chocar, dizer palavroes. E desordeiro e adora tumultuar festas e reuniões. Quandolhe convem, pode ser extremamente trabalhador, eficiente, incansável e obstinado - tendo em vista sempre o que com isso irá ganhar. Mas e totalmente imprevisível, podendo deixar o trabalho em que se empenha apenas por capricho. Não é, entretanto, Insensível. É prestativo e não recusa sua ajuda aos amigos. É chamado sempre para resolver problemas financeiros, brigas, encrencas amorosas, as quais com habilidade e bom humor consegue dar uma solução feliz. Mas a principal característica dos filhos de EXU e a exarcebação da sexualidade; suas vidas são regidas por intensa atividade sexual, e fidelidade sexual e algo impossível de obter-se dos filhos de EXU.

OXALÁ

Obedecendo a sequência hierárquica, encontramos à frente dos ORIXÁS FUNFUN do branco, OXALÁ.

OXALÁ é o detentor do poder genitor masculino. Todas suas representações incluem o branco. E um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a formação de todo tipo de criaturas no AIYE e no ORUN. Ao incorporar-se, assume duas formas: OXAGUIÃ jovem guerreiro, e OXALUFÃ, velho apoiado num bastão de prata (APAXORÓ). OXALÁ é alheio a toda violência, disputas, brigas, gosta de ordem, da limpeza, da purêza. Sua cor é o branco e o seu dia é a sexta-feira. Seus filhos devem vestir branco neste dia. Pertencem a OXALÁ os metais e outras substâncias brancas.

0 tipo psicológico do filho de OXALÁ é benevolente e paternal, é sábia, calmo, paciente e tolerante. É lento, frio, fechado. Obstinado, age em silêncio. 0 tipo físico de OXALUFÃ é frágil, delicado, friorento, sujeito-a resfriados. Compensa sua debilidade física com grande força moral, e seu alvo à realizar a condição humana no que tem de mais nobre. É fiel no amor e na amizade. 0 tipo OXAGUIÃ é um jovem guerreiro combativo. É habitualmente alto e robusto, mas não é agressivo nem brutal. Não despreza o sexo e cultiva o amor livre. É alegre, gosta profundamente da vida, é falador e brincalhão. Ao mesmo tempo e idealista, defendendo os injustiçados, os fracos e os oprimidos. Orgulhoso, sedento de feitos gloriosos à, às vezes, uma especie de D. Quixote. Seus pensamentos originais geralmente antecipam o de sua época Ele à o nascente e OXALUFÃ o poente.

ODUDUWA

ODUDUWA, também considerado entidade FUNFUN, recebeu de OLORUN o elemento terra, com o qual ela criou o AIYÉ. sua cor é preta (azul escuro),por ser representante do AIYÉ. OXALÁ e ODUDUWA são cultuados no mesmo dia (sexta-feira) e em alguns terreiros, os dois conceitos são confundidos.

0 tipo psicológico do filho de ODUDUWA, do ponto de vista físico, à semelhante ao tipo OXALÁ. São magros, franzinos, nervosos e secos como a terra. Mas ao contrário do tipo OXALÁ, os filhos de ODUDUWA são violentos e agresssivos, fechados, inseguros e angustiados, tornando-se às vezes susceptíveis, impacientes, intolerantes e desconfiados. Invejosos, vingativos, perseguem aqueles cuja felicidade ou exito é para eles uma afronta. Sabem manipular os outros e toda sua força está em uma Inteligência curiosa, de senso critico e de ironia ferina. É dominador, autoritário e no trabalho é exigente, perfeccionista e minucioso.

NANÃ

NANÃ, divindade dos primórdios da criação, à associado a lama, água e à morte: recebe no seu seio os mortos, tornando possível o renascimento. 0 fato dela ser um continente, associado com processo e interioridade, conecta com o preto, que se expressa no azul-escuro. Por ser força genitora, pertence ao branco. Suas cores são, portanto, a azul e a branca. Seu animal é a rã e o seu dia à a terça-feira.

ORIXÁ da Justiça, NANÃ não tolera traíção, indiscrição, nem roubo. Por ser ORIXÁ muito discreto e gostar de se esconder, suas filhas podem ter um caráter completamente diferente do dela. Por exemplo, ninguém desconfiarã que uma dengosa e vaidosa aparente filha de OXUM seria uma filha de NANÃ "escondida".

0 tipo psicológíco dos filhos de NANÃ à introvertido e calmo. Seu temperamento é severo e austero. Rabugento, é mais temido do que amado. Pouco feminina, não tem maiores atrativos e à muito afastada da sexualidade. Por medo de amar e de ser abandonada e sofrer, ela dedica sua vida ao trabalho, à vocação, à ambição social.

OMULU

OMULU, o Rei da Terra, é filho de NANÃ, mas foi criado por IEMANJA que o acolheu quando a mãe rejeitou-o por ser manco, feio e coberto de feridas. É uma divindade da terra dura, seda e quente. Ctoniano, é às vezes chamado "o velho", com todo o prestígio e poder que a idade representa no CANDOMBLÉ. Está ligado ao Sol, propicia colheitas e ambivalentemente detém a doença e a cura. Com seu SASSARÁ, cetro ritual de palha da Costa, ele expulsa a peste e o mal. Mas a doença pode ser também a marca doseleitos, pelos quais OMULU quer ser servido. Quem teve varíola é frequentemente consagrado a OMULU, que é chamado "médido dos pobres". Suas cores são o vermelho e o preto e ele usa urna "filha" de palha da Costa (África) que o cobre da cabeça a cintura. Suas relações com os ORIXÁS são marcadas pelas brigas com XANGÔ e OGUN e pelo abandono que os ORIXÁS femininos legaram-lhe. Rejeitado primeiramente pela mãe, segue sendo abandonado por OXUM, por quem se apaixonou, que, juntamente com IANSÃ, troca-o por XANGÔ. Finalmente OBÁ, com quem se cásou, foi roubada por XANGÔ. É um ORIXÃ solitário, das ruas, como EXU. Seu dia e segunda-feira, quando se lhe oferece pipocas. Seu animal é o caranguejo.

0 tipo psicológico dos filhos de OMULU é atarrancado, fechado, desajeitado, rústico, desprovido de elegância ou de charme. Pode ser um doente marcado pela varíola ou por alguma doença de pele e à frequentemente hipocondriaco. Tem considerável força de resistência e e capaz de prolongados esforços. Geralmente é um pessimista, com tendências auto-destrutivas que o prejudicam na vida. Amargo, melancólico, torna-se solitário. Mas quando tem seus objetivos determinados, é combativo e obstinado em alcançar suas metas. Quando desiludido, reprime suas ambições, adotando uma vida de humildade, de pobreza voluntária, de mortificação. E lento, porém perseverante. Firme como uma rocha. Falta-lhe espontaniedade e capacidade de adaptação, e por isso não aceita mudanças. É vingativo, cruel e impiedoso quando ofendido ou humilhado.

Essencialmente viril, por ser ORIXÁ fundamentalmente masculino, falta-lhe um toque de sedução e sobra apenas um brutal solteirão. Fenômeno semelhante parece ocorrer no caso de NANÃ: quanto mais poderosa e mais acentuada é a femenilidade, mais perIgosa ela se torna e, paradoxalmente, perde a sedução.

OXUMARÉ

OXUMARÉ, filho mais novo e preferido de NANÃ, irmão de OMULU. É uma entidade branca muito antiga, particípou da criação do Mundo enrolando-se ao redor da terra, reunindo a matéria e dando forma ao Mundo. Sustenta o Universo, controla e põe os astros e o oceano em movimento. Rastejando pelo Mundo, desenhou seus vales e rios. É a grande cobra que morde a cauda, representando a continuidade do movimento e do ciclo vital. A cobra é dele e à por isso que no CANDOMBLÉ não se lha mata. Sua essência e o movimento, a fertilidade, a continuidade da vida. A comunicação entre o céu e a terra é garantida por OXUMARÉ. Leva a água dos mares, para o céu, para que a chuva possa formar-se - é o arco-iris, a grande cobra colorida. Assegura comunicação entre o mundo sobrenatural, os antepassados e oshomens e por isso à associa do ao cordão umbilical. Sua cor é o verde alface e todas as combinações do arco-íris.

Seu dia é terça-feira e a oferenda predileta é tatu, galo e frutas frescas. É bi-sexual e com aspecto femino, dança com o ADÉ (coroa das rainhas). É homem durante seis meses, mulher outros seis meses. É dono das riquezas escondidas na floresta, nas entranhas da terra e no fundo do mar, onde reside debaixo do oceano: pedras preciosas, ouro, coral pertence-lhe.

0 tipo psicológico dos filhos de OXUMARÉ é aristocrático. Fisicamente é esbelto, seus traços são finos. É dinâmico, inteligente, dotado de espírito curioso e destaca-se pela ironia. Gosta de fofoca e por ser intrigante, atrai, seduz e diverte. É frequentemente esnobe e gosta de exibir-se, chegando a ser excêntrico e extravagante. Quando rico, é protetor dos jovens de talento. É homosexual ou bisexual. Não à bruto nem grosseiro, é refinado e civilizado, mas pode ser perigoso pela maledicência. Possui uma grande intuição e pode ser advinho esperto.

YEMANJÁ

YEMANJÁ é considerada mãe de todos os demais ORIXÁS OGUM, XANGÔ, OBÁ, OXOSSI e OXUM que nasceram de caso ilícito que teve com IFÁ. NANÃ Como vimos, é mãe de OMULU e OXUMARÉ. YEMANJÁ, por sua vez, filha de OLODKUN, ORIXÁ masculino em BENIN, ou femínino em IFÉ, sempre do mar. No Brasil, é muito venerada, e seu culto tornou-se quase independente do CANDOMBLÉ. É representanda como uma sereia de longos cabelos pretos. Rege a maternidade, e a mãe dos peixes que representam fecundidade. Seu dia à sábado. Nas grandes "obrigações", são oferecidos cabra branca, pata ou galínha branca. Gosta muito de flores e é costume oferecer-lhe 4 seterosas brancas abertas, que são jogadas ao mar para agradecimento. Sua cor à a branca com azul. Usa um ADÉ com franjas de missangas que esconde o rosto. Leva na mão o BÉBÊ -- leque ritual de metal prateado de forma circular, com uma sereia recortada no centro.

0 tipo psicológico dos filhos de YEMANJÁ é imponente, magestoso e belo, calmo, sensual, fecundo e cheio de dignidade e dotado de irresistivel fascínio (o canto da sereia). As filhas de YEMANJÁ são boas donas de casa, educadoras pródigas e generosas, criando até os filhos de outros (OMULU). Não perdoam facilmente, quando ofendidas. São possessivas e muito ciumentas. YEMANJÁ, por presidir a formaçio da individualidade, que como sabemos está na cabeça, está presente em todos os rituais, especialmente o BORI.

OGUM

OUGUM à o primeiro filho de YEMANJÁ, a quem sempre acompanhava, sendo também muito afeiçoado a EXU e seu irmão OXOSSI, ORIXÁ da caça - a quem ele deu suas armas. Foi casado com IANSÃ que o abandonou para seguir XANGÔ. Casou-se também com OXUM, mas vive só, batalhando pelas estradas é o abre-caminhos. Ele é o ORIXÁ do ferro; foi o primeiro ferreiro. É o ORIXÁ da civilização e da técnica. Introduziu a agricultura e, como oferenda, recebe inhame e feljio, os frutos da terra. É o ORIXÁ dos maquinistas, motoristas, ferroviários, operários e de todos aqueles que trabalham com máquinas e ferramentas. É o ORIXÁ da virilidade; remove obstáculos, civiliza o mundo, prove alimentos.

Seu dia é a terça-feira. E nas grandes "obrigações", pode pedir um boi ou um bode. Sua cor é o vermelho, mas gosta também de azul e verde forte. Seu animal o cachorro. É agressivo e brutal e à tido como responsável pelos acidentes de carro, avião e mecânícos em geral, com os quais castiga quem o desrespeitou. Seus filhos devem abster-se de beber cachaça e de andar armado com faca e facão. Por ser sua possessão muito violenta, pode deixar quem o recebe completamente inconsciente e sem controle de seus atos.

Os filhos de OGUM são briguentos, violentos, impulsivos e não perdoam e não perdoam as ofensas que foram vítimas. Perseguem energicamente seus objetivos e em momentos difíceis, triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda esperança. Possui humor mutável, indo dos furiosos acessos de raiva a um tranqulo compportamento. São impetuosos e arrogantes, não se incomodando de melindrar os outros, mas por terem franquezas em suas intenções, e serem sinceros, dificilmente são odiados.

