CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

sábado, 30 de março de 2019

Os Pães de Ògún




– O Nascimento da Tradição – A Fé de Mãe Simplícia!

Atualmente muitos Terreiros de Candomblé da Bahia e de muitos Estados da Federação realizam o chamado “Pães de Ògún”. Resumidamente nas festas em homenagem ao Òrìsà Ògún, pães são distribuídos aos filhos e demais pessoas presentes. Muitos acreditam que a cerimônia ocorre em razão do sincretismo de Ògún com Santo Antônio e em razão dos pães desse santo. Em verdade, o surgimento dessa cerimônia ocorreu em 1.952, em razão de um acontecimento com a Ìyálòrìsà Simpliciana Basília da Encarnação –, a aclamada Mãe Simplícia de Ògún, então Ìyálòrìsà do Asè Òsùmàrè, mãe carnal da Ìyálòrìsà Nilzete de Yemoja e avó de Pai Pecê.

Mãe Simplícia ascendeu à posição de Ìyálòrìsà do Asè Òsùmàrè em 1.952 e à época, com muito esforço e dedicação lutava para conseguir manter a estrutura do Asè e para que nada faltasse para os Òrìsà ou para a sua família. Mãe Simplícia sempre trabalhou, mas mesmo com a venda de fato e de quitutes, era muito difícil manter tudo.

Todos os dias pela manhã, antes de ir ao Retiro onde comercializava fato, mãe Simplícia cumpria um rigoroso ritual. Ia até a cozinha onde pegava farinha para com água entregar a Èsù, pedindo que o dia fosse bom e que não passasse por dificuldades, entoava um antigo cântico ao galo e dava início a sua longa jornada.

Certa vez Mãe Simplícia ao entrar na cozinha para novamente cumprir seu ritual, deparou-se com as latas de farinhas vazias – havendo somente o pão. Diante do cenário desolador, Mãe Simplícia suplicou a Ògún que não deixasse jamais faltar algo dentro de sua casa que, quando da realização da sua festa, ela daria pães de lembrança.

Com o passar dos dias, Mãe Simplícia conseguia ainda que de forma tímida se estruturar financeiramente e com as chamadas “caixas”, conseguia seguir o calendário religioso do Asè Òsùmàrè. Quando chegou a festa de Ògún, mãe Simplícia não se esqueceu da promessa que havia feito no momento de grande dificuldade e preparou uma certa quantidade de pães para serem distribuídos. Pessoalmente, mãe Simplícia colocava os pães em saquinhos, enfeitando-os com fitinhas na cor azul, ela era caprichosa e gostava das coisas bonitas e arrumadas. Assim aconteceu no primeiro e segundo ano da gestão de Mãe Simplícia.

No terceiro ano, Mãe Simplícia já se estabelecera como importante Ìyálòrìsà do Candomblé da Bahia e com muito esforço, dedicação e trabalho, havia conseguido comprar um fogão para o Terreiro de Candomblé – até então, só havia fogão de lenha no Asè e não era comum o uso do fogão a gás. Mãe Simplícia estava muito contente, pois poderia fazer no próprio Asè os pães para as lembrancinhas da festa de Ògún Dekisi.

Dessa forma, mãe Simplícia organizou tudo para que os pães fossem assados no Terreiro, enfeitados e distribuídos aos devotos de Ògún. Porém, no dia da festa, durante o preparo dos pães, o gás acabou e ninguém conseguia achar um local que vendesse para que todos os pães fossem assados. Pouco antes do início da festa, finalmente conseguiram o gás, mas já era tarde. Mãe Simplícia pediu que assassem os pães, mas que seriam servidos no café, no dia seguinte, sendo que ela não conseguiria fazer as lembrancinhas. Muito desolada pelo fato de não conseguir manter a sua promessa, Mãe Simplícia deu início a festa de forma muito triste, enquanto os pães eram assados para serem distribuídos no outro dia.

Quando Ògún foi sair para o “Hun”, ele surpreendeu a todos...

De forma inesperada Ògún entrou na cozinha pegando os pães que ainda estavam esfriando, sendo que como relatado, a falta do gás atrasou o preparo. Ògún pegou um balaio, enfeitou com o màrìwò de suas vestes, colocando nele todos os pães que foram feitos. Emocionados, os filhos do Asè Òsùmàrè aclamavam Ògún. Aquele venerável Òrìsà que mãe Simplícia tanto amava, entrou com os pães no salão e começou a cantar:

“Akara Mu Avaro Veve, Awo Awo” 
“Akara Mu Avaro Veve, Awo Awo”

Ògún de Mãe Simplícia então começou a distribuir aqueles pães. Os filhos do Asè recebiam os pães de forma muito emocionada, conclamando Ògún. Para eles, aquele pão carregava uma simbologia muito grande. Aquele pão não retratava as dificuldades passadas por mãe Simplícia, mas sim, a vitória dela obtida por meio da fé naquele Òrìsà tão poderoso. Òrìsá que mesmo com o seu perfil de lutador e vencedor das grandes batalhas, teve a sensibilidade para ver a apreensão no coração da sua filha, tomando assim, uma atitude que anos depois, passou a ser replicada pelos descendentes do Asè Òsùmàrè e de outras famílias, tornando uma das tradições mais bonitas da nossa Casa.
fonte:Casa de Oxumarê



terça-feira, 26 de março de 2019

Ìkomọjádè a cerimônia do nome para os nascidos




"O presente texto pretende mostrar a importância dada pelos Yorùbá tradicionais à escolha do nome pessoal (Orúko) de seus filhos e anunciado no ritual denominado "Ikómojáde", bem como sua correspondência dentro do Processo Iniciático para Òrìsà ou "Feitura de Santo" no Candomblé de raízes Kétu."

