Neste post procuraremos falar um pouco sobre os 16 atributos de Esu (Exú), atributos estes que se relacionam com os 16 Baba Odús do Ifá.
Mas antes, gostaríamos de esclarecer que Esu (Exú) é o Grande Agente Cósmico Universal, é o Agente da Magia Universal. É Exú que, juntamente com os 07 Aráshas (Orixás) Ancestrais, trataram da criação do Universo Astral – Reino Natural. Os Exús são os concretizadores das ideações dos 07 Aráshas.
Quando do surgimento do Universo Astral e do Reino Natural foi necessário, então, organizar toda esta matéria que era caótica. Por isso dizemos que a “ordem” se assenta no “caos”. E é Esu que promove esta organização, dentre várias de suas outras importantíssimas funções das quais trataremos em futura publicação.
Iniciemos, pois apresentando os 16 atributos de Esu, mas antes…
Mo ju iba, Esu Oba Baba awon ESU! Iba se, o!
Saudações, Esu Senhor e Pai de todos os Esus! Que esta homenagem se cumpra!
Eis, agora, os 16 títulos ou atributos e suas correspondentes “qualidades”, os quais sempre foram ligados aos 16 ODU dos Itan Ifá:
01- ESU YANGI – o Senhor da Laterita Vermelha
02- ESU AGBA – o Senhor Ancestral
03- ESU IGBA KETA – o Senhor da Terceira Cabaça
04- ESU OKOTO – o Senhor do Caracol
05- ESU OBA BABA ESU – o Rei e Pai de todos os ESUS
06- ESU ODARA – o Senhor da Felicidade
07- ESU OSIJE – o Mensageiro Divino
08- ESU ELERU – o Senhor da Obrigação Ritual
09- ESU ENU GBARIJO – o Senhor da Boca Coletiva
10- ESU ELEGBARA – o Senhor do Poder Mágico
11- ESU BARA – o Senhor do Corpo
12- ESU L’ONAN – o Senhor dos Caminhos
13- ESU OL’OBE – o Senhor da Faca
14- ESU EL’EBO – o Senhor das Oferendas
15- ESU ALAFIA – o Senhor da Satisfação Pessoal
16- ESU ODUSO – o Vigia dos Odús
ESU YANGI é a sua primeira forma e lhe confere a qualidade de IMOLE ou “Divindade”, pois nos Ritos da Criação, segundo o Credo Iorubá:
“O ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos transformou-se em lama. Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, a primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento.
Olorun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflando-lhe Seu Hálito e lhe deu vida. Esta forma, a primeira dotada de existência individual, um rochedo de Laterita, era ESU YANGI.”
Esu, portanto, foi criado diretamente por Olorun, não da prórpia e primordial matéria divina, da qual Ele já criara Obatalá e Oduduwa, o Casal Divino, mas da matéria que iria formar toda a existência genérica subseqüente a EERUPE (lama) da qual seria criada toda a Humanidade.
Um dos assentamentos de Esu Yangi é uma pedra de laterita vermelha enfiada no solo.
Imole Esu é o primeiro Ser criado da Existência genérica, por isso também chamado de Esu Agbá (Exú Ancestral).
Os ORISIRISI ESU prosseguem contando como IMOLE ESU logo se descontrolou começando a devorar toda a existência. Posteriormente, Esu fora obrigado por Orunmilá a vomitar tudo de volta. Entretanto, Esu devolveu tudo em maior quantidade, muito melhor do que quando o ingerira. Esu devolveu tudo renovado.
Deste modo, Esu foi picado em milhares de pedaços pela espada de Orunmilá, transformando-se no “Mais Um” ou o “Um multiplicado pelo Infinito”, no ESU OKOTO (Esu do Caracol).
Como ESU YANGI também se multiplicou infinitamente, se tornado no símbolo da restituição e da recomposição, tornou-se ele próprio no Oba Baba Esu (Rei e Pai de todos os Esu).
Os outros atributos iremos percebendo-os conforme se dá o processo de criação segundo os ESE ITAN IFÁ, onde trata do Imole Osetuwa.
QUANDO os Imole vieram à Terra, apesar de fazerem tudo o que Olorun lhes ensinara para que a vida fosse Odara (Feliz), sobreveio na Terra todos os tipos de desgraças, inclusive uma prolongada seca.
Diante disso, os Imole se reuniram e decidiram que deveriam enviar alguém sábio à presença de Olorun para buscar a solução para os problemas que afligiam a Terra.
Deste modo, ORUNMILÁ, o Orixá da Divinação Sagrada, partiu nessa missão e data daí o fato de que ele passou a ser um dos três IMOLE que podem apresentar-se perante OLORUN e suportar-Lhe o esplendor. Ao lhe ser permitido facear OLORUN, ORUNMILÁ ouviu Dele que a razão para todas as desgraças que assolavam a Terra estava no fato de que eles, os IMOLE, não haviam convidado para morar no ODE AIYE, ou seja, a “moradia dos IMOLE na Terra”, ao Ser que se constituía no décimo sétimo dentre eles. Quando assim o fizessem, tudo voltaria a frutificar!
E foi assim que ORUNMILÁ tornou-se o “Arauto de OLORUN” para a ligação dos dois mundos, o Orun e o Aiye.
Retornando ao Aiye, Orunmilá iniciou a busca pelo “Décimo Sétimo”, o qual deveria ser convidado a morar com eles, no entanto, após várias tentativas infrutíferas, todos decidiram que a poderosa feiticeira Osum (Oxum) deveria conceber um filho de OSO (O Senhor do Poder Mágico). Esse filho receberia ainda no ventre materno o Ase (Axé) de todos os Imole por imposição conjunta das mãos para que se tornasse o Mensageiro das oferendas dos Imole acabando, assim, com as desgraças da Terra.