XANGÔ

XANGÔ à um ORIXÁ de fogo, filho de OXALÁ com YEMANJÁ. Diz a lenda que ele foi rei de OYÓ. Rei poderoso e orgulhoso, teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder. Vencido por seus inimigos, refugiu-se na floresta, sempre acompanhado da fiel OYA (IANSÃ), e enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de férro - a cadela das gerações humanas. E ele se transformou num ORIXÁ, mas ao mesmo tempo passa a ser um EGUM (espírito dos antepassados). Verdadeiro paradigma, no CANDOMBLÉ, os EGUNS não são cultuados junto aos ORIXÁS. 0 EGUM é para os homens um pai e o ORIXÁ à para OXALÁ um filho: XANGÔ é, ao mesmo tempo, um filho de OXALÁ e um antepassado mítico, ligado à realeza, um herói devinizado, fundador da dinastia NAGÔ.Por sua origem real, XANGÔ é o Santo da Justiça, castigando com o raio. Ele à também conquistador; possui a tres esposas: OBA a mais velha e menos amada; OXUM, que era casado com OXOSSI e por quem XANGÔ se apaixona e faz com que ela abandone OXOSSI; e IANSÃ, que vivia com OGUM e que XANGÔ raptou. Esta é a mais nova e a preferida, pois à esposa dedicada e forte guerreira, que precede o marido nas batalhas e, por ser dona do raio, deu o fogo a seu amado XANGÔ c omandando as forças da natureza que se caracterizam pela violância: o trovão, o raio (o fogo sobrenatural do céu), atira pedras do céu. Ele é o dinamismo dos elementos da natureza de cujo encontro nascem estes fenômenos metereológicos. Poder, fogo, movimento, vida e fecundidade - ele recebe da mulher IANSÃ.

Seu animal e o carneiro, cujos ataques são comparáveis à violãncia do raio e tem seus chifres em espiral como o fogo. É um ORIXÁ libertino, turbulento, vermelho e quente e destaca--se pela intensa atividade sexual. XANGÔ tem pavor da morte ë dos EGUNS. E estes são os opostos que tem que unir: mortal e imortal, pai (dos homens) e filho (de OXALÁ), o que fará com a mediação da mulher (IANSÃ), que vem trazer o fogo, a fecundidade, a continuidade das gerações o poder da vida transmitido de pai para filho por intermédio da gestação na mulher.

Sua cor é vermelha e branca e seu dia é quarta-feira. Gosta do sacrifício do cágado, que multas vêzes é chamado seu cavalo, de galo e de pato. Sua possessão uma explosão, de alegria, sua dança é vigorosa e bela e seus filhos saúdam-no com palmas, fogos, gritos e com a expressão "desejamos longa vida a Vossa Magestade" - antes de tudo um Rei. Os objetos sagrados de XANGÔ são o LABÁ e o OXÉ, a dupla machadinha que representa o raio e que pode ser em madeira ou bronze-metal - pela cor avermelhada, é consagrado a elê. 0 LABÁ é um capanga de couro pintada, feita só na Africa, e cujos desenhos são sagrados. Ela à dividida em quatro partes e suas figuras, que lembram o raio, são assimétrias e evocam os três segmentos do raio e do tríângulo. 0 número três é o par mais um, sugerindo movimento e continuação - ou seja, a própria vida.

0 tipo psicológico dos filhos de XANGÔ é fisicamente robusto, o queixo forte e voluntarioso, pescoço curto, boca carnuda e sensual. Violentos, orgulhosos, porém sua agressividade não e gratuita: ela se volta contra os maus, pois como XANGÔ, seus filhos são paladinos da Justiça.

IANSÃ

IANSÃ é a filha de YEMANJÁ com OXALÁ e a esposa preferida de XANGÔ. É guerreira e aventureira como ele, mulher de muitos homens (OXÓSSI,OGUM E XANGÔ. ReIaciona-se com todos os elementos da natureza. A água, sob formal de chuva, de tempestade. 0 ar, sob a forma do vento da tempestade, que arranca árvores, derruba casas. No seu aspecto benéfico, foi o ar de IANSÃ que espalhou as plantas medicinais, anteriormente guardadas por OSSAIN numa cabaça. Ligada a floresta, ela se transforma em um búfalo, cervo ou elefante. Propicia a caça abundante. Mas sua essência é o movimento e o fogo, é o ORIXÁ do raio. Esta relação com o movimento e o fogo faz de IANSÃ uma divindidade do sexo e do amor. Ela é rainha por ser a predileta de XANGÔ. E por ser mãe e rainha dos EGUNS, à o único ORIXÁ que não tem medo dos mortos. Seu número é o nove, produto de 3 X 3 - o par Inicial mais um, indicando continuação - puro movimento. 0 seu dia ë quarta-feira e sua cor e a vermelho. Seus objetos são uma espada de cobre e um "espanta moscas", com o qual mantem os EGUNS afastados.

0 tipo psicológIco das filhas de IANSÃ e turbulento, inquieto, cheio de iniciativa. Faz-se notar, provocante e domina os homens, porém à esposa dedicada. Os homosexuais têm como modelo IANSÃ. São mulheres fecundas, mãe de muitos filhos, mas-que são criados por uma avó, babá, tia. 0 tipo IANSÃ apenas orienta a educação. Não gosta de trabalho doméstico e nem de trabalho executivo. Prefere ser atriz, fazendeira ou qualquer outra profissão, na qual seja necessário um pouco de aventura, garra e impetuosidade.

OBA

OBA é ORIXÁ ligado a água, guerreira e pouco feminina. Suas roupas são vermelhas e brancas, leva um escudo, uma espada, uma coroa de cobre. Usa um pano na cabeça para esconder a orelha cortada. Conta e lenda que OBA, repudiada por XANGÔ. vivia sempre rondando o palácio para voltar. OXUM, com suas artimanhas, diz a OBA que XANGÔ adora orelha e que ela faça uma sopa com sua orelha, o que será um remédio infalível para conquista-lo. Assim OBA fez e quando' XANGÔ- tomou a sopa e sentiu-a esquisita, quiz saber quem a fez e OBA apresenta-se feliz, pensando que havia reconsqultando-o.

XANGÔ fica horrorizado com a mutilação e expulsa-a para sempre.

0 tipo psicológico dos filhos de OBA, constitui o estereotipo da mulher de forte temperamento, terrivelmente possessiva e carente. Ao contrário de IANSÃ, é mulher de um homem só, fiel e sofrida. São combativas, impetuosas e vingativas. OBA e um ORIXÁ que raramente se manifesta e há pouco estudo sobre ela. Talvez porque nos dias de hoje, mesmo na África ou Brasil, não há espaço para essas caracteristicas do feminino, que cada vez mais recupera seu poder de IANSÃ.

OXUM

OXUM à ORIXÁ feminino por excelência - o Eterno Feminino. Filha predileta de OXALÁ e YEMANJÁ. Nos mitos, ela foi casada com OXOSSI, a quem engana, com XANGó, com OGUM, de quem sofria maus tratos e XANGÔ a salva.

Seduz OMULU, que fica perdidamente apaixonado, obtendo dele, assim, que afaste a peste do reino de XANGÔ. Mas OXUM é considerado unanímente como uma das esposas de XANGÔ e rival de IANSÃ e OBA. É um ORIXÁ das águas doces, fontes e regatos, e dona do RIO OXUM e de todas as águas que nascem na terra. Diz uma tradiçao esotérica que OXUM é a própria Mãe Terra, um ser vivo que se auto-regula, sendo os rios suas veias.

OXUM e essencialmente o ORIXÁ das mulheres, preside a menstruação, a gravidez e o parto. Desempenha importante funçãonos ritos de iniciação, que são a gestação e o nascimento. ORIXÁ da maternidade, ama as crianças, protege a vida e tem funções de cura. OXUM à fecundidade e fartura que se manifesta no fruto das águas (peixe) e no fruto da terra (inhame) que estão sempre presentes nos seus cultos. Fecundidade e fertilidade são por extensão, abundância e fartura. OXUM é o ORIXÁ da riqueza - dona do ouro, fruto das entranhas da Terra. É alegre, risonha, cheia de dengues, Inteligente, mulher-menina que brinca de boneca, e mulher-sábia, generosa e compassiva, nunca se enfurecendo. Elegante, cheia de jóias, é a rainha que nada recusa, tudo dá. Tem o título de IYALODÊ entre os povos IORUBÁ: aquela que comanda as mulheres na cidade, arbitra litígios e é responsável pela boa ordem na feira. Também comanda as feiticeiras, o que só aparece como predileçio pelo pássaro - um pombo de olhos vermelhos. Desempenha importante papel no jogo de búzios, pois à ela quem formula as perguntas que EXU responde.

Seu dia à sábado, dia das águas sua cor é o amarelo dourado e o ovo é a ela consagrado por representar a gestação Adora o mel, doce como ela. Quando OXUM dançal traz na mão uma espada e um espelho, revelando-se em sua condição de guerreira da sedução. Ela se banha no rio, penteia seus cabelos, põe suas jóias e pulceiras, tudo isso num movimento lânguido e provocante. ORIXÁ do ouro, da bonança, da riqueza, é essencialmente a Mãe - generosa, pródlga e complacente e por isso, como OXUM EWUJI e saudado no PADÉ, começo de todo ritual do CANDOMBLÉ.

0 tipo psicológico dos filhos de OXUM possuidor de muita beleza física. São bem proporcionados de corpo, geralmente claros e louros. Representa sempre o tipo que atrai e que é, sempre perseguido pelo sexo oposto (nãoquem conquista como IANSÃ. Aprecia o luxo e o conforto, é vaidoso, elegante, sensual e gosta de mudanças, podendo ser infiel. Mas é calmo, tranquilo, emotivo, chora facilmente. É astuto, conseguindo tudo que quer com imaginação e intriga. A pesar de ser complacente e pródigo pode vir a ser Interesseiro, preguiçoso e indeciso. É muito desconfiado e possui dor de grande intuição que muitas vezes é posta à serviço da astúcia.

OXOSSI

OXOSSI é o Rei do Keto, filho de OXALÁ e YEMANJÁ ou, nos mitos, filho de APAOKA (jaqueira). É o ORIXÁ da caça; foi um caçador de elefantes, animal associado à realeza e aos antepassados. Diz um mito que OXOSSI encontrou IANSÃ na floresta, sob a forma de um grande elefante, que se transformou em mulher. Casa com ela, tem muitos filhos que são abandonados e criados por OXUM. OXOSSI vive na floresta, onde moram os espíritos e está relacionado com as árvores e os antepassados. As abelhas pertencem-lhe e representam os espiritos dos antepassados femininos. relacionasse com os animais, cujos gritos imita a perfeição, e caçador valente e ágil, generoso, propicia a caça e protege contra o ataque das feras. um solitário solteirão, depois que foi abandonado por IANSÃ e também porque na qualidade de caçador, tem que se afastar das mulheres, pois são nefastas à caça.

Está estreitamente ligado a OGUM, de quem recebeu suas armas de caçador. OSSAIN apaixonou-se pela beleza de OXOSSI e prendeu-o na floresta. OGUM consegue penetrar na floresta, com suas armas de ferreiro e libertá-lo. Ele esta associado, ao frio, à noite, à lua; suas plantas são refrescantes. Seu dia é quinta-feita.

Veste-se de azul-turqueza ou de azul e vermelho. Leva um elegante chapéu de abas largas enfeitado de penas de avestruz nas cores azul e branco. Leva dois chlfres de touro na cintura, um arco, uma flexa de metal dourado e um IRUKERÉ - chicote de rabo de touro para afastar os antepassados. Sua dança sumula o gesto de atirar flexas para a direita e para a esquerda, o ritmo é "corrido" na qual ele imita o cavaleiro que persegue acoaça, deslisando devagar, às vezes pula e gira sobre si mesmo. É uma das danças mais bonitas do CANDOMBLÉ.

0 tipo psicológico, do filho de OXOSSI é refinado e de notável beleza. É o ORIXÁ dos artistas intelectuais. É dotado de um espírito curioso, observador de grande penetração. São cheios de manias, volúveis em suas reações amorosas, multo susceptíveis e tidos como "complicados". É solitário, misterioso, discreto, introvertido. Não se adapta facilmente à vida urbana eé geralmente um desbravador, um pioneiro. Muitas vezes exerce um fascínio sobre os rapazes e pode ser homosexual. Possui extrema sensibilidade, qualidades artísticas, criatividade e gosto depurado. Sua estrutura psíquica é muito emotiva e romântica.

LOGUM EDÉ

LOGUM EDÉ à filho de OXOSSI e de OXUM. É mulher durante seis meses, vivendo na água, e nos outros seis meses à homem, vivendo no mato, Propicia a caça e a pesca. Veste-se como um AYABÁ, com saia cor-de-rosa, usa uma coroa de metal dourado (não o ADÉ das rainhas), um arco e uma flexa. Usa sempre cores claras. Com seu aspecto masculino usa capacete de metal dourado, capangas, arco e flexa ou espada. Sempre acompanha na dança OXUM e OXOSSI.

0 tipo psicológico dos filhos de LOGUM EDÉ é muito orgulhoso de seu corpo - a atual política de cultivo do corpo poderia ser regida por LOGUM EDÉ. É sedutor, vaidoso, preguiçoso e ciumento. São tipos ambivalentes, podendo ser bem educados, bem humorados, refrescantes como a folha de ODUNDUN e a água, mas também serem sombrios como os antepassados. 0 ORIXÁ LOGUM EDÉ à responsável por tonturas e desmaios o que pode ser confundido com provocações dos EGUNS Seu culto na África está quase que extinto, porém na Bahia mantem-se vivo. Seus filhos não podem usar vermelho.

OSSAIN

OSSAIN, filho de OXALÁ e YEMANJÁ, irmão de OGUM, OXOSSI, XANGÔ. Vive na floresta - é também um ORIXÁ do ar livre, onde encontrou e prendeu OXUM. É inimigo de XANGÔ de quem dizem que tentou roubar OBA e teve que enfrentar a ira de XANGÔ, perdendo neste combate uma perna. Outras lendas contam que ele roubou de XANGÔ o fogo e deu aos homens, sendo este o motivo da inimizade.

