CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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terça-feira, 3 de setembro de 2019

CABAÇAS IGBÁ

  

IGBÁ — A UTILIZAÇÃO DA CABAÇA RITUALÍSTICA

A  cabaça  é  um  fruto  vegetal  com  larga  utilização  no  Candomblé.  

É  o  fruto  da cabaceira.  Inteira,  é  denominada  cabaça;  cortada,  é  cuia  ou  coité;  e  as  maiorias são denominadas cumbucas.

Nos  ritos  do  Candomblé,  sua  utilização  é  ampla,  tomando  nomes  diferentes  de acordo  com  o  seu  uso,  ou  pela  forma  como  é  cortada.  

Os  yorubas,  como  todos  os outros  povos,  aproveitavam  as  igbá  [cabaças]  como  vasilhas  para  uso  doméstico  e ritualístico. As cabaças, dependendo do seu uso, recebiam nomes diferentes:A  cabaça  inteira  é  denominada  Àkèrègbè¹,  a  cortada  em  forma  de  cuia  toma  o  nome  de  Ìgbá².  

A  cortada  em  forma  de prato  é  o  Ìgbájé

3,  ou  seja,  o  recipiente  para  a  comida;  a  cortada  acima  do  meio,  forma  uma  vasilha  com  tampa,  tomando o  nome  de  Ìgbase

4 ou  cuia  do  Àse,  e  é  utilizada  para  colocar  os  símbolos  do  poder  após  a  obrigação  de  sete  anos  de uma  Ìyàwó  como  a  tesoura,  navalha,  búzios,  contas,  folhas,  etc.  que  permitirão  à  pessoa  ter  o  seu  próprio  Candomblé. Ado

5  –  cabaças  minúsculas  são  colocadas  no  Sàsàrà  de  Omolu,  como  depósito  de  seus  remédios.  No  Ógó  de  Èsù,  uma representação do falo masculino, as cabaças representam os testículos. 

6  Usa-se  uma  das  partes  da  cabaça  cortada  ao  meio,  e  colocada  na  cabeça  das  pessoas  a  serem  iniciadas  e  que  não podem ser raspadas por serem Àbìkú, para nela serem feitas as obrigações necessárias.

Com  o  corte  ao  comprido,  torna-se  uma  vasilha  com  um  cabo,  chamada  de  cuia  do  Ìpàdé

7  e  serve  para  colher  o  material de oferecimento ou para colher as águas do banho de folhas maceradas.Inteira  e  revestida  de  uma  rede  de  malha  será  o  Agbè

8,  instrumento  musical  usado  pelos  Ogans,  durante  os  toques  e cânticos.Uma  cabaça  com  o  pescoço  comprido  em  forma  de  chocalho  é  agitada  com  as  suas  sementes,  fazendo  assim  o  som  do Séré

9, forma reduzida de Sèkèrè, instrumento por excelência de Sàngó. 

10  A  cabaça  inteira  em  tamanho  grande  substitui  nos  ritos  de  Àsèsè,  a  cabeça  de  uma  pessoa  que  morreu  e  que  por alguns fatores não é possível realizar as obrigações de tirar o Òsu. Por  fim,  pode  ser  lembrado  que  a  cabaça  cortada  em  forma  de  vasilha  com  tampa  é  conhecida  como  Ìgbádu

11,  a  cabaça da existência e contém os símbolos dos quatro principais Odù: Éjì, Ogbè, Òyekú Méjì, Ìwòri Méjì e Òdí Méjì.

ILUSTRAÇÕES: 


1  –  Akèrègbè  –  cabaça  de  bom tamanho  [30  a  50  cm],  servindo como vasilha paral iguido



2  –  Igbá  –  cabaça  cortada em   forma   de   cuia.      ÌGBÀ assentamento     de     Orixá; panela  onde  se  guardam  os objetos       sagrados       dos deuses e se faz o sacrifício.



3 – Ibajé –  cabaça cortada em forma de prato. Recipiente para a comida.



4  –  ÌGBASE  –  Cabaça cortada  acima  do  meio, formando    uma    vasilha com tampa





5  -  Ádo  -  pequena  cabaça  utilizada  para armazenar  pós  ou  remédios.  É  aquela que  se  vê  nas  figuras  de  Exu,  Osaniyn e Obaluaiye.





6  –  Cabaça  cortada ao meio.



7 – Cabaça do Ipade



8 – Agbé – Inteira e revestida de uma rede Xequere instrumento musical 





9 – Séré – cabaça com um longo e fino pescoço. Quando cortada ao meio, serve como uma concha. Quando inteira, serve como chocalho ritualístico para anunciar Xango, sendo chamada então de SÉRÉ Sángo



  10 – Cabaça Inteira  




11 – Igbadu




12 - Ahá - pequena cabaça servindo como copo ou xícara para tomar remédios e bebidas



13 - Ató - cabaça pequena e comprida, utilizada para guardar remédios




14 - Pòko - ou a metade superior ou a inferior de uma cabaça de forma oval




15 - Igbá kòtò - cabaça larga e alta, usada para guardar ÈkO [um bolo de milho] quente. Tem uma tampa que pode ser usada como funil.




16 - Koto - cabaça grande e larga, semelhante a um cesto em formato.




Na  religião  Yorùbá,  Igbás  (awọn  igbá)  são  assentamentos  de  orixá  (òrìṣà).  Um assentamento  é  uma  representação  do  orixá  (òrìṣà)  no  espaço  físico,  no  mundo, no  aìyé.  Sob  o  ponto  de  vista  sacro  não  existem  representações  humanas  de  orixá (òrìṣà).