Assim, o filho do “Feitiço com o Poder Mágico” foi chamado de Osetuwa, este Orixá Gerado passou a tentar cumprir seu destino, mas não obteve sucesso.
Certo dia Osetuwa lembrou-se de Esu Odara (Exú da Felicidade) e, assim, procurou-o e pediu-lhe ajuda para levar as oferendas dos Imole a Olurun. Esu Odara disse que por esse gesto, hoje o Orun lhe abriria as portas.
Osetuwa e Esu Odara seguiram rumo aos portões do Orun, lá adentrando, pois as suas portas já se encontravam abertas. Deste Modo, Osetuwa conseguiu entregar as oferendas dos Imole a Olorun que as aceitou, pois vieram através de Esu. Olorun deu a Osetuwa todo o necessário à sobrevivência do mundo.
Em seguida, Osetuwa voltou ao Aiye e tudo frutificou novamente! Os Imoles lhe agradeceram com presentes e o celebraram como o único dentre eles que conseguira levar as Oferendas ao Orun, no entanto, Osetuwa levou todos os presentes que recebera ao Esu Odara.
Quando os deu a Esu Odara, o mesmo disse:
“Você, OSETUWA, todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a Terra, se não os entregarem primeiro a você para que você os possa trazer a mim, farei com que as Oferendas não sejam aceitas!”
E foi assim que OSETUWA tornou-se um poderoso Akin Oso ou “Manipulador do Poder”, duplamente por seu nascimento e pela confirmação de IMOLE ESU ODARA, por ter mostrado a todos os IMOLE que ESU era realmente o OSIJE ou “Mensageiro Divino” e que também tinha o poder de aceitar ou recusar os sacrifícios rituais porque era o verdadeiro Eleru ou “Senhor da Obrigação Ritual”.
A partir daí, todos os Imole decidiram dar ao Imole Esu um pedaço de suas próprias bocas a fim de que ele pudesse falar por todos quando fosse perante Olorun. Imole Esu uniu todos esses pedaços em sua própria boca e tornou-se Enu G’barijo (Boca Coletiva) de todos os Imole.
Como retribuição de Esu aos Imole, cada um deles possui ao seu lado o Esu Okoto e, por delegação espontânea dos Imoles Esu tornou-se Elegbara (O Senhor do Poder Mágico).
Por isso, todos os seres que vivem no Aiye possuem seu Olori (Senhor do Ori, Senhor da Cabeça) e seu Elebara (Senhor do Corpo).
Esu, por ser, então o mensageiro Divino, O Senhor do Carrego Ritual prescrito por Orunmilá é também L’Onan (O Senhor dos Caminhos). Sendo também o Ol’Obé (O Senhor da Faca).
Estão ai resumidamente apresentados os 16 atributos de Seu que se relacionam com os 16 Baba Odús do Ifá, quais sejam:
1. Èjìogbè 2. Òyèkúméjì
3. Ìwòrìméjì 4. Ìdíméji
5. Ìrosùnméjì 6. Òwónrínméjì
7. Òbàràméjì 8. Òkànrànméjì
9. Ògúndáméjì 10. Òsáméjì
11. Ìkáméjì 12. Òtùrùpónméjì
13. Òtúráméjì 14. Ìretèméjì
15. Òséméjì 16. Òfúnméjì
Percebemos, assim, a importância de Esu…
Dentro do Oráculo todos os caminhos que se apresentam estão também relacionados a um aspecto de Esu. Por isso, não relacionaremos aqui os 16 atributos de Esu com os 16 Baba Odús, ficando isso por conta de cada um. Gostaríamos de esclarecer que o Oráculo é vivo, dinâmico e não estático, daí a importância de sua ‘correta’ interpretação. A busca por esse entendimento, por essa correta tradução passa pela mediunidade, sendo imprescindível a sua manutenção e desenvolvimento. É a mediunidade que traz a Tradição Viva do Astral até nós, no presente caso, através do Oráculo e seus caminhos.
O Sacerdote busca promover no Omo Awo (Filho do Segredo – O Aprendiz) esse desenvolvimento mediúnico para que ele possa entrar em sintonia com o Oráculo e receber do Astral a iluminação necessária para o correto aconselhamento e interpretação na hora do jogo.
O estudo do Oráculo é, antes de tudo, um profundo caminho de auto-conhecimento e despertar para a consciência espiritual.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecereis o universo e os deuses[1]”.
Araman
————————————-
Referências:
AFOLABI, A. Epega & Philip John Neimark. The Sacred Ifa Oracle. 2ª Ed. Athelia-Henrietta Press, 1999;
CAMPBELL, Joseph, 1904-1987. O Poder do Mito / Joseph Campbell, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers ; tradução de Carlos Felipe Moisés. -São Paulo: Palas Athena, 1990;
COSTA, Ivan H. (Mestre Itaoman). Ifá: O Orixá do Destino. São Paulo: Ícone;
JUNG, Carl Gustav, 1875-1961. Os arquétipos e o inconsciente coletivo / CG. Jung; [tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva]. – Perrópolis, RJ: Vozes, 2000;
OLIVEIRA, Wilian C. (Mestre Obashanan). Teologia Umbandista: Do Movimento à Convergência. São Paulo: Ícone, 2001;
PRANDI, Reginaldo. Ifá o Adivinho. Cia das letras;
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. Cia das letras;
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. 6ª Ed. Corrupio, 2009;
VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas Africanas dos Orixás. 4ª Ed. Corrupio, 1997;
[1] Inscrição que se encontrava à entrada do Santuário de Delfos na Grécia Antiga.