OSSAIN é o ORIXÁ das folhas e da medicina. Embora como vimos, graças a IANSÃ todos os ORIXÁS tenham suas folhas, em princípio OSSAIN continua sendo o dono delas. Há folhas para tudo: para cada tipo de doença, de desgraça ou de bem, para conseguir a felicidade, dinheiro, longevidade. As folhas são sempre portadoras de AXÉ e no CANDOMBLÉ sem elas e sem OSSAIN nada se faz - portanto, OSSAIN é o dono do AXÉ!

Sua cor é verde e seu dia segunda-feira. Na sua qualidade de senhor da vegetação, ele está ligado com a terra. É um ORIXÁ ctônico, como OMULU ele manca ou não tem uma perna. Seu metal é o ferro. Está profundamenterelacionado com a cabaça - que representa a matriz cósmica, onde guarda suas folhas e seu poder. Está associado aos pássaros. usa uma coroa com um pássaro em cima. Convém lembrar que o simbolo das feiticeiras é uma cabaça na qual está encerrado um pássaro que simboliza seu poder e executa os trabalhos que elas determinam. OSSAIN representa, pois, o poder mágico da cabaça - gestação. É o ORIXÁ da medicina, aquele que com suas folhas fabrica remédios, encantos, talismãs e cura doentes. 0 conhecimento das folhas é a parte mais secreta do CANDOMBLÉ. OSSAIN usa na cabeça uma coroa de metal prateado ornada com um pássaro, leva na cintura cabacinhas onde guarda seus remédios, e leva numa mão uma grande cabaça prateada e noutra uma ferramenta de sete pontas e um pássaro na ponta central. É o ORIXÁ dos médícos e cientistas.

0 tipo psicológico dos filhos de OSSAIN tem um temperamento secreto e imprevisível, ele se esconde, "põe outro na frente porque não gosta de aparecer". Do ponto de vista morfológico, à delicado e frágil; às vezes quando velhos, torna-se manco ou aleijado. É discreto, calado, nada conta de sua vida e faz questão de preservar sua liberdade. Desligado dos aspectos triviais da vida cotidiana, quando persegue a solução de algum problema científico ou filosófico esquece de alimentar-se. É sensivell, generoso, compassívo, ama os animais sobretudo os pássaros. Seu caráter equilibrado não deixa simpatias ou antipatias interferirem em suas decisões. Seus julgamentos sobre os homens e as coisas não--são fundamentados sobre a noção de bem e de mal, mas sobre a eficlência delas.

Estas notas Introdutórias ao estudo do CANDOMBLÉ - a Religião dos ORIXÁS - começou com saudação a EXU (veiculador do AXÉ entre os homens e os deuses), e tem sua conclusão com nosso encontro com OSSAIN (veiculador do AXÉ entre os homens).

OSSAIN ao roubar o fogo para os homens, abriu-lhes o caminho da consciência e, por ser dono do AXÉ das plantass detém a energia da prática do CANDOMBLÉ - no CANDOMBLÉ, nada se faz sem a energia das plantas - e a energia da cura, através da energia curativa das mesmas. OSSAIN que manco e frágil, que com a força da limitação e da fragilidade mantém uma extraordinária reserva de energia criadora, curativa e de resistência passiva em direção aos objetivos que fixou como meta à o nosso CURADOR FERIDO.

São Paulo, inverno de 1990.

GLOSSÁRIO

Grafamos em maíusculo no texto, o resultante do aportuguesamento das palavras e expressões NAGÔS. Certos estuediosos, como Juana Elbeín dos Santos e Pierre Fatumbi Verger, utilizam as expressões iourubás, sendo que conservamo-las nas citações ao longo do presente Glossario.

ABÁ - princípio que induz, permitindo às coisas terem orientação, direção, objetivo em sentido preciso; um dos três princípios ou forças que compoem o Universo. (Vide: AXÉ e IWÁ.)

ABÊBÊ - Leque de YEMANJÁ, prateado, de forma circular, com uma sereia recortada no centro.

ADÉ - Coroa de rainha, utilizada por OXUMARÉ, LOGUM EDÉ e YEMANJÁ.

AIYÉ - 0 inundo. "0 àíyé compreende o universo físico concreto e a vida de todos os seres naturais que o habitam, particularmente os ará-àiyé, habitantes do mundo, humanidade." (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 53.) (Vide: ORUN.)

APAOKA Jaqueira, de quem OXÓSSI é considerado filho.

APERERÉ 0 suporte da cabeça. (Vide: ORI.)

APAXORÓ Bastão em que se apõia OXALUFÃ, É feito de prata, mede cento e vínte centímetros, tem um pássaro na extremidade superior, com nove discos metálicos, Inseridos horizontalmente, em diferentes alturas, dos quais pendem pequenos objetos, sininhos redondos ou em forma de funil. 0 APAXORÓ pode atravessar os nove espaços do ORUN, sendo por isso muito poderoso e sagrado.

ARÁ-AIYÉ - Ou ARAYÉ: os habitantes do AIYÉ, do mundo. (Vide: AYIÉ).

AXÉ - Força propulsora do Universo, que está contida em todas as coisas ido reino animal, vegetal e mineral, quer sejam da água (doce ou salgada), da floresta, do mato, ou do espaço urgano. "É através do àsér propulsionado por Exu, que se estabelece a relação do àié - a humanidade e tudo que é vida -com o órun -- os espaços sobrenaturais e os habitantes do além. (.:.) Receber àxé significa incorporar os elementos simbólicos que representam os princípios vitais e essenciais de tudo o que existe, numa particular combinação que Individualiza e permite uma significação determinada. Trata-se de Incorporar tudo o que constitui o àiyé e o òrun o mundo e oalém." (Juana Elbeín dos Santos, 1984, p. 37/43.)

AYABÁ - ou IYABÁ. Nome genérico dos ORIXÁS femininos.

BABALORIXÁ - Homem chefe do terreiro ou roça, nos rituais e cerimônias do CANDOMBLÉ, também chamado BABALAÔ ou pai-de-santo. Além dessas funções, incumbe-lhe cuidar da iniciação dos filhos ou filhas-de-santo na religião dos IORUBÁS.

BARA - EXU BARA, EXU Individual. Cada ORIXÁ possui seu EXU, com o qual constitui uma unidade - é o elemento EXU que executa suas funções. Assim, no terreiro, cada ORIXÁ faz-se acompanhar de seu EXU particular (BARA), e seu nome à Invocado, sendo-lhe felto oferendas, antes do próprio ORIXÁ. Por ocasião da iniciação, o filho ou a filha-de-santo recebe e duas vazilhas: uma que representa o ELEDÁ e outra o EXU pessoal, o BARA. Assim como os ORIXÁS, cada pessoa tem seu próprIo EXU, que está ligado tanto a seu destino Individual, como ao seu desenvolvimento.

BENIN - Região africana de onde vieram ao Brasil, nos Séculos XVIII e XIX, como escravos, os NAGÔS-IORUBÁS.

BORI - bo + ori = adorar a cabeça; cerimônía através da qual a pessoa passa a ser consagrada aos ORIXÁS.

CANDOMBLÉ - A relígíão dos ORIXÁS, originária da região dos IORUBÁS (África), tendo a cidade de São Salvador na Bahia de Todos os Santos, também chamada Roma Negra, o centro à partir do qual se difundiu pelo Brasil. As práticas religiosas' do CANDOMBLÉ dão-se no terreiro ou roça, que se subdivide em um espaço sagrado, privado, o "mato", que cobre cerca de dois terços do terreiro, e o espaço profano, público, havendo intercâmbio entre, esses dois espaços. No terreiro, há diversos templos (ILÉ-ORIXÁ), onde são cultuados os diferentes ORIXÁS, reunindo os grupos de fiéis, praticantes e iniciados. Em cada templo, há o "assento" do ORIXÁ e os elementos que compõem e expressam seus diferentes aspectos. 0 conjunto de atividades do terreiro está sujeito à coordenação da YALORIXÁ ou BABALORIXÁ. 0 Terreiro aglutina, portanto, o culto de todos os ORIXÁS, sendo essa característica religiosa própria do Brasil; na África, os ORIXÁS são cultuados Individualmente, em cada região ou cidade.

CAURI - Búzio africano, utilizado com fins divinatórios no CANDOMBLÉ. Diversos ORIXÁS utilizam os CAURIS em seus ornamentos e seus símbolos: está no SASSARÁ de OBALUAIÊ, seu patrono, no IRUKERÉ de OXÓSSI,nos ornamentos de NANÃ. Os CAURIS pertencem ao branco, sendo pedaços do branco, interação de dois poderes genitores; símbolos por excelência dos dobles espirituais e dos ancestrais.

EBORA - IRUNMALÉ detentor dos poderes femininos, encabeçados por ODUDWUA. A água e a terra veiculam o AXÉ genítor femínino no - água dos mares, rios, lagos, mananciais, água "sangue branco" da terra - nesse sentido, o branco continua sígniflcando o poder genitor feminimo e ODUDWUA sendo considerado entidade FUNFUN no Brasil, o termo EBORA caiu quase em desuso, sendo todas as entidades chamadas genericamente de ORIXAS, distinguindo aquelas que são da direi" e aquelas que são da esquerda.

ÊDUN ARÁ - Pedra que se encontra profundamente enterrada no local atingido pelo raio lançado por XANGÔ. ÊDUN ARA significa "Pedra do raio". (Vide XANGÔ.)

EFUN - Giz utilizado para marcar certas partes do corpo, nos rituais iorubás. (Vide: OXALÁ.)

EGUN - Espíritos dos seres humanos (IRUNMALÉ-ASCESTRES), relacionados portanto à história dos homens, objetos de culto diferentes daquele dos ORIXÁS: qualquer que seja o prestígio de um EGUN, jamais será cultuado em conjunto com um ORIXÁ. 0 ORIXÁ e o EGUN pertencem a categorias distintas, cujas. fronteiras são bastante sutis: enquanto os ORIXÁS representam valor e força universal, o EGUN tem valor a um grupo famillIar ou linhagem. Também há os EGUNS de direita, os ancestrais masculinos, e os de esquerda - ancestrais femininos.

ELEDÃ - ORIXÁ que preside a cabeça do ser humano Individualizado. (Vide: ORI, IPORI, ODU, IFÁ.)

EXU - Pré-existente à ordem do mundo, é relacionado com os ancestrais femininos e masculinos e suas representações coletivas, transformando-se sem parar, de maneira não uniforme, caótica - elemento dinâmico por excelência de todos -os seres sobrenaturais e de tudo que existe, justamente por isso muito difícil de ser classificado. Como primeiro ORIXÁ criado, representa também o princípio da existência diferenciada, em consequâncía de sua função de elemento dinâmico que o leva a propulsionar, mobilizar, crescer, transformar e comunicar. EXU representa tanto a direita como a esquerda, veiculando o AXÉ entre os homens, os homens e os deuses - nisso equiparando-se a Mercúrio.

EXU ELEGBARA - EXU senhor do poder de transformação. Os mitos narram que nas remotas origens, EXU foi despedaçado e espalhou-se, percorrendo as nove regiões do ORUN, recriando-se sempre, sendo que em cada uma delas transformou-se em duzentos EXU YANGHI. EXU ELEGBARA é, ainda, companheiro inseparável de OGUN, com ele se confundindo. Nos rituais dos terreiros de CANDOMBLÉ, EXU é presentado por meio de OGUN.

EXU YANGHI Rei de todos os descendentes, Pai ancestral, ao mesmo tempo o primeiro nascido - a terceira pessoa, o terceiro elemento, em conjunto com OLORUN e OXALÁ. Resultante do despedaçamento de EXU ELEGBARA, cujos pedaços foram espalhados pelas nove regiões do ORUN. MANGUE é também pedra porosa, laterIta, local consagrado a EXU entre os iorubás, que também pode ser representado por montículo de terra grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca assinalados com búzios.

IANSÃ - Também chamada OYA, divindidade dos ventos, da tempestade, filha de YEMANJÁ com OXALÁ e esposa preferida de XANGÔ. É o ORIXÁ do relâmpago e do raio; é o aspecto feminino de XANGÔ, o seu AXÉ - o sangue vermelho, o da realização. IANSÃ está relacionada também com a floresta e a terra, e inteira vermelha.

IBIRI - Atado de nervuras de palmeiras, ornamentado por tiras de couro, búzios e contas azul-escuras e brancas, utilizado por NANÃ.

IFÁ - Divindade da adivinhação, transmitiu aos homens as artes divinatórias, também chamado ORUNMILÁ. Os BABALAÔS são os porta-vozes de IFÁ, sendo que necessitam aprender quantidade enorme de lendas e histórías antigas, classificadas em duzentos e cincoenta e seis ODUS ou signos de IFÁ, cujo conjunto forma espécie de enciclopédia oral dos conhecimentos tradicionais do povo iorubá. Cada indivíduo nasce ligado a um ODU, que dá a conhecer sua identidade profunda, servindolhe de guia por toda vida, revelando-lhe o ORIXÁ particular, ao qual deverá ser eventualmente dedicado. IFÁ é sempre consultado em caso de dúvida, antes de decisões importantes, nos momentos difíceis da vida. (Vide: ODU.)

IFÉ - Cidade situada na África, tida pelos iorubás, como berço da civilização e do resto do mundo, onde OGUN foi Rei.

IJEXÁ - Região da Nigéria (África), cortada pelo RIO OXUM.

ILÉ-ORIXÁ - Nos terreiros de CANDOMBLÉ, templos consagrados aos diferentes ORIXÁS.