A   religião  Yorùbá   não   tem   imagens   para   representar   suas   divindades,   o   que representa   uma   divindade   é   o   seu   Igbá,   ao   olharmos   um   Igbá   é   como   se estivéssemos  olhando  para  a  divindade.  Secularmente  existem  representações  em forma  de  desenhos  e  esculturas  mas  que  são  frutos  apenas  de  criatividade  de artistas e não tem uso sacro.

Os   orixá   (awọn   òrìṣà)   são   adequadamente   representados   por   símbolos   e grafismos  próprios  de  cada  um  e  por  extensão  por  outros  elementos  como  folhas,  arvores,  favas  e  contas.  

Mas  o  Igbá  é a sua representação mais adequada.Vale  refazer  a  afirmação,  já  explicada  em  outro  material,  de  que  o  orixá  (òrìṣà)  não  são  elementos  da  natureza,  assim “olhar”  o  vento  não  significa  olhar  para  oya,  olhar  uma  pedra  não  significa  olhar  para  Xango  (ṣàngó),  olhar  para  o  mar não significa olhar para yemoja, etc..

O  mesmo  sentimento  que  um  católico  tem  ao  olhar  para  uma  imagem  de  um  santo  em  sua  igreja  e  altar,  o  povo  de santo  tem  ao  olhar  para  um  igbá.  

É  muito  comum  as  pessoas,  nos  seus  quartos  de  santo,  “vestirem”  seus  Igbá  com suas  roupas  de  orixá  (òrìṣà)  como  se  fosse  o  próprio  orixá  (òrìṣà).  Contudo,  igbá  são  de  acesso  muito  restrito,  de  uso exclusivamente sacro e ritualístico, não tem visibilidade pública e ficam guardados dos olhos de todos.

Dessa  maneira,  cada  Igbá  representa  uma  divindade  através  de  um  continente  (Vaso,  invólucro,  recipiente)  e  seu conteúdo,  e  esse  conjunto,  continente  e  conteúdo  é  específico  de  cada  divindade.  

Esses  continentes  podem  ser  de porcelana  (substituindo  cabaças),  barro  ou  madeira  e  serão  empregados  distintamente  para  cada  divindade  que  ele representa. São usados elementos físicos comuns, como tigelas, sopeiras, pratos, bacias e alguidares.

O  iniciado  no  seu  processo  de  feitura  (que  é  distinto  de  uma  iniciação  mas  muitas  vezes  essas  expressões  se confundem)  poderá  receber  um  ou  vários  Igbá,  dependendo  do  seu  status  na  religião  e  da  própria  tradição  da  casa  em conduzir este ritual.Mas  o  igbá  não  é  o  orixá  (òrìṣà)  no  aìyé.  Essa  religião  não  coloca  um  orixá  (òrìṣà)  dentro  de  uma  sopeira,  não  é  uma religião  animista.  

O  igbá  representa  apenas  a  ligação  entre  os  2  espaços,  o  espaço  físico  aìyé  e  o  espaço  espiritual  o Orun  (ọ̀run).  É  uma  “ponte”  entre  os  2  espaços.  Sua  função  não  é  trazer  o  orixá  (òrìṣà)  para  o  aìyé  porque  os  orixá (òrìṣà)  já  estão  presentes  em  nossa  vida  o  tempo  todo,  não  existe  secularismo  na  religião.  

Sua  função  é  completamente ritualística.O  igbá  é,  de  fato,  dentro  de  toda  a  religião  Yorùbá  uma  dos  elementos  mais  importantes  e  significativos  por  traduzir  a contínua  relação  entre  o  Orun  (ọ̀run)  e  o  aìyé.  Ele  representa  o  reconhecimento  da  existência  do  espaço  espiritual,  o Orun  (ọ̀run),  e  a  ligação  perene  que  existe  entre  os  2  espaços  (ọ̀run-aìyé)  na  forma  de  um  contínuo  duplamente alimentado  e  da  circulação,  transformação  e  reposição  de  axé  (àṣẹ).  


Dessa  maneira  o  seu  valor  não  esta  somente  na sua existência como instrumento ritualístico, como foi ressaltado no início, mas também no que ele representa.

Toda  religião  tem  símbolos  e  simbolismos.  Uma  cruz  para  os  católicos  representa  muito  também:  todo  o  significado  da paixão  e  do  sacrifício  de  Jesus.  

Assim  esse  símbolo  traduz  em  sí  muito  mais  do  que  somente  a  lembrança  da crucificação  de  Jesus  e  sim  um  todo  da  sua  doutrina,  poderíamos  falar  muito  apenas  olhando  para  uma  cruz.  O  mesmo vale  para  um  Igbá.  

Nada  é  mais  sagrado  por  sí  só  pelo  seu  uso  e  nada  pode  traduzir  tanto  da  doutrina  que  cobre  a religião Yorùbá como o entendimento da sua função.

O  Igbá  é  uma  manifestação  de  Fé,  e  por  isso  um  reconhecimento  de  nossa  Fé  na  religião.  

De  acordo  com  a  metafísica Yorùbá,  para  tudo  que  existe  no  aìyé  existe  um  duplo  no  Orun  (ọ̀run).  

O  Igbá  é  um  elemento  de  ligação  entre  essas  2 porções  e  um  instrumento  de  concentração  de  energia.  

É  usado  para  nos  ligarmos  às  divindades,  liga  o  físico  à dimensão espiritual, a dimensão aìyé à dimensão Orun (ọ̀run)


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