CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é Ifá?







Uma questão que sempre tenho observado ser bastante polêmica nos dias de hoje é sobre se o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é Ifá. 


O que esta no núcleo dessa questão, junto com vários aspectos colaterais e acessórios é se ele representa uma comunicação de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) entre o aìyé e o orun (ọ̀run). Sim, na minha opinião o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) pode ser Ifá e pode trazer as mensagens de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) através de Odù.


Essa discussão, creio eu ficou mais intensa nos últimos anos devido ao estabelecimento do culto de Ifá no Brasil e com o surgimento dos primeiros Babaláwo brasileiros que, mais do que se preocupar em fazer dinheiro vendendo obrigações, estão inseridos na cultura da religião e participam de fóruns e grupos de discussão virtuais.




Como muitas questões práticas, essa simples afirmação, de que eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é Ifá, envolve alguma complexidade porque o mundo real é complexo na sua composição e é essa complexidade que alimenta essa polêmica porque muitas vezes estamos falando de coisas distintas e nem todos tem o mesmo entendimento básico da questão que está sendo tratada. 


Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, mas vou dar minha opinião de forma ampla.
A questão do culto às divindades


Em primeiro lugar, temos a questão do culto especializado ao oráculo, que é novo no nosso ambiente cultural e que deu uma nova dimensão a essa discussão. 


Ifá é um culto diferente do Candomblé. 


É um culto especializado e orientado a uma divindade, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), o elerii (ẹlẹ́rií) ìpin, testemunho dos destino de todos nós. Os sacerdotes de Ifá se dedicam a ser os mensageiros de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), que por sua vez é o mensageiro dos orixa (òrìṣà) e de Olódùmarè, o Deus supremo dos Yorùbá. 


No que pese ser impossível praticar a religião sem que todos os orixa (òrìṣà) estejam envolvidos os sacerdotes de Ifá se dedicam exclusivamente a uma única divindade Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e tudo deles gira e torno dele. Ifá é Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e é também o nome do oráculo através do qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) fala conosco.




No Brasil, não tivemos o culto da Ifá. Esse foi um culto que não veio e não foi trazido posteriormente, como acabou ocorrendo com o culto de eegún. Temos assim muito bem estabelecido, com qualidade, o culto de orixa (òrìṣà), através do Candomblé das nações (nago, ketu, jeje, ijexá, hansa, mina, tapa e muitas outras) e temos o culto de eegún, com casas exclusivas para um e para o outro.


O Candomblé é um tradição religiosa baseada em uma matriz teológica africana. Ele contudo não reflete exatamente o que existe na África porque é uma tradição originada através da diáspora negra. Esse processo, a diáspora criou mais do que uma tradição religiosa, no nosso caso o Candomblé, mas também o lukumi em Cuba e o Voodoo no Haiti. 


Todas essas tradições desenvolveram conceitos próprios e até práticas. Não acho que mudaram nada mas, na ausência de acesso ao dogma original,seja por questões de distância ou de língua, tiveram que se vira com o que tinham e sabiam. Além disso o sincretismo influenciou diferentemente cada uma dessas tradições.


Uma tradição é um movimento muito comum em qualquer religião. Não se trata de uma degradação, pelo contrário, é uma especialização, uma melhoria, um formato que atualiza e adiciona riqueza cultural. 


Quando a criatividade é demasiada isso gera de fato uma nova religião ou uma prática que se distancia demais da matriz teológica original para que possamos chamá-la de tradição, assim, é sempre necessário um certo dogmatismo e fundamentalismo porque senão a religião se perde e acaba ocorrendo um processo igual ao da Umbanda, que não significa nada em termos religiosos.
Dentro dessa sua diferenciação o Candomblé reformatou o culto aos orixa (òrìṣà) em bases que eram as possíveis e também as necessárias para a nossa terra. 


E, um desses aspectos, foi a centralização do culto a todas as divindades em uma só casa, sob um único teto, além da qualidade multifuncional do sacerdote religioso, o Babalórìṣà.
O conhecimento que tenho do formato Africano, através de uma poucas fontes escritas ou orais, era de que o culto na África tinha uma certa especialização. Assim eram templos dedicados a uma divindade, o culto a uma divindade concentrado em vilas e até mesmo regiões e os sacerdotes especializados no culto de sua divindade. 


Um modelo muito diferente do nosso. O objetivo não é fazer comparações qualitativas até porque, o Candomblé é uma tradição muito bem sucedida e completa, preservando cultos que foram perdidos pelos africanos e com liturgias, orações e cantos muito mais completos que a tradição Lukumi (cubana), por exemplo.


Temos sim um problema interno de continuidade da tradição em vista da baixa qualidade da transmissão do conhecimento, da abertura por pessoas incapazes de novas casas, e do lixo que representa o sincretismo, mas, isso é assunto para outro dia. Entretanto isso são problemas cotidianos.


Dessa maneira, exceto pelo caso do culto eegúngun, que é separado do Candomblé e especializado neste tipo de espírito, a convivência com cultos especializados a divindades não é o nosso padrão de compreensão do universo liturgico no Candomblé.


Entretanto essa é uma realidade a encarar, compreender e aceitar uma vez que esse culto era e sempre foi muito distinto do culto aos orixa (òrìṣà). 


Em Cuba onde existe uma tradição da disáspora, o Lukumi, e Ifá eles são muito distintos. Existe uma certa mistura de rituais porque muitos Babaláwo foram Obariate e da mesma forma como acontece aqui com o povo que vem da Umbanda lá também ocorre e eles compartilham a mesma visão sincrética dos orixa (òrìṣà). Mas são casas separadas e cultos separados.


Desta feita eu quero registrar que estamos lidando com a mesma religião, os mesmos dogmas, divindades e princípios. Existe uma especialização de sacerdote, em Ifá os sacerdotes de especializam na divindade Ifá, ou Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), e no Candomblé os sacerdotes cuidam de trabalham com todas as divindades.


O oráculo tem que estar presente em qualquer pratica dessa religião e se em Ifá um babalawo tem iniciação e aprendizado o mesmo acontece no Candomblé. Um sacerdote para poder ter o oráculo ele é iniciado no orixa (Òrìṣà) e recebe o jogo ritualmente. Depois passa anos praticando, aprendendo e desenvolvendo.


O culto a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)


No Candomblé eu posso dizer que, como outros irunmale (irúnmalẹ̀), Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é uma figura distante pouco conhecida pelas massas, é uma figura “cult”. Faz parte daquele enredo “secreto” que domina a mesquinharia do conhecimento. As pessoas associam o oráculo a Exu (Èṣù) e a Oxun (Ọ̀ṣun) mas a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é coisa para entendidos.
Apesar de Orí ser um nome conhecido, e o Borí a cerimônia mais executadas, e talvez populares, do Candomblé eu não vejo com clareza as pessoas entendendo de fato o papel de Orí na sua vida ou mesmo o sentido de um Bọrí (Bori). Eu acho que isso se soma aquelas coisas repetidas por imitação ao infinito e digo isso porque apesar de todo mundo conhecer a palavra e o significado o sentido de Orí na vida das pessoas é substituído pelo orixa (òrìṣà). 