Segundo maior grupo étnico da Nigéria, dentre os cerca de 250 grupos étnicos existentes, os Yorùbá estão presentes principalmente em estados localizados no sudoeste nigeriano, onde é maioria, e ainda em algumas cidades da República do Benin (antigo Daomé).

A história deste povo tem início antes da era cristã. Eles fizeram parte de um dos grandes Impérios constituídos na região hoje ocupada pela Nigéria: O Império Yorùbá.

Segundo as tradições locais, que mistura dados históricos com mitológicos, o Império Yorùbá tem início com a chegada de "Odùduwà" e seus seguidores, na região onde hoje é a cidade de Ifè, no estado de Òsún; ele teria expulsado os líderes locais e iniciado ali o seu reinado.

Após estabelecer o reino de Ifè, Odùduwà teria enviado seus filhos para a conquista de terras vizinhas, assim, a partir do reino de Ifè outros reinos foram estabelecidos pelos seus descendentes. Esses reinos evoluíram ao longo dos séculos, baseados no comércio e na agricultura.

Do contato com os primeiros europeus, a partir do século XV, resultou a colonização da Nigéria pelos ingleses no final do século XIX, mas mesmo com a administração inglesa, os Yorùbá mantém o seu sistema de governo tradicional, que hoje procura conviver com o governo civil presidencialista.

Atualmente, antigos costumes como a escolha do nome de uma criança, só são mantidos pelos Yorùbá mais tradicionais, no entanto essa prática era comum antes da introdução dos costumes ocidentais.

Para entender a importância da escolha do nome, precisamos ter uma noção da religiosidade Yorùbá e da importância dada à "palavra", por esse povo de tradição oral que só conhece a escrita a partir do contato com os colonizadores.

Os Yorùbá concebem que a existência transcorre em dois planos: no aiyé, isto é, o universo físico com todos os seres naturais que o habitam, e no òrun, o espaço sobrenatural, um mundo paralelo ao mundo real, habitado pelos espíritos de seus ancestrais...

A religião tradicional Yorùbá consiste no culto à Olóòrun, o "Criador do aiyé e do òrun", através de "ancestrais divinizados" denominados Òrìsà. Os Yorùbá acreditam que os Òrìsà são uma extensão de Olóòrun, que através deles intervém nos problemas humanos, sendo assim rezando para "Eles", podem interferir positivamente em suas vidas.

Òrúnmìlá é considerado o precursor e estruturador da "religião" dos Yorùbá. Acreditam que ele introduziu em Ifè a prática da consulta ao "Oráculo de Ifá", através da qual, pela utilização de alguns "instrumentos", o Bàbáláwo (Sacerdote de Ifá) verifica o destino de uma pessoa, que é traduzido por signos gráficos denominados "Odù".

Para os Yorùbá, a palavra conduz um poder de realização, denominado "Àse", que coloca em movimento e desperta as forças que estão estáticas nas coisas. Cada palavra proferida é única, ela comunica a experiência de uma geração à outra, transmite o Àse dos antepassados à geração do presente.

Sikiru Salami diz que: "A palavra, considerada elemento de origem divina, força fundamental emanada do próprio Ser Supremo, é, ela própria, instrumento de criação. Considerada um dom do pré-existente serve de instrumento à materialização e exteriorização de forças vitais" (Sikiru Salami, 1997, p. 44).

Por ocasião do nascimento dos filhos, a mulher Yorùbá e o recém-nascido permanecem em casa até o dia do Ikómojáde, ritual tradicional durante o qual o nome da criança é anunciado para a família e para a comunidade. O Ikómojáde é uma prática antiga entre os Yorùbá, e tem por objetivos anunciar o nome da criança, dar a ela as boas vindas e felicitar os seus pais.
Tradicionalmente, se a criança era um menino, recebia o nome no nono dia de vida, se era uma menina, no sétimo dia, e se eram gêmeos, no oitavo dia. Nos dias atuais, a escolha tem acontecido no oitavo dia, independente do gênero e número de crianças nascidas.

Antes porém, do Ikómojáde, no terceiro dia após o nascimento, um Bàbáláwo é chamado para realizar o Àkosèjayè, ritual divinatório que objetiva obter dados a respeito do destino do novo membro que está chegando para aquela família e indagar sobre seu futuro. São verificados quais os Odù que direcionam a vida da criança, e como conseqüência quais "Èèwò" (interdições alimentares e de conduta) que a criança deverá obedecer para facilitar seu desenvolvimento material e espiritual.

O nome, que deve ser escolhido previamente ao dia da cerimônia, pode ter a influência das circunstâncias que cercam o nascimento da criança, sendo nesse caso denominado"Orúko Àmútoruwá" (nome trazido ao nascer) ou "Isomolóruko" (ato de escolher o nome do recém nascido, com a observância à cerca do fato). Os orúko àmútoruwá ou isomolóruko indicam circunstâncias da gestação ou do parto, circunstâncias familiares ou da sua comunidade.

Dentre os orúko àmútoruwá os mais importantes são os relacionados a gêmeos: O nome do primeiro nascido será sempre Taiwo (experimentar a vida), e o último sempre Kèhìndé (último a chegar). A criança nascida após a gestação de gêmeos recebe o nome de Idowu. Ige é o nome dado à criança nascida com apresentação dos pés; Dàda, o nome dado á criança nascida com cabelos encaracolados.

