Religiosidade Afro-Brasileira -
Os primeiros registros sobre a presença de negros no Brasil datam de 1559 quando a regente Dona Catarina autoriza a aquisição de cento e vinte escravos congoleses, por engenho, com a finalidade de proteger a indústria açucareira da colônia. Passados cinqüenta anos, o comércio intensificou-se e, segundo historiadores, chegou a mais de dez milhões de negros de aproximadamente 280 etnias diferentes, trazidos para o Brasil.
Muitos nobres e sacerdotes foram aprisionados, trazendo em suas mentes os costumes e a religião que participam da formação cultural brasileira. Aqui, as famílias eram separadas de acordo com o interesse dos compradores e as etnias iam se mesclando. Nos engenhos, os senhores proibiam a prática religiosa, por acreditarem tratar-se de bruxaria, adoração a entidades pagãs, obrigando o negro a participar dos ritos cristãos e a procurar alternativas para cultuar suas divindades. Surge o sincretismo.
Os negros, para não verem seus ícones destruídos, passam a ocultar seus objetos sagrados atrás das imagens dos santos católicos, ou dentro deles, quando feitos de madeira. Esta é a origem da expressão "santo do pau oco", que também serviu para denominar o roubo das riquezas da colônia, utilizando-se o mesmo método.
Muito se perdeu do culto aos orixás no novo mundo. Cultuam-se hoje aproximadamente dezesseis orixás dentro de centenas que são reverenciados ainda hoje na África. Lamentavelmente, pela miscigenação, introduziu-se, no culto aos orixás, o folclore dos europeus, dos índios brasileiros e do próprio sincretismo. Um exemplo típico é a roupa utilizada pelas mulheres durante as festas religiosas. As conhecidas baianas não fazem, nem de longe, qualquer referência aos trajes africanos, cujos desenhos servem de identificação da etnia do usuário. A vestimenta de baiana é uma roupa usada pelas sinhás da época, que, por sua vez, copiavam o estilo europeu.
O importante é que a religião afro-brasileira, a que denominamos candomblé, seja respeitada e incentivada para que perdure, pois a cultura africana faz parte do dia-a-dia de cada um de nós, e está presente em nosso vocabulário, em nossa culinária, na morenice do povo brasileiro.
Todos que se interessam pela cultura africana e pelo culto aos orixás devem ler, pesquisar, discutir, trocar informações, difundir seus conhecimentos, para que o saber se multiplique com qualidade e que todos tenham sempre em mente que uma pessoa pode ensinar tudo o que sabe e, mesmo assim, ficar com tudo o que ensinou.
Autor: Guaraci Soares da Silva
professor do Curso de "Mitologia dos Òrìsà/Idioma Yorubá"
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