Essa situação já é muito boa porque entre os Lukumi (Cuba) a maior parte não tem nem idéia do que é Orí e como se cultua. O Candomblé é um culto centrado nos orixa (òrìṣà), isso tenho certeza de que todos concordam, o que aliás é muito bom.
Mas Ifá não o é, e nesse caso Orí assume uma outra proporção e por isso eu tive que iniciar este segmento citando-o. É claro que eu posso estar sendo aqui otimista ou fundamentalista demais, entretanto não dá para falar nisso de forma diferente. Não, antes que concluam isso, Ifá não é um culto a Orí. Ifá é um culto dedicado a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) uma divindade cujo propósito de existência é ser o mensageiro entre o aiyé e o orun (ọ̀run).




Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) entre os irunmale (irúnmalẹ̀) é considerado o deus da sabedoria, ou o orixa (òrìṣà) da sabedoria já que aplicar “deus” para os irunmale (irúnmalẹ̀) ou orixa (òrìṣà) tem levado a devaneios sobre a natureza dessa religião. Dois nomes pode ser aplicados a esse irunmale (irúnmalẹ̀), o de Ifá ou de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Simplificando essa parte, o nome Ifá é aplicado ao sistema oracular e ao irunmale (irúnmalẹ̀), a divindade e o nome Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) somente é aplicado à divindade. Nos versos do Odù surge um outro complicador porque nas histórias se diz que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) consultou Ifá ou Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) consultou os Babaláwo, mas, ignorem isso, é apenas figura de expressão.




Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é uma das mais importantes divindades da religião Yoruba. Sua atuação esta centrada no oráculo e nos ẹbọ corretivos e sua atuação junto às demais divindades e seres humanos gira em torno da transmissão de sabedoria e da humildade. O fato de não ser um orixa (òrìṣà) guerreiro talvez também explique a pouco popularidade no Candomblé já que os orixa (òrìṣà) tradicionais sempre tem que carregar uma arma branca na mão e são representados como musculosos e lindas beldades. Essas descrições jamais seriam adequadas para Orunmila (Ọ̀rúnmìlà).




Através de sua grande sabedoria, conhecimento e compreensão Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) coordena a atuação dos irunmale (irúnmalẹ̀) da religião Yoruba. Ele funciona como um intermediário entre os demais irunmale (irúnmalẹ̀) e as pessoas e entre as pessoas e seus ancestrais. Assim ele é a boca dos orixa (òrìṣà) que fala através do seu oráculo, o oráculo de Ifá.
Mas a fala de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) não é uma coisa simples e direta como estamos acostumados nos oráculos que usamos no dia a dia ou mesmo através dos guias de Umbanda. Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) fala através de sinais e de histórias. Suas histórias são metáforas, parábolas e meias verdades que devem ser interpretadas.


Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) fala sempre através de um Odù. 


Existem 256 Odù e os sacerdotes de Ifá dedicam a sua vida a aprender a entender as mensagens de orunmilá através desses Odù, a aprender os versos de Ifá, poemas, os ésé, que contem através de metáforas os ensinamentos e mensagens para os consulentes. Além disso devem aprender a como fazer as rezas, os ébó, as folhas e até sacrifícios que permitirão ao odù atuar na vida das pessoas.
Assim, não se pode falar de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e de Ifá sem considerar que tudo isso gira em torno de Odù. Não sei se todos entendem o que é um Odù porque sem entender o que é um odù não se entende Ifá, mas volto nisso adiante.
Entre nós, no Brasil, Ifá é sinônimo de Oráculo e muita gente usa assim indistintamente sem as vezes entender a origem dessa palavra.


No culto de Ifá um Babaláwo se dedica consultar o oráculo para as pessoas e a fazer as ações decorrentes para poder corrigir o problema que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) viu na vida da pessoa, não necessariamente o que a pessoas estava buscando lá. Quando a gente entre nessa área na qual um Babaláwo ou um Babalórìṣà, atende alguém e faz aquilo o que a pessoa quer ou que resolve o que a pessoa foi buscar estamos na área da feitiçaria e não da religião.
Uma babaláwo não é uma pessoa para fazer santo nos outros ou cuidar de orixa (òrìṣà) dos outros, para isso existem os Babalórìṣà. Um babaláwo trabalha através de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) com rezas, elementos simples e muito através de Exu (Èṣù) e Osanyin (Ọ̀sányìn). Mas basicamente a vida de uma Babaláwo é consultar o oráculo.


Contudo existe uma coisa comum entre Ifá e Candomblé que é a teogonia a base da religião, que é a mesma. Ser um culto especializado em uma divindade não muda o contexto religioso que ele está situado. Para qualquer um estamos tratando da mesma matriz religiosa e nessa matriz o papel de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é reconhecido da mesma forma.


Na nossa teologia, antes de nossos espíritos virem para o aiyé, no orun (ọ̀run) nós nos ajoelhamos perante Olódùmarè para junto a ele pedirmos o nosso destino, que alguns preferem chamar de objetivo de vida. Nesse momento nós escolhemos o que queremos viver nessa vida, o que queremos realizar e qual o nosso objetivo ao nascer no aiyé. Olódùmarè pode concordar com o que pedimos ou não, ou pode ainda definir para nós outros objetivos de vida. Essa conversa é uma das coisas mais importantes para nós e dela poderá depender por exemplo qual será o nosso odù de nascimento, porque ele faz parte do nosso Orí e vai ser definido para nos ajudar na vida que vamos ter aqui no aiye. O nosso orixa (òrìṣà) também poderá ser definido nesse momento e também será escolhido de forma a nos ajudar com nosso objetivo de vida.


Nesse ponto cabe uma dúvida porque o odù com certeza depende de nosso destino escolhido e atribuído, mas o orixa (òrìṣà) não tenho certeza. Eu gosto da visão de que o orixa (òrìṣà) não tem restrições no seu poder e qualquer orixa (òrìṣà) que tenhamos vai nos ajudar igualmente. No meu íntimo essa idéia de especialização funcional de orixa (òrìṣà), como as pessoas gostam e chegam a dizer que profissão uma pessoa de tal orixa (òrìṣà) deveria ter, é uma idéia meio cartesiana muito simplificadora e racionalista. Assim não tem minha simpatia.


Uma outra opção é a que nascemos com algum orixa (òrìṣà) de nossa família, de Pai, mãe ou avós, assim uma mesma linhagem teriam filhos com orixa (òrìṣà) similares e claro sempre se casa com uma pessoa de fora da família e novas opções de orixa (òrìṣà) podem ser incluídas.
Mas o importante é que como eu sempre disse, nós aqui no aiyé somos a coisa mais importante de Olódùmarè. Esse mundo espiritual, os orixa (òrìṣà) existem para nos ajudar a viver e não para nos escravizar ou atrapalhar.


Essa nossa conversa com Olódùmarè tem apenas 1 testemunho: Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Assim ele é o único que pode saber o nosso destino. Algumas outras divindades podem fazer parte, uma delas é ajala, outra é onibode, oporteiro do orun (ọ̀run). Antes de descermos para o aiyé perante Onibode nós falamos o nosso destino e quando pretendemos retornar.


