Este é um tema bobo, mas eu resolvi me manifestar.
O gatilho foi uma entrevista realizada pelo Jô com uma pessoa de Candomblé, para o qual havia uma expectativa positiva, mas, que foi no programa dele se promover pessoalmente e promover um livro sobre o que?
Isso, ele mesmo!
Em uma das primeiras perguntas ele foi confrontado com essa questão e, apesar de ser uma pessoa instruída, com educação formal, mais ainda um sacerdote com cargo alto na nação dele ficou balbuciando coisas....
Outro de-serviço igual prestou o falecido Agenor, que muita gente adora, mas que mesmo sendo uma pessoa de referência por sua formação que deu entrevista criticando isso.
Mas não são apenas esses 2.
A maior parte dos sacerdotes de qualquer nação que eu ouvi não sabe como lidar com essa pergunta óbvia.
A melhor pessoa que eu vi sair dessa pergunta foi o Fernandes Portugal.
Mas, não pretendo me omitir, é facil criticar, de maneira que vou colocar aqui minha opinião de como o assunto deve ser tratado e a partir disso, me critique também quem quiser.
Perguntar sobre sacrifiícios é uma manifestação inequívoca de preconceito contra a religião.
Esta não é uma pergunta honesta porque quem pergunta já sabe a resposta e já tem o seu juízo, ela é usada apenas para inibir o perguntado.
O mundo é dos vencedores.
A verdade esta em quem manda e em quem tem a maioria.
O assunto sacrifício é sempre invocado quando se fala de Candomblé junto claro com a pergunta se é uma religião monoteista ou politeista e já caracterizando ela como uma religião politeista de adoradores da natureza.
Não, o Candomblé não é uma religião politeista e muito menos Orixás são elementos da Natureza.
Eles são divindades superiores como a de qualquer outra religião e tão superiores como qualquer elemento da trindade católica, seus arcanjos e tudo o mais.
Se o catolicismo Romano, com uma trindade representado o Deus maior, com arcanjos, anjos e Santos não é politeísta então o Candomblé também não o é.
Mas essa questão monoteísta é parente da pergunta sobre sacrificio, na qual ainda vamos chegar.
Ela tem a mesma finalidade.
Qualificar a religião dominante como superior.
A unica religião "monoteista" que eu conheço é a Abraamica, porque todas as demais são diferentes, assim, "monoteismo" não é um adjetivo, é uma qualificação própria e exclusiva de uma única religião.
Essa religião na realidade se divide em 3: cristaos, judeus e o islã.
Todos brigam pela posse da verdade do mesmo Deus.
Aliás, brigam, se mantam e matam os demais inocentes.
Essa religião sempre fez isso ao longo de toda a sua história.
A espada troca de mão.
Foi dos Judeus, passou para os Cristãos e agora é dos Islamicos.
Se os negros da dispora tivessem adotado essa religião talvez encontrassem um Deus guerreiro e seus anjos vingadores mais úteis do que os Orixas Yoruba, ligados a ancestralidade e uma expressão pura de amor.
Assim eles se auto-julgam monoteistas, os avançados e os demais, todo o resto do mundo, os atrasados, ou os não monoteístas.
A expressão Pagão foi criada para designar isso.
Quem é pagão é um não cristão e a palavra sempre foi usada pejorativamente.
Assim essa pergunta não demosntra interesse apenas preconceito.
Todas as religiões são diferentes uma da outra.
A Abraamica é a "monoteísta", todas as demais são uma coisa diferente, se bem que, como eu disse, se os católicos são monoteístas qualquer outra religião é também.
Mas indo para a questão do sacrificio, essa é uma pergunta idiota.
Se a pessoa quer conhecer a religião ela tem que saber que o Candomblé esta inserido em uma religião que tem um monte de características maravilhosas e que atraem as pessoas.
É uma religião familiar, não acredita em Karma, acredita que as pessoas nascem para ser felizes.
Ela acredita que as pessoas são protegidas o tempo todo na sua vida pelo seu guardião pessoal, o seu orixá pessoal.
A gente nasce porque quer, porque gostamos de conviver com nossa família.
Vamos re-encarnar continuamente dentro da mesma linhagem familiar e os filhos e netos são a forma de termos de fato uma vida eterna.
As pessoas são direcionadas para ter um bom caráter, Iwa pele.
Só pessoas de bom carater terão sucesso na vida e somente as pessoas que forem admiradas serão lembradas por seus descendentes.
O divino se manifesta para nós diariamente.
Os orixas são a mais pura expressão do que seja amor.
Os orixás existem com o propósito de suportar a nossa vida na terra. Nós somos o sentido de sua existência. Olodumare, o Deus supremo, não empunha uma espada e nem é um Deus rancoroso. Ele nos suporta e tem um oráculo através de Orunmila para nos orientar por toda a nossa vida.
Os orixás foram enviados para que nos ajudassem a viver nossa vida na terra.
A Família é o núcleo de toda essa religião, tanto no seu aspecto presente como também no seu aspecto contínuo através de toda a linhagem de descendência.