São exemplos de nomes determinados por circunstâncias familiares: Bàbátúndé (papai retornou), dado à criança nascida após a morte de um avô e Ìyábo (mamãe retornou), dado à criança nascida após a morte da avó.

Se uma criança nasce durante o Ano Novo ou durante um Festival Anual, recebe o nome de Àbíodún.

Se a criança não traz um nome ao nascer, ou seja, um orúko àmútoruwá, a família terá que decidir pela sua escolha, sendo nesse caso denominado "Orúko Àbíso".

Há um provérbio yorùbá que diz: "os pais devem sempre olhar para a sua casa, antes de escolher o nome de uma criança", devendo-se entender a palavra „casa‟, como a „família‟. Os orúko àbiso são escolhidos após um estudo sobre a família, em aspectos como profissão, ancestralidade, òrìsà cultuado, etc.

A grande importância dada ao orúko àbíso é que, segundo o entendimento Yorùbá, ele irá refletir diretamente na vida daquele indivíduo. Esse entendimento está relacionado à importância atribuída à "palavra", ou seja, à medida que aquele nome é pronunciado estará agindo na vida e no comportamento daquele que o carrega, logo, a escolha do "nome ideal" é uma tarefa muito importante, pois é por este nome que o indivíduo será chamado durante toda a sua vida.

A criança nascida em uma família que cultua o Òrìsà Ògún pode receber um nome que evidencia esse compromisso: Ògúndolá (Ògún traz/trouxe prosperidade) ou Àgbèdédolá ( a forja trouxe prosperidade); se for Sòngó: Sòngódéye (Sòngó trouxe este filho) ou Sòngóbunmi (Sòngó me deu de presente).

Alguns orúko àbíso:
Masculinos Femininos
- Àbíáyomi (nascido para me trazer alegria)
- Dáyo (alegria alcançada)
- Akin (homem valente)
- Àyomidé (minha alegria chegou)
- Àyodélé (alegria vem ao lar)
- Fúnmiláyo (deu-me felicidade)
- Olákúndé (o valoroso chegou)
- Olábunmi (minha honra foi recompensada)

Tradicionalmente o Ikómojáde acontece fora da casa, ao ar livre, de forma que os pés descalços da criança possam tocar à terra pela primeira vez. A cerimônia marcará a primeira vez que a criança e sua mãe saem de casa. Dentre os convidados estão parentes e membros da comunidade, que vêm dar as boas vindas à criança e felicitações aos pais.

A mãe da criança a apresenta à um ancião da família, que realizará o Ikómojáde. O papel que os anciões da família exercem no Ikómojáde tem uma importância simbólica e tradicional: eles acreditam que a criança veio de onde eles se preparam para ir, o òrun, por causa desse laço, o ancião da família deve ser o primeiro a guiar os primeiros passos da criança recém chegada.

No Ikómojáde uma série de elementos são utilizados: epo-pupa (azeite de dendê), oyin (mel), obi e orogbo (noz de cola), atare (pimenta da costa), omi (água), ìrèkè (cana-de-açucar), iyò (sal), òti (bebida destilada), etc.

Cada um desses elementos é encostado na cabeça da criança e em sua boca, enquanto se recita as suas propriedades vitais. Ao apresentar esses elementos à criança, pretende-se que cada um deles forneça a ela um determinado atributo, relacionado ao seu significado simbólico. Assim, o obi é utilizado para protegê-la da doença e da morte prematura; a pimenta da costa favorece a vitória sobre os inimigos e obstáculos ao longo da vida; o sal é voto de longevidade; a cana-de-açúcar e o mel são usados para atrair circunstâncias agradáveis; etc. Depois que cada elemento é oferecido à criança, será oferecido também a todos os presentes.

Depois que a criança recebe a força desses elementos, seu nome lhe é atribuído por meio de uma recitação que pede sucesso, saúde e felicidade. A cerimônia termina com uma grande festa.
A partir da colonização da Nigéria pela Inglaterra, os Yorùbá passam a usar nomes com influência cristã e islâmica. Algumas famílias, no entanto, usam o nome principal de acordo com o modelo ocidental, deixando para o sobrenome o nome tradicional Yòrubá.

No nosso entender, tendo como referência autores como Juana Elbein dos Santos, o "Terreiro de Candomblé" surge no Brasil do século XIX, como uma necessidade de recriar o espaço geográfico Yorùbá, assim como as suas relações familiares, perdidas com o tráfico de escravos. Os laços de parentesco deixam de ser de sangue, para ser simbólicos, no entanto o objetivo é reproduzir a família Yorùbá tradicional.

Dentro desse contexto é que acreditamos que muitos dos gestos e atitudes que reproduzimos hoje em nossas "Casas de Santo", são as reproduções do dia a dia desse povo.

Não estamos querendo com isso diminuir o valor dos rituais praticados, mais sim simplificá-los e entendê-los dentro de um contexto cultural diferente do nosso.

Assim é que analisamos o Ikómojáde dentro do Processo Iniciático para Òrìsà ou "Feitura de Santo" nos Candomblé de raízes Kétu no Brasil.

A Iniciação para Òrìsà implica numa "morte simbólica" e no "renascimento" para uma nova vida, vida esta consagrada ao òrìsà. Dentro desse processo, a primeira parte é dedicada a uma "gestação simbólica" em que se reproduz a vida no ventre materno. O novo indivíduo "nasce" e como acontece em território yorùbá tem lugar o Àkosèjayè.

O indivíduo nasceu, foi verificado o seu destino (odù) e precisa receber um nome, o qual será anunciado em cerimônia pública, também denominada de Ikómojáde ou "Dia do nome".