Mas para nós aqui Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o ẹlẹ́rií (elerii) ìpin, testemunho dos destino de todos nós e o mensageiro divino aquele que traz as mensagens de Olódùmarè e de todos os orixa (òrìṣà). Quando em nossa vida temos uma dificuldade que não conseguimos resolver, e isto está nos impedindo de seguir em frente, naqueles momentos em que não sabemos mais o que fazer, devemos recorrera a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) consultando o oráculo de Ifá. Essa consulta é ao mesmo tempo um pedido de socorro e Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), o ẹlẹ́rií (elerii) ìpin vai responder de forma a corrigir nossa vida para que possamos seguir com nosso destino.


Essa visão é o sentido religioso que eu conheço para o oráculo dentro de uma religião e esta visão é a mesma para o culto de Ifá ou dos orixa (òrìṣà). Dessa maneira não existem 2 testemunhos, só existe um testemunho, e ele é Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), e existe para qualquer pessoa. 


Assim seja no culto de Ifá ou de orixa (òrìṣà) você tem que lidar com a mesma divindade, com Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
quer você do destino e não 2, se vamos a um oráculo de eerindinlogun para corrigirmos o nosso destino e vamos ter uma resposta para isso, quem está respondendo é Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Não pode ser Oxala (Òṣàlá) ou Xango (Ṣàngó) ou Oxun (Ọ̀ṣun) ou qualquer outro porque somente Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o testemunho de nosso destino.
O que é Odù


Odù é a base da comunicação de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), e como muitas palavras em yoruba ela é usada para várias coisas. Odù são marcas gráficas, assinaturas, que representam um símbolo. A este símbolo estão associadas histórias e versos que formam a famosa e tão pouco conhecida literatura de Ifá, poemas de Ifá, que eram transmitidos oralmente, mas que hoje já encontramos escritos. Esse conjunto não é completo, muita coisa se perdeu, ou uniforme cada escola de Ifá tem o seu que pode ter variações em relação a outras. É interpretação dessas histórias que podem estar na forma de mitos ou de poemas é que vem o significado de um Odù. A mensagem que um odù traz para nossa vida esta contida nas histórias que são associadas a ele.
Odù também é uma energia divina que vem de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) para nós em resposta à consulta ao oráculo. Assim além de ser um símbolo gráfico, além de conter através de suas histórias significados para nossa vida um Odù também é a resposta a nossa aflição. Essa energia primária vem através do oráculo e será utilizada pelo Babaláwo junto com os orixa (òrìṣà) para nos ajudar.
Odù não é um caminho e nem significa caminho. A palavra Yoruba significa com recipiente grande para conter algo dentro, como uma cabaça.
Em termos quantitativos são 256 Odù. Existe uma matemática nesses números. São 16 figuras diferentes, feitas com a combinação de traços duplos ou simples. Como cada odù é formado pela combinação de 2 figuras, então teremos 16 x 16 = 256 odù. Nessas 256 figuras diferentes, aquelas onde o mesmo símbolo aparece repetido, são chamados dos Odù Méjì, ou principais. Esses Odù são ordenados de acordo com uma ordem arbitrária definida e Ifá que seria a ordem nos quais esses odù chegaram ao mundo. Existe ainda uma maior relevância para os 4 primeiros Odù. Os Odù que não são os Méjì são chamados de Omo (Ọmọ) Odù ou Odù filhos.
Toda a comunicação entre Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e nós através dos Babaláwo é feita usando Odù.
O oráculo em Ifá


Em Ifá, a consulta ao oráculo é feito usando uma corrente com metades de semente chamada opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) ou com os caroços de dendezeiros chamados de ikin, esses são os instrumentos básicos de um Babaláwo. O processo da consultar é assim:
Usa-se o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) ou os ikins para formar o desenho de odù, um dos 256 Odù, que é uma figura formada por 2 pernas. Cada uma das pernas é um dos 16 odù principais. Essa é a anatomia de um odù, uma formação gráfica composta por 2 partes, ou 2 pernas (ou patas com dizem os cubanos). Essa figura é traçada da direita para a esquerda assim se lê o nome do Odù da direita antes do da esquerda.


Os odù são compostos de uma coluna de traços duplos ou simples, no total de 4. Para se ter um odù SEMPRE tem que se ter 2 pernas ou seja as 2 partes dessa figura. Então


II.......I
II.......I
II.......I
II.......I


A figura acima corresponde ao Odù ogbe-oyeku (ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú)) e esse é o décimo sétimo odù. antes dele estão os odù méjì. São chamados de méjì porque méjì significa (2). O numero 2 é èjì, mas em yoruba quando o numero é colocado depois do substantivo, ou seja quando ele é usado para contar alguma coisa adiciona-se o M na frente. Assim èjì é o número 2 e ogbe èjì é traduzido como 2 ogbe, ou 2 odù ogbe:
I........I
I........I
I........I
I........I


Dessa maneira o odù acima é o ogbè méjì, ou 2 ogbè, porque seria ogbè-ogbè mas não se fala assim, a gente fala ogbè méjì de maneira que ogbè-ogbè e ogbè méjì são a mesma coisa.


Assim, isso é um odù. Um odù sempre tem 2 pernas. SEMPRE, mesmo os méjì, lembrando que como eu já disse dezenas de vezes:


- Não existe ligação entre odù e número.


- Os odù são ordenados através de uma hierarquia, ou ordem de senioridade e essa ordem de senioridade serve para definirmos qual é o mais velho e por conseqüência qual ìbò escolhemos.


O relacionamento de odù com numero não tem nenhum fundamento. Anteriormente eu expliquei isso, isso é apenas fruto de sincretismo com a cultura árabe que foi exportada para a Europa, provavelmente. É um vinculo entre numerologia e Ifá e que não existe motivo ou fundamento. Dessa forma pertence as coisas da Umbanda que adora sincretismo.


Os primeiros 16 odù são os odù meji, indo de ogbe meji até orangun meji. Depois disso é feita uma combinação entre cada odù e os conseguintes, formando de ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú) até ogbè-òfún e depois indo para oyeku-ogbe (ọ̀yẹ̀kú- ogbè) e na mesma lógica.


Para que eu estou explicando tudo isso? Para reforçar que NÃO existe odù que não tenha 2 pernas ou seja que não seja um dos 256 odù, formado por 2 partes. E repetindo, mesmo os odù meji, os 16 primeiros, que são os usados no merindinlogun tem que ter 2 pernas, porque Odù meji tem 2 pernas, lembram ogbè-ogbè = ogbè méjì.
Em Ifá o resultado de uma consulta a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é um odù. Um e somente um. Tudo se inicia com determinação desse odù. Com o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) um processo rápido. Com os ikins mais demorado, mas o resultado é o odù que veio em resposta.


Temos o que se pode chamar de uma segunda parte da consulta que é a qualificação do odù. A seguir como já expliquei, se determina de está em ibi ou ire. Depois o tipo de ibi ou ire. e se for em ibi a origem desse tipo.


Com isso se completa a qualificação do odù que veio em resposta à consulta.


É claro que para ter essas resposta de ire ou ibi, tipo e origem se faz usando o Ibos e outras caidas do opele ou dos ikin para usando a hierarquia se selecionar a mão a ser aberta e o ibo, esse é o processo de Ifá. mas essa sequencia adicional de odùs são apenas para perguntas e seleções.


