O Povo de Santo de Cachoeira, cidade histórica do Recôncavo baiano, distante 110 km de Salvador, realiza no próximo dia 15 de fevereiro, a tradicional festa para Yemanjá que reúne devotos do candomblé de terreiros de diversas cidades da região.
A manifestação organizada pela ACYO - Associação Cultural Yemanjá Ogunté - mobiliza diretamente cinquenta terreiros e, indiretamente, cerca de 400, na preparação e realização do evento que conta com a parceria da prefeitura por meio da Secretaria de Cultura e Turismo do município.
A programação da festa deste ano terá início às 10h com concentração para a entrega dos presentes no Porto de Cachoeira. Às 15 horas, terá início o xirê (roda de cânticos e danças em homenagem aos orixás) com a participação de todos os devotos do candomblé presentes, e às 17 horas sai cortejo para a entrega das oferendas na Pedra da Baleia. Para encerrar a celebração, estão programadas a partir das 19h, apresentações do Samba de Roda de Dona Dalva, Esmola Cantada, Samba de Roda Filhos do Caquende e show com o grupo Gêje Nagô,
TRADIÇÃO-O presente coletivo para Yemanjá, considerada pelos fiéis do candomblé como a 'deusa das águas' e a 'mãe de todos os seres vivos existente na terra', é uma tradição de mais meio século, que foi retomada em Cachoeira, há três anos, por iniciativa de um grupo de sacerdotes, sacerdotisas e filhos de santo. Para reverenciar Yemanjá, terreiros de todas as nações se unem nessa festa que atrai turistas de outros estados e também do exterior. Para os integrantes da ACYO-Associação Cultural Yemanjá Ogunté, a festa "não se traduz simplesmente como um espetáculo cultural, e sim uma ação coletiva para se manter uma tradição que quase desapareceu".
Para celebrar o dia de oferendas para Yemanjá na cidade histórica, se unem à organização da festa grupos culturais de matriz africana de Cachoeira, São Félix, Muritiba, Maragojipe, Santo Amaro, Governador Mangabeira e Cruz das Almas e Conceição da Feira. No dia da festa, apresentam-se ao ar livre, grupos de samba de roda, afoxés, capoeira e tocadores de atabaques (ogãs alabês) de vários terreiros.
OFERENDAS - Os presentes para Yemanjá são depositados em balaios, sendo que cada terreiro prepara o seu próprio presente. Todas as pessoas que queiram homenagear a 'deusa das águas' também podem ofertar presentes, depositados em balaios colocados em um local próximo a margem do Rio Paraguaçu.
Após a realização do ritual do xirê (roda de cânticos e danças para todos os orixás), babalorixás, yalorixás e filhos de santo ainda sob o som dos atabaques, seguem com os balaios repletos para as embarcações que os levarão até a Pedra da Baleia, local considerado sagrado para o Povo de Santo do Recôncavo, no Rio Paraguaçu, entre as cidades de Cachoeira e São Félix. Milhares de pessoas se posicionam ao longo do cais do porto para acompanhar essa grande manifestação de fé e de confraternização do Povo de Santo. Confirmada a aceitação do presente, os devotos retornam à terra firme para apresentações dos grupos culturais e de samba de roda.
JUSTIFICATIVA
Conta a tradição religiosa de matriz africana que Yemanjá sentindo seus filhos desprezados e humilhados aqui no Recôncavo, sai de África e atravessa o Atlântico Negro em forma de baleia e, em Cachoeira, petrifica-se. É neste lugar que por muito tempo povos africanos escravizados faziam suas oferendas a esta deusa de nação Iorubana, que também é rio: Yemojá.
Neste doce inferno, expressão utilizada por Pe. Antonio Vieira, em seu Sermão XIV do Rosário, no ano de 1633, para chamar o Recôncavo, é que se construiu esta tradição que tem na diáspora africana sua origem.
Esta tradição ficou os últimos 50 (cinqüenta anos) sem ser realizada. Após pesquisa, a Associação Yemanjá Ogunté, em parceria com o povo de santo da região, vem realizando nos últimos três anos esta festa que se configura como um dos patrimônios culturais de Cachoeira.
Portanto, este projeto não se traduz simplesmente como espetáculo cultural, e sim uma ação coletiva para se manter uma tradição que por tanto tempo foi deixada em segundo plano por tratar-se de uma "cultura menor".
Desta forma, o Projeto Festa de Yemanjá da Cachoeira, se revela, hoje, a alquimia perfeita entre o desenvolvimento turístico de um território e a valorização de saberes ancestrais que se configuram como patrimônio da diversidade cultural baiana.
PROGRAMAÇÃO
10h - Concentraçãcao para entrega de presentes no Porto da Cachoeira;
15h - Xire (com Povo de Santo da Regiao)
17h - Cortejo para entrega de presentes na Pedra da Baleia
19h Dona Dalva do Samba / Esmola Cantada / Samba de Roda Filhos do Caquende / Jeje Nago
João de Moraes Filho
Gestor Cultural e Poeta,
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