No Brasil, nem sempre o nome é escolhido pelo Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, há casos em que o iniciado tem que receber o nome através de "sonho".

Pelas características dos Orúko encontrados entre os adeptos do Candomblé brasileiro, percebemos que se tratam de Orúko àbíso, e ainda que, na maioria das vezes, fazem referência ao òrìsà individual daquele indivíduo:

"...Um dos aspectos importante que define cada grupo de iniciados é o fato de trazuer diante do nome de iniciação um nome genérico comum a todos os que pertencem a um determinado òrìsà: Òrìsàlá – Iwin (Iwin-tólá, Iwin-múìwá, Iwin-solá, Iwin-dùnsí); Obalúaiyé – Iji (Iji-lánà, Iji-bùmi, Iji-dare); Nana – Na (Na-dógiyá, Na-jide); Sangó – Oba (Oba-téru, Oba-bìyì, Oba-tosi)" (Juana Elbein dos Santos, 2002, p. 35).

Diferentemente do que ocorre em território Yorùbá o novo nome não é anunciado por um membro mais velho da comunidade, é o próprio Òrìsà quem o proclama.

Depois de toda essa exposição o que queremos deixar para reflexão é o seguinte: vimos que entre os Yorùbá tradicionais a escolha do nome é de vital importância, pois acreditam que ele irá refletir diretamente no comportamento e na vida daquele indivíduo, por que então em algumas de nossa "Casas de santo" a pronúncia desse novo nome é um tabu? Chegando mesmo em algumas delas a ser omitido até mesmo do filho-de-santo!

Se estivermos reproduzindo a família e a comunidade Yorùbá dispersadas pelo tráfico de escravos no passado, por que não fazer desses costumes uma prática mais natural? Ou habitual?
 Por Hipólito Ọba Ṣọlá



Reverência a própria vida


Bentido seja aquele que toca seu ventre no chão afim do   reconhecido por Yamí Ònílé ( Mãe Terra ). 

Somente o faz quem é bentido !!!!




sexta-feira, 22 de março de 2019

Egbe Orun

Egbe Orun


Sociedade de amigos do mundo invisível ou Amigos Espirituais

Egbé significa Sociedade: designa a Sociedade dos Espíritos Amigos e se refere, simultaneamente, a um orixá e a uma irmandade ou corporação de seres espirituais: trata-se de Èré igbó ou Aráagbó, que significa Habitante da floresta ou Habitante do além. 

Este orixá protege contra a morte prematura, acalma o sofrimento material e espiritual e orienta o ori do abiku e de seus devotos a seguir o caminho certo. Atrai progresso econômico e desenvolvimento espiritual, harmonizando esses dois aspectos da existência. 

Proporciona também os sentimentos de paz, tranquilidade, serenidade e confiança, trazendo a fertilidade em todos os aspectos da vida. 

Atrai condições para conquistas, domina recursos para promover cura e bem-estar, interfere no destino humano e remove obstáculos da vida: transforma lágrimas em sorrisos. 

Egbé Aráagbó é venerado para que se possa receber sua proteção contra seres visíveis e invisíveis. 

As pessoas costumam referir-se a ele dizendo Egbé mi, minha Sociedade, meus Companheiros. Há uma relação importante entre Ibeji e Egbé, pois Ibeji liga-se à natureza, de modo geral, e à floresta, morada de Egbé, de modo particular. Para cultuar um é preciso cultuar o outro.
fonte:Paulo Rezende Ifakóládé Agboola


ONÃ , MAIS UM TERRÍVEL ERRO DO CULTO A ÓRÍSÁ, NA DIÁSPORA.



Em quase todas as casas, há assentamentos que infelizmente estão muito longe da sua origem, o caso de Ona (Onã) é um desses.


No Brasil se conhece Onã, como sendo um epiteto de Esù. 

Na verdade, Onã não é Esù . 

Ele é um Órísá que invocamos como intermediário na oferta de ebó etutu à ifá, Órísá, Egungun e Iya Mi. 

É uma divindade que cultuamos como forma de buscar um aspecto positivo para o nosso destino ou para o destino de nossa casa.

No assentamento de Onã, que é feito com inúmeras folhas, das quais posso aqui divulgar duas, ewe mIsin- mIsin, e ewe aje ,vai muito dinheiro, dendê, atarê, obi e orogbo. 

Diferente do assentamento de Esù, cuja base é Yangui.

O culto a Onã é feito do lado de fora da porta do Ile Àse, ou na residência do sacerdote, normalmente é aberto um pequeno buraco, no chão, em frente a porta.

Esse culto é muito simples mas de grande segredo, como o culto de outras divindades que também são bastante divulgadas, porem com informações confusas e distorcidas.
fonte: Paulo Rezende Ifakóládé Agboola



domingo, 17 de março de 2019

Ogum



Ogum livra um pobre de seus exploradores


Um pobre homem peregrinava por toda parte, trabalhando ora numa, ora noutra plantação. 

Mas os donos da terra sempre o despediam e se apoderavam de tudo o que ele construía. Um dia esse homem foi a um babalawo, que o mandou fazer um ebó na mata. 

Ele juntou o material e foi fazer o despacho, mas acabou fazendo tal barulho que Ogum, foi ver o que ocorria. 

O homem, então, deu-se conta da presença de Ogum e caiu a seus pés, implorando seu perdão por invadir a mata. 

Ofereceu-lhe todas as coisas boas que ali estavam. Ogum aceitou e satisfez-se com o ebó. Depois conversou com o peregrino, que lhe contou por que estava naquele lugar proibido. Falou-lhe de todos os seus infortúnios. 