Assim toda a consulta é feita com apenas 1 odù. O babaláwo tem que interpretar esse odù ou melhor tem que junto com o consulente interpretar o odù e para isso existem os versos que transmitem as mensagens do odù, são varias mensagens em um mesmo odù os mitos/pataki e também os significados daquele odù.


Um odù carrega muita informação e existem, sim, odù adicionais que se usa para complementar o odù principal, mas, não quero confundir nem omitir, entretanto, não existem novas caídas de opele para isso. Esses Odù complementares são obtidos como parte do grafismo do Odù principal, como por exemplo sua sombra ou o Odù formado pela combinação da perna de um com a de outro e por ai vai dependendo da escola do Babaláwo. Entretanto, isso é penas para entender as mensagens, tudo o que vai se fazer esta ligado ao odù que foi obtido na primeira consulta. Assim concluindo aqui, em uma consulta somente um Odù é interpretado. Através dessa interpretação teremos o problema da pessoa e também a indicação dos ẹ́bọ.
O eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) e Ifá


A prática do oráculo no Candomblé tomou mais de um caminho ao longo da nossa história e sofreu influência diversas. A primeira coisa que eu lembro a todos é que Ifá e oráculo são sinônimos no Candomblé e muita gente pode até desconhecer que exista um culto separado destinado a Ifá ou a divindade Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Assim da mesma forma como Ifá e Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) são em certo aspecto sinônimos em Ifá, no Candomblé, Ifá e oráculo são sinônimos, sem que isso seja necessariamente vinculado a Odù. Assim, por muitos anos temos ouvido as pessoas chamarem o seu oráculo de Ifá sem que isso guardasse qualquer vínculo com o Culto de Ifá e com o Oráculo de Ifá. Hoje a gente saber que uso de Odù no oráculo do Candomblé é opcional e não dominado por muitos.
Mas vamos voltar a esse ponto mais adiante, para que a gente chegue em algum lugar vamos examinar primeiro a ligação entre o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) e Ifá.
Com simplicidade, sem recorrer a textos de odù, vamos considerar que tudo é um mesma religião. Assim dentro do culto dos orixa (òrìṣà) ou do culto de Ifá estamos tratando da mesma religião. É o mesmo Olódùmarè é o mesmo aiyé é o mesmo orun (ọ̀run) são os mesmos orixa (òrìṣà). A Teogonia é a mesma. E nesse conjunto, como estamos todos falando com as mesmas divindades e acreditando na mesma metafísica, se recorremos a um oráculo para tratar da vida e do destino das pessoas e recebemos respostas sobre isso que nos permitem ajudar e orientar essa pessoa então. é Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) esta se manifestando em nossa vida.
Assim eu não vejo porque Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) não poderia falar através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Se isso não ocorre nós temos que supor que todo Babalórìṣà é um enganador, o que não é verdade, nem todo Babalórìṣà é um enganador, e que não existe outro testemunho do destino, somente Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) tem essa informação.
Eu lembro que o oráculo do candomblé, o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) sempre serviu e continuará servindo com louvor a tudo o que é necessário fazer em uma casa de santo. Esse oráculo representa sim uma forma autêntica e verdadeira de diálogo entre nós e o divino, entre nós e os orixa (òrìṣà), entre nós e Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Se não fosse assim tudo seria errado ou sairia errado, e não é isso o que ocorre.
A ligação entre Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) existe nos versos do Odù Ogbè-Ọ̀sá, conforme transcritos por Wande Abimbola. Houve um tempo que Olódùmàrè convocou todo os 401 orixa (Òrìṣà) para o Órun (Ọ̀run), para para surpresa dos orixa (Òrìṣà) eles encontraram as Ajé (Àjẹ́) no Órun (Ọ̀run) e estas passaram a comer um por um. Mas como Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) havia feito um sacrifício antes de deixar a terra ele foi miraculosamente salvo por Oxun (Ọ̀ṣun) que substituiu Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) por carne fresca de cabrito (que Orunmila havia usado no sacrifício recomendado por Ifá).
Quando eles retornaram a terra eles se tronaram mais próximos do que nunca. Este foi provavelmente o tempo no qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) teve Oxun (Ọ̀ṣun) como esposa. Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) então decidiu recompensar Oxun (Ọ̀ṣun) e então ele colocou junto os 16 búzios e ensinou a Oxun (Ọ̀ṣun) como usá-los.
Este mostra como Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) se tornaram unidos.
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse que estava agradecido com o que ela fez por ele.
Foi uma coisa expecional.
Ele se esmerou no que dar a ele em agradecimento.
Esta foi a razão mais importante pela qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) criou os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Ele então colocou-os nas mãos de Oxun (Ọ̀ṣun).
De todos os orixa (Òrìṣà) que usam os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Não existe nenhum que tenha feito isso antes de Oxun (Ọ̀ṣun).
Esta foi a forma pela qual Ifá foi dado a Oxun (Ọ̀ṣun).
E foi pedido para ela usá-los
Como um outro meio de consutar o oráculo.
Isto foi como Ifá foi usado para recompensar Oxun (Ọ̀ṣun).
Desta forma Oxun (Ọ̀ṣun) também podia chamar Ifá.
Ninguém mais pode saber
porque Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) tomou Oxun (Ọ̀ṣun) como esposa.
Das diversas formas de oráculo
owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún é a mais próxima de Ifá.


Assim de acordo com esse Odù foi Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) que criou o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún e se Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é Ifá e o conhecimento de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é baseado em Odù e Ifá ele não poderia ter criado algo que não fosse parte do seu próprio conhecimento. Isso muda a versão de um mito popular de que Oxun (Ọ̀ṣun) teria obtido o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún de Exu (Èṣù) o que de fato teria como consequencia uma não ligação direta com Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Mas esse Odù Ogbè-Ọ̀sá deixa claro que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é o criador do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Este Odù também vai mostrar a seguir que o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ do próprio Olódùmàrè:
A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para um teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os habitantes da terra.
Ou se eles estava dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo para ele.
Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) terminou a consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é verdade”
Olódùmàrè então pediu a ela para consultar o oráculo para ele
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódùmàrè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz Ifá
Olódùmàrè então perguntou a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódùmàrè
como ele honrou Oxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Esta tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara tudo o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè


A transcrição desse Odù esta no artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination" de Wande Abimbola.
Um outro verso contido no odù Okanransode, que foi transmitido pelo Babalawo Ifátóògùn, famoso sacerdote de Ìlobùú, conta a história do saco da sabedoria. Olódùmàrè jogou na terra o saco da sabedoria e pediu a todos os orixa (Òrìṣà) que procurassem por ele. Ele garantiu que o orixa (Òrìṣà) que o encontrasse seria o mais sábio de todos eles. Olódùmàrè mostrou como era o saco para todos os orixa (Òrìṣà) para que eles reconhecessem quando o vissem.Uma vez que Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) eram íntimos eles decidiram procurar juntos.
Uma pessoa velha amarou um um fio de contas mas ele se abriu
Um sábio amarrou um fio de conta e el ficou frouxo
Somete uma pessoa que apoia suas costas em ikins
irá amarrar um fio de contas que irá durar
Ifa foi consuktado para Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
quando ele e Oxun (Ọ̀ṣun) foram procurar pela sabedoria
Foi Olódùmàrè que chamou as 401 divindades (da direita)
e as 201 divindades (da esquerda)
para se reunierem no Orun (Ọ̀run)
Quando elas chegaram lá
Ele disse que queria dar para elas profunda sabedoria e poder
Ele disse que que qualquer um poderia ver isto
que ele iria dar para o Ori deles
E esta seria a pessoa mais sábida na terra
Ele disse que 19 dias a frente
Ele jogaria o saco da sabedoria na terra
Mas se isso seria na floresta
ou seria no campo
Ou seria no rio
ou seria em uma cidade
ou seria em uma estrada
Ele não diria onde extamente seria
Olódùmàrè mostrou então a todos o saco da sabedoria
Ele disse “É isso”
Olhem bem
E observem bem.
Quando eles chegaram de volta a terra
alguns deles iniciaram a fazer sacrificios
Alguns fizeram remédios
Alguns planejaram a sua propria estratégia
Todos disseram “Essa coisa, serei eu quem vai achar”
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) costumavam fazer coisas juntos
Eles estavam sempre um na companhia do outro
Ambos adicionaram 2 búzios a 3
e foram consultar Ifá
Eles perguntaram aos babalawo para verificarem sobre ambos
“A coisa que os orixa (Òrìṣà) estão procurando poderiam ser ambos eles as pessoas que a encontrariam?”
Os babalawo pediram a Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) que fizessem um sacrifício
Com os grandes alakas que eles estavam usando
Cada um deles deveria oferecer um cabrito
e um rato domético
Bem como 201 ọ̀kẹ́ cheios de búzios para cada um deles
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse a Oxun (Ọ̀ṣun) que eles deveriam fazer o sacrifício
Mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse m “por favor, deixe me descançar”
Vá fazer o sacrificio com o seu alaka
Qual a relação disso com o que estamos procurando?
Oxun (Ọ̀ṣun) se recusou a fazer o sacrifício
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) cujo outro nome era Àjànà,
pegou o seu alaka e ofereceu em sacrificio
Ele também usou um rato doméstico e dinheiro para o sacrifício
Eles então procuraram pelo saco da sabedoria mas não acharam
Todos os outros orixa (Òrìṣà) tmbém não encontraram
Eles procuraram em Ẹ̀gá ajá
Ele foram longe até Ẹ̀sà adìẹ
alguns foram ainda até Ìkọ Àwúṣẹ̀
alguns procurara também em Ìdòròmù Àwúṣẹ̀
Onde o dia vira noite
Mas ele não encontraram
Um dia um rato doméstico foi até o alaka que Oxun (Ọ̀ṣun) usava
E fez um buraco no bolso
No dia seguinte eles se consideraram prontos
e procuraram o saco da sabedoria mais uma vez
Então Oxun (Ọ̀ṣun) o encontrou!
Ela exclamou “Han-in este é o saco da sabedoria!”
Ela colocou então no bolso do seu alaka
Ela então foi embora apressada
Como ela estava atravessando florestas mortas e subindo por troncos
repentinamente o saco caiu do seu bolso
pelo buraco que o rato tinha feito
Oxun (Ọ̀ṣun) estava chamando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Dizendo “Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), cujo outro nome é Àjànà
Venha rápidp, venha rápido
Eu vi o saco da sabedoria
Quando Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) estava indo ele viu o saco da sabedoria no chão
Ele então colocou no bolso do seu próprio Alaka
Quando ele chegou em casa
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) disse: Oxun (Ọ̀ṣun) deixe-me ver o saco
mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse que ela jamais mostraria para um homem
Mas se um homem precisasse ver
Ele teria que dar lhe 200 ratos
200 peixes
200 passaros
200 animais
e um monte de dinheiro
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) implorou por muito tempo para ver o saco
mas ela não permitiu
Ele então retornou para a sua própria casa
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tentou pegar o saco no seu bolso
de maneira que ela o visse mais uma vez
Ela colocou a sua mão no bolso
e sua mão entrou dentro do buraco feito no fundo do bolso
Então Oxun (Ọ̀ṣun) foi encontrar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) na sua casa
Ela começou a implorar a ele
Ela começou a agradar Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
Assim foi então como Oxun (Ọ̀ṣun) foi para a casa de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà)
para viver com ele como marido
De maneira que ele pudesse ensinar para ela um pouco de sabedoria
Nos tempos antigos, quando uma pessoa se casava
Não era obrigatório para a esposa ir para a casa do marido viver com ele
Assim foi como os casais passaram a viver juntos
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tirou o seu alaka
ela colocou àṣẹ na sua boca e disse
daquele dia em diante nenhuma mulher ia vestir um alaka como os homens
Ela então jogou o seu alak no lixo
Depois de muitos pedidos de Oxun (Ọ̀ṣun)
Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) pegou um pouco de sabedoria e deu para ela
Este é o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
O qual Oxun (Ọ̀ṣun) faz uso
O saco de sabedoria é Odù Ifá,
os remédios e todas as demais profundas sabedorias do povo Yoruba




Assim vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode ensina:
Oxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso a sabedoria de Ifá. Ela encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela obteve antes de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de Ifá. Devido a sua teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o saco para Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse dele por todo o tempo e a sabedoria e poder que Olódùmàrè prometeu. Mas não se pode ignorar o acesso que Oxun (Ọ̀ṣun) teve a Ifá.
Oxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e este lhe deu mais sabedoria de Ifá.
Esse odù nos dá também uma excelente explicação de porque somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Oxun (Ọ̀ṣun) se tivesse acesso teria omitido isso dos homens, Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso de Oxun (Ọ̀ṣun) ao conhecimento de Ifá. Essa interpretação deve ser estendida aos homens em geral e as mulheres também, e não especificamente a Oxun (Ọ̀ṣun) e Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). Oxun (Ọ̀ṣun) é a essência feminina e um odù é uma metáfora. Assim isso explica o papel de Babalawo e de Apetebi.
Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no uso da sabedoria de Ifá. O desejo de Oxun (Ọ̀ṣun) era se enriquecer com essa sabedoria. Isso foi penalisado, assim a sabedoria de Ifá jamais deve ser usada para enriquecer ninguém.




Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio. Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio, Oxun (Ọ̀ṣun) não quis pagar e não obteve exito na sua busca. A sabedoria exige sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável o vinculo de Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) com Oxun (Ọ̀ṣun) ou seja de Oxun (Ọ̀ṣun) com Ifá. Mesmo depois desse episódio Oxun (Ọ̀ṣun) e Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) ficaram mais próximos.
Unindo os versos de Okanransode com o de Ogbè-Ọ̀sá fica demonstrado e clara e evidente ligação entre Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).
Os métodos de consultar Ifá


Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) fala através de odù, isso é definitivo. O owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) também obtem respostas através de Odù. 


Existem 2 formas. 
A primeira é a mais clássica que todos conhecem e que usa os 16 odù méjì: ogbè, oyeku (ọ̀yẹ̀kú), ìwòrì, òdí, obara (ọbàrà), okanran (ọkànràn), ìròsùn, owonrin (ọ̀wọ́nrín), ògúndá, osa (ọ̀sá), irete (ìrẹtẹ̀), òtúwà, oturupon (òtúrúpọ̀n), ìka, oxe (ọ̀ṣẹ́), òfún. Aqui no Brasil o método de banbogxe ficou mais conhecido mas hoje em dia existem outros. Pode-se ainda usar o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) para ler um dos 256 odù, como os cubanos fazem e ensinam.