IMOLÉ - Divindade ao mesmo tempo ORIXÁ e EBORÁ.

IORUBÁ Grupo línguístico, de vários milhões de indivíduos, ligados ainda pela mesma cultura, tradições e origens na régião do antigo Daomé (África), cujo centro é a cidade de IFÉ. Relacionando-se diretamente a um Povo, nação ou território, não diz respeito a entidade política constituída. De Daomé foram transportados, à partir do Golfo de Benin, à Bahía de Todos os Santos (Brasil), entre Os Séculos XVIII e XIX - sendo o último grupo étnico africano a desembarcar no Brasil como escraco. (VIde NAGÓ.)

IPORI - Origem divina dos seres humanos individualizados. (Vide: ORI, ODU, ELEDÁ, IFÁ.)

IRUKERÉ - Chicote feito com os pelos do rabo do touro preso a um pedaço de couro duro, que serve também como cetro, revestido por couro fino e ornado com contas e CAURIS, usado por OXOSSI, tem o poder de controlar e manejar todos os espiritos da floresta, representando ainda os ancestrais, os espíritos dos animais e todo tipo de espírito da floresta. Na África, nenhum caçador ousa aventurar-se na floresta sem o seu IRUKERÉ.

IRUNMALÉ - Entidades . divinas, - cuja- existência remonta aos primórdíos do Universo, cujo AXÉ e domínios de ação foram transmitidos diretamente por OLORUM. Há também os IRUNMALÉ-ASCESTRES, espíritos de seres humanos; ambos são objeto de cultos separados. São agrupados, pertencentes à direita (detentores dos poderes masculinos) e à esquerda (detentores dos poderes femininos), sendo quatrocentos da direita e duzentos da esquerda. Os quatrocentos da direita são os ORIXÁS encabeçados por OXALÁ, e os duzentos da esquerda são os EBORÁS encabeçados por ODUDWUA, sendo que EXU transita livremente entre a direita e a esquerda.

IRUNMALÉ-ASCESTRES - Espíritos dos seres humanos. (Víde: EGUM.)

IYALODÊ - Título atribuído a OXUM, significando: aquela que comanda as mulheres, arbitra litígios, é responsável pela boa ordem na feira.

IYALORIXÁ - Mulher chefe do terreiro ou roça nos rituais e cerimõnias do CANDOMBLÉ. (Vide: BABALORIXÁ.)

IWÁ - Princípio da existência. um dos três princípios ou forças que compoem o Universo e tudo o que existe. (VIde: AXÉ e ABÁ.)

KETO - Região iorubá (África), onde OXÓSSI foi Rei. Esse país foi "completamente destruído e saqueado pelas tropas do rei do Daomé, no século passado, e seus habitantes, inclusive os iniciados de 0xóssi, foram vendidos como escravos para o Brasil e Cuba. Esses africanos trouxeram consigo o conhecimento ritual de clebração desse culto. Chegou-se a tal ponto que, embora existindo ainda em Kêto os locais onde 0xóssi recebia outrora oferendas, e sacrifícios, já não existem atualmente pessoas que saibam ou desejam cultuá-lo." (Pierre Fatumbi Verger, 1986, p.113.)

LABÁ Objeto sagrado de XANGÔ: capanga de couro pintada, feita na África, com desenhos sagrados, dividida em quatro partes.

LAROYE - Nome pelo qual EXU é chamado, quando se manifesta.

LOGUN EDÉ - ORIXÁ filho de OXÓSSI e OXUM, mulher durante seis meses, vivendo na água, homem nos outros seis meses, vívendo no mato. Propicia caça. Apresenta-se com as ferramentas cerimoniais de OXUM e OXOSSI, acompanhando suas danças.

NAGÔ - Designação genérica dos IORUBÁS no Brasil. (Vide: I0RUBÁ.)

NANÃ - ORIXÁ também chamada NANÃ BURUKI, NANÃ BUKUU e

NANÃ BRUKUNG, dos primórdios da criação, associada a água, à lama e à morte. Seu aspecto de "conter e processar' as coisas em seu interior, esse segredo ou mistério que se opera em suas entranhas escuras, expressa-se pela cor azul--escura que a representa. As cores que a representam são uma combinação de partes iguais de branco e de azul escuro e e assim que, no colar que distingue suas sacerdotízas, as contas azuis alternam com as contas brancas." (Juana Elbeín dos Santos, 1984, p. 81182.) NANÃ é macho e fêmea, colocada na mesma hierarquia que OXALÁ, considerada sua mulher.

NANÃ, palavra cujo significado à "mie", tem como seus filhos os mortos e os ancestrais. Quando se manifesta "em suas sacerdotízas, dança com movimentos lentos e dignos. ( ... ) Para engendrar, ela precisa ser constantemente ressarcida. Ela récebe, em seu selo, os mortos que tornarão possívels os rénascimentos." (Juana Elbein dos Santos, 1984, p.81.) NANÃ carrega na mão esquerda o IBIRI.

OBÁ - ORIXÁ feminino, terceira mulher de XANGÔ tendo sido ainda, segundo alguns mitos, mulher de OGUM, assim como OXUM também o foi. OBÁ à ligada à água, guerreira pouco feminina. A dança de OBA e também guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na outra.

OBALUAÊ - Rei Dono da Terra, um dos nomes de OMULU. "Oàlú - aiyé, Oba + olu + aiyé, Rei de todos os espíritos do mundo, detém e lidera o poder dos espíritos e dos ancestrais que o seguem e ele oculta sob a ráfia o mistério da morte e do renascimento, o mistério da gênese.'' (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 99.)

ODU - Destino Individual da pessoa, desligada de sua origem divina; identidade profunda da pessoa, servindo-lhe de gula por toda vida. (Vide: ORI, IPORI, ELEDÁ, IFÁ.)

ODUDUWA É mais uma figura histórica do que um ORIXÁ. Guerreiro temível, foi fundador da cidade de IFÉ e pai de diversos reis de diversas nações iorubás, tornando-se objeto de culto após sua morte - portanto, no âmbito de culto dos ancestrais. É grande sua importância, no entanto. Recebeu de OLORUN o elemento terra, com o qual fez o AIYÉ. (Vide: OXALÁ.) ODUDUWA encabeça os duzentos IRUNMALÉ da esquerda que à reúne todas as entidades sobrenaturais detentoras dos poderés femininos -identificados com a terra. As pessoas que cultuam ODUDUWA não entram em transe.

OFO - Palavras, cuja força desperta os poderes das plantas no culto de OSSAIN.

ODUNDUN - Espécie de vegetal da África.

OGAN - Nas cerimônias rituais do CANDOMBLÉ, nome dado aos tocadores de atabaque que entoam, ainda, cantos, possibilitandoa vinda dos ORIXÁS.

OGUM - Filho de YEMANJÁ, afeiçoado a EXU e OXOSSI, foi casado com IANSÃ, que o abandonou por XANGÔ, e também com OXUM e OBÁ, mas prefere viver só. É o ORIXÁ do ferro, da civilização, da técnica e também da virilidade. Emalguns mitos é considerado filho de ODUDUWUA, tornando-se Rei de IFÉ quando ODUDUWUA tornou-se temporariamente cego. Seu pai é OXALÁ, éstando OGUM profundamente relacionado aos mistérios das arvores. As origens de OGUM datam de tempos proto-históricos, e sua função é daquele que toma a vanguarda, que vai na frente Destemidocaçador, conhecendo a floresta, Inventa armas e ferramentas - primeiro de pedra, depois de ferro. Está associado à remota época em que o caçador foi a vanguarda da clvilização. Sua progenitura converte em irmão quase girmãoemeo de EXU, com quem frequentemente se confunde.

OKOTÓ - Caracol, símbolo de EXU, representa a espiral da evolução, relacionando-se também com o significado dinâmico do triângulo e do cone -enquanto expansão e crescimento - na medida em que se reduzem a três, enquanto unidade dinâmica fundamental do CANDOMBLÉ. 0 OKOTO "é uma espécie de.caracol e aparece nos motivos das esculturas e como emblema entre os que fazem parte do culto de Èsù. Ele consiste em uma concha cuja base é aberta, utilizada como um pião. 0 Okòtó representa a história ossificada do desenvolvimento do caracol e reflete a regra a qual se deu o processo de crescimento (... ) um crescimento constante e proporcional, uma continuidade evolutIva de ritmo regular. 0 Òkòtó simboliza um processo de crescimento. 0 Okótó é o piãoque apoiado na ponta do cone - um sópé, um único ponto de apoio - rola 'espiraladamente' abríndo-se a cada revolução, mais e mais, até converter-se numa circunferência infinita (cume oco)." (Juana Elbeín dos Santos, 1984,

p. 133.)

OLORUM - "Olorum, entidade suprema, o + ni + òrun, aquele" que é ou possui Òrun, não à apenas um deus ligado ao céu como o pretendem certos autores, mas aquele que ou possui todo o espaço abstrato paralelo ao àjyé, senhor de todos os seres espirituais, das entidades divinas, dos ancestrais de qualquer categoria e dos dobles; espirituais de tudo que vive." (Juna Elbein dos Santos, 1984, p.

OLOOKUN - ORIXÁ. masculino em BENIN e feminino em IFÉ, sempre do mar, pai de YEMANJÁ.

OMULU - Também chamado OBALUAÊ (Rei dono da Terra) e XAPANÃ, OMULU (Filho do Senhor) é o ORIXÁ da varíola e doenças contagiosas, cujo nome é perigoso de ser mencionado: ele à aquele que pune os malfeitores e Insolentes, enviando-lhes a varíola. EBORÁ filho de NANÃ, OMULU está relacionado com a terra, troncos e ramos, das árvores, transporta AXÉ preto, vermelho e branco - cores que o representam; porém, "sua materia de origem e a terra e como tal ele e o resultado de um processo interior; seu significado profundo está associado com o preto, com o segredo contido no interior do ''ventre fecundado' e com os espíritos contidos na terra que são seus irmãos e dos que ele à símbolo". (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 97.) Os albinos e os marcados pela varíola são considerados filhos de OMULU. Quando semanifesta, as sacerdotízas de OMULU devem ser recobertas por uma vestimenta sagrada feita de "palha da Costa" (África), ráfia africana, que consiste numa seleta e espécie de chapéu trançado em forma de cone sobre a cabeça, "cujas fibras superiores formam uma pequena vassoura. Em sua extremidade Inferior, as fibras de rãfia são deixadas livres e desfiadas a fim de formar uma cortina densa que cobre inteiramente o rosto da sacerdotiza possuída e desce até o meio do peito. A saieta feita com a mesma ráfia desfiada completa a vestimenta". (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 98.) OMULU traz nas mãos o SASSARÁ, espáciede vassoura sagrada, com o qual limpa, varre as doenças, as impurezas e os males espirituais.

ORI - Cabeça em língua iourubá. O corpo e constituído por duas partes inseparáveis: a cabeça (ORI) e o seu suporte (APERETÉ), sendo que para adquirir existência, o corpo deve receber e conter EMI, princípio da exitãncia genérica, elemento original soprado por OLORUM. "Cada elemento constitutivodo ser humano é derivado de uma entidade de origem que lhe transmite suas propriedades materiais e seu significado simbólico. Essas entidades de origem ou progenitores, existencia genérica ou 'matéria massa" ancestrais divinos ou familiares, são símbolos coletivos míticos dos quais partes individualizadas se despreendem para constituir os elementos dos Indivíduos. Esses elementos possuem dupla existãncia: enquanto uma parte reside no òrum, o espaço infinito do mundo sobrenatural, a outra parte reside no individuo, em regiões particulares de seu corpo, ou em estreito contato com ele. 0 doble do indivíduo que reside no òrum, pode ser invocado ou representado. ( ... ) Ori-apereré, a cabeça e o seu suporte, são modelados com porções de substâncias-massas progenitoras, mas o interior, o ori-inu, é único e representa uma combinação de elementos intimamente ligados ao destino pessoal. É esse conteúod, o ori-inu, que expressa a existência individualizada." (Juana Elbein dos Saantos, 1984, p. 204.) (Vide: ODU, IPORI, ELEDÁ, IFÁ.)

ORI-INU - 0 interior do ser individualizado, intimamente ligado ao destino pessoal. (Vide: ODU, ILEDÁ, ORI, IPORI, IFÁ.)

ORIXÁS - Deuses IORUBÁS na África e no Novo Mundo; ancestrais míticos encantados e metamorfoseados nas forças da natureza. 0 número e a importância dos ORIXÁS nos cultos, variam na África e no Novo Mundo, de acordo com diferentes tradições locais, regionais e culturais, de tal forma que ainda hoje não há homogeneidade absoluta na religião dos ORIXAS, que na África aparece fragmentada e, no Brasil, de forma mais homogênea. Em certas regiões da África, alguns ORIXÁS são cultuados, outros não. No Brasil, todos os ORIXÁS são cultuados no terreiro ou roça, onde cada umtem seu templo (ILÉ-ORIXÁ). 0 número e os domínios dos ORIXÁs roi fixado nos primórdios dos tempos por OLORUM, sendo que à rigor seriam em número de quatrocentos de direita, detentores dos poderes masculinos, encabeçados por OXALÁ. Os de esquerda, detentores dos poderes femininos, em número de duzentos, encabeçados por ODUDUWA, são chamados EBORÁS --embora no Brasil, o nome ORtXÁ aplique-se a ambos os grupos. Há em verdade linhagem de ORIXÁS; assim, na lnhagem de OXALÁ temos OXAGUIÃ e OXALUFÃ, por exemplo. Entre os ORIXÁS, há aqueles que tem origem apenas divina, como OXALÁ e EXU, e outros que têm origem divina e histórica. Narra o seguinte Pierre Fatumbí Verger (1985, p. 9):

Um babalalaô me contou:

Antigamente, os orixás. eram homens.

Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes

Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.

Eles eram respeitados por causa da sua força.

Eles eram venerados por suas virtudes.

Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.

Foi assim que estes homens se tornaram orixás.

Os homens eram numerosos sobre a terra.

Antigamente, como hoje,

muitos deles não eram valentes nem sábios.

A memória destes não se perpetrou.

Eles foram completamente esquecidos. Não se. tornarão oríxás. Em cada vila um culto se estabeleceu sobre a lembrança de um ancestral de prestígio e lendas foram transmitidas de geração em geraçao

para render-lhes homenagens.

ORIXÁ FUNFUN - ORIXÁ do branco, encabeçado por OXALÁ, porque utilizam o EFUN (giz branco) para enfeitar o corpo. Todos os ORIXÁS da linhagem de OXALÁ são chamados ORIXÁS FUNFUN. No CANDOMBLÉ prevalecem as cores vermelha, branca e preta - relaclonadas com o sangue vermelho, branco e preto que, por sua vez relaciona-se com a própria veiculação do AXÉ através dos reinos animal, vegetal e mineral. Um dos traços fundamentais dos ORIXÁS FUNFUN é sua relação com as árvores. Uma das passagens do mito da criação diz que, para cada ser humano criado, OXALÁ criava simultaneamente uma árvore no ORUN. Assim, como todas as pessoas tem um duplo, também têm uma árvore, ambos no ORUN.

ORIXALÁ - Víde OXALÁ.

ORUN - 0 Espaço sobrenatural, o outro mundo - espaço ilimitado, infinito,habitado pelos ARÁ-ORUN (habitantes do ORUN, seres ou entidades sobrenaturais). "Alguns babaláwo, sacerdotes versados-nu mistérios oraculares, descrevem o órun como composto de nove espaços. Ifátoogun, de Osogbo, descreve os nove espaços do órun dando nomes partIculares a cada um deles e os situados de maneira superposta, o do meio, coíncidíndo com o espaço da terra, quatro acima e quatro abaixo. Os nove compartimentos, formando um todo, estão unidos pelo òpó-Orun àiyé pilar que liga o órun ao àlyá." (Juana Elbein dos Santos, 1984, p. 57.)

Os NAGÓ, ao fazer suas oferendas, apresentam-nas aos quatro pontos do espaço que equivalem ao Universo: o nascente, tudo aquilo que está em vias de desenvolvimento, o que está na frente, o futuro, sendo a cabeça (ORI) equiparada ao nascente; poente, aquilo que estava na frente e cumpriu seu ciclo, está atrás, o que está morto, o passado, sendo o ESÉ (pés) que nos conduz, em contato com a terra, equiparado ao poente. Mas também à do poente, dos ancestrais, que renasce a vida, o nascente, e assim sucessivamente. 0 lado direito ciomundo e o lado esquerdo também são saudados, e também se inter-relacionam. Assim, o indivíduo é constituído de elementos da direita (herdados de seu pai e ancestrais masculinos) e da esquerda (herdados de sua mão e ancestrais femininos).

Os mitos revelam que, em tempos remotos, o AIYÉ e o ORUN não eram separados; a existência não - se desdobrava em dois niveis, e os seres dos dois espaços Iam de um a outro sem problemas. Foi após a violação de uma interdição que OXALÁ, lançou o APAXORÓ que, atravessando todos os espaços do ORUN, cravou-se no AIYÉ, separando-o do ORUN, retornando em seguida ás mãos de OXALÁ.

OSSAIN - Filho de OXALÁ e YEMANJÁ, Irmão de OGUM, OXÓSSI e XANGÔ. é o ORIXÁ da vegetação, das folhas e dos preparados, não podendo no CANDOMBLÉ nenhuma cerimônia ser feita sem sua presença. 0 culto e os ritos de OSSAIN, no entanto, não são, públicos. "0 nome das plantas, a sua utilização e as palavras (ofó), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses lorubás." (Pierre Fatumbi Verger, 1986, p.122.)

OXAGUIÃ - Uma das formas que assume OXALÁ ao incorporar-se; jovem guerreiro, nascido em IFÉ, sendo filho de OXALUFÃ.

OXALÁ, - também chamado ORIXALA e OBATALÁ, o "Grande Orixá" ou o "Rei do Pano Branco", sendo considerado de modo incontestes o mais importante ORIXÁ, o mais elevado dos deuses IQRUBÁS. Sendo o primeiroa ser criado por OLORUM, foi encarregado de criar o mundo, com o poder de sugerir (ABÁ) e o de realizar (AXÉ), sendo-lhe entregue o "saco da criação" e prescrito certas regras. Acontece que OXALÁ caiu bêbado pelas artimanhas de EXU, deixando abandonado o "saco da criação" ao seu lado. ODUDUWÁ vendo, pegou-o, levou-o a OLORUM, que ficou aborrecido, e encarregou ODUDUWÁ de criar a terra. Desconsolado, OXALÁ procurou OLORUM, que lhe deu como tarefa modelar no barro o corpo de todos os seres humanos, nos quais OLORUM insuflaria a vida. Alguns mitos narram que, para cada ser humano criado, OXALÁ criava simultaneamente uma árvore -além do duplo espiritual - no ORUN. Sucedeu, porém, uma guerra entre OXALÁ e ODUDUWÁ, para decidir quem deveria reinar, pois se ODUDWÁ havia criado a terra sobre as águas, OXALÁ havia criado da terra os seres humanos. IFÁ usou de toda sua sabedoria para que ficassem em paz, pois a guerra poria em risco toda criação. Mostrou a OXALÁ e ODUDWUÁ que a terra e todas as criaturas Inter-relacionavam-se, sendo portanto fundamentais os trabalhos dos dois ORIXÁS para toda criação. E então fez sentar ODUDUWÁ à sua esquerda e OBATALÁ à sua direita, colocando-se no centro, fazendo os sacrifícios para celar o acordo: esses sacrifícios são, anualmente, celebrados pelos NAGÔS, revivendo e reatulIzando a relação harmoniosa entre o poder feminino e o poder masculino, entre AIYÉ e o ORUN, para permitir a sobrevivãneia do Universo e continuidade da existência nos dois níveis. Assim, ORUN e AIYÉ, OXALÁ e ODUDUWÁ, o poder masculino e o poder feminino, as duas metades enfim devem permanecer unidas complementarmente. OXALÁ encabeça os quatrocentos ORIXÁS da direita, detentores dos poderes masculinos. A família de ORIXÁS ligados a OXALÁ à chamada de ORIXÁS FUNFUN, ORIXÁS do branco, porutilizarem o EFUN (giz branco) para enfeitar o corpo. São-lhes feitas oferendas de alimentos brancos, devendo as pessoas que lhes e são consagradas, vestirem-se de branco, usar colares da mesma cor e pulseiras de estanho, chumbo ou marfim. OXALUFÃ - Uma das formas que assume OXALÁ ao incorporar-se, velho apoiado num bastão de prata chamado APAXARÓ. OXALUFÃ foi Rei de ILU-AYÊ, terra dos ancestrais na África.

OXÉ - Símbolo de XANGÔ. Machadinha dupla ou de duas lâminas, de madeira ou metal, que representa o raio e, ainda, vida e reprodução. É o anti-símbolo da morte, pois XANGÔ só gosta de tudo que é quente, vivo. 0 OXÉ lembra o símbolo de Zeus, em Creta.

OXETUÁ - Representante direto de EXU, simboliza um de seus aspectos mais Importantes - o de ser encarregado de transportar as oferendas (EBÓ), dado o significado fundamental que as oferendas têm no CANDOMBLÉ. Nasceu do ventre e do AXÉ de OXUM e do AXÉ de dezesseis IRUNMALÉ,estabelecendo a relação harmoniosa entre o poder masculino e o poder feminino, restabelecido pela fertilização, pelo nascimento, pelo descendente. (Cf. Juana Elbein dos Santos, 1984, p.161.)

OXOSSI - ORIXÁ caçador por excelência, que compartilha muitas características de OGUM, sendo considerado seu irmão caçula ou seu filho, estando ligado à terra virgem e também às árvores, como OGUM. É filho de OXALÁ e YEMANJÁ. OX6SSI à considerado fundador dos primeiros terreiros no Brasil, daí sua grande importância no CANDOMBLÉ brasileiro, embora seu culto esteja quase extinto na África. 0 símbolo de OXÓSSI é um arco e uma flexa de ferro, e entre seus paramentos, figuram chifres de touro - cuja forma é o cone, relacionando-se com abundância e o elemento procriado no AIYÉ e no ORUN: isso torna o som do chifre de força inigualável, poderoso meio de comunicação entre o AIYÉ e o ORUN. Outro emblema importante de OXÓSSI à o IRUKERÉ.

OXUM - ORIXÁ feminina, genitora por exelência, ligada particularmente a procriação e associada a descendência no AYIÉ e Rainha de todos os rios, exerce seu poder sobre a água doce, sem a qual a vida não seria possível na terra.

OXUMARÉ - conforme Juana Elbein dos Santos (1984, p. 99) assim como OMULU, OXUMARÉ está relacionado com o transcurso, e com o destino, sendo OXUMARÉ considerado grande BABALAÔ Segundo um mito, é devido a suas performances como BABADAS, no início da criação, em relação ao OLOOKUN e o próprio OLORUN, que ele foi retido no ORUN. A seu pedido, é-lhe permitido voltar ao AIYÉ de três em três anos; estende então seu AXÉ sobre o mundo, nas primeiras horas da manhã, quando o sol se levante, e o AXÉ espande-se pelo mundo todo e à ativo, poderoso. Duás serpentes de ferro (signo do preto), representam-no.

OXUM EWUJI - Nome pelo qual OXUM à chamado no PADÉ, inicio de todo ritual no CANDOMBLÉ.

OYÁ - Vide IANSÃ.

OYÓ Cidade africana, situada no antigo Daomé, onde XANGÔ foi Rei.

PADÉ - cerimônia solene e privada, que só é assistida por pessoas do terreiro, resumindo e dramatizando a concepção simbólica do sistema religioso NAGÔ e o significado, a estrutura e as relações simbólicas de EXU. (Cf. Juana Elbeín dos Santos,1984, p. 130 e 185.)

RI0 OXUM - Rio que atravessa toda a região de IJEXÁ (Nigária, África), onde estio os principais templos de culto de OXUM, sendo este ORIXÁ tido como dono do Rio.

SASSARÁ - Cetro de palha da Costa ou feixe de nervura de palmeíra, simbolizando a imagem coletiva dos espíritos ancestrais, com o qual OMULO expulsa a peste e o mal.

XAPANÃ Um dos nomes de OMULU.

XANGÔ Conforme Pierre Fatumbi Verger (1986, p. 134), XANGÔ, como todo IMOLÉ, pode ser descrito sob dois aspectos: o histórico e o divino. Em seu aspecto histórico, foi Rei de OYÓ e, em seu aspectos divino, é filho de OXALÁ com YEMANJÁ, tendo três ORIXÁS como esposas: IANSÃ, OXUM e OBÁ. XANGÔ é o 0RIXÁ do fogo e comanda o trovão. "Xangô é víril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo raio infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um raio uma casa marcada pela cólera de Xangô. 0 proprietário deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vem procurar nos escombros os edun àrá (pedras do raio) lançados por Xangó e profundamente enterrados no local onde o solo foi atíngido." (Pierre Fatumbi Verger, 1986, p. 135.) Os símbolos, objetos e emblemas consagrados a XANGÔ são em madeira e cobre.

YEMANJÁ - ORIXÁ feminino, associada a água, particularmente do mar, sendo amplamente cultuada pelos pescadores e pelo povo em geral. Seu nome significa "Mãe cujos Filhos são Peixes". Compartilha quase todas as características de OXUN. YEMANJÁ é filha de OLOOKUN, ORIXÁ masculino em BENIN ou feminno em IFÉ, sempre do mar, é representada por uma sereia de longos cabelos pretos, no Brasil forma latinizada de representá-la.

BIBLIOGRAFIA

CARLOS EUGÊNIO MARCONDES DE MOURA - Candomblé.-Desvendando Identidades, Ed. EMW, 1987

CARLOS EUGÊNIO MARCONDES DE MOURA - Meu Sinal Está em seu Corpo, EDUSP, 1989

CLAUDE LEPINI - Os Tipos Psicológicos no Candomblé, Tese de Doutorado, USP

JUANA ELBEIN DOS SANTOS - Os Nagô e a Morte, Ed. Vozes, 1984

MONIQUE ANGRAS - 0 Duplo e a Metamorfose- A Identidade Mítica em Comunidades Nago, Ed. Vozes, 1984

PIERRE FATUMBI VERGER - Lendas Africanas dos Orixás, Ed. Corrupio, 1985

PIERRE FATUMBI VERGER - Orixás, Ed. Corruplo/Circulo do Livro, 1986

PIERRE FATUMBI VERGER - Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos (Báculo XVII a XIX), Ed. Corrupio, 1987

REGINALDO PRANDI e VAGNER GONÇALVES - Deuses Tribais em São Paulo, Ciência Hoje, vol. 10 P. 57

ROGER BASTIDE - O Candomblé da Bahia, Cia. Ed. Nacional, 1978

ROGER BASTIDE - As Religiões Africanas no Brasil, L1v. Pioneira Editora, 1985

ZORA SELJAY - Três Mulheres de Xangõ, IBASA/MEC, 1958

CARMINHA LEVY Mini Curriculum

Pedagoga, psicóloga clínica com especialização em Jung ( PUCSP), arte terapeuta transpessoal ( Stanislav Grof -Esalen CA), psicodramatista, Xamã.