Ogum mandou que ele desfiasse folhas de dendezeiro (mariwo), e as colocasse nas portas das casas de seus amigos, marcando assim cada casa a ser respeitada, pois naquela noite Ogum destruiria a cidade de onde vinha o peregrino. Seria destruído até o chão. 

E assim se fez. Ogum destruiu tudo, menos as casas protegidas pelo mariwo.




Características Dos Filhos De Ogum



Não é difícil reconhecer um filho de Ogum. 

Tem um comportamento extremamente coerente, arrebatado e passional, aonde as explosões, a obstinação e a teimosia logo avultam, assim como o prazer com os amigos e com o sexo oposto. São conquistadores, incapazes de fixar-se num mesmo lugar, gostando de temas e assuntos novos, conseqüentemente apaixonados por viagens, mudanças de endereço e de cidade. Um trabalho que exija rotina, tornará um filho de Ogum um desajustado e amargo. São apreciadores das novidades tecnológicas, são pessoas curiosas e resistentes, com grande capacidade de concentração no objetivo em pauta; a coragem é muito grande.


Os filhos de Ogum custam a perdoar as ofensas dos outros. Não são muito exigentes na comida, no vestir, nem tão pouco na moradia, com raras exceções. São amigos camaradas, porém estão sempre envolvidos com demandas. Divertidos, despertam sempre interesse nas mulheres, tem seguidos relacionamentos sexuais, e não se fixam muito a uma só pessoa até realmente encontrarem seu grande amor.


São pessoas determinadas e com vigor e espírito de competição. Mostram-se líderes natos e com coragem para enfrentar qualquer missão, mas são francos e, às vezes, rudes ao impor sua vontade e idéias. Arrependem-se quando vêem que erraram, assim, tornam-se abertos a novas idéias e opiniões, desde que sejam coerentes e precisas.
As pessoas de Ogum são práticas e inquietas, nunca "falam por trás" de alguém, não gostam de traição, dissimulação ou injustiça com os mais fracos.


Nenhum filho de Ogum nasce equilibrado. Seu temperamento, difícil e rebelde, o torna, desde a infância, quase um desajustado. Entretanto, como não depende de ninguém para vencer suas dificuldades, com o crescimento vai se libertando e acomodando-se às suas necessidades. 


Quando os filhos de Ogum conseguem equilibrar seu gênio impulsivo com sua garra, a vida lhe fica bem mais fácil. Se ele conseguisse esperar ao menos 24 hs. para decidir, evitaria muitos revezes, muito embora, por mais incrível que pareça, são calculistas e estrategistas. 


Contar até 10 antes de deixar explodir sua zanga, também lhe evitaria muitos remorsos. Seu maior defeito é o gênio impulsivo e sua maior qualidade é que sempre, seja pelo caminho que for, será sempre um Vencedor.


A sua impaciência é marcante. Tem decisões precipitadas. Inicia tudo sem se preocupar como vai terminar e nem quando. Está sempre em busca do considerado o impossível. Ama o desafio. Não recusa luta e quanto maior o obstáculo mais desperta a garra para ultrapassá-lo. Como os soldados que conquistavam cidades e depois a largavam para seguir em novas conquistas, os filhos de Ogum perseguem tenazmente um objetivo: quando o atinge, imediatamente o larga e parte em procura de outro. 


É insaciável em suas próprias conquistas. Não admite a injustiça e costuma proteger os mais fracos, assumindo integralmente a situação daquele que quer proteger. Sabe mandar sem nenhum constrangimento e ao mesmo tempo sabe ser mandado, desde que não seja desrespeitado. Adapta-se facilmente em qualquer lugar. Come para viver, não fazendo questão da qualidade ou paladar da comida. Por ser Ogum o Orixá do Ferro e do Fogo seu filho gosta muito de armas, facas, espadas e das coisas feitas em ferro ou latão. É franco, muitas vezes até com assustadora agressividade. Não faz rodeio para dizer as coisas. Não admite a fraqueza e a falta de garra.


Têm um grave conceito de honra, sendo incapazes de perdoar as ofensas sérias de que são vítimas. São desgarrados materialmente de qualquer coisa, pessoas curiosas e resistentes, tendo grande capacidade de se concentrar num objetivo a ser conquistado, persistentes, extraordinária coragem, franqueza absoluta chegando à arrogância. Quando não estão presos a acessos de raiva, são grandes amigos e companheiros para todas as horas.


É pessoa de tipo esguio e procura sempre manter-se bem fisicamente. Adora o esporte e está sempre agitado e em movimento, tendem a ser musculosos e atléticos, principalmente na juventude, tendo grande energia nervosa que necessita ser descarregadas em qualquer atividade que não implique em desgastes físicos.


Sua vida amorosa tende a ser muito variada, sem grandes ligações perenes, mas sim superficiais e rápidas.


sábado, 16 de março de 2019

ARONI


ARONI é um ORIXÁ relacionado aos segredos das plantas. ORIXÁ do Culto Arará (Djedje), forma o grupo dos três animais místicos junto com KIAMAe KOLOFO. Representa-se com um boneco sem olho, com cabeça e rabo de cachorro e com uma só perna.

Aroni

ARONI era o guardião dos segredos de OSSAIN e ele teve um enfrentamento com Ogbe Tumako e do dito enfrentamento pactou com este dar-lhe ervas que nunca podem faltar em um OSSAIN (Peregun, Prodigiosa, Bredo Branco e Antipolar).