Eu vou transcrever abaixo um trecho do artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination". O autor do artigo é Wande Abimbola um dos mais eminentes acadêmicos Nigerianos da atualidade que se dedicou a reconstituir a cultura de Ifá na africa. Sendo o autor Nigeriano e ao mesmo tempo 100% comprometido com Ifá, talvez até demais, isso o torna bastante isento, o texto a seguir é uma análise dele sobre a pesquisa e a interpretação dos odù Okanransode e Ogbè-Ọ̀sá que transcrevemos anteriormente:


"Por "Ifá Divination" nós queremos traduzir como Ifá e sistemas correlacionados de oráculo baseados em estórias e símbolos de Odù tais como Dida owo (uso do opele), etite-ale (uso do ikins), eerindinlogun (16 buzios), agbigba (um tipo de opele) e obi. O propósito desse artigo é examinar a íntima relação de Oxun (Ọ̀ṣun) com o oráculo de Ifá de duas formas, através dela mesma e através da instrumentalização de xetuura, seu filho. 


Nós iremos iniciar com a visão popular que envolve Oxun (Ọ̀ṣun) em Ifá no qual ela obteve o seu conhecimento de Ifá através de seu marido orunmila. Nós examinaremos então a importância de oxetuura para o sacríficio resultante do oráculo. Nas ultimas páginas deste artigo nós iremos então fazer a afirmação de que Oxun (Ọ̀ṣun) tem muito mais relação com Ifá do que os bablawo são capazes de admitir. Eu irei, claro, colocar a hipótese que que todo o sistema de Ifá iniciou a partir de Oxun (Ọ̀ṣun) e ela o deu para orunmila e não o contrário. Eu irei basear minhas afirmações em versos de Ifá. Eu também irei examinar a possibilidade que o eerindinlogun é mais antigo do que dida owo e etite-ale que são desenvolvimentos posteriores do oráculo de Ifá".


Assim, ele não deixa nenhuma dúvida de que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é um sistema que se baseia nas histórias e simbolos de Odù, tanto quanto todos os outros. Isso é uma afirmação básica e não uma hipótese. É claro que como eu disse, precisa-se de fato usar o instrumento, os búzios, e o conteúdo, Odù com suas histórias e símbolos. O simples uso dos búzios não caracteriza um oráculo de odù e essa afirmação é devido as variações que são encontradas principalmente devido a mediunidade dos olhadores.
Como eu já repeti aqui, no Brasil tem vários métodos de jogar buzios. 


Um dos métodos é o famoso método que bangboxe trouxe para o Brasil, e que trouxe o odù para os buzios. É nesse método que encontramos as 4 caídas, onde aparecem 4 odù. A descrição do método foi feita de forma bem clara pelo Jose Beniste no seu livro O jogo de Búzios, dentro do universo de poucas obras que temos, é uma obra de referência no assunto. Entretanto eu tenho algumas observações sobre o uso desse método para trabalhar com Odù. Contudo, primeiro, eu quero lembrar que as pessoas que usam esse método hoje não guardam o seu formato inicial preservando as histórias associadas a cada odù. Essas histórias hoje estão em 2 fontes mas são todas originas da mesma pessoa, é o material da Iyalorixa Aninha.




O Verger publicou essas histórias, há muito tempo atrás, preservando inclusive o linguajar, mas a Aninha não gostou e ele nunca mais republicou o livro. Depois o Prandi publicou as mesmas histórias tendo como fonte o Agenor que tinha esse habito de dizer que as coisas dos outros eram dele, quando não eram, e era o mesmo material da Aninha já publicado pelo Verger. 


Depois disso o Beniste publicou essas histórias em uma forma interpretada no seu livro o Jogo de owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún). 


Ele não publicou as histórias completas e sim uma interpretação do seu significado. Nesse livro cita a fonte de sua pesquisa e a autoria do material original.


Ao todo são 72 histórias. Cada odù até ika tem histórias, 4 ou 5, sendo que ejionile tem 8. 


Essas histórias foram chamadas de os caminhos dos odù, porque para um mesmo odù elas davam opções diferentes, criando assim caminhos de interpretação para aquele odù. 


Foi dai que eu acredito que uns gênios, entenderam que odù era caminho, mas, eu acho que eles confundiram as histórias que criavam os caminhos em cada odù com odù ser um caminho. 


O livro do Prandi-Agenor se chama Caminhos de Odù, porque o conteúdo de é apenas e unicamente as 72 histórias associadas a cada Odù. 


Então dai para entender que, Odù = caminho foi apenas um passo, de cego, é claro.


Mas observem, que em Ifá a estrutura de interpretação de um odù é a mesma. 


Só que a gente faz isso para 256 odù e não somente para 16. Também, não se tem todas as histórias de cada odù cada escola ou axé pode ter o seu conjunto e que pode variar em relação a outro. 


Mas também existem gênios em Ifá São aqueles que dizem que existem 2.046 odù. 


Não existem. De novo, a mesma genialidade que transformou odù em Caminho pegou as histórias que compoe um odù, que podem ser 16 para cada odù, em novos odù. 


Coisa de gênio, não? Mas não é. Um odù pode ter interpretações diferentes e as histórias trazem essas possibilidades. Se não fosse assim teríamos que considerar que todos os problemas da humanidade se resumiriam em 256.... rsrsrs


Dessa maneira a grande sacada do oráculo de buzios é fazer um Ifá mais simples ao invés de aprender 256 odù você aprende 16, ao invés de centenas de histórias você se concentraria em aprender 72. 


Se diz que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) seria nesse formato menos detalhado, que daria uma informação incompleta em relação à Ifá. 


Existe até um texto atribuído ao no Odù ògúndá-ìrẹtẹ̀ falando sobre isso. 


Mas o mesmo texto diz que a informação é conhecida e não seria apenas dita, possivelmente em função da quantidade menor de Odù.


Mas, no owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún), temos que lembrar que temos muito mais recursos para nos ajudar na interpretação, além dos 16 Odù Méjì. 


O oráculo nos fala também através da posição que os búzios caem no ọpọ́n, em alguns grafismos que podem fazer e usando o recurso da sub-divisão das caídas nos chamados barracões. 


Assim a ferramenta de fato oferece muito mais opções do que o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) e os ikin.


Existem muito pouco literatura sobre métodos de jogos com buzios. 


Se nós recorrermos a um clássico, o livro do Bascom 16 cowries, lá o método é o Salako tirar apenas um odù, uma única caída. 


Ele joga uma vez e faz uma correspondência entre buzios abertos e Odù O Odù que sair ele considera como sendo méjì, isto é, ele não faz uma segunda jogada para saber a outra perna. Joga-se uma vez e considera-se que a segunda perna é igual a primeira, formando assim um odù méjì. 


O livro então documenta inúmeros versos para cada odù criando assim um processo similar ao de Ifá Continua existindo a determinação de ire/ibi e tipo e origem e para isso são feitas caidas adicionais, mas ele sempre considera que é uma caída méjì. 


