A questão da cobrança de valores sempre foi um caso sério.
A gente vê tudo de ruim em torno disso.
Existe também uma pressão devido a prática kardecista que abomina a cobrança, assim não cobrar é ético e cobrar é não ético.
São religiões diferentes e o que não é ético é se comportar apenas motivado por dinheiro, lembrando que um Babalawo nunca será rico é assim que encontramos nas histórias é assim que os babalawos dizem.
Não que eu esteja dizendo que olodumare recrimina os que assim não se comportam ou que nosso orixá nos virara as costas, não, estou dizendo isso apenas pelo aspecto ético.
Mas o pior de tudo é ouvir que a pessoa só cobra porque “o anjo da guarda dela exige”.
No odù ofun ogbe Orunmila usa seus próprios materiais e dinheiro para fazer o sacrifício para Orixa nla (oxala) e depois é compensado em 200 x vezes o que gastou.
Mas no odu ogbe meji existe uma história muito direta sobre o assunto e que é usada como explicação porque um babalawo cobra por seus serviços.
Ogbe meji (orunmila) veio para a terra para trazer o bem e fazer o bem a todo mundo.
Ele incansavelmente dia e noite ajudava a todas as pessoas que encontravam e que o procuravam e nada exigia delas para isso.
A benevolência do jovem eji ogbe o fez muito popular e sua casa tinha uma fluxo imenso de pessoas que o procuravam pedindo sua ajuda, dia e noite.
Ele curou os doentes, fez sacrificios para os pobres, ajudou mulheres estéreis a terem filhos e garantiu o nascimento seguro de crianças de todas as mulheres gravidas que o procuravam.
Com essas atividades ele ganhou muita admiração dos beneficiados mas também ganhou inimizades dos sacerdotes mais antigos que ele que não se uniam a ele em seu altruismo e benevolencia.
Um dia cansado ele dormiu e seu ori veio em seu sono o advertindo que esses sacerdotes estavam conspirando contra ele. Ele acordou de manhã e logo foi para o oráculo. Ele procurou os sacerdotes Osigi sigi le epo, usee mi ookagba igba e abu kele kon lo obe ide que juntos consultarem Ifá para ele eles o aconselharam a....
... Os outros sacerdotes que se sentiram atingidos e prejudicados em seu modo de vida porque ogbe meji fazia milagres sem cobrar nada foram para o Orun um depois do outro para relatar a olodumare acusando eji ogbe de os prejudicar ao introduzir um novo código de comportamento o qual era totalmente estranho à ética no aiye.
Ogbe meji por sua parte não tinha vida própria porque gastava todo o seu tempo a serviço de outros.
Quando as crianças tinham convulsão ele era chamado, quando gravidas precisavam de ajuda ele era chamado, etc..
Olodumare ouvindo esses relatos enviou Esu a terra para trazer eji ogbe de volta.
Esu usou de discrição como uma estratégia para trazer eji ogbe de volta ao orun.
Ele se transformou em uma pessoa sem emprego, procurando por um trabalho e foi bem cedo a casa de eji ogbe.
Chegando lá ele implorou a ogbe meji para lhe dar um trabalho que o permitisse a viver. Eji ogbe disse que não tinha como dar um trabalho a ele porque ele trabalhava de graça para as pessoas do mundo.
Como ele ia comer o seu desejum ele chamou o visitante para comer com ele, mas esse disse que não se qualificava para comer no mesmo prato de ogbe meji assim iria comer após ogbe meji ter comido.
Contudo enquanto essa discussão se dava uma nova pessoa aparecia pedindo ajuda, ela disse que o seu unico filho estava em convulsão e ela queria que eji ogbe viesse reviver o garoto.
E assim se foi o dia todo resolvendo duvidas, brigas e disputas.
O sol já se punha quando eji ogbe sentou para comer seu desejum matinal. Ele insistiu para o visitante comer com ele mas esse disse que somente depois iria comer.
Quando ele começou a comer Esu se transformou em Esu e eji ogbe viu que o seu visitante era um enviado de olodumare.
Ele parou de comer e perguntou que mensagem teria para ele, e esu disse que olodumare queria ve-lo no orun.
Esu o abraçou e eles foram transportados para o Orun.
Tão logo chegando lá ele ouviu a voz de olodumare perguntado a ele, eji ogbe, por que estava criando tanta confusão no mundo!
Eji ogbe se pos de joelhos para dar a sua explicação mas, esu, se pos a frente e se ofereceu para explicar.
Esu explicou que olodumare em pessoa não poderia estar fazendo tanto quanto eji ogbe no aiye.
Ele disse que desde cedo e sem tempo até para comer, eji ogbe estava a serviço da humanidade sem receber nenhuma recompensa por isso.
Esu disse que eji ogbe fazia no aiye a mesma coisa que fazia no orun e que por isso ela estava apenas aborrecendo os sacerdotes que eram amantes de dinheiro.
Olodumare disse que eji ogbe se levantasse dos seus joelhos e que voltasse para o aiye e continuasse o seu bom trabalho, mas, que cobrasse um valor razoável por seus serviços, mas continuasse a ajudar a quem necessita e que receberia por isso as bençãos dele olodumare.
A interpretação de uma história depende sempre do interlocutor, não existe uma interpretação única ou mesmo sentido literal.
Essa história justifica o fato de os babalawo cobrarem por seus serviços.
Também mostra que fazer o bem é o que se espera de uma boa pessoa e não trocar benfeitorias por dinheiro é o que de melhor se poder esperar de uma pessoa; mostra também que as pessoas se incomodam com o bem que você faz e não com o mal que você as traz.
Enfim, muitas interpretações podem ser feitas por cada pessoa.
Hoje em dia, conhecendo o imenso trabalho e desgaste pessoal de um Babalorixá ou Yalorixá do Candomblé sou a primeira a defender que tudo deve ser cobrado sim!!! E mesmo que a pessoa não tenha o total do valor de um ebó, ela tem por OBRIGAÇÃO pagar um pouco ou ir pagando aos poucos pelo IMENSO TRABALHO que dá preparar e fazer um ebó. O interessante é que para pagar uma cerveja ou uma pizza, ou qualquer prazer que vai privada abaixo algumas horas depois, todo mundo tem dinheiro. Para uma balada, sempre tem algum, né? Mas pagar algo tão precioso como um ebó ou para ajudar a construir a casa de santo, ninguém tem... e ainda o povo não sabe porque não sai da merda.
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