O Amor é uma palavra mágica e poderosa, que ronda o imaginário humano, sendo sempre muito difícil ilustrá-lo ou lhe dar uma definição concreta, mas vou tentar definir mesmo assim: - O Amor é igual a respeito, cumplicidade, lealdade, verdade, amizade e solidariedade.
Ele soma e multiplica, e nunca subtraí, e sempre divide. É mais do que dizer:
“Eu Te Amo” ouvindo músicas românticas.
Amar é querer fazer o outro feliz e ser feliz em seqüência.
É amar tanto a qualidade que se aceita por extensão os defeitos, afinal, ninguém é perfeito, e pessoas idealizadas viram frustrações futuras.
Amem os outros pelo que lhes são, assim como os Orixás nos ama pelo que somos.
A pouco tempo atrás aconteceu essa história aqui relatada, mas que trás em sua essência uma verdadeira mensagem para todos aqueles que acreditam, tem fé e amam os Orixás.
Ela começa em uma noite escura e assustadora, daquelas de arrepiar os pelos do corpo.
Realmente o Sol tinha se escondido nesse dia, e a Lua, tímida, teimava em não iluminar com seus encantadores raios, brilhosos como fios de prata, a morada dos Orixás.
Nessa estranha noite, Ogum, o Orixá das "guerras", saiu do alto ponto onde guarda todos os caminhos e dirigiu–se ao mar. Lá chegando, as sereias começaram a cantar e os seres aquáticos agitaram–se. Todos adoravam Ogum, ele era tão forte e corajoso.
Yemanjá que tem nele um filho querido, logo abriu um sorriso, aqueles de mãe "coruja" quando revê um filho que há tempos partiu de sua casa, mas nunca de sua eterna morada dentro do coração. — Ah Ogum, que saudade, já faz tanto tempo! Você podia vir visitar mais vezes sua mãe, não é mesmo? — ralhou Yemanjá, com aquele tom típico de contrariedade.— Desculpe, sabe, ando meio ocupado. — Respondeu um triste Ogum.— Mas, o que aconteceu? Sinto que estás triste. — É, vim até aqui para "desabafar" com você "mãezinha".
Estou cansado! Estou cansado de muitas coisas que os encarnados fazem em meu nome.
Estou cansado com o que eles fazem com a "Espada da Lei", que julgam carregar.
Estou cansado de tanta demanda.
Estou muito mais cansado das "supostas" demandas, que apenas existem dentro do íntimo de cada um deles... Estou cansado...Ogum retirou seu elmo, e por de trás de seu bonito capacete, um rosto belo e de traços fortes pôde ser visto.
Ele chorava.
Chorava uma dor que carregava há tempos. Chorava por ser tão mal compreendido pelos humanos. Chorava por ninguém entender, que se ele era daquele jeito, protetor e austero, era porque em seu peito a chama da compaixão brilhava. E, se existe um Orixá leal, fiel e companheiro, esse Orixá é Ogum.
Ele daria a própria Vida, por cada pessoa da humanidade, não apenas pelos filhos do Axé. Não! Ogum amava a humanidade, amava a Vida.
Mas infelizmente suas atribuições não eram realmente entendidas.
As pessoas não viam em sua espada, a força que corta as trevas do ego, e logo a transformavam em um instrumento de guerra. Não via nele a potência e a força de vencer os abismos profundos, que criam verdadeiros vales de trevas na alma de todos.
Não viam em sua lança, a direção que aponta para o autoconhecimento, para iluminação interna e eterna. Não! Infelizmente ele era entendido como o "Orixá da Guerra", um homem impiedoso que utiliza–se de sua espada para resolver qualquer situação.
E logo, inspirados por isso, lá iam os filhos de fé esquecer dos trabalhos de assistência a espíritos sofredores, a almas perdidas entre mundos, aos trabalhos de cura, esqueciam do amor e da compaixão, sentimentos básicos em qualquer trabalho espiritual, para apenas realizarem "quebras e cortes" de demandas, muitas das quais nem mesmo existem, ou quando existem, muitas vezes são apenas reflexos do próprio estado de espírito de cada um.
E mais, normalmente, tudo isso torna–se uma guerra de vaidade, um show "pirotécnico" de forças ocultas.
Muita "espada", muito "tridente", muitas "armas", pouco coração, pensamento elevado e crescimento espiritual. Isso magoava Ogum. Como magoava: — Ah, filhos de Axé, por que vocês esquecem que o Axé é pura força e simplesmente amor e caridade? A minha espada sempre protege o justo, o correto, aquele que trabalha pela luz, fiando seu coração em Olorum.