A religião tem toda a sua liturgia baseada no equilíbrio.
Se algo esta errado com as pessoas é porque a um desequilibrio de energia que deve ser reestabelecido.
É isso o que as pessoas devem se interessar em saber e devem ouvir sobre a religião.
As questões iniciática pertencem ao circulo interno da religião, à formação de sacerdotes e não acrescenta nada as pessoas em geral.
As pessoas não conversam com um Padre perguntando o que ele aprendeu no Seminário, que rituais ele participou, que cerimonias teve ou se ele sabe fazer exorcismo.
Se é para estar no mesmo nível é só mandar as pessoas ao falarem com um padre, ao invés de perguntar sobre vocação, fé e caridade, perguntarem sobre a formação deles e se eles se envolviam com freiras, ou com homosexualismo e pedofilia na Igreja deles.
Ninguém faz isso.
Porque sempre que for entrevistar um Padre ou um Bispo não perguntam porque a Igreja matou tanta gente inocente na inquisição ou porque escolheram um Borgia para ser papa?
Porque não perguntam para eles que se Deus é tão poderoso porque ele não acaba com o Diabo?
Se Deus só faz o bem porque ele permite que inocentes morram em gerras, assassinadas, em catastrofes naturais?
Mas as pessoas que ignoram a religião, não querem entender ela e se preocupam única e exclusivamente em iniciar qualquer assunto perguntando sobre sacrificios como se isso fosse um atraso.
A gente tem assuntos muito mais interessantes na religião para falar.
Mas se querem saber a razão disso, o Candomblé é uma religião que comemora a vida. As pessoas reencarnam porque querem viver juntas com sua familia. As pessoas nascem para serem felizes.
Comer é uma comemoração à vida.
O alimento é vida.
Todos nós comemos todo dia e diariamente comemoramos nossa vida.
Quando recebemos uma visita em nossa casa nos oferecemos alimento como um símbolo de satisfação e fartura.
Nos preocupamos em oferecer o que temos de melhor.
Assim o é nessa religião.
Não se oferece mirra ou ouro para um orixá.
Esta é uma religião muito simples, que nasceu de fazendeiros, pessoas do campo e assim eles oferecem o que tem de melhor a seu Orixá, o seu amor, sua dedicação e o seu alimento.
O sacrifício é apenas uma parte muito pequena de uma comemoração maior e é usado na preparação de alimento para todos em uma casa, inclusive os orixás.
Não se oferece comida crua para uma divindade.
É oferecido uma comida pronta, preparada, a mesma inclusive que as pessoas comem.
O Orixá participa dessa celebração.
A comida oferecida a ele é apenas um agrado, uma representação porque divindade não come, quem como somos nós.
A diferença é que fazemos isso na casa e não usamos alimentos industrializados.
Nada industrializado é servido a um sacerdote durante a sua iniciação.
Aos orixás oferecem o que temos de melhor, uma parte do nosso melhor alimento.
A gente oferece vida e pedimos vida.
Uma comemoração começa com a preparação do alimento e termina em uma grande festa, O Xire onde as pessoas se vestem e dançam para e junto com seu Orixá.
É musica e dança.
O Orixá é recebido com festa e alegria.
É isso o que as pessoas precisam saber.
Não existe vergonha em dizermos isso e também não existe sentido em uma pessoa querer focar o seu conhecimento e curiosidade sobre uma religião em um aspecto completamente restrito que é muito simples e óbvio e que não agrega em nada sobre o entendimento da religião.
Os protestantes, na época de lutero focavam as suas criticas nos católicos romanos no ritual deles comerem o corpo do Cristo e beberem o sangue dele nas missas (o ritual de comer a hostia e beber o vinho). Dessa maneira católicos são antropófagos e fazem esse ritual em todas as missas. As pessoas fazem fila para comer o corpo do cristo e o padre bebe o sangue dele.
Assim atrasado é quem pensa em sacrificio como um atraso porque todo mundo come carne de animais todo o dia. Alguém esta fazendo isso para ele da pior forma possível e se ele não sabe disso é um hipócrita.
Eu estive na indonésia, la eles eram Hinduistas (uma religião atrasada?) e lá as pessoas diariamente colocam na porta de sua casa uma micro cestinha com os alimentos que vão comer naquele dia.
É uma oferenda para as divindades que acreditam para nunca falta nada a elas.
Por menos que elas tenham elas sempre dividem uma parte.
Não acho isso um atraso. São pessoa simples e felizes que praticam sua religião o dia todo.
O sacrificio no Candomblé existe, é uma parcela muito pequena de tudo o que se faz e tem a única finalidade de gerar alimento para a comunidade e isso é compartilhado com os Orixás, como todo mundo faz em sua própria casa.
Eu sou de um tempo em que frango se criava em casa ou se comprava no abatedouro e se você quizesse comer Peru no Natal tinha que comprar um vivo. Isso nunca nos tornou atrasados.
Hoje em dia eu suponho que as pessoas acham o que o frango e o peru já nascem congelados no supermercado.
Assim fica aqui minha contribuição para as pessoas responderem à essa pergunta idiota.
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