Iniciada no Xamanismo em 1981 por Michael Harner ( Esalen), funda posteriormente a sua própria escola de xamanismo, a Paz Géia - Instituto de Pesquisa Xamânica, cuja estrutura pedagógica é a integração entre psicologia, antropologia e a sagrada sabedoria do Xamã.

Pertence a The Foundation of Shamanic Studies e a Sociedade Friends of Esalen USA.

É membro didata da Universidade da Paz ( UNIPAZ ), em Brasilia, onde ministra as Jornadas Xamânicas na Formação Holistica de Base.

Dedica-se a difusão do Xamanismo desde 1981, através de participação em Congressos Nacionais e Internacionais, palestras, Workshops e Jornadas Xamânicas em todo Brasil e no Exterior ( Flórida, Oregon, Bahamas).

Pubílicacões:

Levy, C. - Terapia Xamânica, Anais do Congresso de Terapias Afternativas São Paulo

Levy, C. - Paz na Terra e os Novos Xamãs, Anais do Congresso Holístico Internacional, Belo Horizonte - MG.

Levy, C. - Xamanismo Matriarcal, 111 Congresso Holístico Internacional, Salvador - BA.

Levy, C. e Machado - A Sabedoria dos Animais, Ed. ópera Prima, São Paulo SP.

FONTE:http://www.tranceform.org/index.php?option=com_content&view=article&id=40:candomble-a-psychological-types&catid=25:contributed-articles&Itemid=104&lang=pt


Especial Candomblé - Só para iniciados




Na Bahia, os seguidores do candomblé lidam de diferentes formas com o interesse acadêmico por seus ritos secretos
Juliana Barreto Farias

11/11/2010


No início da década de 1970, o cineasta Geraldo Sarno registrou com detalhes a iniciação de uma filha de santo num terreiro de candomblé de Cachoeira, município do Recôncavo Baiano localizado a 110 quilômetros de Salvador. Pela primeira vez, imagens do transe, dos sacrifícios de animais e de outras obrigações religiosas eram exibidas para um amplo público. Mas nem todos gostaram do que viram ali. Especialmente o povo de santo da cidade. O motivo era um só: o documentário “Iaô” mostrava rituais que só eram revelados a uns poucos iniciados. Hoje, novos filmes, livros e pesquisas, inclusive de integrantes dos próprios candomblés locais, vêm apresentando ritos, histórias e velhos personagens dos terreiros. Mesmo assim, muita coisa continua um mistério.

Não é à toa que os grupos ainda mantêm essa atitude de reserva. Durante muitos anos, os terreiros sofreram com a repressão policial e a clandestinidade. “Além disso, o candomblé, como religião de iniciação, está baseado no segredo, em saberes que são gradativamente adquiridos e determinam a posição que cada pessoa ocupa na sua hierarquia”, assinala Luis Nicolau Parés, professor de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autor do livro A formação do candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia. Mas o conteúdo desses segredos pode ser bem relativo e variável. Em algumas casas, não iniciadas não têm acesso a determinadas cantigas. Em outras, a um ebó (oferenda ou sacrifício oferecido a um orixá) ou a uma folha.

“São aberturas e resistências diferenciadas. O povo de santo de Salvador negocia a presença de pesquisadores desde os anos 1930 e tem criado mecanismos de autopreservação sofisticados, ocultando enquanto aparenta estar revelando. Já em Cachoeira, num contexto mais rural, há uma desconfiança dos mais velhos em relação aos de fora, sejam gringos ou da capital”, completa Parés. Para o historiador e antropólgo cachoeirano Luiz Claudio Nascimento Dias, filho de santo há mais de trinta anos, é muito raro um terreiro permitir que o pesquisador veja os rituais mais privativos, aqueles chamados de “fundamento do terreiro” ou “da nação”. “Mas é possível que lhe deem uma informação que permite, pelo menos, compreender o que ocorre lá dentro. Você pode não saber descrever etnograficamente, mas consegue interpretar”, diz.

Nos últimos anos, com a crescente exposição pública do candomblé e os incentivos a políticas de identidade e ao “turismo étnico”, as comunidades dos terreiros vêm se empenhando em elaborar suas próprias imagens e memórias. Nesse processo, começam a usar e abusar das mídias impressas e audiovisuais. Em Cachoeira, o Ponto de Cultura Rede Terreiro Cultural está reunindo depoimentos de ialorixás, babalorixás, ogãs (protetores do candomblé) e outros integrantes dos candomblés e de comunidades quilombolas da região. Só que os objetivos do grupo vão além do mero registro. A ideia é captá-los em seu cotidiano e ainda incentivá-los a produzir suas obras. “Isso é promoção de autoestima para uma mãe de santo, por exemplo, que poderá ver a dança de um orixá traduzida num filme com uma imagem de respeito. E não mais como uma apropriação midiática, um simulacro”, diz Lu Cachoeira, produtor cultural e um dos coordenadores da Rede. Até agora, já foram finalizados pequenos vídeos de cinco minutos para exibição em TVs públicas. Entre eles, um sobre Mãe Filhinha, em cuja casa foi filmado “Iaô”, de Geraldo Sarno. Mais adiante, a proposta é aproveitar todo o material já captado e transformá-lo em documentários mais longos. “Com isso, pretendemos estruturar um banco de registros audiovisuais fantástico, que poderá ser usado em estudos, por televisões, cineastas”, aposta o coordenador.

Mas esses “autores-atores” também têm que encarar as lógicas internas de transmissão do conhecimento. Luiz Claudio Nascimento Dias, ou Cacau Nascimento, como é mais conhecido, desde o final da década de 1970 frequenta e pesquisa os terreiros do Recôncavo Baiano. “Na verdade, quando me tornei um membro do candomblé, fiquei esse tempo todo mais preocupado em conhecer a história de Seu Nezinho do Portão, de Tio Anacleto, de Tia Didi, de como aquele terreiro se formou ou o significado do que está sendo cantado do que em aprender o andamento ritual. Hoje, dentro de um terreiro, sei mais falar sobre sua origem do que dizer como ali se canta para o orixá”. Nesse percurso, Cacau foi fazendo entrevistas com líderes e personalidades das casas de Cachoeira e São Félix, como guaiaku Luiza ou o ogã Boboso, juntando fotografias antigas e vídeos de cerimônias em seu terreiro, o Ilê Lebanekum, onde sua mulher e sua sogra são ialorixás. Nem por isso ele parece ter dúvidas quanto aos aspectos mais ocultos de sua religião. “Eu tenho uma autocensura. Na hora, penso: ‘não posso falar isso’. Às vezes chego a me sentir culpado por estar revelando uma coisa que me pediram para não revelar. Mas tenho facilidade de chegar, interpretar e dizer o que você quiser sobre candomblé, sem entrar nos aspectos mais internos”, conta o pesquisador, reconhecido como uma “espécie de consultor dos terreiros de Cachoeira”.

Embora não seja um iniciado, o antropólogo espanhol Luiz Nicolau Parés também adotou uma “autocensura etnográfica” em suas andanças pelos candomblés baianos. Seguindo conselhos do fotógrafo e pesquisador francês Pierre Verger (1902-1996), sempre procurou ser “bem-educado”, ou seja, comportar-se conforme as regras e expectativas do grupo e, na medida do possível, evitar fazer perguntas, já que assim poderia “denunciar sua ignorância”. No momento de passar as observações para o papel, os cuidados continuaram. “Aquilo que me disseram para não ser revelado, eu respeitei. Ora, posso ter cometido erros ou, para algum leitor, ter ido além do permissível. Nos casos em que isso me foi comunicado, pois fui visitar as casas depois da publicação, eu corrigi na segunda edição”, afirma. No fim das contas, a obra obteve uma reação bem positiva em Cachoeira. Para surpresa de Parés, foi considerada uma iniciativa que valorizou a cultura religiosa e a história local, e ainda contribuiu para aumentar o prestigio e a autoestima das comunidades.

De fato, o interesse por essas memórias está cada vez mais evidente nas ruas da cidade. “Outro dia, fizemos o registro num terreiro de Dona Lira. Durante as filmagens, as pessoas manifestadas com o santo aparecem de uma maneira tranquila, não têm qualquer inibição. Mas depois querem se ver como espetáculo também. Quando passo nas ruas, elas falam: ‘Ô Lu, e aquele material? Como eu faço para ver? Ter uma cópia?’. A gente quer fazer o filme. A população, ver o registro”, conta Lu Cachoeira. No Ilê Lebanekum, um cinegrafista eventual costuma varar as madrugadas filmando as festas. No dia seguinte, retorna ao terreiro trazendo o material gravado. “Todo mundo bota esteira no salão e senta para assistir ao que aconteceu naquela noite. O povo todo chora lembrando. E os vídeos depois ainda circulam entre as pessoas”, garante Cacau Nascimento. 

Com ou sem mistério, as comunidades de candomblé de Cachoeira contam suas histórias, abrem suas portas (mas sem escancarar) para pesquisadores e cineastas, e também começam a criar seus memoriais, homenageando mães e pais fundadores. Em tempos de proliferação de igrejas evangélicas e seitas eletrônicas, essas estratégias só contribuem para “levantar” os terreiros e garantir sua preservação.

FONTE:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/especial-candomble-so-para-iniciados


Abiyan-Ketu/Nagô: Seus Deveres e Responsabilidades




O Abiyan é toda pessoa que depois de fazer uma consulta através dos búzios com o Babalorixá ou Iyalorixá, tenha tomado no mínimo um Obí  e tenha um fio de contas lavado de Oxalá..

Os procedimentos e comportamentos básicos do Abiyan:

Estar vestido de branco principalmente se a casa for de Oxalá, ressaltando que:
- Homens – calça comprida e camisa branca;

- Mulheres – Vestido ou saia/camisa branca;

Ao chegar ir direto beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas e evitar qualquer conversa;

 Tomar seu banho de ervas e colocar sua roupa de morin;

Bater a cabeça no Axé, na porta dos quartos de Santo; para o Babá/Iyá, “trocar” à benção com TODOS os seus irmãos, sendo por ordem hierárquica (dos mais velhos aos mais novos), de acordo com a ordem iniciada;

Perguntar ao Babá/Iyá, sobre a função que deverá fazer na Casa; muitas vezes por ordem do Babá/Iyá, as funções podem ser determinadas pelas Ajoiês (Ekédis) da Casa.

O Abiyan deverá fazer suas refeições sentado na ení (esteira), e assim que terminarem, deverão levantar as mesmas e guardá-las. Não devem colocar os pés calçados nas enís;

O Abiyan somente poderá dormir em ení, caso se faça necessário terá a autorização do Babá/Iyá para dormir nos quartos dos Orisás;

O Abiyan ao acordar não deve falar com ninguém, deve antes beber um pouco de água: isso é para apagar os vestígios ou traços negativos provocados pelo mau hálito;

O Abiyan não deve ocultar do Babá/Iyá qualquer tipo de dúvida, problema e mal entendido;

O Abiyan não deve fumar na frente de seu Babá/Iyá;

O Abiyan nunca fica de pé em frente ao Babá/Iyá e sim agachado, com a cabeça baixa;

O Abiyan nunca interrompe o Babá/Iyá quando estiver conversando com alguém. 

Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogans, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é correto que os filhos se abaixem próximo a ele para dirigir a palavra. Diz então: “AGÔ” (licença), espera ele dizer “AGÔ YA” e de cabeça baixa falar com ele em tom de voz baixa;

O Abiyan não deve passar pelo o Babá/Iyá com a cabeça erguida, e sim um pouco curvado para frente;

O Abiyan sempre que for servir o Babá/Iyá, deve-se levar o pedido numa bandeja ou prato e abaixar-se para servir;

O Abiyan só deverá entrar nas rodas de Xirê se forem chamados pelo Baba/Iyalorixá;

O Abiyan tem suas funções na casa relacionadas à limpeza e manutenção, salvo se for um Abiyan antigo e de confiança poderá exercer outras funções;
O Abiyan não tem Orixá definido ainda, por isso é denominado um Abiyan (aquele que está começando em um novo caminho) mesmo que venha de outra casa;

O Abiyan deverá sempre pedir “Agô” para entrar e sair de cada ambiente do terreiro e esperar a resposta, “Agô ya” de um mais velho;

O Abiyan só poderá ir embora com autorização do Baba/Iyalorixá;

O Abiyan não questiona rituais litúrgicos de sua casa, respeita a hierarquia e se coloca sempre no seu lugar;

O Abiyan deve aproveitar o máximo este período de aprendizado, humildade e retidão, pois é neste momento que irão refletir quanto a futura iniciação, as responsabilidades do que é ser um Adôxu, um Iyawó.

A vivência no axé, a disciplina, observar o comportamento dos mais velhos, ser verdadeiro com seus sentimentos para com o Orixá, estar despojado de vaidades, e entender que o mais importante não é “fazer o santo e sim saber o porquê de se iniciar para o santo”. 

