A vingança de Exu.
Um baiano dono de engenho tinha como prazer criar galinhas; para muitas aves, apenas um galo. Quando o chefe do galinheiro era pintinho, andava azucrinando o engenho. Num desses dias, o dono mal humorado desabafou:
"__Esse bicho parece Exu. De pinto, só tem a aparência".
Exu (quando é mal cultuado faz maldade) sentiu-se ofendido.
Preparou a vingança. Passou a comandar o pinto.
Ao virar galo mostrou sua valentia. Ganhou apelido de "Maioral" do zelador do galinheiro, pois se sentia o próprio rei do terreiro. Todo galo que aparecesse por lá ele expulsava; caso insistisse, teria a morte decretada. As galinhas submissas o respeitavam como filhas de pai bravo. O medo era tanto que não conseguiam manter a postura de ovos de antes. Enraivecido o dono chama o zelador:
"Ôh bichinho! Me diga aí o que está acontecendo com a produção de ovos? Houve uma queda bastante acentuada!
__A culpa é do galo.
__Ah! então é do valentão. Compre um galo bom de briga, vou conferir sua valentia".
Conseguiram um galo da raça "índia", de postura de bicho brigão. Maioral, ao ver seu rival, nem se tocou: ciscou, bateu asas, ergueu o pescoço e partiu para briga. Bicada vem, esporada vai. Maioral preparou o ataque fatal, uma bicada na crista, causando o tombo letal do inimigo. Estufou o peito cacarejando:
"__Akukó mêji kósókó ni bôdi (dois galos não cantam no mesmo terreiro)".
O dono sentiu-se desafiado. Mandou matar o brigão, mas ele desapareceu.
"__Alguma urucubaca (feitiçaria tem protegido esse galo endiabrado, - desconfiou o dono - qual será?
__Não sei - respondeu o zelador - na casa do Oluwô sabe. É só jogar os búzios.
__Vá saber!
Chegando lá o zelador ouviu do velho:
"__Mê fi, diz a sê sinhô, ki u ki êci galú tem ni koripú, é Exu. Pregunte a êli, se num lembra diki galú era píntú, ki pintava kumo tudo mininu pinta a ki êli dici uma vez pra pintú: Ocê é um Exu. Di galú ocê só tem u forimáto. Puriço. Exu dêxo pintú crêcê, agora di galú gazeno êci brinkadêra pra si vingá delê, pra ki êle nunka maio pintú, nem di Exu. Si êle kê fazê ebó (sacrifício), pidindo perdão pra Exu, êli paga o nêgo, nêgo fazê trabaio. Exu peridôa, num atrapaia mai êli e galú vai fazê têreru vóritá ki éra anti".
Diante da resposta do babalaô, o dono do engenho lembrou-se da ofensa que fizera a Exu. Mandou o pai-de-santo fazer ebó, pedindo perdão ao Exu.
Conta a lenda que, após o despacho, o galo deixou seu orgulho ferido de lado, não mais malinava, reinando a normalidade no galinheiro. Até as galinhas passaram a botar regularmente.
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