O Humgebê
O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje.
Ele representa o elo entre o orum e o aiye.
É o fio de conta da vida e da morte, símbolo do próprio céu, do mundo espiritual, invisível e transcendente.
O céu cósmico particularmente em suas relações com a terra.
Somente vodunsis recebem o humgebê.
Temos visto ogans e ekedis usando erradamente o humgebê.
Quando o inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o humgebê pois acaba de nascer no mundo do santo.
Quando o vodunsi morre, o humgebê o acompanha.
Ele nos liga ao orum, nos traz o orum e nos leva de volta ao orum.
Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente, algumas casas de Jeje darem o humgebê aos seus filhos somente na obrigação de sete anos.
Cabe aqui uma pergunta de uma velha Doné de Salvador ao relatarmos esse fato: - "Oxente!!!! Vocês no Rio só nascem aos sete anos?".
A preparação de um humgebê é igual ou maior que a feitura de um Vodum, inclui obrigações, currans, zandros, etc.
Há necessidade também, de alguns preceitos de humdemê.
O poder do humgebê ultrapassa a mente humana.
Ele sempre nos avisa quando vai acontece algo de muito grave na vida daquele vodunsi ou no kwe.
A voz do humgebê está num grande segredo da nação Jeje.
Cada humgebe confeccionado pertence àquele vodunsi e, em hipótese alguma, pode ser usado por outra pessoa ou tocado.
Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por todo um processo especial para ser reenfiado.
A confecção de um humgebê segue características rígidas.
Deve ter a quantidade certa de miçangas entre os corais e seu fechamento também é um só.
Não se fecha humgebê com contas na cor do santo do yao e sim como um segui, como temos visto em alguns candomblés.
Também observamos humgebês enrolados no pescoço, atitude que quebra todo o seu significado sagrado.
A quantidade de corais que compõem um humgebê, ao contrário que muitos pensam, não é fixa.
O comprimento de um humgebê varia de acordo com a altura da pessoa, devendo sempre estar um pouco abaixo do umbigo.
Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê composto por dois seguis, um no fechamento e outro no meio, o que também é correto.
O humgebê é composto de contas, corais e segui.
O coral é a "árvore das águas", participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas profundas (origem do mundo).
Sua cor vermelha aparenta com o sangue.
Segundo uma lenda grega, o coral teria surgido das gotas de sangue derramado pela Medusa.
O simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor quanto com a rara particularidade que tem de fazer coincidir, na sua natureza, os três reinos: animal, vegetal e mineral.
Devemos lembrar também, do simbolismo guerreiro da cor vermelha.
Como símbolo da árvore da vida e das águas profundas, faz o elo entre a vida e a morte.
Sua cor vermelha é o símbolo universal do princípio de vida, com sua força, seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue.
Representa não a expressão, mas o mistério da vida e da morte.
Um lado seduz, encoraja, provoca; o outro lado alerta, detém, incita à vigilância.
Este é, com efeito, a ambivalência do vermelho do sangue profundo: escondido ele é a condição da vida; espalhado significa a morte.
O azul do segui, é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo até o infinito.
É também a cor mais imaterial e fria e, em seu valor absoluto, a mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro.
O conjunto de suas aplicações simbólicas depende dessas qualidades fundamentais.
Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas, abrindo-as e desfazendo-as, desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna.
É o caminho do infinito, onde o real se torna imaginário, um pouco como passar para o outro lado do espelho.
O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e altaneira que é sobre-humana.
É também a cor da verdade.
A verdade, a morte e os deuses andam sempre juntos e é por isso que, a cor azul também é o limiar que separa os homens daqueles que o governam, do Além, seu destino.
Há também um simbolismo de castração, imposição e de um longo sacrifício, um certo heroísmo, embutido no azul do segui.
Como podemos observar, há uma enorme simbologia religiosa e cósmica no nosso Hungebê
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