Não há pressa para iniciação, Orixá entende e nos concede essa oportunidade de aperfeiçoamento e adaptação, salvo as raras exceções.

Ser um bom Abiyan é estar se preparando para no futuro ser um bom Iyawó e assim como ser for um bom Iyawó é estar se preparando para ser um bom Ègbón.

FONTE:http://ocandomble.wordpress.com/2012/04/18/abiyan-ketunago-seus-deveres-e-responsabilidades/
 De: Mônica D’Òsóòsì Iyá Kèkèré do Ilé Àse Òsòlùfón-Íwìn


Como regularizar seu terreiro.




by tomeje
Seguem abaixo todas as informações sobre os direitos legais dos terreiros. 

E também um modelo (sugestão somente) de como se consegue registro de utilidade pública , isenção e imunidade tributárias, doações etc. 
 Instruções gerais para dar os primeiros passos.


Para se abrir legalmente um centro de Umbanda, a primeira coisa a fazer é o registro em cartório de pessoas jurídicas e a retirada do número de CNPJ.


Mesmo sendo uma instituição sem finalidade lucrativa, o CNPJ, Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas é necessário, bem como o controle fiscal/financeiro da instituição.


É necessária a formação de uma diretoria, uma assembléia de inauguração, que ira definir os primeiros parâmetros e detalhes dos postulados que regerão a casa. 

Esta reunião, no papel, é a ATA DE ABERTURA DO CENTRO, que juntamente com o ESTATUTO irá ser registrada em cartório. 

Em alguns Estados exige-se que essa ATA e Estatuto estejam assinados por advogado credenciado na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Feito isso, redigindo o estatuto que rege as normas e objetivos da instituição religiosa e registrando em cartório, já se pode entrar com o pedido do cadastro jurídico, o CNPJ. 

Este cadastro leva alguns dias para ser expedido.

Vale lembrar que até aqui, o centro estará regularizando seu reconhecimento jurídico em âmbito nacional, não tendo qualquer relação com alvarás de funcionamento e/ou qualquer outro documento que compete a outros órgãos expedir (no Rio de Janeiro, foi extinta a exigência de alvará de funcionamento há mais de 40 anos).

Segue abaixo um modelo de ESTATUTO que poderá ser utilizado e até mesmo adaptado. Caso tenha alguma dificuldade, as entidades federativas umbandistas poderão dar mais informações, como por exemplo, a Federação Brasileira de Umbanda  (fbu@fbu.com.br)


Templos religiosos são instituições sem fins lucrativos

I – Conceitos e objetivos de uma associação sem fins lucrativos:
Associação é uma entidade de direito privado, dotada de personalidade jurídica e caracterizada pelo agrupamento de pessoas para a realização e consecução de objetivos e ideais comuns, sem finalidade lucrativa. Uma associação sem fins lucrativos poderá ter diversos objetivos, tais como: instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, etc.;
II – Características de uma associação sem fins lucrativos:
1. constitui a reunião de diversas pessoas para a obtenção de um fim ideal, podendo este ser alterado pelos associados;
2. ausência de finalidade lucrativa;
3. o patrimônio é constituído pelos associados ou membros;
4. reconhecimento de sua personalidade por parte da autoridade competente.
III – Roteiro para constituição e registro de associações:
1. elaboração e discussão do projeto e Estatuto Social;
2. assembléia Geral de constituição da Associação;
3. registro do Estatuto e Ata da Assembléia de constituição em Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas;
4. obtenção de inscrição na Receita Federal – CNPJ;
5. inscrição na Secretaria da Fazenda – Inscrição Estadual (se vender produtos);
6. registro da entidade no INSS;
7. registro na Prefeitura Municipal.
IV – Documentos exigidos pelo cartório:
1. requerimento do Presidente da Associação – 1 via;
2. estatuto Social – 3 vias, sendo 1 original e 2 cópias assinadas ao vivo por todos os associados e rubricada por advogado com registro na OAB (em alguns estados da Federação);
3. ata de constituição – 3 vias;
4. RG do Presidente.
V – Efeitos do Registro:
As entidades sem fins lucrativos passam a ter existência legal com sua inscrição no Registro das Pessoas Jurídicas (art. 114 da Lei nº 6.015, de 31/12/73).
Uma vez atendidos todos os procedimentos de registro, o Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas expedirá, em nome da associação, a certidão de Personalidade Jurídica, que será a prova da sua existência legal.
VI – Imposto de Renda:
Atendidas as disposições legais, as pessoas jurídicas sem fins lucrativos, em relação ao imposto de renda, podem ser imunes ou isentas. A imunidade é concedida pela Constituição Federal enquanto a isenção é concedida pelas leis ordinárias, devendo ser aplicada, uma ou outra, conforme o caso concreto.
VII – Imunidade Tributária:
A Constituição Federal estabelece as hipóteses de IMUNIDADE de impostos às entidades sem fins lucrativos no artigo 150, VI, “C”, in verbis:
“Art. 150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI – instituir impostos sobre: c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei”.

A Lei nº 9.532/97, alterada pela Lei nº 9.718, de 27.11.98, estabeleceu os critérios para que as entidades enquadradas no dispositivo constitucional acima transcrito possam gozar do benefício:
- Para efeito do disposto no art. 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição, considera-se imune a instituição de educação ou de assistência social que preste os serviços para os quais houver sido instituída e os coloque à disposição da população em geral, em caráter complementar às atividades do Estado, sem fins lucrativos.

- Considera-se entidade sem fins lucrativos a que não apresente “superávit” em suas contas ou, caso o apresente em determinado exercício, destine referido resultado, integralmente à manutenção e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais.
- Excluem-se da imunidade, os rendimentos e ganhos de capital auferido em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável.
- Para o gozo da imunidade, as instituições estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:
a) Não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados;
b) Aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos seus objetivos sociais;
c) Manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;
d) Conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas despesas, bem como a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial;
e) Apresentar, anualmente, declaração de rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da secretaria da receita federal;
f) Recolher os tributos retidos sobre os rendimentos por elas pagos ou creditados e a contribuição para a seguridade social relativa aos empregados, bem como cumprir as obrigações acessórias daí decorrentes;
g) Assegurar a destinação de seu patrimônio à outra instituição que atenda às condições para gozo da imunidade, no caso de incorporação, fusão, cisão ou de encerramento de suas atividades, ou a órgão público; h) Outros requisitos, estabelecidos em lei específica, relacionados com o funcionamento das entidades a que se refere este artigo.
VIII – Isenção Tributária:
Gozarão de isenção as sociedades e fundações de caráter beneficente, filantrópico, caritativo, religioso, cultural, instrutivo, científico, artístico, literário, recreativo, esportivo e as associações e sindicatos que tenham por objeto cuidar dos interesses de seus associados, desde que observem os requisitos exigidos pela legislação: a Lei nº 9.532/97 estabeleceu os critérios para que as entidades possam gozar da ISENÇÃO TRIBUTÁRIA:
- Consideram-se isentas as instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural e científico e as associações civis que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se destinam, sem fins lucrativos; (§ 3º do art. 12 da Lei nº 9.532/97, conforme nova redação dada pela Lei nº 9.718/98).
- A isenção aplica-se, exclusivamente, em relação ao IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) e à C.S.L.L. (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido); (art. 15 da Lei nº 9.532/97).
- Estas entidades estão sujeitas a recolher o PIS no montante equivalente a 1% sobre a folha de pagamento (Lei nº 9.715/98, arts. 2º, II e 8º, II).
- Excluem-se da isenção do imposto de renda os rendimentos e ganhos de capital auferidos em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável.
- Quanto a COFINS, a Medida Provisória nº 1.858, reeditada sob os nºs 1991, 2.037, 2.113 e, por último, Medida Provisória nº 2.158, de 24.08.2001, estabeleceu em seu art. 14, Inc. X que, a partir de 01 de fevereiro de 1999, não incidirá este tributo sobre as atividades próprias das associações e fundações sem fins lucrativos.
Para o gozo da isenção, as instituições estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos:
a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados;
b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos seus objetivos sociais;
c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão;
d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas despesas, bem como a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial;
e) apresentar, anualmente, Declaração de Rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal.
Aplicam-se à entrega de bens e direitos para a formação do patrimônio das instituições isentas as disposições do art. 23 da Lei nº 9.249, de 1995:
“Art. 23 – As pessoas físicas poderão transferir às pessoas jurídicas, a título de integralizacão de capital, bens e direitos pelo valor constante da respectiva declaração de bens ou pelo valor de mercado. Parágrafo 1º – Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não se aplicando o disposto no art. 60 do Decreto-lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, e no art. 20, II, do Decreto-lei nº 2.065, de 26 de outubro de 1983. Parágrafo 2º – Se a transferência não se fizer pelo valor constante da declaração de bens, a diferença a maior será tributável como ganho de capital”.
IX- Imunidade / Isenção – Penalidades:
Sem prejuízo das demais penalidades previstas na lei, a Secretaria da Receita Federal suspenderá o gozo da imunidade, relativamente aos anos-calendários em que a pessoa jurídica houver praticado ou, por qualquer forma, houver contribuído para a prática de ato que constitua infração a dispositivo da legislação tributária, especialmente no caso de informar ou declarar falsamente, omitir ou simular o recebimento de doações em bens ou em dinheiro, ou de qualquer forma cooperar para que terceiro sonegue tributos ou pratique ilícitos fiscais.
- Considera-se, também, infração a dispositivo da legislação tributária o pagamento, pela instituição imune, em favor de seus associados ou dirigentes. Ou, ainda, em favor de sócios, acionistas ou dirigentes de pessoa jurídica a ela associada por qualquer forma, de despesas consideradas indedutíveis na determinação da base de cálculo do imposto sobre a renda ou da contribuição social sobre o lucro líquido.
- À suspensão do gozo da imunidade aplica-se o disposto no art. 32 da Lei nº 9.430, de 1996.
X – Contribuições e Doações Feitas às Associações:
Prevê o Regulamento do Imposto de Renda – Decreto 3.000/99:
Art. 365 – São vedadas as deduções decorrentes de quaisquer doações e contribuições, exceto as relacionadas a seguir (Lei nº 9.249, de 1995, art. 13, inciso VI, e parágrafo 2º, incisos II e III):
I – As efetuadas às instituições de ensino e pesquisa cuja criação tenha sido autorizada por lei federal e que preencham os requisitos dos incisos I e II do art. 213 da Constituição, até o limite de um e meio por cento do lucro operacional, antes de computada a sua dedução e a de que trata o inciso seguinte;
“Art. 213 – I. Comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II. Assegurem a destinação de seu patrimônio à outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades”.
II – As doações, até o limite de dois por cento do lucro operacional da pessoa jurídica, antes de computada a sua dedução, efetuadas a entidades civis, legalmente constituídas no Brasil, sem fins lucrativos, que prestem serviços gratuitos em benefício de empregados da pessoa jurídica doadora, e respectivos dependentes, ou em benefício da comunidade onde atuem observadas as seguintes regras:
a) As doações, quando em dinheiro, serão feitas mediante crédito em conta corrente bancária diretamente em nome da entidade beneficiária.
b) A pessoa jurídica doadora manterá em arquivo, à disposição da fiscalização, declaração, segundo modelo aprovado pela Secretaria da Receita Federal, fornecida pela entidade beneficiária, em que esta se compromete a aplicar integralmente os recursos recebidos na realização de seus objetivos sociais, com identificação da pessoa física responsável pelo seu cumprimento, e a não distribuir lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou associados, sob nenhuma forma ou pretexto.
c) A entidade civil beneficiária deverá ser reconhecida de utilidade pública por ato formal de órgão competente da União, exceto quando se tratar de entidade que preste exclusivamente serviços gratuitos em benefício de empregados da pessoa jurídica doadora, e respectivos dependentes, ou em benefício da comunidade onde atuem.
XI – Utilidade Pública Federal:
Os objetivos da associação poderão ser para fins humanitários, culturais, literários, etc., colimando, exclusivamente, ao bem estar da coletividade, podem ser declarados de utilidade pública, desde que atendidos os requisitos previstos em lei.
O pedido de declaração de utilidade pública será dirigido ao Presidente da República, por intermédio do Ministério da Justiça, sendo a declaração proveniente de decreto do Poder Executivo.
O Decreto de Utilidade Pública propicia, entre outras vantagens, o acesso a verbas públicas, isenção de contribuição ao INSS e percepção de donativos.
XII – Requisitos para se Requerer a Utilidade Pública – Federal:
O requerente deverá preencher os seguintes requisitos do Art. 2 do Decreto 50.517/61 in verbis:
A. “Que se constituiu no Brasil”.
B. “Que tem personalidade jurídica”.
C. “Que esteve em efetivo e contínuo funcionamento, nos três anos imediatamente anteriores, com a exata observância dos estatutos”.
D. “Que não são remunerados, por qualquer forma, os cargos de diretoria, conselhos fiscais, deliberativos ou consultivos e que não distribui lucros, bonificações ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou associados, sob nenhuma forma ou pretexto”.
E. “Que, comprovadamente, mediante a apresentação de relatórios circunstanciados dos três anos de exercício anteriores à formulação do pedido, promova educação ou exerça atividades de pesquisa científicas, de cultura, inclusive artísticas ou filantrópicas, estas de caráter geral ou indiscriminado, predominantemente”.
F. “Que seus diretores possuam folha corrida e moralidade comprovada”.
G. “Que se obriga a publicar, anualmente, a demonstração da receita e despesa realizada no período anterior, desde que contemplada com subvenção por parte da União, neste mesmo período”.
XIII – Utilidade Pública – Estados e Municípios:
Grande parte dos Estados e Municípios possui legislação própria sobre declaração de Utilidade Pública de algumas entidades sem fins lucrativos e, salvo ligeiras modificações, as leis estaduais e municipais seguem a mesma orientação traçada pela legislação federal.  
 (Modelo de ata para abertura de um terreiro)
ATA DE CONSTITUIÇÃO DO (nome do terreiro)
Aos XX dias do mês XX de 2011, reuniram-se no endereço (sede do terreiro), com a presença dos seguintes membros: Fulano, Sicrano, Beltrano et. Foi eleita a diretoria do (nome do terreiro), que ficou assim constituída: Diretor de culto, (nome), Presidente, (nome), 1º vice presidente, (nome), Secretário, (nome), Tesoureiro, (nome) (acrescentar quantos cargos desejar). Feita a chamada dos membros fundadores constatou-se a presença dos seguintes irmãos: (lista-se os irmãos presentes) Os membros fundadores do (nome do terreiro) se manifestaram satisfeitos com as respostas dadas, votando favoravelmente à organização da instituição. A seguir, o diretor de culto rogou pelas bênçãos de Deus sobre o nome do terreiro. PRIMEIRA ASSEMBLEIA DO (nome do terreiro) – Em prosseguimento, o  presidente declarou, para o fim especial de ser eleita a sua primeira diretoria, a relação de diretores, assim constituída: Diretor de culto, (nome), Presidente, (nome), 1º vice presidente, (nome), Secretário, (nome), Tesoureiro, (nome) (acrescentar quantos cargos desejar). Solenidade de posse – Feita a chamada e apresentação dos irmãos eleitos, o diretor de culto deu posse à nova diretoria. Encerramento – O Presidente declarou a reunião encerrada. E para constar em testemunho da verdade, lavrei a presente ata, que vai por mim assinada juntamente com o presidente (seguem-se a assinatura do diretor de culto e do presidente)
Sugestão de Estatuto
Estatuto do Centro de Umbanda (NOME DO CENTRO) 
CAPÍTULO I – DA DENOMINAÇÃO
Art. 1º – Sob a denominação de Centro de Umbanda “NOME DO CENTRO”, fica instituída esta associação civil sem fins econômicos, que regerá por este Estatuto, pelo regimento interno e pelas normas legais pertinentes.