Então Ogbe Tumako como agradecimento decide que todos os Omierós (Ervas Quinadas) dos Awós devem fechar com uma brasa acesa. A ARONI se oferecem dois pintos no monte para EXÚ.

PATAKIN:

Na Terra Iloban, cuja capital ficava no meio de um bosque, não se podiam obter os Ewé (ervas) necessárias para preparar os Omierós (ervas quinadas) das consagrações de IFÁ, pois cada vez que alguém ia busca-las no monte, um ser misterioso aparecia e ia ao encontro de quem estivesse ali e os cegava com uma bruxaria que tinha preparado com uma brasa acesa. 

Esse era ARONI, um dos espíritos do bosque, um ser malfeito e desforme por causa das distintas guerras nas quais tinha participado ajudando seu amo e senhor Ossain a ganhá-las. As vítimas de ARONI eram numerosas e um dia o Obá da Terra Iloban se enfermou e então foram consultar a Ifá. 


Saiu Ogbe Tumako intori atefa ao Obá (fazer Ifá ao Rei). Ninguém queria ir ao monte buscar as Ewé (ervas) e Ogbe Tumako se comprometeu em ir busca-las, mas ninguém quis acompanhá-lo. Ogbe Tumako antes de sair adentro do bosque, fez um Ebó com: Akuko meji, Ikoko de barro, um porrão com água e demais ingredientes.

Ao chegar ao bosque, Ogbe Tumako deu dois Akukós a Eshú e começou a recolher as ervas e ao chegar a uma clareira, já as tinha todas e jogou a água do porrão e começou a cantar. Ao ser olvido por ARONI, este se apresentou e gritou: Intruso! Como se atreve a entrar em meus domínios? E de repente ele se lançou em ataque, usando o carvão mágico. Ogbe Tumako mudou o suyere (cantiga) que cantava como lhe havia aconselhado seu Pai a Orunmilá e esquivando-se do carvão com o Ikoko de omieró, cantou: Inu Awó Ashé Wao, Inu Awó Ashé Wao, Inu Awó Ashé Wao, Inu Ina Yolekun Inu Awó Ashé Wao. Em um instante e para o assombro de ARONI, seu carvão em brasa caiu dentro daquele Ikoko de omieró e se apagou, terminando assim o poder da bruxaria de ARONI.

ARONI ao compreender o que havia acontecido disse ao Awó Ogbe Tumako: És grande e poderoso e de agora em diante quero aliar-me contigo. Ogbe Tumako lhe respondeu: Eu não sou grande e poderoso, meu pai e senhor pela vontade de Olófin, de quem sou só um fiel servidor, é o grande e poderoso.


ARONI lhe disse: Está bem, com ele desejo aliar-me, selemos um pacto para o resto de nossos dias. Tu me prestarás sua ajuda e eu lhe darei a minha. Selaram então o pacto e ARONI entregou ao Awó Ogbe Tumako quatro ervas: Peregun, Bredo Branco, Verdolaga e Antipolar e lhe disse: Estas são as que abrem o caminho a todas as obras e consagrações. Este é meu presente. 


Ogbe Tumako lhe disse: Como prova de nosso pacto, levarei sua brasa acesa ao omieró para que os demais awoses saibam de nossa amizade. ARONI lhe respondeu: Está bem, mas sempre me lembrarei disso e cada vez que tu e teus irmãos pegarem ervas para preparar o Omieró para consagrações, acenderão um carvão dentro do mesmo para que a maldade cesse e o bem perdure. 

Ogbe Tumako lhe disse: Assim será. Iboru Iboya Ibosheshe. E se retirou do monte com o Ikoko de Omieró e a brasa acesa de ARONI.

E desde então em lembrança desse pacto, todos os omierós de Ifá, os Oluwós para suas consagrações, colocam uma brasa acesa dentro de OSSAIN.

Ifá Ni L’Órun


A ESTEIRA




Há muito objetos na nossa religião que tem a categoria de Sagrado. Um deles que é indispensável em qualquer atividade religiosa é a esteira e dela podemos narrar a história.

Quando ela quis vir à Terra, preocupada com algo que era totalmente desconhecido e sabendo que a condição humana é muitas vezes cruel, foi  buscar um bom presságio na casa dos Awós celestiais. Estes lhe previram largar existência e reconhecimento humano, pois aquele que pisasse com sapatos a esteira teria seu castigo e aquele que caminhasse descalço, receberia pela planta dos seus pés, bênçãos espirituais. Mas para conseguir todo o reconhecimento deveria fazer ebó. Recomendaram os Awós uma obra ou sacrifício que consistia em oferendas animais: um akukó (galo) para Eshú, akukó para Ogun, dois eyelé (pombas) para Obatalá Orishánlá e algumas pedras pesadas. A esteira realizou o seu ebó e baixou à Terra para fazer cumprir seu destino.

Os seres humanos caminharam sem conforto algum e dormiam sobre o piso ou terra. Mas ao chegar a esteira, esta lhes proporcionou comodidade e fez mais agradável seus descansos. Eshú alertou que a esteira era indispensável para gozar de comodidade e por isso surgiu e que a partir desse momento seria de suma necessidade ser utilizada em todo tipo de iniciação religiosa, porque desde os reis, até mesmo os mais necessitados a usavam.

A esteira é parte do ritual de qualquer iniciação, seja de Orishá ou de Ifá, não só serve como acomodação, mas também é parte integral do arquétipo de todo trono (Igbodú de Orishá ou de Ifá).

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Além disso, representa a comunicação dinâmica da energia do corpo humano com a terra, pois nela dormem e comem os iniciados.