Por que esquecem que a Espada da Lei só pode ser manuseada pela mão direita do amor, insistindo em empunhá-la com a mão esquerda da soberbia, do poder transitório, da ira, da ilusão, transformando-a em apenas mais uma espada semeadora de tormentos e destruição... Então, Ogum começou a retirar sua armadura, que representava a proteção e firmeza no caminho espiritual que esse Orixá traz para nossa vida.
E totalmente nu ficou frente à Yemanjá.
Cravou sua espada no solo. Não queria mais lutar, não daquele jeito. Estava cansado...
Logo um estrondo foi ouvido e o querido, mas também temido Xapanã apareceu. E por incrível que pareça o mesmo aconteceu. Ele não agüentava mais ser visto como uma divindade da peste e da magia negativa. Não entendia, como ele, o guardião da Vida podia ser invocado para atentar contra Ela.
Magoava–se por sua alfanje da morte, que é o princípio que a tudo destrói, para que então a mudança e a renovação aconteçam, ser tão temida e mal compreendida pelos homens. Ele também deixou sua alfange aos pés de Yemanjá, e retirou seu manto escuro como a noite. Logo se via o mais lindo dos Orixás, aquele que usa uma cobertura para não cegar os seus filhos com a imensa luz de amor e paz que se irradia de todo seu ser.
A luz que cura, a luz que pacifica, aquela que recolhe todas as almas que se perderam na senda do Criador. Infelizmente os filhos de fé esquecem-se disso... Mas o mais incrível estava por acontecer. Uma tempestade começou a desabar aumentando ainda mais o aspecto incrível e tenebroso daquela estranha noite. E todos os outros Orixás começaram a aparecer, para logo, começarem também a despir suas vestimentas sagradas, além de deixarem ao pé de Yemanjá suas armas e ferramentas simbólicas. Faziam isso em respeito a Ogum e Omulu, dois Orixás muito mal compreendidos pelos filhos de santo.
Faziam isso por si próprios. Iansã queria que as pessoas entendessem que seus ventos sagrados são o sopro de Olorum, que espalha as sementes de luz do seu amor. Oxossi queria ser reverenciado como aquele que, com flechas douradas de conhecimento, rasga as trevas da ignorância. Um a um, todos foram se despindo e pensando quanto os filhos de Axé compreendiam erroneamente os Orixás.
Yemanjá, totalmente surpresa e sem reação, não sabia o que fazer. Foi quando uma irônica gargalhada cortou o ambiente. Era Exu. O controvertido Orixá das encruzilhadas, o mensageiro, o guardião, também chegava para a reunião, acompanhado de Pombagira, sua companheira eterna de jornada. Mas os dois estavam muito diferentes de como normalmente se apresentam. Andavam curvados, como que segurando um grande peso nas costas.
Tinham na face, a expressão do cansaço. Mas, mesmo assim, gargalhavam muito. Eles nunca perdiam o senso de humor! E os dois também repetiram aquilo que todos os Orixás foram fazer na casa de Yemanjá. Despiram–se de tudo. Exu e Pombagira, sem dúvida, eram os que mais razões tinham de ali estarem. Inúmeros eram os absurdos cometidos por humanos em nome deles.
Sem contar o preconceito, que o próprio filho de santo ajudou a criar, dentro da sociedade, associando–o a figura do Diabo:—Hahaha, lamentável essa situação, hahaha, lamentável! —Exu chorava, mas Exu continuava a sorrir. Essa era a natureza desse querido Orixá. Yemanjá estava desesperada! Estavam todos lá, pedindo a ela um conforto.
Mas nem mesmo a encantadora Rainha do Mar sabia o que fazer:— Espere! Pensou Yemanjá! — Oxalá, Oxalá não está aqui! Ele com certeza saberá como resolver essa situação. E logo Yemanjá colocou-se em oração, pedindo a presença daquele que é o Rei entre os Orixás.
Oxalá apresentou-se na frente de todos. Trazia seu opaxorô, o cajado que sustenta o mundo. Cravou ele na Terra, ao lado da espada de Ogum. Também despiu-se de sua roupa sagrada, pra igualar-se a todos, e sua voz ecoou pelos quatro cantos do Orun: —Olorum manda uma mensagem a todos vocês meus irmãos queridos! Ele diz para que não desanimem, pois, se poucos realmente os compreendem, aqueles que assim o fazem, não medem esforços para disseminar essas verdades divinas.