Essa é a característica do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).


Os cubanos tem um processo distinto. 


Vi fontes diferentes com pequenas variações no processo mas é a mesma coisa. Os cubanos usam os buzios para tirar as 2 pernas do odù.


 Assim, eles jogam a primeira vez e tiram a perna da direita e jogam de novo e tiram a perna da esquerda. 2 caidas de buzios forma 1 omo odù, da mesma forma como em Ifá.


Dessa maneira com o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) você pode optar por trabalhar com uma configuração mais simples com Odù méjì ou uma mais completa com os 256 Odù. 


A ferramenta, o instrumento não o limita.
Dito isso tudo eu volto a colocar a afirmação que podemos dizer que Ifá fala também através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). 


Não existe nenhuma restrição conceitual a isso e apenas a prática pode separa uma coisa da outra. 


Por esses motivos não existe razão para que pessoas pré-estabeleçam que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) não é Ifá. Essa afirmação pura e simples ao meu ver mostra apenas desinformação e ignorância. 


O que temos que examinar de fato são questões de prática que podem desconectar o uso do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) de Ifá e faremos um analise disso a seguir.
O oráculo no Candomblé


O Oráculo por excelência do Candomblé é o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) , os Búzios, mas a forma de usá-los muda bastante. 


Como ele é feito majoritariamente pelo Babalórìṣà existe sempre uma enorme componente de mediunidade envolvida. Assim, no mundo real, os Búzios são usados através da vidência do olhador e depois pela chamada fala dos orixa (òrìṣà) que combina caídas de búzios com orixa (òrìṣà).
Historicamente o oráculo através dos owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) é a ferramenta básica de um sacerdote de orixa (òrìṣà). 


Os búzios podem indistintamente serem usados por homens e mulheres enquanto que Ifá é um culto predominantemente masculino, com a presença de mulheres em algumas funções específicas. 


As mulheres não recebem iniciação para trabalhar com os instrumentos principais dos babaláwo o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) e ikin. Além disso um Babaláwo não tem incorporação de forma que ou uma pessoa é um Babaláwo ou um Babalórìṣà.
O owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) é então o oráculo majoritário no culto de orixa (òrìṣà) e fontes que eu tive acesso elogiam em larga escala o mesmo. 


Nós sabemos por nossa prática no Brasil que os Búzios são excelentes como oráculo e esse conceito também existe na África.
O uso desse instrumento, owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún), sofre muitas variações. 


A gente tem que considerar inicialmente o fator Umbanda. 


Um enorme contingente de pessoas que são Babalórìṣà no Candomblé já foram Pai de Santo de Umbanda (muitos escondem isso) e lá eles trabalhavam fortemente com vidência, de maneira que essas pessoas tem a clarividência e aurividência muito aflorada. 


É possível que a totalidade deles não deixe de trabalhar com seus guias de Umbanda mesmo estando no Candomblé. Muitas dessa pessoas na Umbanda, tinham o seu jogo de búzios que não era nada mais do que um simples exercício de mediunidade com os guias intuindo, falando ou trazendo vidência ao Pai de santo dos problemas que o consulente trazia. 


Essa prática nunca teve qualquer vínculo com Ifá, apesar de muitos chamarem assim o seu oráculo (sem saber o que isso queria dizer de fato).


No Candomblé existe uma baxíssima qualidade de transmissão de conhecimento. 


Existe uma enorme facilidade em se vender obrigações e nenhum compromisso em continuar ou fazer a formação de uma pessoa seja para ela ser um Babalórìṣà ou simplesmente um sacerdote da casa. 


As pessoas pagam suas obrigações e anos de submissão para serem depois um Babalórìṣà com sua própria casa, onde ele dê suas ordens (o conceito de comunidade não inexiste, de fato). O oráculo é a porta de entrada de qualquer pessoa no mundo sacro do Candomblé. 


Tudo é feito a partir do oráculo e tudo é feito com o oráculo. 


Não pode existir um Babalórìṣà que não tenha um oráculo na mão.


Dessa maneira as pessoas tem que se virar com o que tem e com o que sabem da maneira como puderem, lembrando que nada é de graça. 


Em função disso temos muita variação de qualidade no oráculo dentro do Candomblé e o principal tipo de oráculo, aqueles que os Babalórìṣà conseguem usar com mais facilidade, é esse baseado apenas em mediunidade. 


Em grande parte dos casos a quantidade de búzios não se restringe a 16 (como deveria ser), as pessoas usam a peneira ou mesmo o opon e decoram a mesa com uma pilha de guias que mal sobra espaço para se deixar cair os buzios, a ainda, pedras, cristais, conchas, moedas, favas, figas, pirâmides, velas, copos com água, imagens de orixá, imagens de santos, calendário de são Jorge, as vezes dentes de animais e ossos e por ai vai. 


Isso tudo é decorativo, não tornar o jogo melhor.




Assim os búzios caem mas as informações vêm através da mediunidade. Nesse tipo de uso nem passa pela cabeça de ninguém considerar que se esta trabalhando com Ifá ou com Orunmila (Ọ̀rúnmìlà).


Existe um outro grupo que faz uma variação disso. Considera que usa Odù porque restringe-se a 16 Búzios e dá nome de odù para as caídas. 


Eles sempre uma associação entre Odù e orixa (òrìṣà) e isso se torna uma informação de primeira linha, sendo que as pessoas disputam por ai saber que orixa (òrìṣà) fala em cada Odù ou caída. 


Cada odù corresponde um ou mais orixa (òrìṣà) que “falam”. 


Em função do orixa (òrìṣà) que está falando e do arquétipo do orixa (òrìṣà), no conhecimento popular, aquela caída significa uma coisa. 


Uma caída com etaogunda, é associada com Ògún e dessa maneira você vai ter problemas com brigas, justiça, etc... Os Olhadores associam então essa correlação de Odù-orixa (òrìṣà) ou simplesmente caída-orixa (òrìṣà) com a sua mediunidade para responder ao consulente.


Neste tipo de uso dos búzios o importante mesmo é o orixa (òrìṣà) que está respondendo. 


Existem olhadores que chegam a dizer que tal pessoa pertence ao orixa (òrìṣà) que respondeu nas suas caídas ou mesmo no que mais respondeu. 


Sem nos preocuparmos com aspectos qualitativos, esse tipo de uso dos búzios, mesmo que nomeando o Odù que cai, jamais poderá ser considerado como Ifá assim como a associação de Odù com a quantidade de owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) aberto, mesmo que use algum padrão estabelecido, também não poderá ser Ifá ou Orunmila (Ọ̀rúnmìlà). 


A consulta gira sempre em torno de orixa (òrìṣà), e qualquer consideração é feita considerando um ou mais orixa (òrìṣà).




Existem outra pessoas que fazem diferente e se aprofundam mais na questão Odù, mas, observe a mediunidade está sempre presente. 


Ai entra nessa longa história aqui um outro elemento, o Bernard Mapouil que fez um livro muito interessante sobre oráculo, em francês, e que é um dos pilares para a interpretação de Odù no Candomblé. 


Existe um mesmo material que é usado por todo mundo que é derivado desse livro dele, que foi feito no Benin e não na Nigéria. Esse livro originou um conjunto de interpretações para cada odù. 