Todos de Ifá e Orishá, reis e iniciados devem render culto e homenagem, pois com ela se faz as penitências e rogações de reconhecimento ou culto aos mesmos. Os signos ou Odús que falam da esteira são: Odi Ogunda, Obara Bogbe, Obara Trupon, Osa Lofobeyó, Iwori Koso, entre outros. Segue o Pataki de Obara Trupon:

Houve um tempo em que os Orishás disfrutavam do privilégio e reconhecimento geral, menos Oduduwá, quem presidia o conselho santoral. Os devotos de cada divindade rendiam homenagens a diferentes orishás, mas não o faziam a Oduduwá, o qual criou uma situação caótica no plano da existência.

ekuele con igbos

Obara Dun dun não lhe rendia culto nem reconhecimento a Oduduwá, o qual era o chefe da reencarnação e da vida. Oduduwá visivelmente desgostoso se retirou de sua posição de Obá e começou um colapso em todas as coisas da Terra, originando uma hecatombe, a qual todos os orishás conheceram a causa e começaram a render-lhe homenagens. Assim se deu lugar ao culto de Oduduwá e seus adoradores.

Enquanto isso Obara Trupon notava que sua sorte diminuía e seus propósitos não se cumpriam, então fez Osode (consulta). Ifá manifestava que ele tinha faltado com respeito e desconhecimento de sua parte para com Oduduwá, essa era a causa de seus males e que se queria ter Iré gbogbo Iré (sorte) deveria fazer Ebó com Eure, Adie funfun meji, Eyele meji fun fun e uma esteira, a qual usaria para dormir por 16 dias consecutivos aos pés de Oduduwá, em prova de seu amor, devoção e respeito. Neste signo ou Odú se deve receber Oduduwá e fazer-lhe muitas cerimônias para que gbogbo Iré se materialize na vida da pessoa. To Iba Eshu. Ona Iré ó.

Ifá Ni L’Órun Otura Aira


Yami Igbò Were a Mãe de Ossaim !!!


IGBO WERE era a mãe de OSSAIN e queria muito que seu filho fosse OBÁ (rei).

Ela então foi procurar ORUNMILÁ e este lhe fez uma consulta com IFÁ e disse a ela que para conseguir o que ela queria, teria de fazer algumas oferendas e sacrifícios. Porém essa nunca quis fazer nada e em pouco tempo OTOKU (faleceu).

OSSAIN, seu filho, chegou a ser OBÁ de ENIGBÉ. 

Quando IGBO WERE tinha falecido, seu filho OSSAIN era muito jovem. 

Passaram assim muitos anos até que um dia um homem foi a ENIGBE buscando raízes para se curar e fazer um INSHÉ (tipo de amuleto) e viu muito EWÉ OKUMA amarela e quando começou a escavar para pegar as raízes, encontrou os restos mortais de IGBO WERE e ouviu cantar:

“YA OFIOKO AJUN AMI LORI”

O homem ao ouvir IGBO WERE cantar, se assustou e saiu correndo e foi ver OSSAIN, que era o OBÁ deste lugar e contou tudo a ele. OSSAIN não acreditou e mandou que OGUN fosse ver se era verdade. Quando eles chegaram, IGBO WERE não disse nada e OGUN matou o homem por achar que este mentia. Logo em seguida IGBO WERE começou a falar com OGUN e este foi correndo contar a OSSAIN.

OSSAIN oi buscar a OGBONI e foi com este onde tudo estava acontecendo e pelo caminho encontraram-se com ORUNMILÁ, que foi com eles e quando chegaram, IGBO WERE estava falando.

ORUNMILÁ então fez uma consulta com IFÁ e disse a OSSAIN:

“Esse AGBARI é o de tua mãe IGBO WERE, que OTOKU (faleceu) e não pode ver o que tu alcançaste na vida”.

REINO DE OXÓSSI

Desta maneira IGBO WERE pode ver como seu filho havia alcançado tudo o que ela desejava para ele.

Maferefun OSSAIN

Maferefun ORUNMILÁ

NOTA: IGBO WERE é a mãe de OSSAIN, o espírito da NATUREZA que dá força a todos os EWÉ (ervas e folhas) e IGUI do mundo e suas virtudes.

Ifá Ni L’Órun



A MATA – IGBÓ:



Partindo-se do pré suposto de que as divindades cultuadas no Candomblé são ancestrais que por seus méritos, características e regências foram assimilados e integrados aos 4 elementos da natureza, tem –se que esta Religião cultua a natureza por meio de seus Orixás.

Observa-se desta forma, como os ritos estreitam os laços e integram os adeptos às forças naturais que os cercam.

Basta dizer que um dos primeiros rituais propiciatórios à Iniciação, é levar os neófitos para apresenta-los aos Orixás da água doce (Òrìṣà omi odo), aos Orixás da água salgada (Òrìṣà omi iyọ), aos Orxás das Matas (Òrìṣà igbó), etc.

Neste particular, podemos notar que o uso ritual das plantas (elementos integrantes das matas) é absolutamente indispensável a quaisquer liturgias que envolvam a energia dos Orixás. Daí o provérbio yorubá: “Kosi ewé, kosí Òrìṣà” – sem ervas não há Orixá.

Assim, seja para o assentamento dos deuses (ìdí òrìṣà), seja para os banhos purificatórios, seja para os preparativos iniciatórios, seja para os sacrifícios, sempre o uso das ervas será notado.

Em razão disto, batizamos nossa obra sobre a ciência yorubá do uso das ervas, com o título “Ewé – a Chave do Portal”.

