CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Candomblé, Uma Religião?



"O termo religião é, de modo quase geral, relacionado com o verbo latino religere: cumprimento consciencioso do dever, respeito a poderes superiores, profunda reflexão.

O substantivo religio, relacionado com o verbo, refere-se ao objeto dessa preocupação interior quanto ao objetivo da atividade a ela relacionada.

Outro verbo latino posterior é citado como fonte do termo, religare, que implica um relacionamento íntimo e duradouro com o sobrenatural". 


As religiões pressupõem sistemas de crença, prática e organização, que estabelecem uma ética manifestada no comportamento de seus seguidores no que concerne ao procedimento ritualístico, (práticas padronizadas e invariáveis, por meio das quais os adeptos representam, de forma simbólica, sua relação com os seres sobrenaturais).


Estes rituais compreendem diferentes propostas, como súplicas, adoração, ou tentativa de controle sobre os acontecimentos, o que conduz então, à prática da magia ou da feitiçaria. É o próprio ritual que pode estabelecer um código de comportamento, através do qual os adeptos poderão se organizar.


"A organização religiosa define os membros da comunidade de crentes, tenta manter a tradição e reunir a dissidência, e, através de diferenciação interna, atribui tarefas religiosas aos crentes" 3.


Tudo isso exige, para que possa se efetivar, a existência de uma liderança centralizada numa autoridade sacerdotal, individualizada ou composta por um grupo de adeptos de alta hierarquia. A autoridade aí representada é que irá estabelecer a padronização do ritual, o reconhecimento de novos adeptos e a ordenação de novos sacerdotes.


A partir da organização, do estabelecimento de liderança universalmente aceita e reconhecida, da uniformização ritualística e da codificação de éticas comportamentais e procedimentais, o Candomblé poderá então - e só então - atingir o status de religião, na medida em que possui milhares e milhares de seguidores e adeptos, em sua maioria atrelados a falsos líderes que não possuem as verdadeiras atribuições que distinguem os legítimos sacerdotes, devendo-se ressaltar que, o processo iniciático é insuficiente para habilitar o indivíduo no exercício do cargo sacerdotal de hierarquia máxima.


A habilitação ao referido cargo não pressupõe simplesmente que o candidato seja iniciado. É necessário e indispensável que haja para isso, uma determinação dos próprios Orixás, o que só pode ser constatado através da consulta ao Oráculo de Ifá.


A ética religiosa pode, no entanto, ser consoante com o resto do sistema religioso e estar ao mesmo tempo, em contradição formal com ele, o que provoca certas tensões que fornecem novos impulsos, que tendem a produzir mudanças no sistema geral, ocasionando então, o surgimento de um ou vários grupos dissidentes, que, orientados pelos fundamentos principais do grupo originário, determinam, para seus componentes, mudanças no sistema geral e, apartando-se, estabelecem-se como seitas.


A conceituação de "seita" difere suficientemente para que não possa ser aceita como classificação para o Candomblé ao entendermos que: "Uma seita é um grupo religioso formado em protesto a outro grupo religioso, e geralmente se separando dele; sua formação representa a manutenção de credos, práticas rituais e padrões morais, mais comumente considerados pelos membros da seita como um retorno a formas mais antigas e mais puras dessa religião em particular,... ...com o tempo a seita muda para a posição de isolamento limitado, à parte do sistema circundante, ou para um estado de adaptação à ele." 4


Seita seria portanto, o resultado da separação de um grupo dissidente de uma religião, de um culto estabelecido ou até mesmo de outra seita, onde o surgimento de uma nova seita seria o resultado da canalização do descontentamento criado por divergências de qualquer natureza.


O objetivo do grupo dissidente não poderia ser outro senão o de mudar, através de uma ação inovadora, alguns, se não todos os elementos que caracterizam sua própria origem.


Diante do exposto concluímos que, o Candomblé, não podendo ser classificado como uma religião e tampouco como seita por falta de características essenciais, nada mais é do que um culto, subdividido em diversos grupos, com práticas ritualísticas que objetivam manter o sentido religioso original, orientado por liderança individual e geralmente carismática, e não sacerdotal, como era de se esperar.


Como característica comum esses grupos mantém os ritos específicos em homenagem aos Orixás, deidades africanas que servem de base ao sistema religioso em questão e cujo culto é mantido atualmente, muito mais através da manipulação dos adeptos pelo medo, do que por um sentido mais profundo de devoção religiosa.


A base principal do sistema está pautada na relação homem-Orixá, o que deverá ser estudado de forma suscinta para que possamos atingir o objetivo do presente trabalho.


1 - "Representação dos Orixás" ( In Antologia do Negro Brasileiro. P. Alegre, Globo, 1950, pg. 310).
2 - BIRBAUM. Religião - In: Dicionário de Ciências Sociais, Fundação Getúlio Vargas - Rio, 1987
3 - Obra citada - p. 1058, B.3.
4 - Obra citada, p.1104 A.



 

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