Assim de Okaran até alaafia, as pessoas decoram as mesmas pré-interpretações dos significados dos odù. 


É esse material que repetido com pequenas variações por todo mundo.


Como é uma coisa interpretada e mais fácil de ser usada do que interpretar na hora histórias e mitos, Normalmente as pessoas usam as 4 caídas do bangboxe com essas interpretações e ignoram as histórias do banbogxe, que ao meu ver ao longo do tempo, por deficiências de transmissão do método, a necessidade de usar, ou mesmo a forma de usar as histórias e de interpretar o Odù com elas se perdeu. 


Como também se perdeu o uso dos ìbò para poder interagir com o Orí do consulente.


Esse conjunto de Babalórìṣà associam à sua mediunidade, o oráculo com uma base de Odù mas que também, preponderantemente, inclui a famosa relação de orixa (òrìṣà) com odù que influi na interpretação e determina o que vai ser feito. 


Além disso entra um novo elemento, a numerologia, também herdada da Umbanda e tem gente que inclusive faz odù só com números, a partir de nome, de data de nascimento, etc... 


Aliás, não existe essa relação de odù e número, isso foi um sincretismo. 


Dessa maneira não tem nenhuma utilidade fazer contas com nomes e data de nascimento e querer associar isso à pessoa. Inclusive é muito comum se usar a expressão de se determinar o odù de nascimento através da data de nascimento. 


Isso é tão verdadeiro como se determinar a o orixa (òrìṣà) da pessoa de acordo com o dia da semana em que ela nasce, ou seja, não existe isso.


Dessa forma, elas dizem que usam o método do banbogxe, ou que jogam por Odù, mas ignoram 3 coisas muito básicas para se usar Odù. 


Primeiro usam muitos Odù para interpretar, segundo não usam as histórias e terceiro não usam o Orí do consulente para as respostas, não usam os Ìbò. 


Eu inclusive já ouvi uma pessoa que diz que usa esse método dizer que os caminhos dos odù é você determinar se o ebó vai ser na praia, no mato, na rua, na encruzilhada, etc...




Observem que, como eu disse no início, Ifá não é baseado em orixa (òrìṣà), é baseado em Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), em Orí e no nosso destino. 


Eu considero que tão importante quanto Orunmila (Ọ̀rúnmìlà) é Orí em uma consulta de oráculo. 


Não existe consulta de Ifá sem que o Orí participe diretamente nas respostas através dos Ìbò. 


Entretanto essa prática não existe mais no jogo de búzios, se existir é uma minoria, ou talvez raridade. 


É provável que o consulente nem pegue nos búzios antes de eles serem jogados para ele.




Então, é provável que o método de usar o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) tenha se perdido com o tempo devido a deficiência na transmissão de conhecimento que existe no Candomblé e também, temos que reconhecer a falta de fontes de informação e aprendizado. 


O método e o sentido foi substituído pela vidência e nesse caso não fico somente com a crítica fácil, acho que foi uma forma de dar continuidade a isso em face as dificuldades. 


O que seria então um método com um tempo menor de estudo ficou gradativamente intuitivo.


Nesses casos, não posso considerar que estejamos trabalhando com odù e que isso seja Ifá, por mais que essas pessoas assim o pensem. 


Como última observação eu gostaria de lembrar que esses Babalórìṣà tem uma forma de interpretar o oráculo com os seus búzios muito pessoal, assim como pessoal e exclusivo é o conhecimento deles. 


O que eles sabem é só para eles.


É impossível, você colocar 2 babalorixa interpretando o mesmo jogo, assim como é impossível um Babalórìṣà chamar outro para ajudar ele no oráculo. 


Cada um só sabe ler o seu e não diz para o outro o que sabe ou o que não sabe.


Em Ifá é diferente, ou usando qualquer oráculo de odù você pode colocar 16 babalawo interpretando o mesmo odù, eles vão falar a mesma coisa e poderão discutir interpretações ou complementar as informações. 


É muito comum terem sempre 2 babaláwo em uma consulta, um ajudando o outro. 


Isso é possível porque eles estão tratando da mesma base de conhecimento e do mesmo processo.


Mas esse é o nosso caldo cultural e Ifá vem muito recentemente se adicionando.


Ultimas Palavras


Eu não tenho como objetivo ser panfletário para nenhum lado. Me interessa de fato a verdade, os fatos e os fundamentos. 


Para poder dar essas explicações colocando a minha opinião sobre esse assunto eu tenho me dedicado a muito tempo a essa questão, sempre buscando novos argumentos e novas formas de ver isso.




Eu considero que owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) pode ser usado para trabalhar em Ifá, com Orunmila (Ọ̀rúnmìlà), Odù e Orí. 


Isso pode existir pela teologia e também pela prática. 


Isso poder ser feito usando somente os Odù Méjì como também com os 256 Odù. 


Contudo nem todo mundo que usa búzios os faz pelo método de Ifá, aliás, na prática quase ninguém o faz. 


Para fazer isso é necessária uma outra aprendizagem e isso esbarra no comodismo ou mesmo na dificuldade de buscar esse conhecimento.


Eu tenho razões para supor que o método de Banbogxe era aderente ao método de Ifá e que isso foi perdido, sendo os seus mecanismos substituídos gradualmente pela mediunidade ou por essa coisa sem sentido que é a numerologia.


Hoje em dia temos uma nova opção com o estabelecimento em bases perenes do culto de Ifá no Brasil, mas não tem ajudado a atitude de muita gente de Ifá. 


Seja os nativos que entram no culto e se acham o próprio Deus, ou no mínimo acima do resto dos mortais, sejam de cubanos que vem com suas bases Ifá-lukumi sejam os africanos que vem, sei lá com que.


Esse é mais um desafio que o Candomblé esta faceando. 


A sua primazia na posse de um Oráculo esta definitivamente com os dias contados e o culto de Ifá irá de forma definitiva tomar para si, como tem feito, a propriedade de ser o oráculo de Ifá em detrimento a forma oracular pouco estruturada que usa o mesmo nome no Candomblé. 


Como eu disse ao longo de todo esse texto isso não é uma verdade, o oráculo do Camdonblé tem bases dogmáticas para se impor como um oráculo de Ifá e ser considerado um oráculo mais preciso e eficaz. 


A comprovação disso é encontrada no versos desses 2 Odù que eu transcrevi e mais no Odù ọ̀ṣẹ́túrá, Ogbè-ògúndá, Ọ̀sá méjì, Ìrẹtẹ̀ méjì e outros que eu pretendo consolidar e apresentar.
O Candomblé tem ainda mais outros desafios: a formatação do Candomblé para ser uma opção religiosa de fato; A integração de pessoas vindas de classes sociais e níveis culturais mais evoluídos; O bloqueio da sua degradação dogmática devido a entrada em massa de pessoas vindas de Umbanda que trazem uma anarquia teológica; a estruturação de uma forma de transmissão de conhecimento que separe o que é teologia de liturgia; a incapacidade das casas de se estruturarem para permanecer com as pessoas depois que eles fazem os seus 7 anos e são obrigadas a se anularem evitando assim a proliferação de casas com pessoas sem condições de as manterem.



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