Fechem os olhos e vejam, que mesmo com muita tolice e bobagem relacionada e feita em nossos nomes, muita luz e amor também está sendo semeado, regado e colhido, por mãos de sérios e puros trabalhadores nesse às vezes triste, mas abençoado planeta Terra. Esses verdadeiros filhos de fé que lutam por um Axé sério, sem os absurdos que por aí acontecem.
Esses que muito além de "apenas" prestarem o socorro espiritual, plantam as sementes do amor dentro do coração de milhares de pessoas. Esses que passam por cima das dificuldades materiais, e das pressões espirituais, realizando um trabalho magnífico, atendendo milhares na matéria, mas também, milhões no astral, construindo verdadeiras "bases de luz" na crosta, onde a espiritualidade e religiosidade verdadeira irão manifestar-se.
Esses que realmente nos compreendem e buscam-nos dentro do coração espiritual, pois é lá que o verdadeiro Orun reside e existe.
Esses incríveis filhos de Axé, que não colocam as responsabilidades da vida deles em nossas costas, mas sim, entendem que tudo depende exclusivamente deles mesmos. Esses fantásticos trabalhadores anônimos, soltos pelo Brasil, que honram e enchem o Axé de alegria, fazendo a filhinha mais nova de Olorum brilhar e sorrir...
Quando Oxalá se calou os Orixás estavam mudados. Todos eles tinham suas esperanças recuperadas, realmente viram que se poucos os compreendiam, grande era o trabalho que estava sendo realizado, e talvez, daqui algum tempo, muitos outros iriam se juntar nesse ideal.
E aquilo os alegrou tanto que todos começaram a assumir suas verdadeiras formas, que são de luzes fulgurantes e indescritíveis. E lá, do plano celeste, brilharam e derramaram-se em amor e compaixão pela humanidade.
Em Aruanda, os caboclos, pretos velhos e crianças, o mesmo fizeram.
Largaram tudo, também se despiram e manifestaram sua essência de luz, sua humildade e sabedoria comungando a benção dos Orixás.
Na Terra, baianos, marinheiros, boiadeiros, ciganos e todos os povos de Axé, sorriam.
Aquelas luzes que vinham lá do alto os saudavam e abençoavam seus abnegados e difíceis trabalhos.
Uma alegria e bem–aventurança incríveis invadiram seus corações.
Largaram as armas. Apenas sorriam e abraçavam-se. O alto os abençoava...
Mas, uma ação dos Orixás nunca fica limitada, pois é divina, alcançando assim, a tudo e a todos. E lá no baixo astral, aqueles guardiões e guardiãs da lei nas trevas também foram alcançados pelas luzes Deles, os Senhores do Alto. Largaram as armas, as capas, e lavaram suas sofridas almas com aquele banho de luz. Lavaram seus corações, magoados por tanta tolice dita e cometida em nome deles. Exus e Pombagiras, naquele dia foram tocados pelo amor dos Orixás, e com certeza, aquilo daria força para mais muitos milênios de lutas insaciáveis pela Luz.
Milhares de espíritos foram retirados do baixo–astral, e pela vibração dos Orixás puderam ser encaminhados novamente à senda que leva ao Criador.
E na matéria toda a humanidade foi abençoada. Aos tolos que pensam que Orixás pertencem a uma única religião ou a um povo e tradição, um alerta.
Os Orixás amam a humanidade inteira, e por todos olham carinhosamente.
Aquela noite que tinha tudo para ser uma das mais terríveis de todos os tempos, tornou–se benção na vida de todos.
Do alto ao embaixo, da esquerda até a direita, as egrégoras de paz e luz deram as mãos e comungaram daquele presente celeste, vindo diretamente do Orun, a morada celestial dos Orixás.
Vocês, filhos de Axé, pensem bem! Não transformem O Candomblé em geral em um campo de guerra, onde os Orixás são vistos como "armas" para vocês acertarem suas contas terrenas.
Muito menos se esqueçam do amor e compaixão, chaves de acesso ao mistério de qualquer um deles.
Candomblé é simples, é puro sentimento, alegria e razão. Lembrem–se disso.
E quanto a todos aqueles, que lutam por um Candomblé serio, esclarecido e verdadeiro, independente da linha seguida, lembrem–se das palavras de Oxalá ditas linhas acima.
Não desanimem com aqueles que vos criticam, não fraquejem por aqueles que não têm olhos para ver o brilho da verdadeira espiritualidade. Lembrem–se que vocês também inspiram e enchem os Orixás de alegria e esperança.
A todos, que lutam pelo Candomblé nessa Terra de Orixás, esse texto é dedicado.
Honrem a Eles. Sejam LUZ, assim como Eles São! Axé pra quem é de Axé !!!
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