Portanto, torna-se crucial para o próprio funcionamento de uma Casa de Candomblé possuir acesso à mata (igbó), pois é lá que o Olossaim (sacerdote responsável pela colheita e preparo das ervas) irá buscar a matéria prima para a verdadeira alquimia que consiste em seu ofício.

Os Olossains, para ingressarem na mata na busca das ervas, começam seus preparativos de véspera. Desde 24 horas anteriores já não bebem, nem mantém relações sexuais e ainda evitam comidas pesadas. Tudo a fim de tornar mais limpo o canal intuitivo entre si e Ossaim, a divindade detentora de todas as plantas e seus segredos.

No início de sua jornada, assim que entram na mata, os Olossains cuidam logo de fazer uma oferenda a Ossaim, a fim de pedirem licença para acessar seus domínios, precaverem-se dos perigos e ainda garantirem que Ossaim não irá esconder deles as plantas desejadas.

Não obstante, no momento da colheita, verbalmente os Olossains pedem licença ao Deus das ervas para retirar os exemplares.

O dia, a lua e o horário da colheita são minuciosamente estudados pelos Olossains, conforme a necessidade das ervas a serem utilizadas.

É claro que a urbanização inviabilizou que as Casas de Candomblé possuam suas próprias matas, como no passado. A facilidade de outrora que popularizou o nome dos Candomblés de “Roças”, já não mais existe.

Por isso, muitas Casas adaptaram-se à nova realidade reservando espaço para suas hortas, onde são plantadas espécies indispensáveis ao culto, tais como o pèrègún (nativo), o igi `ọp`ẹ (dendezeiro), lárà (mamona), `ọdúndún (saião), entre outras.

Se no passado apenas as ervas colhidas diretamente no igbó (na mata) serviam para os rituais, hoje os Candomblés precisaram reconsiderar este princípio e passaram a aceitar as folhas cultivadas no herbário, quiçá aquelas compradas em bancas e lojas especializadas.

Marcio de jagum


Ọfọ̀

Ọfọ̀

A palavra ọfọ̀ em yorùbá quer dizer encantamento, magia, potencialização. 

É a palavra na qual estão resumidos os encantamento que podem acontecer por intermédio da expressão recitada ou cantada. 

O ọfọ̀ pode estar contido numa única palavra, ou num texto formado por muitas palavras. 

O principal segredo do ọfọ̀ é que não basta saber a palavra, é preciso estar preparado, é necessário ter o dom para usá-lo. 


Se o indivíduo não estiver com suas energias alinhadas às energias do sagrado, não lhe adianta conhecer e saber pronunciar o ọfọ̀. 

A vida contemporânea atribulada, cheia de estresse, de vais-e-vens e as relações confusas entre o humano e o sagrado fizeram com que esse poder fosse reduzido a um número ínfimo de pessoas privilegiadas. 

Todos nascemos com o dom de transformar palavras em encantamentos e à medida que nos doamos e nos aproximamos mais e mais do orixá, mais esse poder aumenta. Para o dicionário yorubá/português, o ọfọ̀ é um “feitiço, encantamento feito para dar alívio à dor” (BENISTE, 2014). 

O ọfọ̀ é muito comum nos rituais de folhas. Pierre Veger (on line), no seu artigo “A sociedade ẹgbẹ́ ọ̀run dos àbíkú, as crianças nascem para morrer várias vezes”, ao falar sobre o encantamento das folhas utilizadas no rito de àbíkú, menciona “ewé idí[”, cujo ofò de encantamento é: “ewé idí lórí kí ọnò ọ̀run tẹ̀mí odi”.Como já vimos, o ọfọ̀ é um dom dado por Òlòdùmarè; no entanto, é um bem preciso (um poder) que não deve ser usado para fazer o mal. Devemos sempre nos lembrar da lei da ação e da reação. Aquele que faz o bem recebe o bem em troca; aquele que faz o mal, o mal receberá. Os ofó(s) poderão ser divididos segundo a intenção de quem o utiliza. Essa importante informação a respeito da divisão dos ọfọ̀(s) em categorias segundo a intenção de cada sujeito, encontramos em Raji (1991) e em AJAYI (on line).

ọfọ̀ iba para o pagamento de homenagem;
ọfọ̀ afose para o que é dito acontecer;
ọfọ̀ aforan para escapar de infortúnios;
ọfọ̀ afero para atrair pessoas/clientes/pacientes;
ọfọ̀ aparo para servir como antídoto de veneno;
ọfọ̀ arobi para se livrar de calamidades;
ọfọ̀ awure para chamar boa sorte;
ọfọ̀ isoye para ativar memória;
ọfọ̀ maadarikan para a auto defesa;

Os encantamentos utilizados para o mal e para a destruição têm os seguintes nomes: ogede e aasan conforme assinala Bade Ajayi em seu artigo intitulado de ”The stylistic significance of focus constructions in the ofo corpus”. Sobre isso não falaremos neste texto.





sexta-feira, 15 de março de 2019

Qual a melhor religião ?




Não existe religião errada: o que existe é religião mal conduzida. 

Toda religião que estimula os seus seguidores a praticarem o bem para si mesmos e para os outros está correta. 

Toda religião que valoriza o bom comportamento e o bom caráter pode promover o crescimento das pessoas. 

Toda religião que estimula fatores como a paz, o acolhimento, o respeito mútuo e a divisão de alimentos é verdadeira. 

A melhor religião é aquela que nos faz bem, que nos ajuda a sermos pessoas dignas, que nos torna seres humanos melhores e mais completos.
fonte: Baba King.