CAPÍTULO II – DA SEDE
Art. 2º – O Centro de Umbanda “NOME DO CENTRO”, terá sua sede e foro na cidade de ____________, na Rua __________ – Bairro _________, CEP__________, fundado pelo Sr. NOME DO FUNDADOR,
CAPÍTULO III – FINALIDADES E OBJETIVOS
Art. 3º – Trata-se de instituição filantrópica, com personalidade jurídica, de caráter religioso, destinada ao estudo e prática dos Cultos Afro-Brasileiros e do Ritual Litúrgico de Umbanda.

I. A prática da caridade, beneficência moral, espiritual e material.
II. Ao estudo e pesquisa do aspecto científico, filosófico e histórico da cultura afro brasileiro bem como sua difusão através de cursos, palestras e quaisquer formas possíveis que objetivem o resgate destas tradições.
III. A difusão entre as associações, para estabelecer maior vínculo de geral solidariedade, e de fraternidade entre a família dos praticantes do culto afro-brasileiro e do ritual litúrgico de Umbanda.
IV. A criação de serviços à comunidade nas áreas de esportes e cultura.
a) Para o estudo da doutrina, serão instaladas aulas teóricas e práticas experimentais.
Art. 4º Todos os serviços e atividades referentes ao artigo anterior serão organizados e divididos em departamentos a critério da Diretoria.
Art. 5º Para todos os serviços e atividades referentes ao Artigo 3º serão elaborados regulamentos internos, para regularem sua administração e atividade.
I. Os regulamentos internos, para os departamentos e diversos serviços da associação, serão elaborados e postos em execução pela diretoria.
II. Os diretores dos diversos departamentos ficam obrigados a aceitar o cargo designado pela diretoria, ao qual ficam subordinados.
CAPÍTULO IV – DOS SÓCIOS, SEUS DIREITOS E DEVERES.
Art. 6º O número de sócios será ilimitado, com pessoas de ambos os sexos, sem distinção de cor, nacionalidade e religião.
Art. 7º Os sócios não respondem subsidiariamente pelas obrigações contraídas pela associação.
Art. 8º O quadro social compor-se-á das seguintes categorias:
I. Associados Fundadores, os que assinarem a ata de instalação definitiva da associação.
II. Associados Contribuintes, os que contribuem mensalmente.
III. Fica atribuído a diretoria o direito de recusar a administração do candidato proposto, assim quando resolvido na reunião.
IV. Em caso de associado contribuinte, assumir o compromisso de honrar pontualmente com as contribuições associativas.
V. É direito do associado demitir-se quando julgar necessário, protocolando junto a Secretária da Associação seu pedido de demissão.
Art. 9º São deveres dos associados, respeitarem a associação, e prestarem a melhor ajuda, quer material ou espiritual.
I. Pagarem as suas contribuições pontualmente.
II. Cumprir e fazer cumprir o presente Estatuto.
III. Cumprir e fazer cumprir o regimento interno
IV. Zelar pelo bom nome da Associação.
V. Estudar a doutrina espiritualista, a Lei e a prática dos cultos afro-brasileiros e do ritual litúrgico de Umbanda, esforçando-se para progredir, pautando seus atos de elevada moral.
VI. Aceitar, salvo quando justificado a recusa, o cargo para o qual forem eleitos ou designados, trabalhando, para o desempenho do cargo ou função que ocuparem.
CAPÍTULO V
Art. 10º A associação citada neste estatuto, será administrada por uma diretoria composta por 10 membros.
Art. 11º A diretoria compor-se-á de um Presidente, um Vice-Presidente, 1º e 2º Secretário, 1º e 2º Tesoureiro e um Conselho de quatro pessoas.
Art. 12º O Presidente e o Vice Presidente serão os Comandantes chefes da associação.
Art. 13º Os demais cargos terão validade por 2 (dois) anos, a partir da data de aprovação deste estatuto, e serão eleitos em Assembléia, por votação.
Parágrafo Único – Os diretores, perderão seus cargos, por demissões voluntárias ou pratica de irregularidade que firam as normas deste Estatuto.
Art. 14º São atribuições do Presidente:
I. Representar a tenda em juízo ou falta dele e em geral em relações com terceiros.
II. Cumprir e fazer cumprir este estatuto e seus regulamentos internos.
III. Superintender todos os serviços da associação.
IV. Convocar e presidir as sessões ordinárias e extraordinárias da Diretoria.
V. Apresentar a Assembléia ordinária um relatório dos trabalhos do ano findo.
VI. Validar as contas da Secretária, assinar os cheques para levantamento de importâncias depositadas em estabelecimento de crédito, visar cheques.
VII. Contratar empregados e demiti-los.
VIII. Nomear prepostos e auxiliares para a associação.
IX. Rubricar todos os livros da associação, bem como balanço e balancetes, despachar todos os requerimentos, propostas e demais papéis.
Art. 15º Atribuições do Vice-Presidente:
Substituir o Presidente em seus impedimentos legais ou quando solicitado.
Art. 16º Atribuições dos Secretários:
I. Organizar, instalar e dirigir a secretaria.
II. Redigir as atas das em que o Presidente tome parte como dirigente no mínimo uma vez por mês.
III. Responder ao expediente, redigindo todos os ofícios e demais afazeres concernentes ao expediente.
IV. Receber do tesoureiro, as propostas de sócios, confeccionando cadernetas, fichas e demais papéis.
V. Solicitar verba e material necessário, para o bom andamento da Secretária.
VI. Entregar mensalmente ao Presidente, uma demonstração das atividades.
Art. 17º Atribuições dos Tesoureiros:
I. Organizar, instalar e dirigir a tesouraria.
II. Manter em dia a escritura de todos os livros em ordem, entregar ao Presidente um balancete acompanhado dos respectivos comprovantes a cada final de mês.
III. Solicitar verba e material necessário para o bom andamento da Tesouraria, substituir o secretário em seus impedimentos ocasionais.
IV. Ter sob sua guarda e em boa ordem de conservação, todos os bens móveis e imóveis e devidamente inventariados em livro próprio.
Art. 18º Atribuições do Conselho:
I. Fiscalizar e orientar os freqüentadores da associação nas sessões e nos trabalhos.
II. Presidir as sessões quando o Presidente estiver em trabalhos espirituais.
III. Apresentar sugestões e críticas construtivas para o melhor andamento dos trabalhos espirituais e demais atividades da associação.
CAPÍTULO VI – DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 19º Todos os cargos da Tenda, serão isentos de remuneração exceto os cargos técnicos, ministros de cursos ou serviçais, a critério da Diretoria, que fará os respectivo ordenados e classificação.
Art. 20º A associação só poderá ser dissolvida por motivos justos em Assembléia geral, presidida pela diretoria existente e o seu patrimônio, recolhido a uma casa de caridade congênere.
Art. 21º É vedado a todos os associados ou não associados, discutirem ou manifestarem opinião nacional ou internacional, no recinto da associação.
Art. 22º Ninguém poderá desempenhar qualquer função ou gozar de qualquer vantagem da associação sem participar do seu quadro social.
Art. 23º O presente estatuto, entrará em vigor na data da data de seu registro em cartório e poderá ser modificado no todo ou em parte, após dois anos em assembléia geral extraordinária.
Art. 24º Os casos omissos, que não constem neste estatuto, deverá ser realizado uma Assembléia Extraordinária para a apuração e resolução da situação em questão.


Legislação e Candomblé



Por se tratar de religião e cultura, o Candomblé é duplamente protegido na forma da lei pela Constituição da República Federativa do Brasil. 

Outrossim, o artigo 208 do Código Penal Brasileiro prevê, para o crime de ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo, pena de detenção de um mês a um ano ou multa. 

Para que todas as pessoas que professam o Candomblé fiquem cientes dos seus direitos é bom observar com atenção os artigos constitucionais que podem e devem ser evocados quando qualquer cidadão sentir-se aviltado no que diz respeito à liberdade de crença religiosa.

O artigo 5º da Constituição Federal assegura:

Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. 

Portanto, como a Constituição assegura que não deve haver distinção de qualquer natureza, católicos, protestantes, evangélicos, umbandistas, espíritas, budistas, muçulmanos, membros do Candomblé etc. são iguais em direitos e obrigações, estando, pois, submetidos às mesmas leis e devendo observar o inciso VI do artigo 5º da Carta Política de 1988, que diz:

É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Ainda na Constituição Federal, o parágrafo 1º do artigo 215 deixa muito claro que o Candomblé, que é também evidente manifestação da cultura popular afro-brasileira, pode contar com a proteção do Estado para existir e resistir:

Artigo 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e difusão das manifestações culturais.

Parágrafo 1º. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e dos outros grupos participantes do processo civilizatório Nacional.

Na legislação infraconstitucional diretamente relacionada ao inciso VI do artigo 5º, o artigo 208 do Código Penal merece menção, haja vista que os crimes que define têm sido cometidos freqüentemente contra adeptos das religiões afro-brasileiras sem que se tomem providências primeiramente por uma nítida falta de interesse das autoridades e depois porque os adeptos, na maioria das vezes, não sabem que tais atos constituem crime.

Artigo 208. Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:

Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. 

Parágrafo único. Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente a violência. 

Como fica a situação quando a policia, respaldada pelo poder do Estado, infringe a lei? Se considerarmos que a proteção aos locais de culto e a suas liturgias é garantida na forma da lei, é dever da polícia, quando solicitada, prestar assistência aos adeptos para que possam cumprir seus rituais com segurança e não impedi-los, por exemplo, de fazer suas oferendas. Fazer uma oferenda a Exu numa encruzilhada é um direito, assim como é um direito do crente pregar em praça pública ou do católico fazer procissões. A polícia também não pode invadir um terreiro de Candomblé, a menos que observe os trâmites legais.

Todos têm direito à liberdade religiosa, que não atinge um grau absoluto, pois não são permitidos a nenhuma religião ou culto atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilidade civil e criminal. Um adepto de determinada religião, por exemplo, não pode evocar o inciso VI do artigo 5º da Constituição, ou seja, suas convicções religiosas, para livrar-se dos crimes estipulados no artigo 208 do Código Penal. Há que se observar o inciso VIII do artigo 5º da Constituição, que diz:

Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

O Brasil, por meio do Pacto de São José da Costa Rica, se comprometeu a respeitar o sentimento religioso, avalizando o documento que no artigo 12.1 da Convenção diz:

Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.

Devem os templos de Candomblé e seus sacerdotes começar a reivindicar os privilégios e isenções que a lei assegura aos ministros de confissão religiosa e às suas igrejas, como o direito a prisão especial, a contribuição à Previdência Social na qualidade de sacerdote e a desobrigação de recolher alguns impostos como o IPTU.

É importante também difundir a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, não só entre as pessoas do Candomblé, mas para toda a sociedade, especialmente entre os negros que sofrem muito mais com o preconceito que, mesmo camuflado pelo mito da democracia racial, existe no Brasil. Isso serve para ratificar que o caminho para viver plenamente a cidadania é o da consciência, que passa, necessariamente, pelo reconhecimento das leis que asseguram os direitos de todos os cidadãos, brancos ou negros, crentes ou de Candomblé, ricos ou pobres.